segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Angola e o soberano do eterno retorno


Com um soberano assim na proa da nação angolana a ludibriar as nossas vidas, não é possível qualquer coexistência política pacífica com outros partidos. Se o soberano é dono absoluto de tudo é evidente que não há lugar a oposição… é impossível qualquer que ela seja, e então?! É transparente que primeiro há que arrumar, silenciar o partido maioritário contrário. A UNITA não escapará à perseguição da soberana intolerância.

Gil Gonçalves
http://patriciaguinevere.blogspot.com/

Serão belicamente entrincheirados em Babaorum sem poção mágica. E caçados por grupos especiais de mabecos. A prioridade dos da UNITA é abandonarem Angola para protegerem as suas vidas. E todos os da restante oposição. O martírio actual de Cabinda ilustra bem a repressão desencadeada, descontrolada. Nós já sabemos muito bem como estas coisas são. Está mais que claro que existe um plano dantesco para implantar em Angola um gigantesco campo de concentração. Para espoliar e pilhar à vontade.
Golpe de estado. E depois de um regresso vertiginoso a 11 de Novembro de 1975 com o golpe de estado constitucional agora encetado, Angola desanda outra vez sem saber para onde. Quantas mais FLECs nascerão reivindicando independência? Angola aposta outra vez no marxismo-leninismo ortodoxo. A democracia extingue-se. O triunfo da grande bandalheira faz sorrir de contentamento as garras dos rapinadores. Será que ainda restam alguns genuínos democratas? Veremos.
E depois da GRIPE C, qual é o massacre que se segue?!
Chefe eterno! Do alto do seu Plano C milhões de espoliados vos contemplam, actualizaria Napoleão Bonaparte. Sino a rebate à GRIPE C, eis que François Duvalier está esplendidamente de acordo. O ataque da FLEC em Cabinda serve de pretexto para prender todos os terroristas angolanos e qualquer um só porque não vamos com a cara dele, dir-se-á. O feitiço de Cabinda alastra-se, confunde-se com a explosão do vulcão da ilha de Krakatoa em 1983. Esperemos bem que não, mas pelas vistas é, sim. Um caudal de lava efervescente reinaugurará Angola. O mais importante é fabricar tragédias. E infelizmente os argumentos oposicionistas não convencem. Têm medo de virem para as ruas manifestarem-se. Oposição tem que vir para a rua, não é?! Onde já se viu manifestações assim… só mesmo em Angola. Se forem proibidas e os opositores perseguidos – mas que grande descoberta – resta-lhes a luta clandestina. Mas as chefias oposicionistas têm bons empregos e decerto não os quererão perder com receio de ficarem na oposição desempregada. À oposição falta-lhe oratória. Do tom das vozes saem-lhes lamentos, murmúrios titubeantes, gaguez e indecisão. Para convencerem terão que ser pelo menos como os dois angolanos Agostinho Neto e Jonas Savimbi. Têm que aprender a arrastarem multidões, senão nada feito. E depois da serventia do futebol, os estádios reverterão a favor dos armazéns dos “estrangeiros” habituais que lhes darão o destino mais conveniente: a degradação da facturação. O futuro é facturar e a fome anunciar. E com o reforço do nosso movimento nacional espontâneo erguer-se-á uma pátria de jogadores de futebol. Outra Esparta sem espadas mas com balas. E todos jogaremos ao deus-dará, a qualquer outra coisa. E o panorama da Carta Magna, do magma vulcânico alterou-se. Muito patrioticamente é agora a Constituição dos Estádios. E esta independência trouxe-nos mutantes. A mutação em feras que se devoram umas às outras. E este poder corrompeu de tal modo as mentes que a nação Angola sumiu-se como as reservas do Tesouro. Uma pátria de corpos sem cabeças. Angola sofre um ataque de terrorismo biológico por uma célula de terroristas que desenvolveu e lançou no mercado populacional uma variante da Gripe A. Desenvolveu a arma biológica nos laboratórios secretos marxistas-leninistas, uma virose extremamente contagiosa, a GRIPE C. Esta epidemia não foi declarada à OMS. Há o perigo eminente de espalhar-se pelo mundo afora, de virar pandemia. Curioso é que até agora a comunidade internacional não condenou este acto terrorista. Custa a acreditar, não é possível este golpe fatal na democracia agora outra vez recusada, ENJAULADA!!! Para voltar a por a coisa no lugar que lhe compete, a oposição tem que resguardar-se e lutar. Mas não é fazer luta com flores nas mãos. Vão recomeçar as prisões em força porque é fácil de constatar que a GRIPE C veio para arrasar toda e qualquer manifestação de liberdade. As nossas vidas e a nossa liberdade de expressão extinguem-se nesta inquisição política. É o regresso vertiginoso às trevas da ditadura. Para tudo ficar completo só falta ao regime embarcar no fabrico da bomba atómica. Com o terrorismo biológico da GRIPE C os acontecimentos sucedem-se descontrolados. É outra cortina de ferro. Nota-se calmamente que os planos da GRIPE C são uma terrível orquestração entre o capital da selvajaria internacional e local da FAMÍLIA para a pilhagem total de Angola. As populações serão espoliadas com tal à vontade que até Hitler decerto se arrepiará no Além. Agora os discursos, as palavras de contenção perderão o seu valor. Tudo foi lançado no esgoto democrático desta irradiante governação. Tudo isto parece um sonho inacreditável mas é real, está mesmo aqui, sente-se, existe. É verdade… quem concebe uma gripe assim, também é capaz de outra situação bem atroz. É que a GRIPE C para vingar terá que eliminar todo e qualquer opositor político. A nossa vivência diária será à nazi, à Estaline. É esta Angola que se afoga, se extingue nas chamas de mais uma feroz ditadura. Daí a aposta sistemática no analfabetismo das populações, com o controlo dos meios de informação e apoio camuflado da tal Igreja sórdida que se mantêm filosoficamente silenciosa com os promotores do analfabetismo para edificarem a ditadura. Com analfabetos é uma rudimentar governação. Nesta total ilegalidade a impunidade legaliza-se. Não existiremos como pessoas mas como animais selvagens. Seremos caçados como ratos. E para os esgotos não poderemos refugiar-nos porque as forças secretas lá nos esperam para nos eliminarem. Finalmente sem futuro, afogados nos lençóis petrolíferos da Angola cadavérica. Por exemplo os fiscais do GPL, Governo da Província de Luanda já estão com o plano da GRIPE C em acção: a espoliação selectiva de bens das esfomeadas e esfomeados para uso pessoal. Eis os campos da morte de Luanda. E onde está a condenação internacional? Em cada esquina um ditador. Agora é que se reparte bem o bolo petrolífero sem problemas, sem oposição. A banda vai dar carta branca à outra escumalha estrangeira de nenhuma espécie para utilizar o chicote da servidão. E não haverá problemas. Na Argélia também diziam isso. A China então sente-se felicíssima perante o sorriso da hipocrisia Ocidental. É o partido único do camarada presidente, mais o centralismo democrático e a ditadura do proletariado. Agora o funcionário da Presidência da República, o militante, o funcionário do partido, ou de qualquer outro órgão do único partido podem denunciar, ou prender qualquer um que lhe incomode, ou lhe apeteça e até usurpar-lhe os bens?!.. Em suma: pode roubar e expropriar como bem entender. É tudo deles e só para eles. Sem lei e desordem, perante o caos que se avizinha, não haverá garantias para investimentos estrangeiros, a não ser os dos massacres da COTONANG. Os grandes beneficiários com tal Tesouro são os chineses nas suas relações de partidos-estados. E isso da não intromissão nas políticas de outros países por parte da China é pura bazófia, uma descarada mentira. Porque a China intervêm e põe a ferro e fogo sanguinolentos o Sudão. Nas calmas os chineses querem colonizar a África Negra e imporem a fabricação das suas clonagens de má qualidade produzidas. Se já estávamos entregues ao deus-dará como será agora? Bom, sem errar, em Angola é fácil porque a população está tão hipnotizada, adormecida, tão burra, tão idiota, tão boçal, sem informação… que é muito fácil a qualquer um dominá-la. Estar como um rebanho de carneiros ou de porcos. Aliás vivem como tal, por exemplo: no que resta dos prédios usurpados aos brancos, basta entrar num apartamento e verifica-se que a qualquer momento ele pode desabar. Estão em ruínas por falta de manutenção e de inquilinos selvagens que nunca deveriam viver num prédio. Pessoas oriundas dos matos vão viver em prédios?! É o poder popular ainda em voga?! Mas, até universitários e similares destroem os apartamentos por ignorância primária. O que é que vamos fazer com tantos idiotas? Nada! É aguardar pela autodestruição total. A função deles é destruir. Perante tanta idiotice é muito fácil José Eduardo dos Santos manobrar e comandar este bando de energúmenos, de otários. Angola não tem futuro com tal estatuto populacional. É confrangedor verificar por falta de ensino os jovens formarem-se no cúmulo da estupidez, na ignorância absoluta. A igreja sub-repticiamente apoia e colhe lucros do partido-estado. Não existe juventude em Angola, existe sim um bando de nados-mortos. O mau pastor leva as suas ovelhas para o precipício. Angola e a África Negra são um conflito permanente.
Afundamo-nos! No fundo, muito no profundo, a questão fundamental é que como seres humanos ainda somos muito primitivos. Na verdade ainda há pouco tempo deixámos de assomar nas cavernas. Temos muito caminho para palmilhar, para aprendermos a sermos civilizados. Ainda estamos muito longe disso. Ainda não saímos da barbárie que alguém chamou de civilização. Ainda não sabemos o que é a sã convivência. Por enquanto limitamo-nos a destruir o outro. E que não aconteça o esperado suicídio colectivo.
«As empresas estrangeiras associadas ao Grupo Gema, reveladas neste texto, nomeadamente a SABMiller/ Coca-Cola, a Edifer, a General Motors, a Petrobrás, Sinopec, Escom, Camargo Corrêa e Brasseries Internationales Holding Limited (Group Castel), incorrem na prática permanente de tráfico de influência, de corrupção activa, junto de uma entidade pública angolana. A Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, incorporada no direito angolano, através da resolução 20/06 de 23 de Junho, define e estabelece, Artigo 18 (a)(b) o tráfico de influência como um acto de corrupção.»
In Rafael Marques de Morais Fonte: www.makaangola.com
Que maravilhas! Aqui, em Luanda, por toda a Angola acontecem coisas de aterrorizar, de pôr os cabelos em pé. E porquê?! Porque quase toda a gente invoca, faz ressurgir, despertar as trevas há muito adormecidas. É de arrepiar. Quem duvidar que venha até cá e veja, se maravilhe também com os afundamentos que restam da Igreja de Angola. Particularmente a Igreja de Angola está com um nível tão baixo, baixíssimo, que nos confunde: é a Igreja de Cristo ou do Demónio? Ó pobres leigos! Com que então Jesus Cristo é o seleccionador dos Palancas? Mas que palancada é esta? Isto não é religião, é demência! No desespero da religião… vale tudo! Para quando a segunda vinda de Voltaire!?
Nós só queremos festas. Venham estrangeiros outra vez nos colonizarem, se em troca nos derem espaços para nos festejarmos. Vivemos num eterno festejar, porque nada mais há para alcançar. Vivam, venham pois novos colonizadores e tragam-nos muitas festas. Ficaremos muito felizes. E depois dos estádios de futebol que virá a seguir? Mais estádio, claro.

