sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Taxas anárquicas e outras anarquias


O negócio a que aludimos neste artigo vai da paragem da Moagem no Rocha Pinto até à rotunda das Cartas ou da Padaria, umas largas centenas de metros de comprimento, milhares de metros quadrados de superfície e centenas de vendedoras ali sentadas à espera de clientes eventualmente interessados nos seus produtos. O problema é que elas não são proprietárias desse espaço comercial e evidentemente deviam ter que pagar as devidas taxas para poder exercer a sua actividade de venda. Mas, oficialmente não pagam, porque aquilo no fundo não é espaço comercial nenhum, são simplesmente as bermas do que deveria ser uma auto-estrada, que também não é nada disso, porque os patrícios estão-se borrifando para as pontes e atravessam a malograda auto-estrada por toda a parte em que haja hipótese para isso. Felizmente, estão ali os polícias da Ordem Pública, que aparecem sempre em cima de carros azuis, saltam para o chão e percorrem as tais bermas onde estão as quitandeiras, fazendo-se pagar as indevidas taxas à módica quantia de 50 kz por cada uma delas. Se houver 500 quitandeiras (há mais) isso dá, todos os dias, uns 25.000Kz em caixa, o suficiente para arredondar com algumas boas “birras” os fins de mês sempre curtos em kumbú

As reticências de Ângela Merckel
Segundo informações que ningém divulgou, mas que chegaram aos ouvidos dos nossos mais finos invetigadores dos bastidores malcheirosos dos subterrâneos do poder instiuído à paulada e à batota em Angola, parece que faz parte do protocolo aceite e patenteado pelos mais ávidos lambuzadores de petróleo e outros representantes de países mais pequenos, deixar pelo caminho, como recordação, uma ou outra frasezinha laudativa ao nosso Executivo. Raros são aqueles que falham e essa artificialidade.
Segundo ainda os mesmos Sherlock Holmes, Angela Merkel é talvez, até agora, a única líder estrangeira que visita Angola sem louvar o "progresso alcançado desde o fim da guerra". À pergunta foi tendeciosa, o jornalista perguntou “candidamente” a essa governante para comparar a Segunda Guerra Mundial com a guerra civil de Angola. Gostaria que Merckel se pronunciasse sobre o que foi feito lá e o que está ser feito cá depois das respectivas fases de guerra. A resposta que se esperava era, evidentemente, mais um piropo ao soba grande, Zedú, que o País fez grandes progressos e blablabla.... Mas a estadista germânica não foi nessa, disse o que ninguém estava à espera, que a Alemanha enveredou por igualdade de direitos dos cidadaos, primado da lei, democracia e educação, educação, educação", no jeito de “mister” Bondarenko do Ksabuscorp!
Está dito! “Quanto a mim”, continuou essa Senhora, “ um pais deve ser construído pelos alicerces e não pela demonstração do luxo”.
Foi assim na Alemanha e ...... e hoje vemos a potência que ela é no mundo. E um país que não tem diamantes nem petróleo, mas, graças a Deus e sobretudo a eles mesmo, é rico em massa cinzenta.... O resultado está à vista! Um Grande Pais!

