sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Tretas dum lado, desespero do outro e mais desesperos


A nova Constituição de Angola, dita “atípica”, ou Presidencialista-Par(a)lamentar, votada e aprovada pelo Parlamento no dia 10 de Fevereiro deste ano num precipitado aproveitamento das distracções e excitações causadas pelo afã da Copa de África das Nações, não trouxe só o que se pode considerar um retrocesso da sinuosa rota para a instalação de um regime democrático no nosso país, também causou alguns embaraços a um bom número de funcionários do Estado que até essa data estavam ao serviço do gabinete do primeiro-ministro, Paulo Cassoma. Extinto o seu gabinete, este saiu, assegurando que nenhum funcionário iria para o desemprego. Mas nada correu de feição e, passado algum tempo, o Dr. Beny veio a terreno comunicar aos interessados que o vice “Nandó” já estava servido de pessoal para o seu gabinete e que, como ele queria “tudo limpo (!)”, não havia lugar para ninguém. Porém, “pás de probleme”, o salário seria pago até se encontrar uma solução consentânea com os desideratos de ambas as partes
Isto passou-se em Fevereiro e até hoje não há ponta por onde pegar nesta situação. Ou pior, haver até há, é pô-los todos no olho da rua e o problema está resolvido. E de resto, o que está previsto para breve é pura e simplesmente ter de se proceder a um corte do salário dessa gente que sempre acreditou no que afinal não passou de tretas e falsas promessas.

No BFA, a “arraia miúda”é humilhada
Foi já há vários anos que o banco BIC fez passar a sua mensagem publicitária que ficou nas orelhas dos angolanos, “Crescemos juntos”. Recentemente, outro banco da nossa praça lembrou-se de imitar o seu concorrente e foi buscar o slogan “Crescemos com Angola”. Na tortuosa mente do ou dos mentores desta frase, a sua referência, o banco BFA, dava assim a conhecer aos otários angolanos a falaciosa asserção de que este banco crescia muitíssimo mais do que o BIC. De facto, se o slogan tivesse alguma coisa a ver com a realidade (não passa de um desejo), isso até seria verdade. O problema é que se esqueceram de incluir na mensagem a palavra “juntos”, o que transforma o atendimento ao cliente dos seus balcões, a “arraia miúda” que os frequenta, numa proliferação de humilhações programadas em nome de uma balofíssima segurança bancária (a crise, lembrem-se da crise, triliões de dólares a desaparecerem impunes pelas malhas dessa “segurança bancária”), filas de espera por vezes de horas. Para dar um exemplo, aqui vai um : Na passada segunda-feira (07.06.10) um pacóvio angolano, por acaso colega de redacção, entrou na agência Serpa Pinto do BFA para receber o montante de um cheque de 300 mil kwanzas. Esteve meia hora na fila, chegou ao guiché e disseram-lhe que naquela agência não havia dinheiro, não pagavam mais 30 mil Kwanzas. “Não podiam pôr um aviso lá for, estou aqui há mais de meia hora…”, “Tem razão, mas não temos dinheiro, tem mesmo que ir, por exemplo, à nossa sede, aqui perto, “(!?!?)”, “A sede, antes de chegar à Maianga”… E o pacóvio lá foi. Aí, esteve, no total, quase duas horas nas bichas, porque era preciso conferir o cheque, cujo valor, considerado altíssimo, carecia por assa razão de validade. Apareceu um daqueles empregados tipo “robot de serviço”, formatado para considerar os clientes como peças de engrenagem de bancos, e passou uma hora (UMA HORA!!) a conferir o cheque. Esse pernicioso personagem, fez apenas de conta que conferiu, porque passada uma hora, apresentou-se sorridente ao balcão e anunciou ao pacóvio que não podia pagar tão elevado montante, porque a assinatura de um dos titulares do cheque não correspondia à que havia no computador. O pacóvio sublinhou que essa pessoa era uma figura pública (e é!) e seria fácil confirmar, era só entrar em contacto com ele e pedir-lhe a requisitada confirmação. “Não, senhor, essa não é a nossa maneira de confirmar, “!!!???”, “Não podemos pagar”, “E se eu puser o cheque na minha conta e pedir uma transferência?”, perguntou o otário (agora já era otário). “Não insista, senhor, vá buscar outro cheque com uma assinatura conforme!” E o otário lá foi, rabinho entre as pernas. Agastado, sem ter mais tempo a perder, pôs o cheque na sua conta e pediu a transferência. Acreditem, recebeu o dinheiro na sua conta na quarta-feira seguinte (09.06.10). Normal.
O BFA a crescer com Angola? É verdade. Mas a imitar o Governo. O “Zé-povinho” que vá pastar!