Imagem: imprensamarginal.blogspot.com

A “viagem” de Kinguri. Um reino tranquilo nas margens de um rio (22)


ANTÓNIO SETAS

ADENDA

Nzinga a Mbande

No exemplar único do primeiro jornal que saiu em Portugal, mais precisamente em Braga, no ano de 1627, Relação Universal, de Manuel Severim de Faria, versa um assunto referente à morte de “ELRey de Angola”:
“Por morte de ELRey de Angola sucedeo huma irmaã sua chamada D. Anna, que pretende que lhe mandem Padres da Companhia pera conversão daquelle Reyno, onde se espera que se abra huma grande porta pera a promulgação do Evangelho.(Fls. 212-213)”.
De facto a morte do denominado “ELRey de Angola”, titular da posição mbande a ngola, deu azo a que subisse ao trono do reino do Ndongo uma parente sua, que não tinha sido prevista para tal, mas que, em virtude de algumas manobras bem sucedidas conseguira situar-se no xadrez político do Ndongo de maneira a poder atingir esse objectivo. Quem seria?...

O nome

O nome Nzinga a Mbande aponta para uma inequívoca ascendência Tumundongo, mas não assim tão linear quanto possa parecer. Do seu nome Nzinga constam antepassados que teriam interferido na tomada de poder de um ngola usurpador, da dinastia de nzinga ngola a kilombo kya kasende, «que deixou uma lenda terrível de déspota, com «uma insaciável sede de sangue humana (Cavazzi, I)».
De facto, durante as décadas 70, 80 e 90 do séc. XVI, o poder no Ndongo (Angola) parece ter passado para outros grupos de filiação que controlavam um outro título político.
«O intruso chamava-se “Jinga (Nzinga) a Ngola a Kilombo kya Kasende, originário de linhagens Pende (Miller, 1976)».

Da nascença às origens da realeza
Morreu o rei (talvez em princípios de 1617) e sucedeu-lhe de forma violenta o seu filho, Ngola a Mbande, que, sem reflectir, quis fazer guerra aos invasores. Levado pelo seu instinto de conquistador, invadiu os terrenos sob controlo dos Portugueses e pela mesma ocasião decidiu desembaraçar-se de todos os que lhe poderiam cobiçar o trono. Para esse efeito matou o seu irmão, ainda criança, mas que era o único herdeiro legítimo do reino por ser o único que não era filho de escrava, matou o sobrinho, filho de Nzinga a Mbande, e, “com estranha impiedade, mediante água fervente ou ferros em brasa, como dizem outros, tirou às três irmãs a esperança de conceberem mais filhos (...). Nzinga a Mbande jurou então que nunca mais perdoaria ao seu irmão nem a quantos tomassem o seu partido. E foi a partir dessa altura que ela começou a votar um ódio visceral a todas as crianças de sexo masculino, pela lembrança de que o seu único filho fora tão cruelmente suprimido.
Evidentemente que o projecto de rechaçar os Portugueses era irrealista e depressa ocorreu a debandada do rei Tumundongo e de todas as suas tropas, perante um adversário muito mais bem armado e organizado, para além de dispor da ajuda de bandos de Mbangala. Num desses confrontos ficou mesmo presa a sua mulher principal (mais tarde, em 1629, seriam presas Cambo e Funji).

Nzinga a Mbande num momento de lazer

Ao longo de toda a sua vida, Nzinga sempre procurou protagonismo. Desde a infância que a sua preocupação constante foi sair da morosa rotina da corte real e variadíssimas vezes foi o que ela fez. Fê-lo em criança, num constante alarde de vivacidade física e mental, mostrando já a sua inteligência, fê-lo na adolescência em experiências sexuais “exóticas” que não constam em nenhum registo, mas foram propagadas pela tradição oral, fê-lo na idade adulta, ao tomar o poder, depois de ter saboreado o seus irresistíveis encantos, quando, na qualidade de embaixadora plenipotenciária do rei do Ndongo foi conduzida a Luanda em tipóia, à frente de uma elevada comitiva, fê-lo diante do governador português, atónito e quase incrédulo, perante o que se passava diante dos seus olhos, ao ver a embaixadora sentada no dorso de uma escrava a debitar argumentos que ele não sabia contrariar. Por isso Nzinga ficou na história como personagem ímpar.
Depois do baptismo de Nzinga a Mbande, havendo por parte do governador Corrêa de Souza alguma relutância em combater essa mulher, que, para todos os efeitos era cristã, e não obstante ele ter preferido cumprir a sua palavra, as pressões de Lisboa para se aumentar o mercado de escravos para o Brasil eram tão fortes que o governador não se sentiu apto a agir segundo a sua consciência. E atacou-a.
Mas, em Agosto de 1623 muda mais uma vez o governador, tendo assumido esse cargo o bispo Frei Simão Mascarenhas (João Corrêa de Souza, de 12 de Outubro de 1621 a Maio de1623, Pedro de Souza Coelho, de 2 de Maio de 1623 a Agosto do mesmo ano, e D. Fr. Simão Mascarenhas, de 10 de Agosto 1623 a 1624) , o que incitou a fresquíssima cidadã lusa dona Anna de Souza, aliás Nzinga a Mbande a insistir junto desse dignitário para que Portugal cumpra as suas promessas e devolva os homens do seu reino que tinham sido levados por traficantes de escravos. Ora, o tráfico de escravos era um grande negócio na altura e Portugal não estava interessado em abandonar essa fonte de rendimento. A Coroa portuguesa fez arrastar as negociações, fez que fazia e deixou de fazer, até que a certa altura, convencido de que com essa “Dona Jinga” não havia margem para dar confiança, decidiu aplicar a divisa, “para grandes males grandes remédios”, e, em 1625, o então governador Fernão de Souza (de 22 de Junho 1624 a 1630) decidiu acabar com a supremacia crescente de Anna de Sousa. Para isso, mandou pela força das armas colocar no trono do reino do Ndongo (sediado na região das Pedras de Mpungo Andongo) um parente de Nzinga, Ari Kilwanji,, que de facto não passava de um rei-fantoche, pronto a fazer o que os portugueses lhe ordenassem. O homem deixou-se baptizar, adoptou o nome cristão de Filipe, nome do rei de Espanha que então governava o reino lusitano, e comprometeu-se a prestar vassalagem ao colonizador, fornecendo 100 escravos por ano à Fazenda Real. Bento Banha Cardoso, capitão- mor do governador, foi encarregado de executar essa missão. Reinava então o espanhol Filipe III.
Com o evoluir dos acontecimentos claramente hostis à sua pessoa, Anna de Souza acabou por decidir “mudar de casaca e vestir a dela, obedecendo ao que a sua natureza lhe pedia. Renegou o baptismo e assumiu-se como Rainha Jinga., o que não incomodou sobremaneira os Portugueses, Estes, arvorando um “não-te-rales” arrogante, entenderam que seria fácil domesticar esta mulher, considerada como uma espécie de fenómeno folclórico profusamente exótico. Dizer que para ser respeitada se vestia de homem, com as habituais peles de animais, usava machado à cintura e manejava sem dificuldade o arco e a flecha, dá uma ideia da sua entrega ao exercício do poder, embora esse porte fosse catalogado de pueril pelos Portugueses. Além disso, o que já não é pouco, ela exigia ser considerada rei e não rainha, mantendo mesmo, à maneira de rei, o seu harém, composto, desculpem o pouco, de mais de cinquenta jovens que eram para todos os efeitos as “suas mulheres”, numa demonstração de vitalidade sexual que qualquer rei homem não poderia desdenhar. Algo que não lembraria ao Diabo, nem tão-pouco às mais belicosas feministas do século XX e XXI.

Depois da campanha vitoriosa de 1617-18 os Portugueses tinham definitivamente ocupado o território da margem direita (norte) do Kwanza, estendendo-se para leste até ao posto de Ambaca, e, muito mais tarde, por volta de 1671, até Pungo Andongo, depois da vitória final sobre o ngola a kiluange. Estas terras eram rodeadas, depois da partida do kulaxindo para o interior, por um anel de novos Estados Tumundongo fundados em meados do séc. XVII por titulares Lunda (makota) que chefiavam os bandos de Mbangala e tinham ficado em Angola. Os Portugueses empregavam estes Mbangala liderados pelos makota Lunda como mercenários de guerra e tratavam-nos tão generosamente quanto lhes era possível Este acordo predominou entre o Lucala, o Kwanza e o Kwango desde a década de 1620 até 1850. Entre os mais famosos que estiveram ao serviço dos Portugueses destacou-se o Nabuko ka Ndonga

Por volta de 1640, o reino da Matamba, centrado no rio Wamba, tinha-se tornado um dos mais poderosos Estados orientais dos Tumundongo, sob a chefia da rainha Nzinga, que lutava para restabelecer ali o título ngola a kiluange, após os Portugueses terem colocado fantoches no lugar dos reis originais do Ndongo. Entre 1641 e 1648 ela pôs-se ao lado dos Holandeses, enquanto Kabuku ka Ndonga continuava a lutar ao lado dos Portugueses.

Imagem: flickr.com

A electricidade na versão angolana


Os preços mais que duplicam, multiplicam-se. Nas ruas vendem-se víveres expirados e das lixeiras recuperados.
Uma escravidão atrai outra escravidão. Esta economia depende em absoluto deste sistema político. É como um exército que depende do seu general. Se ele for bom estratega, há desempenho, vitórias.

