A UNITA decidiu trazer à luz do dia uma figura usual nas mais avançadas democracias do mundo, a criação de um “governo sombra”, mas não com tanta incidência como a que criou depois da realização do seu último congresso. Desta vez o objectivo dessa iniciativa, resumindo, é fiscalizar as acções dos vários órgãos do governo eleito e fazer previsões.
O problema que se levanta é de saber de que modo a UNITA vai conseguir comunicar a sua visão à sociedade em geral e aos seus adeptos em particular, sabendo-se que tem obstáculos a ultrapassar nos meios da comunicação social.
A mensagem é apimentada, tantas são as razões incidentemente criadas por acções desastrosas de membros proeminentes do regime.
A UNITA tem de dizer se concorda que as eleições autárquicas sejam realizadas depois das de 2012, ponto um; se a resposta for sim, é óbvio que o regime vai continuar a blindar a sua influência também a esse nível.
Seria talvez uma boa ideia que Samakuva e o seu “governo sombra” digam, agora, se vão ou não às eleições gerais, quando o MPLA tem os meios de comunicação públicos e privados, tem os hotéis, as salas de reuniões, as companhias de transporte terrestres, marítimos e aéreos, enfim, tem tudo e mais alguma coisa à sua disposição.
Enquanto a UNITA, em particular, e a oposição em geral, nada têm. Quer dizer, a UNITA e os demais partidos vão às eleições com uma mão à frente e outra atrás, enquanto, pela socapa, é mesmo assim, a SONANGOL, Endiama e outras grandes empresas desviam fundos para o MPLA.
Milhões de dólares!
Nisto, à parte a trama evidente que se prepara, o mwangolé, se aceitar ir a eleições com um bilhete de identidade com a cara dos dois presidentes do MPLA e com o Kwanza todo armadilhado, com a cara de José Eduardo dos Santos e a bandeira da República, confundida com a do MPLA, vai votar serenamente em alma e consciência?... Mas como?
Independência aonde?
O mais grave é que, por mais que se mudem os membros da Comissão Eleitoral Independente – CEI - (sic), não há maneira de desarmadilhar o plano do regime JES/MPLA. Está tudo bem armadilhado. Ao cubo! Não haverá surpresas.
Por exemplo, não se compreende bem por que razão refazer o registo eleitoral em 2012 é tão importante quando ele já foi feito em 2008 (parece uma questão de vida ou de morte, com o próprio JES a se armar em agente de publicidade e vir a terreiro dar a sua voz na propaganda radiofónica do referido registo eleitoral!). Em nenhuma parte do mundo que se respeite como país, isso acontece.
Acontece aqui.
Imaginemos o contrário, um governo que descura esse ponto e comunica aos seus cidadãos que terão de revalidar os seus cartões eleitorais se os tiverem perdido, ou destruído por esta ou aquela razão. Os eleitores não implicados nesse caso de figura apresentar-se-ão como os seus velhos cartões.
E depois?
O mistério é descortinar se o velho cartão está digitalizado ou não? Se estiver, qual é o problema? Nenhum.
Ora, ao que parece, o problema é exactamente esse, o antigo sistema, podre até às medulas da medula, instrumento fundamental da batota de 2008, já foi destruído!!
É uma simples hipótese, mas gostaríamos muito que nos contradissessem!
Esta é a primordial questão que o governo sombra da UNITA terá de trazer a luz do dia e agora. Tal como fez o AMC, denunciando a trama de se continuar a falsear a democracia e a servir de ninho acomodado à ditadura. Aplaudimos sem reservas a criação do “Governo Sombra” da UNITA. Esperemos que funcione
Governo Sombra e análise de Heitor
Estando nós num país governado por ex-guerrilheiros, a primeira preocupação do Dr. Fernando Heitor foi salientar que este “governo sombra” da UNITA não era de modo algum uma organização secreta, nem organização fantasma, que tem rostos, base institucional e propósitos bem claros.
