sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A Tolerância Três (milhões) da Sonangol e outras intolerâncias



Segundo o que foi noticiado por um respeitado confrade de imprensa, a anterior direcção da Federação Angolana de Futebol (FAF) presidida por Justino Fernandes, encontrava-se pura e simplesmente em estado de não pagamento de dívidas, quer dizer, em falência. Tal situação, que levou ao desenlace pontuado pela eleição de Pedro Neto à presidência dessa organização desportiva, merece pelo menos dois reparos. O primeiro tem a ver com a sofreguidão dos concorrentes ao pelouro máximo da FAF, eram dois e ambos disseram que se estavam nas tintas para o défice, mesmo sabendo que o vencedor assumiria, ipso facto, as dívidas do mesmo. Sim, mas, disseram alguns sujeitos em redor, «Cuidado!, segundo parece o buraco é fundo pra caraças!», ao que os pretendentes ao apetecido poleiro retorquiram quase em uníssono, «Não faz mal, nós tapamos o buraco». Moral deste ocaso anunciado: nenhum dos candidatos se arriscou a exigir transparência, porque ambos sabiam que, com gente dessa casta, a mesma que a deles próprios, optar pela transparência corresponde a ser considerado como confusionista. Não convinha.
O segundo reparo vai para a Sonangol. É que o buraco era mesmo um exagero, digno de predadores insaciáveis por kumbú, que saíram escorreitos, indemnes e impunes duma gestão mais que provavelmente fraudulenta: pelo menos 3 milhões de dólares de kilape, a juntar aos vinte milhões do Estado gastos na CAN de 2010 sem apresentação de contas credíveis. E é aqui que aparece, segundo a fonte a que nos temos vindo a referir, um outro predador ao socorro dos seus irmãos de raça, a Sonangol, a propor, avançar com três milhões de dólares para tapar o buraco!! Uma ninharia!!
A ser verdade é um gesto indecente, um golpe baixo desferido à queima-roupa na nobre e hilariante missão que é a luta pelo incremento efectivo da “Tolerância Zero”. Uma refinada imitação dos usos e costumes dos ladrões do ex-Roque Santeiro.

A “Consagrada Família”
O Presidente da República, Eng.º José Eduardo dos Santos, orientou, na sequência de uma proposta avançada por um (ou uma) anónimo/a – anónimo/a para o restante povo, para ele não -, a criação de uma espécie de comissão atípica com a designação de Grupo de Revitalização e Execução da Comunicação Institucional da Administração (GRECIA), com missão de prestar contas ao ministro de Estado e Chefe da Casa Civil, Carlos Feijó. Na prática, porém, segundo parece, quem põe e dispõe é um coordenador, Sérgio Neto, actual director executivo da Semba Comunicação, e este, por sua vez, não teve dificuldade nenhuma em subcontratar a empresa que ele próprio gere, a dita Semba, a dos filhotes do PR, como entidade a quem foram delegadas competências para fazer, em geral, a gestão da imagem do governo da República de Angola, numa harmoniosa parceria, vai de si, firmada com a Presidência. Ficou, portanto, tudo em família e assim é que está bem. Nesta empreitada tipo pára-brisas a eventuais nocivas lufadas de ar fresco, com tendências constantes de oxidar a imagem do PR, já foram contratados consultores estrangeiros que auferem um ordenado de 10 mil dólares, sem contar subsídios diversos, enquanto os consultores nacionais recebem por mês o correspondente a 5 mil dólares americanos. Dada a opulência dos emolumentos a diferença nem se vê, apesar de serem de algum modo humilhantes. São belíssimas “fezadas” para os felizes optados de cá, ou seja, Victor Fernandes da revista Expansão, os jornalistas Alexandre Cosse e Benedito Joaquim, trânsfugas da Rádio Ecclesia, Rui de Castro, ligado pelo coração e porta-moedas ao MPLA, sem esquecer o inefável Belarmino VanDúnen, esse espectacular “Yes man” que um dia, no Semana em Actualidades, tentou propagar a ideia de que os cadernos eleitorais eram folhetos descartáveis, quer dizer, um democrata de mão-cheia! Quando dizíamos que a campanha eleitoral tinha começado, eis mais uma prova, em forma de rectificação das alegadas calinadas cometidas por Mena Abrantes (ler nesta página, Patinagem presidencial).