Gil Gonçalves
http://patriciaguinevere.blogspot.com/

Hitler chegou onde chegou porque tinha bons generais. Pelo contrário, Mussolini estagnou porque tinha maus generais. Em suma: a economia depende do chefe. Se ele não funciona, a economia arrasta-se, afunda-se.
Campo de concentração. «Local cercado para onde pessoas são levadas contra a sua vontade, por ordem de governos, comandos militares etc., em período de guerra ou não, sob o pretexto de serem indivíduos nocivos à sociedade, inimigos em potencial, ou qualquer outro motivo que sirva para justificar a supressão da sua liberdade.» in Dicionário electrónico Houaiss da língua portuguesa 3.0.
Em Angola, (ainda existe?) e especialmente em Luanda, já se perdeu a conta dos deportados. Quem está no comando supremo das operações destes campos de concentração, são corsários e flibusteiros portugueses, brasileiros e chineses chefiados por angolanos.
E o Puto continua com as exportações em larga escala para a ainda colónia de Angola
Há sempre homens diabólicos, na convenção de que são os fiéis depositários dos nossos destinos. E depois tomam-se de fartos poderes e estarrecem-nos na flagelação das nossas vidas. E governam-nos tão miseravelmente que até a água das nossas soberanas vidas vilipendiam. São os zeros do nosso futuro, da água saída das torneiras sem vida, de vez em quando. E a energia eléctrica que fatalmente colapsou. Quando um governo não consegue abastecer regularmente as populações de água e luz, e aleivosamente assim nos entristece, não nos governa, atrofia-nos, desfaz os nossos esqueletos. Um governo assim não vai mais subsistir. Deve alternar a quem queira trabalhar, e saiba governar, orientar. Este poder remonta a 1975, ainda pelo poder popular marxista-leninista que está sempre na moda. Já renascem as célebres brigadas, como a BDA, Brigada da Destruição da Água, e a BDE, Brigada da Destruição da Electricidade: instalaram-se, legalizaram-se em comités da especialidade dos curto-circuitos e incêndios habitacionais. Com um apetite voraz para destruir tudo o que sejam fusíveis e cabos eléctricos. Basta uma fase ausentar-se e de imediato ouvem-se portas abrirem-se com estrépito. É a entrada da BDE em acção. Se existe outra fase ainda em funcionamento, é só encostar o fio… e já está. Então, o condutor aquece até ao rubro. Vem as habituais explosões e os incêndios, o queimar de fusíveis nos andares e nas portinholas das entradas dos prédios.
Mas estes genuínos talibãs luandenses insistem na ferocidade tenazmente destrutiva. Afinal, aquele da BDE milagrosamente salvou-se da electrocussão, e ainda resta uma fase. Então todos em uníssono mexem e remexem… e prontos, já há outra vez luz. É preciso militar no cúmulo da idiotice para reconhecer que com tantos e colossais aparelhos de ar-condicionado a coisa não durará muito tempo. Especialmente à noite com lâmpadas e televisões ligadas, todos os ares-condicionados também, a única fase livre não suporta tanto consumo. E lá se foi outra vez, faltou a luz. Como o fusível, os fusíveis, estão super reforçados, ardem e não são mais prestáveis. Servem unicamente para o lixo. O suporte dos fusíveis da portinhola também se desintegra e o cabo da rua também. Bem lá no fundo enquadra-se perfeitamente… é um acto de puro terrorismo urbano, mas como o poder popular é a lei, assim fica tudo normalizado, continuado, devastado, queimado. É impossível viver com tais imposições. Custa a acreditar que no ano 2010 existam coisas destas. Um povo que navega no navio da destruição, na nau do Inferno, que é sem sombra de dúvidas o seu destino final. Já não se sabe para que serve a energia eléctrica. Serve de divertimento para os jovens da BDE. E quando, quando não, habitualmente, a luz falta, ouve-se o gerador de um banco arrancar, o de um general, dos indianos, dos portugueses, e demais tralha, e o dos angolanos – à salve-se quem puder – vê-se logo que é do mwangole pelo barulho, e pela gritaria das crianças: «é luzi!!! É luzi!!!» depois de tudo bem poluído por tantos geradores ligados, só se houve o aterrador barulho do gerador do mwangole. Sim! Onde houver barulheira insuportável, lixo e esgoto ao ar livre, está lá um angolano, quem mais poderá ser?! Angolano, o campeão da destruição da cidade. Os desgovernados pelos biliões dos desfalques bancários desde o retorno à outra Idade Média de 1975. À bancarrota total e ainda incompleta. Faltam aqueles que ainda não conseguiram roubar a sua parte. Estes que desviaram muitos milhões são perseguidos, porque já não pertencem à FAMÍLIA. São os eleitores da luta de libertação, legalizaram-se para desviarem e espoliarem os filhos da terra sem ela. Depois de tudo serenar, continuará o mesmo poder na mesma FAMÍLIA. Os desvios retomarão legalizados, porque familiarizados.
A estrutura do poder popular está como que intacta, tal e qual como em 1975. Está assim mais marxista-leninista, porque as mesmas teias de aranha não largam o poder.
Andaram, e continuam com a especulação imobiliária. A energia eléctrica… que deus resolva com a ajuda de tantas igrejas, esta já é uma especulação religiosa. Não será muito difícil orar a Deus. Então, Ele contemplar-nos-á com o milagre da luz. Oremos pois irmãos, e faça-se conforme a Sua Vontade. No fundo este reino é de Deus, e só a ele pertence. Por isso e sem mais sombra de dúvidas, os nossos governantes reinam porque são eleitos por Ele, e só a Ele prestam contas. Como Ele é etéreo e não entende nada de contabilidade, tal como tudo o mais, são coisas terrenas dos terráqueos. Talvez construindo uma igreja em cada esquina, quem sabe?! Este reino não é nosso, é só deles e para eles. E na euforia de 1975, juravam muito convictos: «nós corremos com os brancos, com os colonos, porque não precisamos deles para nada. O que eles fizeram… mas eles não fizeram nada. Fomos nós – nós também somos capazes, e até melhor do que eles.» Confrange observar no contínuo que a vivência diária ainda se faz nas ruínas das construções portuguesas. Afinal, mas que gente mais balofa, estonteada que nada consegue edificar, a não ser palavreado infestado. Apenas espalham casas-casebres por aqui e por ali, para que depois orgulhosamente sejam ceifadas pelas máquinas debulhadoras da eleita governação da nova Constituição, a cem por cento de votos. É o povo eleito da epopeia das casas-casebres. É o povo que formaram desordenado, medroso, supersticioso, que não é capaz de se organizar – nem nenhuma ONG, ou partido político da oposição o consegue – para exigir os reparos a que tem direito da água, da luz, do petróleo e diamantes. Convém ressaltar que sem energia eléctrica não há circulação de água nas tubulações. E é importante sempre lembrar que sem energia eléctrica… era uma vez a economia. Ou então ficarmos a adorar este poder que se quer eterno como os deuses no Olimpo, e que de vez em quando algum se disfarça de terreno, embrenha-se entre nós, e goza-nos com a demonstração dos seus poderes. Governar pela imposição da miséria e da fome, e com que os rendimentos de Angola caiam sempre na mesma FAMÍLIA, é inaceitável e passível de apresentação de contas à Nação. O que até agora não aconteceu, e quando acontecerá?! Como é edificante a condução do poder que nos inebria, para as cavernas dos martelos de pedra. Os níveis de baixeza são tais que comparados por exemplo com os campos de concentração nazis, deixam muito a desejar. Um exemplo: nos campos de concentração da suástica existiam energia eléctrica e água sem cortes, que horripilante não é?!
E em cada canto, esquina, em todas as ruas vêem-se os miseráveis andantes com qualquer coisa nas montras das mãos silenciosas, esperando ansiosos por comprador. Mas o Politburo já lhes cortou todas as esperanças de vida. O Politburo já comprou e vendeu tudo. Nada mais existe para comprar e vender. A não ser as nossas almas… que o Politburo também vende. O Politburo é bom vendedor, consegue vender tudo.
Enquanto os palácios estrelam torres e condomínios cintilantes., magnificentes com a exclusão social e espoliação dos subservientes, nem se sabe qual é a cor que o poder ostenta. Mas a dos escravos sabe-se muito bem: é a cor da fome, a mais utilizada pelos pintores que servem os poderes dos esfomeados. É absolutamente mentira e de insanidade comprovada que a Terra é extraordinariamente multicolorida. É pura mentira. Na Terra só uma cor é visível. A negra, porque é a cor da fome e do apocalipse. Também é imperioso perguntar: para que servem uma infinidade de milhões de dólares nas mãos de uma só pessoa e dos quais não consegue justificar a sua proveniência? Enquanto os espoliados perecem na mais atroz tortura diária? Qualquer médico consultado decerto diagnosticará que se tratam de patologias, de indivíduos que se acham muito inteligentes, desbravadores, cultivadores dos projectos das velhas, eternas vidas. De novas vidas abortadas, nunca concebidas. Sempre com as mesmas pessoas, com o mesmo poder e sempre nele. Pouco falta para cinquenta anos sempre no absurdo das mesmas palavras. Sempre com as mesmas promessas de que a vida vai melhorar. E sempre ao invés tudo para piorar. Que conclusão se pode tirar disto? É simplesmente a continuação dos mestres ditadores da História. Como deve ser óptimo para estes deuses da africana tirania o sentimento da observação de milhões de negros e negras perdidos no pântano da independência, no júbilo da mais atroz podridão humana. Assim não é poder, é apodrecer na governação. Não é necessário um observador paciente para verificar que nos caixotes do lixo surgem agora figuras humanas não habituais. E não se desculpem nos meios de informação que lhes são servis: «que são malucos os que comem lixo.» Não, não são! Muito pelo contrário! Nota-se que são de outras géneses sociais: desterrados das casas-casebres, excluídos por abandono de trabalho. Chineses, portugueses, brasileiros e de muitas outras nacionalidades não são. Mas são com certeza angolanos que procuram a independência prometida, mas perdida, procurada e não encontrada nos caixotes do lixo desta nomenclatura. Significa que governar é amontoar, encher contentores do lixo. É a independência das transferências bancárias fraudulentas há imensos anos normalizadas, legalizadas e só agora em 2010 descobertas, desvendadas. Como se algo de novo se tratasse. Sempre foi assim, e com este atavio sempre assim brilhará. De modos que nada há de novo nesta frente da corrupção. Podem-lhe chamar Nova Constituição, III República, que em nada alterará o nome da miséria. Podem sim chamá-la de: Constituição da imposição da mais do que nunca abundante miséria. Mas será que esta tralha permanecerá sempre assim? Sim, permanecerá! E cada vez mais piorará, até que mais ninguém lhe sobreviverá.