Posto isto, é claro que imediatamente se levanta a questão de saber quais são os propósitos do referido governo, o que numa palavra pode ser resumido por fiscalizar, isso mesmo, controlar de perto as acções do Executivo depois de terem sido feitos os devidos diagnósticos da real situação económica, financeira e social do país
Esta é a base da actuação a que se propõe a UNITA, que implica, naturalmente, um recenseamento apurado dos principais problemas e dificuldades, com que a população e as empresas se debatem actualmente, e isso sem esconder «as essenciais ansiedades das famílias (jovens e adultos, homens e mulheres) e das empresas angolanas».
Portanto, o objectivo principal do “governo sombra” da UNITA, partindo destas premissas e utilizando os dados objectivos colhidos no terreno, será elaborar um programa de governo sustentável, credível e duradouro para Angola, capaz de «dar boas e duradoiras soluções aos problemas reais da sociedade angolana; (…) responder positivamente aos legítimos anseios das famílias e das empresas angolanas; transformar qualitativamente este nosso país»
Segundo Fernando Heitor, estas são tarefas «bastante motivantes; socialmente nobres e politicamente patrióticas. Estamos a trabalhar para ajudar a conhecer-se melhor o nosso país, identificando com objectividade e realismo os seus principais problemas e ajudar o maior partido na oposição a gizar um programa de governo sério, realista e materializável, capaz de trazer para Angola um desenvolvimento sustentado e multifacetado e dar aos angolanos em geral, progresso e bem-estar que eles anseiam».
Vistas as coisas por este ângulo, o das boas-intenções, sabendo-se que delas está o Inferno cheio e que as do MPLA nunca passaram disso e continuarão a ser eternas boas-intenções sem seguimento na prática, podemos dizer que neste projecto da UNITA ainda não foi dado passo concreto até chegarmos a este ponto do discurso, ao que Heitor contrapõe o niilismo presente na esmagadora maioria de planos do Executivo (e do ex-governo) – resolver os problemas do povo, paz, emprego, água, luz, electricidade, saneamento, educação, porto seco, Aldeia Nova, Nosso Super, o milhão de casas em quatro anos, os milhões de postos de trabalho, as centralidades, sobretudo o Kilamba, cidade fantasma, vazia mais de seis meses depois da sua espectacular inauguração ao som das trompetas da sua declarada majestade e da glória do Executivo, etc., etc….
Ora, é justamente a propósito destes falhanços clamorosos que Heitor assume o compromisso de que «o governo sombra da UNITA não irá prometer nada que não possam realizar no prazo normal de governação; não irá criar expectativas enganosas, não irá fomentar tensões, desilusões e frustrações a quem já tanto sofre. Seremos ambiciosos mas realistas (…) Somos apologistas de uma mudança em Angola que traga qualidade e não da mudança na mediocridade a que afinal, já estamos habituados e fartos»!
E, nesta empreitada verbal, Heitor sublinha com ênfase: «E digo-vos, olhos nos olhos, com toda a honestidade intelectual, esta qualidade de vida, as pessoas que governam este país há tantos anos, nunca poderão trazê-la! E não podem porquê? Porque eles durante anos sucessivos já experimentaram tudo o que sabem e até o que não sabem, já ocuparam todos os altos cargos de Estado deste país. Já foram embaixadores, ministros; presidentes de empresas; de organizações espontâneas e não espontâneas; governadores; generais e sei lá que mais e quais são os resultados finais? Pobreza a crescer; desemprego a aumentar; informalidade da economia a aumentar; importações a aumentar; criminalidade a aumentar; violência doméstica a aumentar; prisões a aumentar; assimetrias regionais a aumentar; pobreza a aumentar; doenças a aumentar; mortes a aumentar... Enfim, estamos sempre a subir no negativo e sempre a descer naquilo que são os indicadores sociais positivos! Tudo isto é o resultado das más políticas do governo do MPLA (…)».
