sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

AQUI ESCREVO EU. William Tonet. ESTOU NA BANDA E NA TRINCHEIRA








Voltei!
Estou na banda, no meu país: Angola.

Na minha trincheira: Folha 8. E no seio da minha família, aquela que pulsa comigo o sentir desta luta libertária no nosso torrão tão rico em riquezas naturais, mas com um povo vivendo tão mal, tão miseravelmente posto de parte pela discriminação e má gestão da coisa pública.

Voltei para agradecer, mais uma vez, a todos que num momento delicado da minha vida, souberam emprestar a sua solidariedade e reza, na altura da intervenção cirúrgica a que fui submetido.

Voltei, porque os jornalistas resistentes do F8, os nossos fiéis leitores e os autóctones que se revêem no nosso trabalho, não me perdoariam nunca se tomasse a mesma posição cobarde que a do comandante Francesco Schettino, comandante do paquete italiano, Costa Concordia, que, segundo tudo indica, teria abandonado os seus companheiros e o público, assim que o seu navio começou a meter água após ter batido em rochas e encalhado na ilha de Livorno.

Voltei, por ser da estirpe de homens que ao matar a cobra, não só a mostra, como também exibe o pau, logo não poderia nunca deixar de assumir as minhas responsabilidades nesta hora.

Voltei, porque nas derrotas, enquanto director deste projecto identitariamente autóctone, tenho de ser o primeiro a assumi-las daí ter cunhado as minhas impressões digitais no que considerei uma falha a todos os títulos lamentável: a publicação de uma fotografia apócrifa de um actor sem rosto.

Fi-lo, porque qui-lo e em consciência, logo, não me envergonho, nem sinto ter sido um sinal de fraqueza, medo ou temor, mas sim de respeito pela nossa linha editorial, pelos nossos leitores e por todos quanto foram atingidos devido a uma imprudência humana.

Reconhecer os erros, enquanto humano, não diminui ninguém… Nós somos respeitadores das instituições deste país e dos seus responsáveis, por sermos ao mesmo tempo críticos e fiscais da sua acção.

A nossa missão não é falsear os actos do poder é observá-la, louvá-la e criticá-la, quando em causa estiverem os desvios e a má-gestão da coisa e bens públicos.

Voltei, também para agradecer a todos os bajuladores do templo que se dispuseram a criticar o F8, os seus jornalistas e o director, sem nunca o terem lido e nem sequer terem visto a polémica imagem. Tenho pena deles enquanto bocas de aluguer e rezo porque eles não são culpados e por isso nem lhes assaco responsabilidades, pois se a maioria nunca leu um livro do Tio Patinhas, como poderia falar com outra propriedade que não a da subserviência idólatra ao nosso templo pagão?

Voltei para bater palmas a todos os colegas de profissão da imprensa pública e privada, que lançaram os mais gentis mimos contra o F8 e seu director, chegando mesmo, o que nos comoveu profundamente, a preocuparem-se com o destino da nossa linha editorial e o rumo do projecto. Agradeço. Agradecemos o papel de heróis e vilões.
Mas, caros colegas, o leitor é e será sempre, creio, o nosso grande julgador e ele ditará, através das leis do mercado, quem consumir. Não se preocupem, não nos venderemos, não nos comprarão, nem que fique uma só FOLHA!

O Folha 8, enquanto corpo vivo, tem renovado as suas células na dinâmica e natural lei da vida, tem passado várias provações, tem resistido à discriminação e perseguição do poder, tem atravessado o deserto, mesmo quando institucionalmente o regime ordena que não se coloque publicidade no nosso bissemanário, como forma de nos asfixiar.

O nosso lema é a defesa de aquém menos tem. Para começar, defesa das tribos autóctones, com particular realce para os Koishan, defesa das línguas angolanas, defesa da devolução da Terra à soberania do povo na Constituição, tudo questões que causam calafrios à visão luso-tropicalista de muitos senhores no regime. Mas, mesmo que pesem todas as intempéries a que somos submetidos, temos de avançar e vamos continuar a nossa caminhada com o corpo dos jornalistas guerreiros que sabem resistir à dureza da vida em nome da cidadania e da democracia, rejeitando a comodidade e o aprisionamento da consciência em troca dos dólares da discriminação.

Sabemos que tudo isso, todas as ordens de morte, críticas, e denúncias feitas no Jornal de Angola, na Rádio Nacional de Angola, na Angop, na TPA e em alguns privados, visam reeditar, por falência quase total das políticas e promessas do regime em ano eleitoral, o temor de 1977. E, quando o Conselho Nacional de Comunicação Social se assume, publicamente, como sendo um departamento do Ministério da Comunicação Social, omitindo a instigação à morte feita no Jornal de Angola, através duma caricatura, onde aparece um militante-delinquente do MPLA a esfaquear o corpo do jornal, esvaindo-se em sangue, temos a convicção de que o nosso crime foi ter escolhido "viver na verdade", pois nunca fizemos apologia, no Folha 8 do assassinato do Presidente José Eduardo dos Santos, como ordenou o Bureau Político do MPLA, através de um dos seus braços armados, o Jornal de Angola e o seu director, José Ribeiro, contra a minha pessoa. Não faço papel de vítima, porque enquanto defensor da mudança me sentir mais um corpo vivo, contra as políticas dantescas e discriminatórias. Não tenho medo da morte, pois estou vivo e preparado para morrer...

É verdade que em 1977, também foi assim, quando era director do JA, Costa Andrade Ndunduma, que caricaturou Nito Alves no corpo de uma víbora e Artur Pestana Pepetela, não obstante reconhecê-lo como grande escritor, emprestou a sua pena a um texto demoníaco, que sentenciou a morte de milhares de militantes do MPLA.

Portanto esta é uma estratégia do regime, ao longo dos anos, quando as coisas estão a correr mal, não se importa de ter as mãos lambuzadas e manchadas de sangue.

O Folha 8 é apologista de um combate cerrado à má governação, à má distribuição da riqueza nacional, à discriminação e à corrupção, mas nunca propôs a morte de ninguém nas suas páginas, pelo que lamento ainda existir gente no seio do MPLA e do JA, que não se arrepende de ter as suas impressões digitais num dos maiores homicídios contra a humanidade, depois da II Guerra Mundial, no 27 de Maio de 1977, onde foram assassinados cerca de 80 mil jovens... Salva-nos a certeza de que este crime não prescreve e um dia alguém irá responder no Tribunal Penal Internacional da Haia…
Por tudo isso, estou preparado para receber as algemas do regime e ser atirado nas suas fedorentas masmorras, piores que as do regime colonial português. E, se for o caso, estou aqui, diante dos meus algozes, ciente de o meu único crime ser, tal como o de outros, defender a implantação de uma verdadeira democracia e denunciar a corrupção que corrói o país, tornando uns poucos, detentores dos milhões de dólares do país, enquanto os milhões de autóctones definham à fome, nas mais ignóbeis sarjetas da miséria humana.
Finalmente, voltei porque "ACREDITO; ANGOLA VAI SER DIFERENTE! VAI MUDAR E FAZER UMA FAXINA A TODOS OS CORRUPTOS E BAJULADORES.
Voltei...

Um comentário:

  1. Folgo em saber que, além de outros (raros) atributos, continuas a ter coluna vertebral. É um problema, sobretudo para aqueles que para contarem até 12 têm de se descalçar...

    Forte, eterno e terno Abraço,

    Orlando Castro

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