Imagem: masquemario.net

domingo, 30 de janeiro de 2011

A Nova Constituição é uma espécie de espoliação generalizada


Prédio da 4ª Conservatória na Avenida do Brasil em frente ao Hotel Relaxe. Espoliaram-lhe o pátio e arrancaram às pressas com uma obra do Estado. No mais puro retorno ao retrógrado colonialismo. Sem nenhuma licença de construção mas, não é por acaso que se culminou o advento da III República e da Constituição C, os garantes desta ferocíssima endocolonização.
Eu roubo-te, tu roubas-me, ele rouba-nos. Isto é que é viver?!

Gil Gonçalves
http://patriciaguinevere.blogspot.com/

«E as universidades em Angola, nem nas cem melhores de África se encontram» é a prova da miséria intelectual da actual e futura angolanidade. E a população de tanto espoliada aguarda ansiosa a vinda de Deus para que se faça justiça. O MPLA está a criar uma classe de animais tão selvagens que muito dificilmente se livrará deles. «A vida é um dom, vai por altos e baixos» Aqui em Luanda só vai por baixos e muitos baixios.
E a luz e a água?! Isso era no tempo dos brancos, e eles já cá não estão. A falsa governação e os seus apoiantes, ferrenhos defensores da democracia parte casebres e gatunagem de pátios lembram-nos os saudosos tempos do Poder Popular. Não nos esqueçamos também das companhias petrolíferas e suas subsidiárias que devem ser investigadas por atentados ao meio ambiente. Apesar de ter dois ou três edifícios de luxo que servem as elites do poder, para dar a entender que é o Dubai africano, Luanda na realidade está devastada pela erosão do poder político estratificado quase há cinquenta anos. Luanda não é uma cidade, é um campo de refugiados tipicamente africano. Angola segue os trilhos colonialistas.
“A sociedade colonial compreende os estrangeiros de origem metropolitana, isto é, do país colonizador, os europeus ou de raça branca não-metropolitanos e os não europeus, geralmente de origem asiática, os coloured ou homens de cor. Os grupos não desempenham o mesmo papel na colônia mas cada um deles tem preeminência sobre os autóctones. O de origem metropolitana é o mais ativo, pois cabe a ele a função de dominar política, econômica e espiritualmente. Suas atribuições podem ser classificadas da seguinte maneira: a administração dirige a colônia segundo a política colonial; as companhias comerciais e industriais assumem a exploração da produção, afim de organizar os lucros em benefício da metrópole, processo chamado de pilhagem da sociedade dominada; por fim, as missões cristãs, encarregadas da educação dos colonizados, da conversão de suas almas e de seu encaminhamento progressivo ao universo do dominador. Os brancos não metropolitanos e os asiáticos (coloured) dedicam-se a atividades comerciais intermediárias.” (MUNANGA, 1988: 10-11)*
O governo português nomeou um governador-geral indígena. Na Província de Angola o novo governador-geral nomeou chefes de posto para as cidades. Tudo está corroído, corrompido. A metrópole lava as mãos porque já deu autonomia às suas províncias coloniais. Envia mais colonos que aproveitam bem o saque antes que venha aí outra autodeterminação. Salazar não autorizava a corrupção, agora com a autonomia estes colonos roubam como querem e como lhes apetece. É isso! O indígena renasce para a escravidão do branco sob a batuta negra. Claro que o indigenato aproveitou e proclamou a independência. Apenas com palavras os indígenas felicíssimos atiram-se ao saque canibalizando tudo o que é colonial. Depois de tudo arrasado e perdidos em quase cinquenta anos dizem que os colonos destruíram tudo. Para se diferenciarem do colonialismo pintaram-no e proclamaram-se marxistas-leninistas. E corajosamente confessam que vivem imensamente felizes. Os chefes indígenas bem aperaltados de fatos e gravatas de marca ficam como que tragicómicos no travesti angolano. Daqui afundar-se-á o novo homem. Na tribuna de honra os espectadores aplaudem os gladiadores que retribuem a destruição de milhentos casebres e de todos os pátios existentes ou inventados. O mais importante é a espoliação e a condução à miséria de milhões de escravos.
Os ecologistas do betão são como os cães ferozes que mutilam as pessoas. Perante tanta beleza, não sei como é possível viver numa paisagem natural com betão próximo. O betão é inimigo da civilização. E nesta leva, tudo o que é empresário é mercenário.
Mais parecem a velha senhora dos engenhos. O colonialismo agora com nova tecnologia disfarça-se mas nada mudou, continua tudo na mesma, ou piorou?! Há pessoas que teimam na incompetência da governação e não se demitem. Curiosamente acham-se insubstituíveis. A vitória final do marxismo-leninismo é a criação da pátria de tuberculosos. O marxista-leninista é muito cuidadoso. Quando executa o OGE, Orçamento Geral do Estado, onde é que ele aposta? Evidentemente na repressão da população e da oposição. Investe nas forças da sua defesa e da sua segurança para o protegerem. Onde há eleições, lá está o marxista-leninista com maioria absoluta. O método nunca falha, é infalível. É o regresso em força do marxismo-leninismo. E uma onda marxista-leninista varre a cidade de Luanda. As empresas estrangeiras já estão ao lado da corrupção e esta também tem muitas moradas. Como pode um poder arrogar-se ao direito de independente onde nada funciona?! Famosa é a acusação da governação sobre o aumento constante da criminalidade. Mas quando em poucos meses se despedem mais de cem mil trabalhadores, quase todos jovens, o que se espera? Tranquilidade? Não, violência de ainda colonizados e esfomeados. Sem garantias mínimas de sobrevivência. Tratados como selvagens, como lixo. Assim nunca existirá paz social. Primeiro é necessário acabar com o colonialismo, depois pensar-se em país normal, independente. É necessário proclamar a luta pela independência de Angola.
Em Angola o mais importante são os lucros fabulosos das companhias petrolíferas, incluindo a estatal Sonangol. Se notarem bem, quantos mais lucros têm, mais miséria acomete a população. E porquê!? Porque a cobiça e ganância são de tal monta que os protagonistas de tais enredos se desumanizam pela avidez dos dólares. Transformam-se em loucos, psicopatas, e na selvajaria da aniquilação do semelhante para que não hajam gastos dos seus lucros. O que interessa são as vendas. As populações que morram nos pátios da fome. Isto é também um crime contra a Humanidade porque fundamentalmente atiram com as mulheres para a subserviência da prostituição, à sua violação sistemática como escravas sexuais. E na continuação das pirâmides Angola segue a outra edificação, agora com presidentes faraós. Angola não tem energia eléctrica. Na realidade está no caos económico e social porque espoliada, como sempre, por meia dúzia de endocolonialistas. Está um oásis para as companhias petrolíferas. As populações seguem os cortejos das seculares filas indianas para os campos negreiros da morte. Não é por acaso que as petrolíferas têm grandes lucros, tesouros escondidos… é isto o marxismo-leninismo angolano. Quase cinquenta anos de poder ilimitado, com petróleo e diamantes mas sem universidades, deram ao povo angolano uma característica peculiar: o infame analfabetismo que o conduziu à boçalidade, à idiotice e canalhice. E isto não é uma floresta não, é uma selva profunda. Não há porto para este barco. O governo ainda não zarpou, continua ancorado, encalhado. Há meia centúria que prometem a verdura da agricultura, mas não conseguem plantar, apenas nos prantear. Só plantam prédios destoados, despersonalizados numa Nação de poetas sem noção. Radicais acompanhados por sorrateiros Familiais. O governo está como uma barcaça hipotecada. Fundiu-se na lava do vulcão que alimentou e criou. É um governo gulagui, um governo incendiário. Agora com o assédio e a desgraça dos prédios e dos estádios deles, a água sumiu e os pátios também. É só para eles e para os prédios e estádios deles. Enquanto eles nos governarem, os campos de concentração deles continuarão até nos exterminarem. Isto não é um governo, é uma quadrilha de dráculas com castelos impuros, dissolutos e sangrentos. E todos os vampiros mundiais aqui desembarcam e logo instalam currais. Aqui já deixaram de existir gentes, só agentes, onde só sobrevivem porcos e indigentes. Isto não é um país, é um palácio rodeado de campos de concentração e um jardim zoológico com espécies animais em vias de extinção.
E quantos mais analfabetos se formarem muito melhor. É muito fácil governá-los. Basta dar-lhes umas porretadas para lhes lembrar quem manda e quem deve obedecer. E todos os que estão no poder são forçosamente inteligentes e eleitos pelos seus deuses. E com o apoio e bênção da Santa Igreja governa-se em nome de Deus deportando a demoníaca população para as tendas dos zangos. Governar é deportar as populações e em campos da morte as concentrar. Alteraram a História porque quando a população chegou os governantes e a FAMÍLIA reinante já cá estavam, tudo era deles. Por isso a população é inoportuna, está a mais. Está onde não pertence. Nesta democracia o crime compensa.
«O governo de Napoleão III foi marcado por uma forte militarização na Argélia e quebrou o sistema de propriedade tribal nativa, fixando árabes e berberes em minifúndios e aumentando a miséria dos agricultores. Em 1870, a região da Kabilia revoltou-se. Reprimida a insurreição, os colonos franceses apossaram-se de 500.000 hectares em detrimento da população árabe. No início do século XX, 1918, um grupo de intelectuais árabes, “os Jovens Argelinos” se organizam baseando-se em idéias nacionalistas, reivindicando melhorias para a população árabe. Nos anos 30 já se falava em supressão do governo francês e igualdade entre nativos e europeus, mas foi após a II Guerra Mundial que os problemas argelinos agravaram-se, pois, na medida em que a França deu aos colonos o direito de se estabelecerem nas melhores terras, quando mais de 1.500.000 famílias berberes não possuíam terras, provocou êxodo rural e miséria, agravando-se os problemas nas áreas metropolitanas e fazendo com que um décimo da população vivesse, então, da caridade pública. Nesse ambiente surge a chamada “Questão Argelina”, um dos maiores problemas internacionais do pós-guerra. Em maio de 1945 houve uma grande chacina de civis argelinos por soldados franceses, no massacre de Setif. A repressão francesa é intensa, militares admitem entre 6 e 8 mil mortos, nacionalistas falam de quarenta a cinqüenta mil. Em 1º de novembro de 1954, foi anunciada oficialmente a revolução argelina.» *
* In Albert Camus http://www.espacoacademico.com.br/013/13cpraxedes.htm






sábado, 29 de janeiro de 2011

A mina 11 de Novembro


«História repetida: Não é a primeira vez que propósitos caridosos são esgrimidos para justificar o saque aos recursos do continente. O colonialismo do século XIX foi impulsionado pelo discurso de que cabia aos europeus cumprir uma missão civilizadora na África, missão que seria, na expressão do poeta Rudyard Kipling – partidário fervoroso do imperialismo vitoriano – , o “fardo do homem branco”.