O espantoso exemplo da Bélgica
Há mais de 400 dias sem governo, a Bégicas é um dos países da Europa que melhor atravessouc a crise. O seu crescimento económico nunca deixou de ser positivo e a taxa de desemprego é das menos inquietantes da União Eurpeia. O que se passa na Bélgica, por mais estranho que pareça, tem algo a ver com os nossos problemas africanos, nomeadamente no que toca a questões relacionadas com conflito étnicos e, nos casos extremos, com manifestações de tribalismo. O que acontece é que nesse país coabitam duas “etnias”, uma flamenga, do Norte, na Flândria, outra francófona, do Sul, na Walónia. Pouco têm a ver uma com a outra: línguas diferentes, usos e costumes diferentes, religiões diferentes.
Os flamengos, maioritários no que toca ao número dos seus habitantes, sempre foram dominados, até há bem pouco tempo, digamos até aí há uns dez anos atrás, pelos seus compatriotas do Sul, os Walons francófones. Estes, desde a independência, em 1831, ocuparam quase exclusivamente a capital, Bruxelas, relegaram a língua falada em flandres para um papel e impoetância subalternos e, enquanto foram gozando da sua fictícia superioridade, os Flamengos trabalharam, desenvolveram riquezas, passaram a ser a região rica e, por fim, tomaram o poder há coisa de meia dúzia de anos. Querem agora ser independentes e formar uma nova Nação, a Grande Flândria.
Mas, sem governo, como é que eles governam? Têm um rei, Alberto II, que ainda consegue impor a sua imagem de unificador, têm um senso cívico notável, adulto, e, em cada sector da economia, administração e serviços diversos, os responsáveis principais estão perfritamente identificados, a população desfruta de serviços de Educação, Saúde, Transportes apoio social dos melhores da Europa. É quase como em Angola, com algumas pequenas diferenças. No nosso país, também não temos governo desde 2010, temos um rei que não é rei, mas manda muito mais que o rei Belga, o nível de maturidade cívica é muito baixo, os serviços só existem no papel e nas intenções de agentes impotentes, e os Ovimbundos, discriminados e dominados ainda não tomaram o poder!

Casas na cidade do Kilamba a 35.00 Usd
A respeito da fantástica façanha do Executivo no que toca à grandiosidade do projecto da cidade do Kilamba, já dissemos aqui no nosso Folhinha o que tínhamos para dizer, isto é, o lado pequenino da “coisa”, a infantilidade do raciocínio e o absurdo da pretenção de associar esta empreitada à luta contra a pobreza, o que também foi dito, é verdade, mas em surdina e por via de uma data de eufemismos e figuras de estilo, por alguns órgãos de imprensa menos submissos. Para não ferir o Soba Grande, Nguxito. Contudo, aparentement, tudo parece estar como a Ngaxi do Paulo Flores, “Carroceria tá bala, mas o motor baba óleo”.
O motor, é pôr o projecto nas mãos dos “motoristas”, quer dizer, dos ocupantes dos apartamentos, e por ora nem sequer preço há, quanto mais acesso!
Mas a esse respeito, também, os nossos Sherlock Holmes fizeram a sua façanha, conseguiram saber que haveria lugar para os mais pobrezinhos no faraónico projecto, casas como esta que se vê na fotografia aqui ao lado, que eles podem construir nos terrenos situados nas cercanias da cidade do Kilambaa, no âmbito de um outro grandioso porjecto, que já tem nome, “Os musseques do Zedú”! Maneira de falar, porque as casas não são de borla e quem paga é o Zé-povinho.

Multicaixas serão miragens?
No nosso país, continua a ser uma mania tomar desejos por realidade, e continuamos a navegar num mar de quimeras e miragens que se anunciam como sendo futuras realidades. Acontece mesmo toda a gente as ver, poder mesmo se servir delas durante um certo tempo, só que, depois de algum tempo de uso, Catrapum!, acabou, não há mais, sumiu e passa a ser de novo aquilo que de início era, uma simples miragem. São fenómenos típicos da nossa terra, de que um belo exemplo são as Multicaixas espalhadas pela cidade capital pelas cada vez mais numerosas agências das sua diferentes casas bancárias.
No passado dia 24.06.11, um dos nossos camaradas de redacção teve que “visitar” mais de dez agências para conseguir enfim chegar a uma delas onde houvesse kumbú que se apalpe, pois em todas as que eles tinha visitado antes não havia nem um kwanza. Caixas!?...Qual quê, senhor, miragens, só miragens de caixas!
Mas nesse dia a necessidade de dinheiro do nosso colega era mesmo premente, e nessas andanças ele consumiu mais de uma hora, numa roda viva, até enfim chegar ali perto da ex-rotunda da Maianga para poder receber o seu kumbú, graças a um funcionário da sede do BFA, na Amílcar Cabral. É verdade, havia ali, na sede desse banco, um funcionário em funções, a reaprovisionar regularmente uma das caixas “tomada de assalto” por um fluxo de gente a tentar encontrar “algum” para custear um fim-de-semana agradável. O nosso amigo meteu-se na bicha, esperou mais uma boa meia-hora e recebeu o seu kumbú. Tudo isto se passou de manhã. Pela tardinha, não falhou, também essa Multicaixa virou miragem.

