O Bureau Político do MPLA considerou existirem em Angola (por enquanto não fala dos portugueses) órgãos de Comunicação Social de primeira e de segunda.
Orlando Castro*
De primeira, como se compreende, são aqueles que cumprem “com zelo e dedicação o seu papel, primando pela objectividade, ética e deontologia profissional, que deve ser apanágio da comunicação social, tendo em conta a sua importância primordial na sociedade”. Tradução: os que são a favor do regime, sendo ou não do Estado.
Num comunicado do Bureau Político do MPLA, este órgão “enaltece o esforço de órgãos, quer públicos quer privados (refere-se aos privados a maioria com excepção de dois: Folha 8 e Agora, todos comprados pelo próprio REGIME/MPLA), que, com elevado espírito patriótico e alto sentido de responsabilidade, fazem, no dia-a-dia, um jornalismo com base na verdade, contribuindo para a democratização do país, o desenvolvimento e a reconciliação da família angolana”.
Creio, aliás, que é chegada a altura de – por exemplo – o general Egídio Sousa Santos que, como Chefe do Estado Maior General Adjunto, juntar ao pelouro da Educação Patriótica das Forças Armadas Angolanas, o da Educação Patriótica dos jornalistas.
Na mesma linha de Fernando Lima, consultor político do Presidente da República de Portugal, e seu ex-assessor de imprensa, para quem "uma informação não domesticada constitui uma ameaça com a qual nem sempre se sabe lidar", o MPLA quer pôr em ordem, na ordem e sob as suas ordens todos aqueles que não se deixam domesticar.
Assim, o Bureau Político do MPLA manifesta a sua “indignação e total repulsa em relação à postura do semanário Folha 8 que, reiteradas vezes, expõe, de forma abusiva, a imagem de altos dirigentes do Estado, dando-lhes um tratamento que extravasa os limites do tolerável, procurando a reacção dos visados, de modo a colocar-se cobardemente numa posição de vítima”.
Certamente baseado nos conceitos democráticos, de pluralismo e de liberdade de Kim Jong-il (ou será dos Khmer Vermelhos de Pol Pot?), o MPLA considera “que o facto de tentar fazer futurologia com ilustração de imagens reais não configura, apenas, uma violação ao direito ao bom nome dos visados, enquanto cidadãos e enquanto dirigentes do país, mas de crime passível de responsabilização, nos termos da lei”.
O Bureau Político do MPLA deplora o facto de o semanário Folha 8, “na sua vã tentativa de protagonismo doentio, esquecer, deliberadamente, que o livre exercício do direito à informação e à liberdade de imprensa tem como limite o respeito pelos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, direitos estes de igual forma protegidos constitucionalmente”.
Ou seja, o Folha 8 entende que a liberdade dos outros termina onde começa a sua e que a sua termina onde começa a dos outros. Mas isso está errado. Segundo o MPLA, o Folha 8 só tem liberdade para dizer o que o regime quer que diga. Quando o fizer – na óptica dos donos do país - passará a ser exemplo de bom jornalismo.
O Bureau Político do MPLA reitera (embora com a mão na pistola) o seu comprometimento com a liberdade de imprensa, um principio pelo qual um Estado democrático assegura a liberdade de expressão aos seus cidadãos, quer individualmente quer associados, através dos órgãos de Comunicação Social, ao mesmo tempo que condena a falta de ética e deontologia profissional, bem como o exercício irresponsável do Jornalismo que, em nada, dignifica a classe.
E é assim. Uns querem os jornalistas domesticados à moda europeia, outros à moda africana. Se o conseguirem o resultado final será sempre o mesmo: jornalista bom é jornalista morto.
*http://www.altohama.blogspot.com
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