Gil Gonçalves
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Foram estes ideais filantrópicos que levaram Cecil Rhodes a iniciar o saque dos diamantes da Namíbia e da África do Sul, ainda hoje a principal fonte de sustento do monopólio fundado por ele, a De Beers, e da Anglo American. Um século depois, não são poucos os que se dispõem a seguir a trilha aberta por ele.
As companhias de petróleo estão entre os primeiros da fila. A crescente resistência antiimperialista no Oriente Médio faz com que a cobiça das corporações do setor e dos Estados aos quais elas estão ligadas volte-se para a África. Em sua Estratégia de Segurança Nacional apresentada em 2002, o governo estadunidense fala na necessidade de incrementar a exploração do petróleo africano. Hoje, aproximadamente 15% do petróleo produzido no mundo vem do Golfo da Guiné (que se estende da Costa do Marfim até Angola). Prevê-se que esta proporção chegará a 25% em 2015.
O interesse do imperialismo não se limita às matérias-primas. Monopólios do setor de telecomunicações disputam os mercados africanos. Nos dois primeiros meses deste ano, várias transações importantes ocorreram. A Sonatel, sediada no Senegal e pertencente à France Telecom, venceu a Global Voice, do USA, na disputa pela exploração da telefonia celular na Guiné Bissau. A Maroc Telecom (que pertence ao truste francês Vivendi e negocia suas ações nas bolsas de Paris e Casablanca), engoliu a até então estatal Gabon Telecom. Pouco antes, a mesma Maroc Telecom havia açambarcado a Onatel, ex-estatal de Burkina Faso, vencendo uma disputa com a France Telecom e a alemã Detecon. A empresa controla também, desde 2001, a ex-estatal Mauritel, da Mauritânia.» In tudosobreangola.blogspot.com

Sonhar, a nossa eterna liberdade
A nossa concepção de vida é o sonho. Depois de muitos anos sonhados, sentimo-nos como um viajante do tempo futuro a olhar para a nostalgia do passado. Nós perecemos, mas os sonhos não.
E durmo e acordo para o próximo pesadelo que me atormenta: a pretensão universal do retorno à escravidão do regime comunista chinês. No fundo, a história da civilização é sempre um qualquer imperador sonhar em impor-nos o pesadelo da dominação na eterna escuridão.
O que devo mais fazer para que alguém aceite a minha amizade? Será porque apenas lhe posso oferecer a visão integral do conteúdo da degeneração mundial?
Chineses, brasileiros e outros malteses até já têm estaleiro e armazém nas traseiras dos prédios. Revejam o inferno complacente da actual conjuntura ali nas traseiras da Pomobel, ao Zé Pirão. Aquilo revela o rumo certo para onde nos querem obrigar a viver. Um rumo incerto sem governo, sem futuro, sem esperança. Isto está a ultrapassar a barreira do som.
E por detrás da miséria humana está sempre um banco. E por detrás de um acto terrorista está sempre um banco.
E criou-se outra empresa de recolha de lixo, faz concorrência feroz à sua congénere. Ainda ilegalizada, mas com nome: Os Esfomeados.
E por mais apelos que se façam aos Senhor, tudo se complica cada vez mais. Não é melhor pararem com isso de orarem ao Senhor por tudo e por nada?! Deixem mas é o Nosso Senhor em paz!
E lavaram a rua de carro e mangueira bem aspergida porque os Kassav nela circulariam rumo à Cidadela Desportiva. E também lavaram, isto é: arrestaram as mulheres que vendiam nas ruas mais os seus bens do que o petróleo não lhes dá. Os Kassav tinham que viajar, observarem e comentarem: «mas que ruas mais lindas, pintadas (só na parte frontal, porque nas traseiras é a selvajaria já instituída) e livres de miséria. Mas que país tão desenvolvido, livre de lixo, de miséria e de famintos. Sim senhor! É mesmo verdade, o PIB está muito crescido, muito desenvolvido.» Mas pelo contrário, o PIB eléctrico e o da água descem, e não se contabilizam ninguém sabe porquê.
E os crentes começaram a rezar fervorosamente: vamos erguer uma igreja ao Nosso Senhor dos Casebres para que ele nos ajude e não nos abandone.
O mais horrível que nos pode suceder é o disfarce da ditadura na falsa democracia.
Sugiro ao nosso Politburo que declare o estado de emergência nacional porque nada mais resta, a não ser o fingir que estamos e vivemos numa nação, que assim como foi, e como está nunca o será.
É apenas o que resta do largo da independência, a mina abandonada pelos libertadores agora sem pátria… dos expatriados. E a odisseia das três gargantas engasga Angola.
Tantas portas do tempo que já abri para te reencontrar, ó Angola! Receio o vaguear na tua eterna procura. Ainda não te achei!
Isto é uma mina de petróleo e de diamantes e os escravos não trabalham, nela perecem. E os estrangeiros proclamam que ela é a economia mais forte da região. Que é uma potência militar de contenção, de dissuasão. Que se consolida no concerto mundial das nações. E a hipócrita democracia ocidental apoia a morte democrática dos mineiros angolanos. A subtil exploração e rapina continuam: antes tinha o nome de colonialismo, agora tem outro: democracia africana. Não é possível uma democracia existir e conviver com a sua população na miséria, no sofrimento da fome. É ainda um estado de direito com leis da revolução socialista, esta Angola, o sonho que se transformou no inferno.
E neste momento, como se pretendia, o angolano serve como reserva de mão-de-obra escrava. É a única alternativa que os independentistas lhe prometeram. Independência total e completa, já! Que traduzido dá: petróleo e diamantes só para nós, já! E nova escravidão total e completa da população, já! O tristemente célebre artigo 26, ilustra a África selvagem, ou Angola é dirigida ou inspirada por chineses? É que parece haver muitas semelhanças.
Luanda com muito petróleo, mas sem energia eléctrica e água. As construções da especulação imobiliária anárquicas abundam e provocam-nos estas terríveis carências. Os cortes anárquicos repetem-se. Este caos está pesado, mais denso que chumbo na sintonia da incompetência. Revelam-nos os cortes do nosso futuro muito pior.
Angola ainda não está independente. Houve uma tentativa, a que apelidaram de luta de libertação nacional, que não funcionou. Aguarda-se pelo genuíno motor que arranque e liberte Angola ainda do colonialismo em que se encontra. Angola continua colonizada.
Os mineiros da luta de libertação nacional minam a mina 11 de Novembro, e dela extraem os seus minérios, as suas riquezas apenas para si. A pior coisa que nos pode acontecer, é não vermos, termos, ficarmos sem futuro. Ainda mais quando ele é hipotecada. E é necessário colocar um anúncio internacional assim: Luanda, precisam-se electricistas para reparação e manutenção da rede eléctrica de Luanda. Apetece gritar: viva o caos! E entretanto os cortes sucedem-se. Mais parece um jardim infantil onde as crianças brincam ao apaga e acende da luz. Os que os brancos construíram, e bem, os libertadores negros destroem. Significa que o petróleo não resolve nada, só complica, como é muito curioso verificar que o petróleo é a desgraça, é a miséria, a ruína, a fome de Angola. O nosso mestre é a miséria, por isso mesmo seguimos muito bem direccionados. Já ultrapassámos o abismo do inferno, e agora não sabemos mais onde estamos, o que fazer. Só restam escombros de uma revolução que nos deixou sem pão. Agora vivemos na liberdade dos democratas de ocasião.
Donde sai tanto dinheiro que sustenta tantas amantes a peso de ouro? Da mina 11 de Novembro, pois claro! Entretanto a epidemia dos Sem Futuro, os jovens extremamente possuídos pelo alcoolismo, deliciam-se em estrondosos e mortais acidentes com os seus carros loucos no rumo certo do futuro da morte.
Torna-se abominável consentir que grupos de pessoas dominem países sob a forma de governos, e neles brinquem à governação. Num mundo dominado pela tecnologia de ponta, a miséria extrema-se. As companhias petrolíferas têm biliões de dólares de lucros. E a miséria das populações continua sem um dólar. O petróleo destrói as populações e o planeta. Dá imensos lucros e colossais prejuízos no meio ambiente. As igrejas e os bancos igualam-no, detêm poder ilícito. Como se chama um país com a vigarice sempre presente como uma nascente? Quem não tiver cartão de contribuinte a sua conta bancária é encerrada e o dinheiro reverte para o banco. Esta é a melhor de todos os nossos tempos. «É necessária uma declaração da empresa onde trabalha.»
O dinheiro nunca chegará para pagar as despesas de um governo megalómano. E se juntarem as forças policiais sempre reforçadas, é uma loucura. Angola ainda não está independente mas está dependente do terror. Aos olhos do desenvovimento cientifico actual, a religiaõ, a Igreja, não passam de uma anedota. Aida não viram este paradoxo?! Além de nos roubarem a riqueza, também nos roubam a pobreza. Dantes ainda se parendia alguma coisa com o povo angolano. Agora, ensinam-nos o que é vivwer na miséria. Sobretudo, nunca esquecer que a actual situação de mis´weria extrema que nos invade, é fortemenet apoiada por alguns anteriores e actuais governanates portugueses. Que saudosos do passado, para angola fortemenet se transladam, não se importando absolutamente nada, com uma notável indiferença: a espoliação sistema´tica digna de na tanho. Como ainda permanece que o negro foi criado pelo demónio, então tudo e todos se legalizam para voltar ao mar das hordas da civilização cristã e ocidental. Pilhar, a pilhar, a escravizar.

Imagem: ideiasaprovadebala.blogspot.com

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A “viagem” de Kinguri. Um reino tranquilo nas margens de um rio (21)


ANTÓNIO SETAS

A colaboração dos Mbangala do Norte

O kalandula
A história de Kalamba ka Imbe, da posição kota dos Lunda, kalanda ka imbe, ou kalandula, como passou a ser conhecida, é similar à do kabuku ka ndonga. Segundo a tradição, um detentor do título “kalanda ka imbe” chamado Kaxita (sem outra identificação) jurou obediência como vassalo dos Portugueses, tornando-se “Jaga” Kalandula, durante a conquista de Lukamba. O kalanda ka imbe teria pois proposto a sua ajuda aos Portugueses, convencendo-os de que ele, como legítimo líder do kilombo, poderia ser mais eficaz que o kulaxingo, numa altura em que este já se sentia em perigo com a presença dos Portugueses em Ambaca (Mbaka). Essa ajuda, significando em contrapartida um apoio dos Portugueses aos detentores do título, talvez tivesse precipitado a fuga do kulaxindo para o interior, assim como explica a sua decisão de se apoderar do kinguri, sem dúvida muito útil na sua longa caminhada para leste, deixando o controlo do kilombo ao kalanda ka imbe e outros, que tinham ganho o apoio dos Portugueses, apoio de que o kulaxindo tentara excluí-los.

