Kuiba Afonso*
A União Africana, como sempre e enquanto ainda vigorar no continente uma maioria de ditadores, que são, na organização um autêntico clube de compadres, que se protegem, perdeu, mais recentemente e uma vez mais a sua face, quando tentou tapar o sol com a peneira, quando os novos ventos empurravam Muammar Kadhafi, para fora do poder.
Tentando tudo fazer para impedir o triunfo da revolução, que poderá conceder a Líbia, pela primeira vez, uma Constituição e a instauração de um regime democrático, a UA, mesmo diante de todas evidências apelava a uma negociação destes com o moribundo regime de Kadhafi, ameaçando inclusive o não reconhecimento das novas autoridades.
O tempo foi passando e a realidade veio ao de cimo, o ditador que há 42 anos estava no poder foi derrubado e posteriormente morto. A comunidade internacional de imediato reconheceu as novas autoridades a excepção da União Africana, como se quisesse ressuscitar Kadhafi, pois só veio a reconhecer as novas autoridades no mês de Setembro.
E numa clara demonstração de ser uma organização que anda sempre a reboque dos acontecimentos, mesmo quando se tratem de africanos, afinal razão da sua existência, logo sobre a sua alçada, só no 16 de Janeiro, o presidente da Comissão Executiva da UA, Jean Ping, que durante muitos anos, foi braço direito do ex-ditador Omar Bongo do Gabão, logo também cultor dessa corrente de pensamento, esteve em Tripoli e um pouco envergonhadamente, disse pretender a organização "um virar de página com Tripoli e o que disse às autoridades foi primeiro que o passado, passou, independentemente das consequências. É preciso voltar a página e olhar para o futuro”, naquela que foi a sua primeira visita à Líbia desde o derrube do regime de Kadhafi.
As negociações decorreram num ambiente de relativo cinismo, uma vez as novas autoridades ainda estarem tocadas com a postura da UA, na fase de conflito e as farpas que foi lançando contra o Conselho Nacional de Transição (CNT) saído da rebelião como legítimo representante do povo líbio.
Recorde-se que muitos países africanos, onde ainda vigora a ditadura ou democracias incubadas, chegaram mesmo, na fase do conflito, a expulsar diplomatas líbios que haviam abandonado Kadhafi, como o Zimbabwe do ditador Robert Mugabe e ou a limitar os seus movimentos, como as pseudo democracias de Moçambique e de Angola, cujo papel foi a todos os níveis, politicamente, vergonhoso.
Pese esta situação e apelando a sua veia diplomática, Ping, reconheceu ser possível ultrapassar o mau-estar criado no passado, para além de acreditar que agora é o futuro que conta, porquanto a UA conta com o papel mobilizador forte da Líbia, pois sempre foi um dos seus principais financiadores monetários e não pode ser descurada a sua importância. “O regime anterior tinha os seus métodos, os seus meios, a sua visão própria das relações com os outros. O novo regime, parece-me, pretende ter relações normais e regulares com os seus irmãos africanos”, concluiu.
Confrontos armados entre grupos tribais
No capítulo interno, face a multiplicidade de tribos, com um forte ascendente cultural, sobre as populações, a situação não tem sido pacifica, até mesmo por aqueles que antes estavam unidos no combate contra a ditadura de Muammar Kadhafi.
Uma das grandes controversas tem sido a representação no novo governo, na Polícia e nas Forças Armadas de representantes de todas as tribos, principalmente daquelas que no calor da transição para a democracia se sublevaram contra o anterior regime e viram goradas as suas expectativas de integrarem os novos órgãos nacionais.
Assim e como a desmobilização dos guerrilheiros não tem sido pacifica, ainda é normal visualizarem-se homens civis armados, um pouco por todo o país, sendo bastante para em qualquer rixa haver o recurso as armas, como aquele que opunha nos últimos dias: elementos da brigada dos Mártires de Gharian e os de Al-Assabia, ambos da região sul de Tripoli.
A querela começou quando alegadamente, no mercado local, um membro da tribo Gharin foi agredido, apunhalado e despido, por membros do clã Al-Assabia, criando uma revolta que degenerou numa caça ao homem por parte dos primeiros que clamavam vingança, face ao que consideram uma blasfémia, pois um islâmico não pode ser despedido publicamente.
Os combates causaram cerca de 6 mortos e um número indeterminado de feridos, levando a que vários mediadores apelassem ao fim dos confrontos, o que só veio a ocorrer no dia 13, com a assinatura de um cessar-fogo e a troca de prisioneiros de guerra, confirmou o coronel Ahmed Omar Ibrahim al-Fakhi, do conselho militar de Gharian, acrescentando que "os combates cessaram desde a assinatura e que o seu grupo face ao sucedido havia capturado 24 combatentes na localidade vizinha de al-Assabia, e o grupo rival quatro dos seus homens, que foram tyrocados com o acordo.
*Com agências noticiosas
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