Para o Povo?... Areia para os olhos
“É uma das maiores economias de África e uma das mais dinâmicas do mundo”, eis o que proclama um spot publicitário produzido pelo Governo de Angola e emitido variadíssimas vezes por dia pelos serviços de “publicidade” na nossa TPA para consumo intensivo dos pacóvios angolanos. Estes últimos, que se contam por muito mais de 10 milhões de almas, se estiverem distraídos e lhes escapar a palavra África, vão pensar que o locutor ao proferir tais palavras está-se a referir, sei lá, aos Estados Unidos, à China ou ao Japão, as mais poderosas nações do mundo do ponto de vista económico. Grandioso engano! Não senhor, esse maravilhoso país, empenhado numa espécie de cavalgada das Walkírias para um esplendoroso futuro, é Angola, não se riam, é mesmo Angola, a nossa querida Pátria “caseiramente” promovida assim a líder mundial do desenvolvimento económico. Fantástico! A TPA merece o “grammy” do filme de ficção mais imaginativo realizado este ano. Com ele, quer dizer, com este anúncio, mostra as jóias de aparato de Angola, que escondem as suas endémicas “carecas”: toda a miséria no nosso povo, as cada vez mais penosas carências nas áreas de Saúde, distribuição de energia e fornecimento de água aos angolanos, num clima de condicionamento de vida, em certos sítios digno da Idade Média europeia.

Linguagem “people”
Depois de mais de um mês sem sentir os arrepios, uns prazenteiros, outros, a maioria, não, causados pelos trejeitos de linguagem de alguns dos participantes do programa dominical da Rádio Antena Comercial (LAC), “Analtina na Rádio”, da agora famosa empresária angolana, Analtina Dias, no passado dia 06.06.10 arriscámos uma sintonizaçãozinha nesse programa, às 10 horas da matina. Para controlar. Tivemos pouca sorte. É que para além dos equívocos causados pelo enorme fosso que separa o lado “people” e “champanhe” do programa do seu pendente educativo e evangélico - sim, sim, evangélico, com um padre ou pastor a debitar tautologias e um Zé Diogo a colocar a voz num tom de improvisado arauto do predicador -, nesse domingo apareceu à cabeça da emissão uma senhora, denominada de Drª Cárita, que, por mais mérito que tenha no seu trabalho, “Óptimo labor”, segundo testemunhas idóneas, tem de aprender a falar em público. Nesse dia, só nos primeiros 25 minutos de programa, a Drª Cárita pronunciou a palavra” maravilhoso”, ou “osa”, ou, uma ou duas vezes, “ilha” de “maravilha”, 17 vezes, seguida de muito longe pela nossa Analtina, que se ficou pelos seus 3 “Maravilhosos”, e em último lugar o Zé Diogo, com um “Maravilha”! Desligámos. Mas vamos voltar. Sobretudo na esperança de ouvir o Dr Makuta Nkondo. Um espectáculo radiofónico!

A tragédia africana
A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos. Mas ricos sem riqueza. Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados. Rico é quem possui meios de produção. Rico é quem gera dinheiro e dá emprego. Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro. Ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele.
A verdade é esta: são demasiados pobres os nossos "ricos".
Aquilo que têm, não detêm. Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros.
É produto de roubo e de negociatas. Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram. Vivem na obsessão de poderem ser roubados. Necessitavam de forças policiais à altura. Mas forças policiais à altura acabariam por lançá-los a eles próprios na cadeia. Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade. Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem (...) (Mia Couto)

Fartar vilanagem Legal
Depois de o investigador Rafael Marques ter revelado que o engenheiro Manuel Vicente tem um por cento do produto do petróleo é evidente que estamos perante mais um gato escondido com o rabo de fora, pois a Sonangol não necessitava de colocar as acções em nome próprio de cidadão nenhum, uma vez que o Estado Angolano constituiu há bastante tempo uma sociedade de participação de capitais públicos, justamente para representar a outra parte, isto é, o outro sócio, sempre que empresas do Estado necessitem de recorrer a esse mecanismo a que o ilustre Dr. Carlos Feijó se refere. Depois disso, o Rafael apresentou como irrefutável o facto de o mesmo Manuel Vicente ser proprietário de 25% de acções de uma sociedade que construiu os dois edifícios da Sonangol, numa demonstração cabal de “cabritismo” de alto gabarito, com “comichões” de dezenas para não dizer centenas de milhões de dólares a caírem como que por encanto no seu bolso. Sendo esta a realidade, há muito boa gente que assegura que M. Vicente, um próximo do clã de JES e da sua camarilha, aparece neste negócio como um simples testa-de-ferro a representar esse 1% em nome do próprio JES e/ou da sua filha Isabel, cuja voracidade e apetite insaciável pelo dinheiro público é por todos nós sobejamente conhecida. E o que é encantador é a maneira como esta denúncia do Rafael foi contestada, precisamente por gente ligada aos petróleos, na passada terça-feira, 18-05.10, a fazer grande alarido em tudo quanto era serviço de notícias nos mídias estatais, com o ministro dos Petróleos a encabeçar uma legião de altos dignitários que simplesmente disseram que a Sonangol é o orgulho de Angola, pela sua sapiente gestão, pela sua credibilidade a nível mundial e pela formidável transparência (sic) dos seus balanços e balancetes. O que na cabeça dessa gente, é quanto baste para provar que o notável trabalho de investigação de Rafael Marques não colhe e o que ele descobriu não tem importância nenhuma. Quer dizer, entretanto, no que toca à implementação da famigerada “tolerância Zero”, exibida, EXIBIDA, NÃO EXIGIDA, por JES, até ver trata-se de “tolerância É zero”, falta só tirar o “é”. Dá para rir, mas também dá vontade de chorar, com tanta miséria que há em Angola!