Durante a década de 1640, Kalandula combateu de par com Kabuku ka Ndonga ao lado dos Portugueses contra a rainha Nzinga da Matamba, a leste. Grande parte da actividade guerreira concentrou-se no controlo de uma rota principal de comércio que vinha da Matamba através do território dos ndembu e chegava até Luanda, onde nessa altura governavam os Holandeses. Curiosa é a maneira como Kabuko ka Ndonga passou a colaborar com os invasores lusos.
Por volta de 1640, o reino da Matamba, centrado no rio Wamba, tinha-se tornado um dos mais poderosos Estados orientais dos Túmúndòngò, sob a chefia da rainha Nzinga, que lutava para restabelecer ali o título ngola a kiluange, contra os “Jaga” Kasanje e os Portugueses, após estes terem colocado fantoches no lugar dos reis originais do Ndongo. Entre 1641 e 1648 ela pôs-se ao lado dos Holandeses, enquanto Kabuku ka Ndonga e Kalandula continuavam a lutar ao lado dos Portugueses.

Mal os Holandeses se apoderaram de Luanda, imediatamente Nzinga viu na sua chegada uma boa oportunidade de obter apoios. Enviou-lhes uma solene embaixada, prometendo amizade e pedindo apenas que eles a aceitassem como aliada. Queixou-se dos Portugueses, é claro, de quem disse que apenas tinha recebido ultrajes e mentiras. Os Batavos aceitaram de boa vontade esta imprevista oferta de amizade, mas ficaram de pé atrás, queriam ver para crer. Enquanto isso, o rei do Kongo, Garcia II também pensou que aquela era uma ocasião favorável e nem se deu ao trabalho de ir falar com os Holandeses, entrou armado nas terras ocupadas, retomou a região entre os rios Lufune e Dande, o que o levou, no entusiasmo da efémera vitória, a escrever, mais tarde, precisamente a 22 de Março de 1643, ao Reitor dos Jesuítas que se encontrava com os Portugueses no arraial luso do Gambo: “(...) E creyame pello Senhor que cremos e confessamos que o meu ânimo não há senão de que se me despegem das minhas terras. E esse he o meu intento propozito firme, que ainda me caiam Rayos heide morrer por libertar os meus”. E perante tão concertada rebeldia, os Portugueses, da retirada estratégica de início ao “ai pernas para quero” a seguir, a fugir, acabaram por ficar pouco mais ou menos acantonados nas Fortalezas de Muxima, Massangano, Cambambe e Ambaka, assim como em algumas ilhas do rio Kwanza.
A situação apresentava-se pois sob promissores augúrios para a rainha da Matamba. Bastaria unir forças e, com a ajuda dos Holandeses, escorraçar os Portugueses para longe do solo pátrio. Mas o que veio a acontecer tinha mais a ver com um pesadelo do que com o sonho lindo de vitória sobre o invasor. Nzinga a Mbande não travou combates unicamente contra os Portugueses, também foi obrigada a lutar contra todos os bandos Mbangala que a eles se tinham juntado, numa aliança intimamente ligada a benefícios imediatos.
Como já referido, durante a década de 1640 o Kalandula combateu de par com Kabuku ka Ndonga ao lado dos Portugueses contra a rainha Nzinga da Matamba, a leste. Grande parte dessa actividade concentrou-se no controlo de uma rota principal de comércio que vinha da Matamba através do território dos ndembu e chegava até Luanda, onde nessa altura governavam os Holandeses. Curiosa, como supracitado, foi a maneira como Kabuko ka Ndonga passou a colaborar com os invasores lusos.
Em 1646, dá-se uma batalha em que Kabuku ka Ndonga é feito prisioneiro pelo exército da rainha Nzinga, algures a leste de Mbaka. A rainha, que também protestava a sua fidelidade às leis do kilombo, poupou-lhe a vida por respeito para com a posição ndonga, cujos representantes ela encarava como sendo seus aliados, mas nunca mais o deixaria voltar para os Portugueses. Entretanto, o povo de Kabuku ka Ndonga escolheu para novo governante o seu cunhado, casado com a sua filha Kwanza, que tinha sido detentor da posição vunga de nomeação, funji a musungo (título que se pode traduzir pouco mais ou menos por “mantimento de exército”), e era um dos chefes guerreiros do bando. Uma vez que ele sabia que o seu antecessor estava vivo, não podia reivindicar plenos direitos e governou como regente, graças à ajuda dos Portugueses e através do apoio da sua esposa, que os Mbangala olhavam como legítima guardiã da posição. Por outra, o facto de se aliar aos Portugueses para combater a rainha Nzinga dava esperança ao povo de resgatar o seu chefe ainda vivo, mas todas as tentativas falharam e o velho rei acabou por morrer na Matamba, sem nunca lhe ter sido dada a oportunidade de reintegrar os seus (Miller).
O novo chefe kabuku ka ndonga lutou ao lado dos Portugueses contra os Holandeses, em 1648 contra os chefes ndembu, e em 1648-49 contra Panji a Ndona, o sucessor de mani Kasanze, próximo de Luanda. Ainda antes da sua morte em 1652 ou 53, os Portugueses honraram a sua fidelidade, concedendo-lhe o título de Jaga, e mesmo “o nosso Jaga”.
O seu sucessor depressa abandonou os Portugueses, para se pôr ao lado da rainha Nzinga sob a bandeira do kilombo. Os Portugueses retaliaram com uma expedição militar em 1655, capturaram o chefe, a esposa (ainda com o nome de Kwanza) e todos os dignitários do kilombo. De pronto enviaram-no como escravo para o Brasil, assim como todos os seus homens (no final de contas, assim como tinham feito com Kasanze, em 1622), e substituíram-no por um fantoche escolhido por eles.
O novo kabuku ka ndonga, liderado por Ngoleme a Keta, lutou fielmente ao lado dos Portugueses contra vários chefes do Ndongo durante o mandato do governador João Fernandes Vieira (1658-61). Depois disso a dependência dos posteriores detentores do título em relação aos Portugueses foi aumentando, acabaram por abandonar o kilombo e por fim, um dos representantes admitiu no seu reino um par de missionários Carmelitas e aceitou o baptismo cristão na década de 1670.
Pela década de 1680 o kabuku ka ndonga tornou-se “um modelo a seguir” de aliança entre os Portugueses e os autóctones. Nesse caso paradigmático, o rei negro alistava os seus súbditos como mercenários nos exércitos portugueses sempre que os funcionários de Luanda requeriam os seus serviços. Necessariamente, em tais circunstâncias o valor dos seus títulos decaía, de tal modo que, por exemplo, os kabuku ka ndonga abandonaram completamente a sua posição Mbangala no decorrer do séc XVIII, numa repetição do habitual padrão de mudanças nos títulos, para reflectir novas fontes de legitimação. O título original adquiriu um novo sobrenome, tornando-se cabulo ka baila (o mais poderoso de todos os chefes ndembu, a norte de Ambaca), conhecido daí em diante por ndembu Kabuku. A mudança indicava que o Fabulo transferira a sua obediência para o mais poderoso sistema local de títulos políticos, as vizinhas posições ndembu, da parte sul do Kongo (“casamento dos títulos ndembu com as linhagens do ex-kabuku ka ndonga).
Quanto a Kalandula, a sua adesão à causa lusitana deve-se a outras contingências. A localização das terras dos dois chefes Mbangala (o território, conhecido por Kitukila, que fazia fronteira com as terras dos ndembu e de Nzinga a norte, e do Ndongo, a sul) na margem norte do Lucala, acima de Ambaca, mantinha-os dependentes do apoio dos Portugueses, uma vez que se encontravam em perpétua ameaça de acometidas por parte dos seus belicosos vizinhos do norte. Os reis do Kongo mataram pelo menos um Kalandula no quadro de uma flagelação geral de chefes fiéis a Portugal. Mais tarde, outro chefe kalandula lutaria contra o ndembu Nambo a Ngongo na década de 1660, acompanhou a expedição portuguesa ao Soyo, no Kongo, chefiada por João Soares de Almeida em 1670, e de novo contra o ndembu mbwila em 1693. Os Portugueses concederam ao kalandula o título de “Ngola a Mbole” ou “Kyambole do rei Português” e forneceram-lhe armas e suprimentos a troco da sua participação em muitas expedições militares ao longo dos séc. XVIII e XIX. Kalanda ka Imbe pertencia a uma das linhagens do título kulaxingo. Algumas décadas atrás, em Mona Kimbundo, o primeiro chefe kulaxingo a integrar o bando errante do “kinguri”, assim como toda a sua gente, havia sido capturado para permitir que os sacrifício de vidas humanas em honra de Kinguri não incluíssem gente da sua própria casta. Mas Kulaxingo, pela sua submissa postura, conseguiu ganhar os favores dos makota, principalmente Mwa Cangombe, Ndonga e Kangengo, os líderes de uma secção do bando, a de Kandama ka Hite, designada para escolher as vítimas que deviam morrer sob os punhais de Kinguri. Ainda antes de o grupo deixar Mona Kimbundu, Kulaxingo tinha obtido o estatuto de kibinda, mestre caçador, e quando regressava de uma caça bem sucedida dava sempre carne aos makota a fim de assegurar a sua permanente boa vontade. Além disso mantinha uma secreta ligação amorosa com Imbe ya Malemba, a mãe de Mbondo e deste Kalanda ka Imbe.

Imagem: business.wfu.edu

Diamantes angolanos recuperam fôlego


A subida do preço dos diamantes no mercado internacional proporcionou o arranque e a reactivação de algumas explorações diamantíferas no País

Costa Kamuenho*

A reacção dos mercados ainda está longe do que se verificava antes da crise financeira internacional, o aumento entretanto ocorrido deu novo alento ao sector diamantífero.

Com a recuperação, novos projectos mineiros, na Lunda-Norte, já estão a absolver mais novos empregos. Não é apenas de investimentos, mas o arranque das minas desactivadas durante a crise poderá ajudar a recuperar a posição que cabia ao país em termos de produção da pedra preciosa.

Os números referentes aos lucros do ano passado apontam para que o objectivo estipulado de dinamizar o sector possa ser alcançado, passando a empresa a figurar logo atrás dos gigantes Alrosa, De Beers e a Bhp Billiton.