Patinagem Presidencial
É verdade, custa dizê-lo, esta jogada da GRECIA, preparada no campo de treinos do Futungo, teve como doloso resultado um brioso e fidedigno vencido com o esvaziamento de competências do Secretário para a Comunicação Institucional da Presidência da República, Mena Abrantes. É que, para a salvaguardar a eficácia que o progresso se esforça por instaurar em Angola, no sentido de aumentar a sacrossanta competitividade das economias modernas, a amarga decisão impôs-se como um retroviral perante o facto consumado de as gafes de JES terem infectado de modo irreversível a reputação desse ilustre dramaturgo, encarregado e responsável pelo velório dos ditos, dos não ditos (a maka do autismo executante), do dito por não dito e doutros contraditos de JES.
Não sabemos se os nossos estimados leitores se deram conta, mas, caso não seja o facto, é mais que tempo de os alertar. A real questão é que o nosso Executivo tem vindo a fazer nestes últimos tempos uma série de derrapagens seguidinhas umas às outras, que de abonatório nada têm para a sua imagem nem para o verniz que serve de camuflagem à sua mentalidade de guerrilheiro. Esqueçamos as batotices das eleições, o maquiavélico mimodrama para o Povo de Angola da nova Contituição e o aumento da repressão a todos os níveis, ajustemos o enfoque nas piores das suas últimas calinadas. Um, o discurso do 14 de Abril sobre a pobreza e o MPLA, a sacudir o capote; dois, a sua incrível tirada sobre a redução da pobreza em Angola, de mais de 70% para cerca de 30% desde 2002, quando ela cresce a olho nu; três, a espalhafatosa vanglória pelo erguer da cidade do Kilamba, a esconder o fracasso total do projecto do prometido milhão de casas; quatro, o muito medíocre discurso proferido por ocasião da visita da Chanceler Ângela Merckel, com essa estorieta dos 2% de letrados e dos 40 finalistas universitários antes da independência, tudo isto e muito mais a não ser outra coisa senão pazadas de areia deitada aos olhos dos angolanos. Ora, a culpa não podia ser dele, o chefe nunca comete erros, facilita. Razão para perguntar, «Onde é que está o Mena? No teatro? Vão chamá-lo». E pronto, já está, tiraram-lhe os discursos, os comunicados e as explicações exigidas pelas incongruências do Chefe. Mas, a nosso ver, agora, vai ser muito pior. Ai vai, vai…

Produtoras sócias de piratas
A perfeição das cópias piratas de Cedês nos dias de hoje é impressionante. A rapidez que preside à sua confecção, assim como a do fabrico de capas quadricolor é tão grande que pode levar as pessoas menos instruídas a pensar que nessa maka há feitiço. E o que ainda é mais surpreendente é a revelação feita “a quente” por um dos mais conhecidos e idóneos profissionais da nossa praça, na área industrial de produção de discos, corroborada de resto por um alto funcionário do ministério da Cultura, ambos indignados, mas confessando-se impotentes perante os novos e curiosos contornos dessa engenhoca. É que se já é cabalmente sabido que há por aí muito bom músico que se associa com piratas para fabrico e distribuição das suas próprias obras, mediante o pagamento das devidas royalties, o que ainda não é do conhecimento público é que o combate contra a pirataria se encontra presentemente confrontado com um empecilho de peso: as próprias “casas produtoras”. Estas, podem, nas calmas e ao abrigo da lei, passar um contrato com um qualquer pirata e autorizá-lo por essa via a reproduzir um determinado número de cópias, ou melhor dois determinados números de cópias, um, o que figura no contrato, o outro o que corresponde à entrega efectivamente realizada pela “casa”. Muito maior, está claro, pois o suplemento de produção escapará sem dúvida alguma ao fisco. Eis o que se poderia denominar por pirataria “legal”.