O INALD pelas ruas da amargura
Logo a seguir à vitória tão estrondosa como dolosa do partido dominante nas eleições legislativas de Setembro de 2008, foi escolhida para ministra da Cultura uma dama que, pelo que tem vindo a acontecer, não se tem mostrado capaz de realizar nem de decidir o que a Cultura Nacional esperava do seu indesmentível talento. Não vale a pena ir por quatro caminhos, a verdade é que o seu desempenho só tem dado mostras do seu espírito de intolerância. Depois de ter mandado às ortigas quem não lhe agradava, sem salamaleques nem nuances, direitinhos ás ortigas, depois de ter mandado para o caixote do lixo o resultado de uma deliberação magistral (em princípio) de um júri literário soberano, depois de ter feito também boas coisas, nomeadamente no que toca à sua preocupação pelo acervo cultural histórico nacional, o Folha 8, já com a ideia de a elogiar, veio a saber que o nosso histórico Instituto Nacional de Artes do Livro e do Disco (INALD), que antes da Professora Rosa Cruz e Silva auferia para seu labor mensal a ridícula soma de uns 500 mil kwanzas, passou agora a receber 200 mil, quer dizer, NADA!! Pior que uma bofetada sem mão, tal montante assemelha-se a uma esmola humilhante. Senhora ministra, não acha que isto é simplesmente falta de respeito por quem dá o melhor de si para o bem da Cultura nacional?

Engravidada na prisão
A nossa justiça está tão mal que já nem se pode dizer que está mal, mais vale dizer, não está, bazou, andamos à procura dela e não há meio de a encontrar. Foi o que aconteceu com o Procurador Geral da República (PGR), no quadro duma operação a que se deu o ousadíssimo nome de “Semana da Legalidade”. Deslocou-se à prisão de Viana e foi ver se afinal era verdade o que tinha revelado o Folha 8 na sua edição do24.03.10, num artigo a propósito dos reclusos que deviam ter sido soltos e não foram. No terreno, o PGR pôde verificar que o Folha 8 revelou com justeza uma triste realidade, á parte isso, a recepção feita ao PGR esteve à altura do prestígio que essa entidade superior granjeia, mesmo sendo verdade que o simpático acolhimento caiu no goto do alto magistrado, com certeza que isso não poderia ser o caso se ele soubesse que no meio das considerações de toda a gente a propósito das melhores intenções em enveredar por desempenhos impregnados de espírito de justiça, clareza na acção e respeito escrupuloso dos direitos humanos, o regabofe não se quedava pelo inenarrável caso dos 2.000 presos com direito à liberdade, pois uma das reclusas, chamada Beatriz Antónia, está grávida de mais de 5 meses e a forma como a direcção da cadeia e, aparentemente, o Ministério também, querem resolver o problema é mandar a mesma abortar, iniciativa que a detida recusou, embora seja uma prática corrente naquele estabelecimento. Promessas de soltura antecipada e outras benesses em seu favor recebeu ela, mas nada, a Beatriz quer guardar o bebé, o que levou a direcção da prisão a colocá-la numa cela à parte, sozinha, mais precisamente na cela nº1, onde ela esconde à vista dos outros a sua gravidez. O seu castigo foi esse, pois os responsáveis da prisão não sabem como dar a volta a esta situação duma prisioneira engravidada muito provavelmente por um dos seus guardas.

A ideologia da mentira
Em Angola, onde o bom desempenho da justiça continua a ser uma espécie de miragem, multiplicam-se os atentados às leis e os atropelos aos direitos dos cidadãos. E um dos últimos casos, que atingiu o nosso Bissemanário na pessoa do seu director, William Tonet (WT) - ler artigo sobre esse caso na página ao lado, ou número tal - foi protagonizado por colegas nossos, agentes de outros órgãos de comunicação social ligados e/ou ao serviço do poder instituído. Um deles, a TPA, teleguiado por pelo menos um mentor atávico, o editor do programa, deu manchete a um desentendimento entre dois vizinhos, depois de ter quase completamente ignorado casos de abuso de poder sobre milhares de cidadãos indefesos, desalojados à força em Luanda, Benguela e na Huíla, casos esses cujo impacto já ultrapassou as fronteiras do nosso país; o outro, o semanário Independente, viu, ouviu e pelos vistos gostou do programa e vai daí ter-lhe vindo a ideia de o tomar por sua conta e reproduzi-lo, juntando-lhe alguns venenosos subsídios da sua lavra. Como esses órgãos de informação não podem dizer a verdade, inventam mentiras!
Imagem: Tretas do... EU SOU EU em 22:45
miguelteixeirasilva.blogspot.com


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