Com a crise financeira mundial Angola deixou de figurar entre os grandes produtores, ao ter baixado os níveis de produção e comercialização no mercado internacional.

A perspectiva é de elevar os montantes provenientes da produção de diamantes do sector formal e do artesanal.

A nova conquista, pode catapultar Angola entre maiores produtores e com maior arrecadação de valores. É possível que este ano, com esta produção, chegue aos níveis de 2008.

A Endiama pretende incentivar os empresários nacionais a investirem noutros sectores da indústria mineira, sobretudo no sector da joalharia, em que o mercado é bastante rentável e que carece de operadores.

A ideia é criar uma cadeia de empresários para todos os segmentos da indústria, de forma a captar mais recursos financeiros para o país e continuar com a política comercialização de diamantes lapidados.

A diamantífera, além de ser uma referência no país, tem como missão gerir de forma sustentável a exploração de diamantes, com base em valores em que se busca a excelência, inovação e o respeito pelos outros e pela comunidade.

Ainda são visíveis os resquícios da crise nos diamantes. Em Angola esta crise teve sérias consequências na actividade, com a paralisação, em alguns casos, e à suspensão, em outros, de vários projectos que a Endiama e o Governo depositaram grandes êxitos.

Para além de perdas financeiras, o período de crise atingiu duramente o tecido social, e como consequência muitos trabalhadores do sector diamantíferos perderam os seus empregos, ou foram remetidos à condição de excedentários.

Agora que os sinais de retoma são evidentes é necessário pensar o reenquadramento dos trabalhadores que perderam os postos de trabalhos.

Em termos de programas, o Executivo em finais de 2010, aprovou sete projectos para o sector diamantífero e que o seu sucesso contribuirá para o aumento da produção, exportação e arrecadação de receitas financeiras e fiscais para o país.

A relativa bonança no sector diamantífero tem vindo a permitir o lançamento de novos projectos. Com um investimento de 28 milhões de dólares, o ano passado arrancou com o projecto Luana, uma localidade próxima do Lucapa, Lunda-Norte, com uma produção inicial de três mil quilates de diamantes por mês e que permitiu criar 120 postos de trabalho mas pode chegar a 250 à medida que for evoluindo a prospecção. No Luana, a Endiama tem 39% de acções, a Transex 37%, a Wengi 15%, a Caxingi 13% e a Za-kufuna 5%.

Outro projecto que arrancou o ano passado foi o Luxinge, na comuna do Cambulo, município da Lunda-Norte, num investimento de 13 milhões de dólares na fase de prospecção geológica e mineira e outros 6 milhões e 500 mil dólares no arranque. No Luxinge, a Endiama detém 18% de acções, a Compensa Angola, a Shefflied e a Syntecchron Tríade detêm 10% cada. A empresa sueca Internacional Gold Exploration (IGE) possui 42%.

Esta é uma grande oportunidade para reduzir o desemprego no sector, minimizando as carências por que passam inúmeras famílias angolanas e o bem-estar dos trabalhadores e respectivas famílias.

Em Luanda, a Endiama espera concluir o Museu do Diamante, que se espera venha a ser uma grande atracção para os visitantes e os habitantes da capital. Na Lunda-Sul, foi lançada a construção de um bairro residencial com duas mil habitações. Nos arredores da capital da província, vai ser erguida uma filial da clínica Sagrada Esperança com capacidade para 100 camas e com todos os serviços disponíveis em Luanda.

*No Huambo

Guiné- Bissau. O extrapolar das competências governativas de Carlos Gomes


Cabral, continua, nos dias de hoje, a ser usado, segundo as conveniências daqueles que nenhuma identificação têm com ele!

Fernando Casimiro (Didinho)*

Não é da competência do Governo a concessão de títulos honoríficos e condecorações tidas como de Estado.
A medalha Amilcar Cabral, é a mais alta condecoração da República da Guiné-Bissau e, por isso, enquadra-se no que a Constituição da República designa como "condecoração do Estado", sendo a sua concessão/atribuição do Presidente da República.
O Presidente Malam Bacai Sanhá, só poderia ser distinguido com a mais alta condecoração do Estado, a Medalha Amilcar Cabral, não estando a desempenhar o cargo de Presidente da República e por atribuição/concessão de um outro Chefe de Estado da Guiné-Bissau, que lhe quisesse distinguir, seja qual fosse os argumentos apresentados, com a mais alta condecoração do Estado.
O Governo, ao anunciar a atribuição da Medalha Amilcar Cabral ao Presidente Malam Bacai Sanhá, demonstra desconhecer a Constituição da República e, põe em causa, a separação de poderes dos Órgãos de Soberania.
O PAIGC não é a República da Guiné-Bissau, por isso, há que saber distinguir entre o simbolismo do reconhecimento partidário e o respeito pela legalidade e representatividade colectiva, assente na Constituição da República!

A Constituição da República e as condecorações de Estado
Capítulo II
Do presidente da república
Artigo 68°
x) Conceder títulos honoríficos e condecorações do Estado;

Desfaz-se o sonho. Bolsa de valores investiu mas não arranca em 2011


O ministro de Estado, Carlos Feijó, admitiu que Angola não vai ter uma bolsa de valores em 2011 e não se comprometeu com uma data para que esta possa existir.
“Para nós é claro que a situação comercial, empresarial e jurídica (da maior parte das empresas angolanas) não permite dizer que em 2011 vamos ter uma bolsa de valores em Angola”.
Este dirigente é considerado, na actual estrutura do executivo, como um dos homens fortes, por isso explicou que “a abertura de uma bolsa de valores implica que exista um conjunto de empresas que reúnam um conjunto de requisitos, que não podemos dizer que boa parte os tenha”.
Mas garantiu que o Governo “tem ideias claras sobre o mercado de capitais em Angola”. E, sublinhando afirmações recentes do Presidente José Eduardo dos Santos, adiantou que “na programação da comissão económica do Governo, pretende-se reestruturar no plano administrativo e organizativo a já existente comissão de mercado de capitais”.
“Precisamos reorganizar esta instituição (a comissão de mercado de capitais) enquanto órgão regulador e de supervisão não em prejuízo da existência de um sistema financeiro consolidado”, adiantou.
No plano do executivo estão as prioridades que devem ser seguidas e para Feijó “é claro que a situação comercial, empresarial e jurídica (da maior parte das empresas) não permite dizer que em 2011 vamos ter uma bolsa de valores em Angola”.
Isto, porque, resumiu, “só podem intervir na bolsa de valores sociedades anónimas e não empresas públicas. E há um conjunto de requisitos em termos de contabilidade e registo de ações e títulos que era necessário avaliar em termos individuais qual delas têm estas condições”.
“Para sermos francos e não criar falsas expetativas é melhor começar por onde é possível começar, como o mercado secundário de títulos que é possível nesta fase iniciar”, defendeu.
A alternativa é permitir que algumas empresas - como as empresas públicas, tidas como mais robustas - “utilizem alguns instrumentos aceitáveis nos mercados de capitais, como a emissão de obrigações e títulos de participação, permitindo-lhes financiar-se nos mercados de capitais”.
“Estamos a falar de forma prudente na reorganização institucional da comissão de mercado de capitais e permitir a atuação de mercado secundário de títulos”, disse.
Carlos Feijó advertiu ainda para a necessidade de a comissão de mercado de capitais “poder supervisionar alguns fundos e instituições financeiras não bancárias que estão a atuar no mercado angolano sem supervisão ou sujeição a regulação”.
A bolsa de valores de Luanda, que já tem espaço físico destinado, tem sido sucessivamente anunciada pelo Governo, gerando grande expetativa, que, agora Carlos Feijó veio resfriar, garantindo que, pelo menos em 2011, esta não será uma realidade.

Ministro dos Petróleos. Botelho coloca-se como ponderado quanto à subida do barril de crude


O ministro dos Petróleos, Botelho de Vasconcelos, parece colocar-se como um auxiliar do Presidente da República sensato, ao afirmar no dia 18 em Luanda que não acredita na repetição, em 2011, do pico do preço do petróleo verificado no verão de 2008, quando o barril chegou aos 147 dólares.
O titular da pasta do crude justificou o prognóstico, para não cair no ridículo de vir a ser desmentido, pela realidade, como num passado recente, em que houve necessidade de se alterar o Orçamento Geral do Estado, por contas e previsões mal feitas.

Neste momento o barril de petróleo ameaça tocar nos 100 dólares por unidade, com as lições aprendidas em 2008, nomeadamente com a regulação do setor financeiro, mas alerta para o perigo da intervenção dos especuladores.
“Eu creio que não (se repetira o cenário de 2008) porque as lições aprendidas foram bem absorvidas pelas economias mundiais e, a partir dessa ocasião, muitos países e fundamentalmente a União Europeia, agiram em termos de regulamentação do setor financeiro”, adiantou.
O ministro sublinhou ainda que “houve um maior diálogo entre os países produtores e países consumidores no sentido de encontrar plataformas de entendimento. Mas é necessário algum cuidado por causa da intervenção dos especuladores que, muitas vezes, se servem do petróleo papel para venda futura para agitarem o mercado em matéria de preço”, advertiu.
Botelho de Vasconcelos defende que “neste momento o mercado internacional de petróleo está bem abastecido e nada nos faz crer que haja desequilíbrio entre a oferta e a procura. Por isso cremos que a situação evoluirá normalmente”.
À margem de uma cerimónia de cumprimentos de ano novo com representantes do setor petrolífero em Angola, o ministro dos Petróleo deixou ainda alguns recados para as empresas que operam nesta área sobre a urgência de adequarem a sua atuação à legislação do país para evitar, por exemplo, acidentes semelhantes aos do Golfo do México numa plataforma da BP.
“Estamos a trabalhar com as empresas, nomeadamente as prestadoras de serviços, que precisam de ajustar a sua atividade às leis do país. A nossa inspeção tem desenvolvido um trabalho de maior rigor no sentido de obter um quadro que a todos satisfaça. Essas companhias têm sido contactadas, nomeadamente na área das condições de trabalho no sentido de limar o que não está bem”, disse.
As auditorias e inspeções “são frequentes” e as companhias, aponta Vasconcelos, “aprenderam com o que aconteceu no Golfo do México. Estamos todos de prontidão para evitar a repetição de um acidente dessa natureza”, referiu.
“Já realizamos seminários de sensibilização no sentido de os erros que, por exemplo, foram cometidos pela BP no Golfo do México não sejam repetidos em Angola”, frisou.
Neste encontro com as empresas do setor, o ministro dos Petróleos informou ainda que a produção de petróleo de janeiro a novembro de 2010, período que já tem o balanço feito, foi de 590.162.163 barris e ainda 6.263.792 barris de gás natural
Quanto à anunciada liberalização do preço dos combustíveis, o ministro disse que esta poderá acontecer durante o ano de 2011.
“Há uma preparação administrativa em curso e este processo (da liberalização do preço dos combustíveis em Angola) tem provocado alguns atrasos, mas estamos em crer que este ano vai acontecer”, afirmou.
Botelho de Vasconcelos recusou fazer declarações sobre a posição de Angola nas negociações que decorrem sobre a venda da participação da italiana ENI na portuguesa Galp, onde a Sonangol, através do seu presidente do concelho de administração, Manuel Vicente, já disse querer ter uma participação direta. “As negociações estão a decorrer e no momento certo o público tomará conhecimento”, disse