As confissões de JES
O mais curioso é que estas duras palavras pronunciadas pelo Dr. Fernando Heitor, dando a entender que o governo sombra que ele lidera não consegue entender como foi possível, passados 10 anos de paz militar consolidada, aos quais se devem adicionar mais 26 anos de poder absoluto do MPLA, tenham apenas sido um eco das palavras do próprio presidente do MPLA, da República e chefe do executivo de Angola, que veio em Dezembro passado a público dizer que “permanecem por realizar objectivos essenciais como erradicar a fome; pobreza e analfabetismo; injustiças sociais; intolerância; preconceitos raciais, regionais e tribais etc. (ditos de JES, na recente mensagem de fim de ano 2011!)».
Magnífico apontamento para os lembretes da história de Angola!
Magnífico e conducente ao inevitável constato de falhanço geral das políticas do sistema JES/MPLA, que, depois de tantos anos no poder, não conseguiram concretizar “o sonho de construir uma Angola para todos onde cada família angolana se sinta realizada, possuindo o necessário para ter uma vida condigna”.E, porque redondamente falharam, como reconhece o próprio presidente da República, não será que é mais que tempo de deixar os outros governar?...
E Heitor não se encolhe, ataca o bicho pelos cornos, passe a expressão, expressando a sua profunda convicção de que a UNITA pode governar melhor (menos mal, diríamos) o nosso país.
«Deixem de cometer fraudes eleitorais», clama, «organizem eleições verdadeiramente transparentes, justas que permitam que o voto do povo, não seja roubado nas urnas ou durante a contagem informática, cujo software impede os adversários de testar e controlar! Se fizessem isso, a mudança que o povo tanto reclama já teria acontecido em 200, e hoje o presidente da República ter-se-ia livrado de fazer deste seu discurso cínico!
«Sim, senhor presidente!, disse Fernando Heitor, «por culpa das más politicas do seu executivo, o cidadão angolano “...sente-se excluído do processo de crescimento do país ou descriminado por factores de ordem subjectiva", como, por exemplo, o fanatismo partidário dos militantes do partido que Vxcia lidera»!
E vai daí virem à tona outros exemplos dolorosos, o dessa mãe que manda matar seu próprio filho por ela ser da OMA/MPLA e o filho ser da UNITA, o desalojamento e destruição brutal de casas, de várias famílias, no Miramar, transferidas para o zango; o julgamento e condenação de jornalistas em hasta pública por outros jornalistas dos media estatais, um acto bárbaro, e retrógrado, segundo Heitor, significando a presunção de culpa a impor-se à presunção de inocência, como foi o caso da fotomontagem do jornal Folha 8, que remete também ao caso de cárcere privado de Ngola Kabango, questões fanaticamente manipuladas pelos media estatais, num sensacionalismo patético e excesso doentio de zelo; condenações anunciadas na imprensa de gestores públicos, sem que estes tenham sido sujeitos a julgamentos públicos em tribunais apropriados; manifestações pacíficas a terem tratamento discriminatório, sendo as que apoiam o governo e o presidente autorizadas, financiadas e largamente publicitadas pelos media estatais, enquanto as que revelam indignação, descontentamento face a injustiças e abusos de poder, são arbitrariamente rechaçadas, pela administração publica e ou pela policia. E a lei que lhes dá cobertura é a mesma e os cidadãos envolvidos são todos deste país!
A verdade á que o Dr. Fernando Heitor não se esqueceu de nada, pôs dedo em todas as feridas sofridas pelos angolanos, ao ponto de lembrar, com pertinência, a grandiosa palhaçada nacional, quando Sua Excelência, Presidente, «agrava ainda mais a vida já complicada dos cidadãos de Luanda, ao sair do palácio para as suas visitas ou passeios de campo, ao fazer-se acompanhar de centenas de militares e polícias armados até aos dentes, que sitiam a cidade numa demonstração de força de fazer inveja aos imperadores comunistas da Korea do Norte»! E de concluir, «É a cultura do medo que o MPLA através do seu governo insiste em impor aos angolanos, mesmo depois de 10 anos sem guerras nem ameaças internas armadas»!