A EDEL e os cortes de luz
Incrível mas verdade. Aconteceu em Luanda e muito recentemente, com um fiel cliente da EDEL (Empresa de distribuição de electricidade, E.P.). Fiel, porque paga com regularidade as suas contas de luz. Trata-se da Jota Dos Santos, Limitada., SARL, bem cotada na nossa praça. Desta vez, aconteceu, porém, a firma ter um ligeiro atraso no pagamento da sua conta à EDEL, à data limite do 30 de Junho de 2010.
Dois dias antes da expiração da moratória, fiscais da EDEL surgiram nas instalações da Jota Dos Santos, alicates nas mãos, afirmando que ali estavam para cortar a luz. Tratava-se de uma operação de bluff, com o objectivo de receber uma gasosa
Como os proprietários da Jota protestaram, dizendo que o termo de pagamento ainda não tinha chegado, e não meteram a mão ao bolso para dar gasosa por ameaças tão simplórias, os fiscais foram-se de mãos a abanar mas não perdoaram. No dia 1 de Julho cortaram a energia ao Jota Dos Santos, vingando-se assim da avarenta atitude dos seus proprietários, “Pega lá qué prá prenderes”, paralisando as suas actividades e lançando a empresa numa escuridão total.
É difícil entender que a EDEL feche os olhos diante destes verdadeiros traficantes ilegais de gassosas e de energia, que se arrogam o direito de cortar a luz a um cliente que teve apenas o atraso de um dia de pagamento.

Os das mó de cima
Os moradores do Grafanil, concretamente, os que habitam na rua Kimbanguista, lamentam o recente advento de uma inusitada perturbação nocturna perpetrada pelos meliantes do bairro e dos seus arredores. É todos os dias a mesma cantiga, mal chega a fatídica hora do poente dar nas vistas. Desce o sol, cresce a penumbra e a noite cai. E então é que são elas, ou melhor, eles, um grupo de meliantes denominsado “Os Corsários”, que veio sem vantagem nenhuma para os pacatos cidadãos que habitam naquelas paragens substituir as famigeradas “Amazonas”, desaparecidas daquela zona como que por encanto já lá vão uns meses. Cometem sem pejo nem vergonha desmandos, agressões físicas e roubos há mais de três meses, beneficiando da cumplicidade passiva de um enorme terreno baldio de mais de um hectare que ali se encontra. Abandonado. E entregue a gatos e cães vadios. Segundo uma fonte que preferiu o anonimato, supõe-se que um dos mais altos dignatários da Polícia Nacional seja o dono do terreno. Outros dizem que o proprietário é ministro e há mesmo quem avance o nome de Zé Maria (qual deles, o governador ou o Salvador). Simples mujimbos sem consistência. No entanto, verdade verdadinha é o sentimento profundo do povo, expresso numa tirada verbal que assegura que os donos daquele terreno são também donos do País, e por isso é que ninguém está a construir naquele sítio. E comentam, azedos, “Os que estão na mó de cima molham os que estão em baixo, fazem o que lhes apetece e ninguém os incomoda”.

Blues angolano
Chama-se Proletário, ou Manprole, e canta que se farta. Fez sucesso há mais de dez anos atrás e regressa às luzes da ribalta com uma surpreendente canção que lembra as origens dos primeiros blues cantados por escravos desterrados nas terras da América. Ao seu lado puseram um conterrâneo seu, Yuri da Cunha, sempre pronto a apanhá-lo na descida, quer dizer, quando Manprole se descai nas suas “blue notes” e dá a impressão de já não ter mais folgo para continuar. Yuri apanha o ritmo e o tom, mas esquece o blues do parceiro e reenfia a canção na sua partitura clássica. E no refrão seguinte lá vem o Manprole outra vez, a “desafinar”, mas num requintado e artístico desafinar, pois parece-nos que ele é mesmo uma jóia preciosa resistente à passagem dos séculos, da tão famosa tonalidade africana com as suas “blue notes”, hoje votada ao esquecimento mas ainda viva nas almas dos negros do mundo inteiro.
Imagem: E as taxas sobem tal qual acontecia, ao primeiro sinal de dificuldades, ...
dissidentex.wordpress.com

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