Marta Sousa Costa
Encerrei o ano de 2011 em clima de desencanto. Perplexa com o que se manifesta em vários setores da vida pública, principalmente pelo acobertamento que uns proporcionam a outros, como se a maioria preferisse compactuar a desmascarar o que percebe ao redor. Triste, ao mesmo tempo, com a cara de pau ou a omissão de pessoas que deveriam ser as primeiras a dar o exemplo, pelas posições ocupadas.
Senti o Brasil como carroça desgovernada indo ladeira abaixo, enquanto alguns olham, sem ânimo para intervir, e outros aproveitam para se apoderar das sobras. Esses, audaciosos, avançam a mão e pegam o que podem, sem medo das conseqüências, enquanto os honestos se retraem e preferem não se posicionar, para não “comprar briga”. Mais que a audácia dos aproveitadores, dói a covardia dos que se consideram íntegros.
Compreendi, pelo observado aqui e ali, que o aceno do cargo cobiçado ou de melhor remuneração pode significar a diferença entre se conservar na linha ou jogar tudo pro ar e pegar o que se apresenta. E, quando os grandes dão o exemplo, os pequenos aprendem logo. Se o chefe rouba, dá idéias ao funcionário pouco convicto do valor da honestidade. Aliás, funcionário que conhece o “rabo preso”da chefia domina a situação. Assim, é preocupante o futuro, se ninguém segurar a carroça em queda livre.
Custamos a acreditar, quando as manchetes diárias nos falam do vale-tudo para atingir objetivos escusos, mas de repente ele se mostra, ao transpor uma porta. Assimilamos a realidade, quando caem as máscaras, e fica o dito por não dito, ignorados os compromissos assumidos, jogada ao ar a credibilidade esperada. E, depois da credibilidade abalada, como ficam as parcerias? É possível construir juntos, depois que o tapete foi puxado a primeira vez?
Mas, diante do desencanto, reage a crença em vários segmentos da sociedade civil, gente que não depende de votos ou do apoio popular e se mostra íntegra, sem precisar nada em troca. Gente que proporciona empregos e garante salários. Trabalhadores em pleno exercício de sua atividade, inclusive na área pública, capazes de fazer algo mais, por desejar compensar, com o bom atendimento, as falhas do sistema em que estão inseridos. Gente humilde, muitas vezes, capaz de dividir o pouco que possui. Como tantos que batalham, nas diferentes instituições, para proporcionar conforto, educação, atendimento médico e psicológico a quem foi abandonado à própria sorte.
Cabe a essa turma ainda capaz de construir a formação dos jovens e, principalmente, das crianças. Valores como honestidade, trabalho, respeito ao outro e solidariedade precisam ser impressos com firmeza e constância, sem perda de oportunidade. Para isso, não se pode esmorecer, pensar que é melhor se render à sem-vergonhice e tirar também uma casquinha.
Discursos são vazios, quando não acompanhados das ações correspondentes. E discursos vazios não faltam, nos mais diversos púlpitos. Mas se, através do país, as notícias correm céleres, desmascarando personalidades que acreditávamos isentas, mais ligeiras elas correm nos estados e municípios, no boca a boca das cozinhas, salas de visitas e de reuniões. Por isso, nem tudo está perdido, enquanto tivermos voz e meios de comunicação ao nosso alcance.
*www.martasousacosta.com
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