Na TAAG, a luta continua
Desde os últimos anos do século passado que longa e paciente tem sido a luta travada pelos trabalhadores da TAAG. Devidamente registado está que já nos finais da década de 1990 eles reclamavam uma melhoria das suas condições de trabalho. Para começar, tiveram de aceitar um longo período de tréguas, quando a antiga direcção, que tinha recebido o seu primeiro caderno de reivindicações foi exonerada e substituída por uma nova equipa dirigente que passou a reger os destinos da companhia aérea nacional em 2001. Depois, durante dois anos as relações entre o patronato e os trabalhadores caracterizaram-se pelo estabelecimento de uma espécie de estado de graça que só em 2003 sofreu o seu primeiro abalo, quando uma Comissão Negociadora de Trabalhadores, eleita em Assembleia Geral voltou à carga e repôs na mesa as mesmas reivindicações. As negociações prolongaram-se em chicanas pré-estabelecidas pelo patronato e as negociações capotaram. Seguiu-se outro período de tensão inoperante, ao longo de 2004 e, finalmente, em Maio de 2005, a Comissão Negociadora recomeçou o mesmo combate com a apresentação do mesmo caderno reivindicativo. E desta vez as negociações foram coroadas de sucesso, pois uma plataforma de consenso foi encontrada para satisfação de ambas as partes. Um pequeno senão, porém, assombrou o compromisso mútuo: é que a plataforma de acordo encontrada nessa altura, declarada como sendo uma solução global, deixou subitamente de sê-lo por a direcção da TAAG ter concedido as prometidas melhorias a uma pequena fracção do quadro do seu pessoal e não a todos os seus funcionários, tal como o carácter de uma solução global o exigia. Como sabido, essa direcção também foi exonerada e a nova administração de TAAG, encabeçado por Pimentel Araújo, tem-se distinguido por uma maneira inédita de se relacionar com os órgãos da comunicação social, sem papas na língua. Salientamos aqui o seu recente e bonito atalho linguístico, «A TAAG tem 2000 trabalhadores a mais e 500 técnicos a menos», o que leva a pensar que a luta, de facto, embora muito mais subtil, continua, mas saber se a vitória é certa, isso já são outros “quinhentos”.

O fosso entre ricos e pobres
Sendo do conhecimento geral que Angola é um dos países do mundo com maiores e mais ricos recursos naturais, custa muito a admitir, perante o aflitivo cenário de vida do seu pobre, sofredor e sacrificado povo, que tão enorme malapata se tenha abatido sobre ele. E quando nos debruçamos sobre o seu caso suis géneris, com a sua guerra fratricida, na qual a esmagadora maioria dos seus filhos sofreu os maiores dissabores por toda a parte no país, com muitos deles a morrer no mato por obra da fome, dos mosquitos e, sobretudo, dos seus próprios irmãos, enquanto uma míngua de sortudos se refastelava nos nimbos de uma riqueza usurpada, como esses que se candidatam à compra de residências de mais de 120 milhões de dólares, dá vontade de questionar se Deus realmente existe. E, passados cinco anos, quando chegamos ao fundo da questão na análise dessa imensa miséria (material e moral), deparamo-nos com um constato tão aterrador como ontem. Em 2006, o total dos depósitos bancários existentes em Angola totalizava mais de 2,5 biliões de dólares, enquanto o número de depositantes, que não ultrapassava os 2,2 por cento da população de Angola, ou seja, num total de uns 16 milhões de habitantes apenas qualquer coisa como 400 mil pessoas eram titulares duma conta bancária. Discrepância simplesmente ABISMAL.
Ora o que é aterrador é que hoje por perto paramos, pois essa discrepância foi rectificada à maneira angolana, com um fenomenal crescimento de fundos milionários e uma mais que sofrível melhoria no que concerne as mais modestas poupança familiares. E o drama aqui anunciado é o crescer do fosso entre ricos e pobres, uma espécie de bolha inflacionária que transformará os ricaços de hoje em futuros resquícios nauseabundos da Humanidade.

Resposta do F8 a uma crítica
Recebemos na nossa Redacção uma curiosa mensagem de protesto, carregada de impropérios, relacionada com o “A Quente” da nossa última edição a propósito da vaidade completamente descabida de JES a propósito do que ele considera ser uma enorme façanha, de que “devemos todos estar orgulhosos”, isto é, a propósito do término da primeira fase da construção de um Bairro a que ele, ou um dos seus “boys” deu o nome atípico (está cada vez mais na moda, o atípico) de centralidade, que, de facto, apenas tem como ponto positivo, e só para JES, esconder o vergonhoso fracasso do projecto de construção de 1 milhão de casas. Repetimos, hoje e aqui, esta empreitada ridícula, a começar pelo nome, centralidade, é um autêntico tiro nos pés. Primeiro, porque ao ser construída junto ao mar é um erro, deveríamos ter começado por construir centros urbanos mais para o interior do país, não junto à costa; segundo, quem é que vai querer ir viver num casulo de abelha quando está habituado a ter em seu redor espaço para o galo e suas galinhas, mais o pato?; quem é que vai poder pagar o que o Governo pede por essas casas?; e esses prédios com quatro andares, com elevador… quando faltar a luz e a água, como vai ser?... e a fuba vai ser feita como e aonde? E os mais-velhos, vão subir as escadas até ao quarto, ou décimo andar, como? Só se lá em cima estiver o coveiro funerário para o receber. Esperamos que esse leitor tenha sintonizado esta semana (20.01.11) a LAC, que focou estes problemas na sua emissão, “A sua opinião”, e mais de 90% dos auditores mostraram-se muito críticos, como não podia deixar de ser perante tão grande manifestação de infantilismo.

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