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A “viagem” de Kinguri. Um reino tranquilo nas margens de um rio (20)


ANTÓNIO SETAS

Nzinga respondeu de maneira evasiva, sim, vamos ver, talvez, o governador insistiu, o tempo ia passando, e enquanto isso ela não se privava de acometer alguns sobas que se tinham rendido aos Portugueses. Foi por essa altura, portanto durante no início do ano de 1624, que um seu parente próximo, Ngola Ari a Kiluange, se aliou aos Portugueses para escapar à sua ira - proclamado Rey de Angola (Ndongo) com a ajuda do ex-governador João Correia de Sousa - o que de nada serviu pois ela declarou-lhe guerra e em meados de 1625 atacou a sua mbanza. Fernão de Sousa decidiu enviar um destacamento armado ao socorro de Ari, comandado por Bento Banha Cardoso, o qual conseguiu evitar o pior, não sem ter sofrido algumas percas por indisciplina.
De facto, pelo que foi comunicado por letra ao rei de Portugal, o capitão do presídio de Ambaka teria tomado por essa ocasião uma desastrada iniciativa: “O capitão (do presídio de Ambaka era um tal “Esteuaõ de Seixas Tigre), o qual foi com guerra preta, e rompendo a de dona Anna, se meteo no sitio onde o Soua estava cercado” pelos “Jagas”, desobedecendo às ordens de apenas servir de amparo ao soba, resolveu tomar a iniciativa e enviou gente preta com nove soldados no intuito de não os deixarem passar, do que resultou morrerem três soldados no conflito e levarem seis”.
(Carta de Fernão de Sousa a El-Rey, de 21-2-1626. Ou, dois mortos e sete cativos, segundo uma segunda versão da mesma, datada de 7 Março de 1726, recebida por ElRey a 7 de Junho do mesmo ano. Brásio, M. H., volume VII, página 419 e 421).
Nzinga a Mbande assumia assim, plenamente o seu título de Rainha do Ndongo. E a esta campanha militar muitas outras se seguiram.

A luta pela Independência

Depois da acometida em 1625 de Nzinga a Mbande a Ngola Ari a Kiluange, proclamado desde 1624, unilateralmente, rei de Angola pelos Portugueses, e contrariada pelo capitão de Mbaka, Estêvão de Seixas “Tigre”, a luta armada prosseguiu durante mais uns meses. No primeiro semestre de 1626, porém, as forças lusas, comandadas por Bento Banha Cardoso, obrigaram a rainha a refugiar-se nas ilhas do rio Kwanza e, mais tarde, sempre acossada, a fugir para as suas terras.
Implantada provisoriamente a supremacia portuguesa nessa zona, pouco tempo depois Ari a Kiluange faleceu de varíola, e o comandante Cardoso, antes de recolher a Luanda, a 12 de Outubro de 1626, proclamou rei do Ndongo, Ngola Ari, meio-irmão do falecido e soba de Pungo Andongo. Proclamação essa que foi de seguida confirmada pelo governador. Mas Nzinga não se conformou nem se rendeu, e prometeu lutar até ao fim para libertar o Ndongo do jugo dos invasores lusos. Numa das suas campanhas, em 1627, Nzinga acometeu uma vez mais o “rei” do Ndongo, desta feita Ngola a Ari. Os Portugueses foram socorrê-lo, mas só a 25 de Maio de 1629 conseguiram uma vitória decisiva. Nzinga fugiu, mas as suas irmãs, Funji e Cambo, foram feitas prisioneiras. As tropas lusas perseguiram a rainha até aos desfiladeiros de Kina Kinene (Quina Grande) em terras dos Nganguela, mas ela conseguiu escapar-lhes lançando-se com a ajuda de lianas nos precipícios que delimitam essa zona. Teria sido depois que ela regressou à Matamba para combater Kasange. Cambo foi resgatado (1632, 33), mas Funji continuou em cativeiro (Cavazzi). Como isso aconteceu e o que vamos ver em seguida.
Com o passar do tempo, Fernão de Sousa, o governador, ao constatar que defender a posição de Ari era por demais desgastante para as suas forças armadas, propôs à rainha uma nova aliança, com a promessa de lhe devolver as suas províncias, manter no seu lugar o rival e prestar-lhe ajuda militar caso ela a solicitasse, “na condição de ela reconhecer estes favores com ânuo tributo”. Nzinga, indignada, recusou (uma rainha, soberana, pagar tributo, onde já se viu?), e como resposta os Portugueses avançaram ao longo do rio Kwanza e ocuparam as ilhas de Ucole Kitaxi, que fortificaram. Em seguida aliaram-se a sobas das cercanias e avançaram até à ilha Danji – perto da ponte que se encontra a uns 50 km de Malanje -, onde a rainha tinha assentado os seus arraiais. Cercaram a ilha pela parte que dava para a planície do Bondo e prepararam-se para investir.
Num primeiro tempo, Nzinga tentou romper o cerco com as suas tropas e fez grandes estragos no acampamento inimigo, mas não conseguiu desalojá-lo. Entre as suas hostes grandes danos também tinham sido causados, e os “Jagas”, dos bandos que tinham decidido ficar do seu lado, caídos sob o fogo cruzado dos mosquetes lusos, incutiram aos que tinham sobrevivido algumas dúvidas sobre o seus atributos de invencibilidade. O moral das tropas era muito baixo, razão que levou a rainha a propor uma trégua, que foi concedida por um prazo de 12 horas, após o qual ela prometia render-se com a honra das armas.
Durante esse espaço de tempo, a rainha consultou o seu kilamba, pôde entrar em contacto com o espírito do seu irmão Ngola a Mbande, e por ele, ou melhor, pelas palavras saídas da boca do kilamba, elo de ligação entre os vivos e os mortos, ficou a saber que render-se seria o fim de todas as esperanças de salvaguardar a liberdade do seu povo, e que, nesse caso, fugir não seria vergonha nenhuma. Foi o que ela fez, fugiu para a província do Hako (Hango) noite vinda, depois de ter sacrificado 14 donzelas num ritual de agradecimento ao seu irmão. Quando amanheceu, os portugueses viram que a ilha estava vazia. Esperaram durante o dia todo, como mandam as regras militares relativas às possibilidades de ciladas, e quando enfim se decidiram a atravessar o rio e a ocupar a ilha, tudo o que encontraram foram os restos mortais das 14 donzelas sacrificadas por Nzinga. Tal foi o resultado daquela campanha. A decisão de perseguir a fugitiva foi nessa altura contrariada pelo aparecimento de varíola entre os homens do acampamento português, e o destacamento regressou a Luanda, abandonando as ilhas conquistadas e permitindo a Nzinga reinstalar-se na ilha de Danji.
Senhora de títulos políticos que lhe concediam a legitimidade da posição de monarca absoluto, assim como de uma determinação e um poder de persuasão espantosos, ela pôde em seguida e uma vez mais juntar um poderoso exército e invadir as terras da Matamba e do Ndongo. Na Matamba desalojou facilmente a governante em exercício (Muhongo-Matamba, filha do rei Matamba-Calombo - Cavazzi), tomou conta do poder e uma vez este consolidado avançou para o Ndongo, no fito de acometer as posições portuguesas que aí se encontravam, a começar pelo presídio de Mbaka. Grandes percas causou e grandes percas sofreu, mas sem conseguir desalojar os inimigos.
Nisto, o “Jaga” Kasanje, ao se dar conta da ausência da rainha em suas terras, invadiu com o seu poderoso grupo de guerreiros a Matamba e devastou tudo o que se erguia do solo, tirando o capim e as árvores, e nem todas as árvores, visto que as que serviam de fabrico ao maruvo eram simplesmente abatidas e utilizadas para fabrico dessa bebida. Nzinga não gostou, abandonou as suas pretensões de vitória sobre os Portugueses e regressou à Matamba. Mas tarde demais, Kasange tinha-se retirado para outras latitudes com uma multidão de escravos “prontos a ser comidos”, depois de ter praticamente tudo destruído no seu reino! Sem que então se pudesse saber, estes eram os primórdios da fundação do futuro reino de Kasanje.
As contendas entre Kasanje e Nzinga, que duraram quase uma década, não trouxeram nenhuma paz de espírito aos Portugueses, que sabiam muito bem que em caso de aproveitamento dessa situação para atacar um deles, o outro viria ao seu socorro contra o inimigo comum. É que eles eram, acima de todas as rivalidades, irmãos. De maneira que o governador decidiu-se pelo contrário, isto é, entabular negociações de paz. Para o efeito enviou provavelmente em fins de 1640, ou princípios de 41, à Matamba assim como a Kasanje, o Padre Dionísio Coelho e o cavalheiro D. Gaspar Borges. Foram bem recebidos pelos dois governantes, porém, sem grande resultado, pois Kasanje disse que estava disposto a abraçar a paz e a se juntar à rainha Nzinga se esta reconhecesse os seus legítimos direitos sobre o trono da Matamba, mas nem pensar em se converter ao cristianismo. Quanto a Nzinga, nem paz nem credo, e nem por sombras abandonar os ritos dos “Jagas”, queria ir para a frente, resistir até às últimas consequências e retomar as posições perdidas em favor de Kasanje e dos Portugueses. E, sobretudo, não achava que essa era a boa altura de mudar para satisfazer os que procuravam atraí-la ao catolicismo, visto que eram os mesmos que lhe tinham dado boas razões para ela se afastar deles.
Mesmo assim, ó surpresa!, o burguês Borges voltou para Luanda e o padre Dionísio ficou-se pela Matamba. A situação estava embrulhada e não havia ponta de esperança no pacote de contradições e simulações que os potentados negros ofereciam à etnia invasora, quando, justamente no mesmo ano, a 24 de Agosto de 1641, o Holandeses chegaram a Luanda, e no dia 26 completavam a ocupação da cidade. Se confusão havia, a partir dessa altura ainda mais passou a haver!

Imagem: negroartist.com