Mas não é tudo, pois a todos estes exemplos demonstrativos de uma espantosa incompetência, juntam-se “espectáculos políticos” desopilantes se não fosse em Angola que eles são dados
«(1)- o problema das matrículas na educação, continua a ser um bico-de-obra!
(2)- o ministro da economia ( Abraão Gourgel) informa-nos que dos 150 milhões prometidos p/ o crédito agrícola de campanha, pouco mais de 67 milhões foram utilizados, o que beneficiou 35.146 camponeses ora isto perfaz a irrisória quantia de kz.1.906 por camponês. É só fazerem a conta de dividir! Cada camponês recebeu menos de 2 mil kz. E para o crédito agrícola de investimento, prometeram para 2011, USD 200 milhões mas só disponibilizaram 100 milhões. E pensam que a agricultura se desenvolve com estas irrisórias quantias!
(3)- o programa de crédito para a compra de habitação, continua adiado, sem os prometidos mecanismos de bonificação assegurados..
(4)- a centralidade de Kilamba, tão pomposamente inaugurada e freneticamente anunciada como ex-libris das acções do governo, continua inabitada após mais de 6 meses! A monumental cidade é um deserto de cimento habitado por ratos, corujas, gatos e cães vadios.
(5)- Angola ganha o posto de terceiro país do mundo com mais sinistralidade rodoviária
(6)- dizem-nos que criaram mais de 20 mil empregos, mas continuamos a ver cada vez mais jovens e adultos a venderem nas ruas e ruelas das cidades;
(7)- dizem-nos que o salário mínimo nacional aumentou 15% nas na prática o salário real só aumentou 1% porque a taxa de inflação acumulada ronda os 14%. ... enfim só aldrabices...intrujices... num acumular de promessas e mais promessas...para conquistar o voto ignorante do povo !
(8)- estamos à espera do Relatório e Balanço do Executivo do ano de 2011 e da Conta Geral do Estado, esta última, como sabem, este governo em 36 anos de poder, não consegue elaborar;
(9)- o orçamento para 2012 que foi aprovado pela Assembleia e que tive o prazer de analisar tecnicamente pelos vistos não irá alterar grande coisa a situação social degradante em que vive a maioria das populações de Angola».
Assim falou Fernando Heitor, como um Senhor Professor, a dar uma aula de consciencialização política aos angolanos. Vejamos agora, na prática que eficácia terá esta implementação de um “governo sombra” por parte da UNITA».
«Já sabemos que se irá esbanjar muito dinheiro na campanha eleitoral, muitas consciências serão compradas, muitas pessoas serão enganadas, outras ameaçadas vai-se fazer muito alarido, e depois se o MPLA voltar a ganhar as eleições, a mal como sempre nos habituou, tudo ficará na mesma ou ainda pior, para os angolanos. Para terminar gostaria de informar-vos que pensamos fazer este exercício de conversa franca e aberta convosco, mais vezes, pelo menos uma vez por mês, e algumas vezes poderá ser durante o café da manhã, tomando juntos o pequeno-almoço! Somos apologistas do diálogo aberto, abrangente, frontal e fraterno. O País é nosso, temos o direito de discutir os nossos problemas e dar as nossas contribuições para se encontrarem boas soluções. Todos somos poucos e não devemos aceitar ser marginalizados dos rendimentos e das oportunidades gerados pela economia deste país que afinal tem Estado a crescer! Muito obrigado e a palavra para vós jornalistas caso queiram fazer perguntas, algumas das quais os ministros que me ladeiam irão com todo o prazer responder!»
Há verdade é que tudo puro, bom, aceitável e justo devemos proteger; mas toda impureza, violência e injustiça devemos combater para o bem da humanidade. Não devemos nos conformar com as injustiças a todo nível!!!
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