quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Educação e giz. Reitores das universidades públicas e privadas reúnem-se num inédito conselho nacional e abraçam as ideias da ministra




Desencorajada por alguns directores do seu staff, acostumados ao método da imposição do medo e do terror dos superiores hierárquicos, uma mulher cientista, corajosamente ergueu-se entre muitos machos e disse: basta de fugirmos ao debate, há que discutir os problemas do ensino superior com todos os gestores, e que vençam as melhores ideias, em prol da melhoria do ensino superior. No final do conclave, surpreendentemente, os seus críticos foram os primeiros que a tentaram levar ao colo, pelo êxito alcançado.

Manuel Fernando*

Pela primeira vez, desde que Angola está independente reuniu-se a nata de intelectuais que suportam o ensino superior público e privado, para a discussão dos assuntos que afligem o sector, um sector que nos dias que correm constitui também um dos mais instáveis do executivo, pelas consequentes fusões e divisões de duas grandes áreas que são o ensino superior e a ciência e tecnologia. Ademais, envolvido por um jogo de intrigas palacianas, envolvendo um suposto sobrinho do nosso camarada Presidente e uma incansável militante do partido de ambos. O fórum realizou-se, contando com a participação dos Magníficos Reitores, Directores Gerais de academias, institutos e escolas superiores autónomas, bem como dos directores nacionais que compõem o task force, da que muitos já ousam chamar a Mamã Coragem da Ciência.

Foi-nos informado, no entanto, que o Ministério do Ensino Superior e da Ciência e Tecnologia poderia ser mais produtivo, não fosse o principal estrangulamento não mencionado nas jornadas do 1º Conselho Nacional das Instituições do Ensino Superior: o desejo de alguns arrivistas verem consumada a separação dessas áreas e sob o comando de um homem que tem a obcecada imaginação de ser o herdeiro natural do ensino superior. Claro, este é o principal estrangulamento do ensino superior que durante o mandato legislativo, mais não fez, por ocupar-se da aprovação de estatutos, regulamentos e outros diplomas que permitem a funcionalidade das instituições. Projectos, nem falar, se existem, a sua implementação também é efémera, porque os seus executores não sabem se ao despertar continuarão pertencendo ao Ministério ao que estavam vinculados no dia anterior.

Mas depois de muito blá blá blá sobre as substâncias que constituem estrangulamentos, no desenvolvimento do ensino superior, o principal foi esquecido ou omitido na explanação referente às linhas mestras da gestão do ensino superior.

Dou-me a liberdade de pensar que o ensino superior e a ciência e tecnologia são enteados do executivo, não se leva a sério o seu crescimento, daí a dificuldade dos cientistas angolanos poderem apostar na investigação científica ao invés do “garimpo” ou “turbo docência”, com a única e exclusiva missão de engordar o salário.

Num país democrático como o nosso, mesmo com as limitações para a afirmação da liberdade académica, é surpreendente que entre as conclusões, os membros felicitem a Ministra “pela abertura e oportunidade de, livremente, apresentarem as suas preocupações, conhecerem os seus projectos e estratégia do Ministério, criando um compromisso mútuo em prol do ensino superior”. Mas afinal, a obsessão que tem Adão do Nascimento em controlar o ensino superior teria necessariamente que ignorar as opiniões de outros agentes desse subsistema de ensino? Quem lhe terá equivocadamente reconhecido esse dom de génio? Sabe-se que o suposto sobrinho do “Pai Grande” é um técnico sénior do Ministério da Educação, de onde não deixou marcas positivas. Será por acaso que entre muitos ex-colegas, ele só se simpatize com o Ministro Pinda Simão, e talvez por ter sido seu assessor, antes da ascensão a Vice-ministro do ensino superior. Não se terá cometido um erro, ao nomear-se um técnico para dirigir o ensino superior, alguém que nunca tenha exercido a docência numa universidade? É a velha euforia dos imberbes recém formados pensarem que as teorias apreendidas nos manuais escolares, podem ser implementados linearmente, sem atender as realidades locais, sobre isso, o próprio tempo se encarrega de esculpir, mas no ensino as consequências são incalculáveis atendendo ao produto a moldar: a personalidade, a instrução e a educação.

Nesse 1º encontro, nem tudo foi um mar de rosas, embora muitas questões sensíveis tenham sido abordadas com alguma timidez pelos participantes. Em nenhum momento questionou-se a necessidade de implantar-se o perfil dos cargos de Reitores e de docentes, talvez porque até em algumas instituições do ensino superior público ainda se encontrem Vice-reitores e decanos sem uma pós-graduação ao nível de mestrado, no entanto, esta falha descredibiliza as nossas instituições superiores. Nas privadas então, melhor não comentar, para ser-se docente o suficiente, para eles, é ter uma licenciatura, reconhecida ou não, formado em psicologia pode ensinar biologia, etc. puro embuste. A correcção destes ‘estrangulamentos’ é tarefa do Ministério de tutela, por excelência. Não me venham cá dizer que tudo aconteceu na era Nascimento, já é tempo de se estabelecerem regras. O governo legalizou-as, mas se os prevaricadores persistirem na violação do que está estatuído, também pode ilegalizá-las.

Foi interessante assistir ao debate sobre as denominações usadas de forma abusiva e que se tem dado às jornadas científicas, quando de científico não tem havido nada. Polémico sim, mas não é menos verdade que muitos dos nossos doutores confundem publicação científica com publicação literária ou de recolha bibliográfica. Senhores doutores só tem mérito científico, quando a inovação é reconhecida internacionalmente, publicada numa revista da respectiva especialidade. A ciência não tem ideologia. Os contestatários desvendaram as lacunas que carregam neste âmbito.

O Ministério do ensino superior doravante terá que preocupar-se por não defraudar a esperança depositada aos parceiros, com os projectos apresentados pelas distintas direcções que o sustentam, sob pena de fragilizar este grande projecto, sobre a melhoria da gestão do ensino superior, plasmado nas Linhas Mestras, amplamente criticado pelas instituições privadas, pelo seu carácter paternalista e exclusivista em detrimento do ensino privado.

Esperamos que a mesma coragem que teve Cândida Teixeira de assessorar-se dos principais gestores do ensino superior do país, tenha uma regularidade e sirva de exemplo a outros governantes tacanhos.

Por mais que se tivesse tentado mascarar a ausência do Secretário de Estado do Ensino Superior, ficou patente que a Ministra, por este lado, tem um touro fora de controlo. Nos bastidores comentou-se uma provável coincidência de férias com a data do evento, mas pela magnitude que teve, só um estado de coma, com presença física na sala dos cuidados intensivos, poderia justificar essa maculada ausência que demonstrou o menosprezo do mesmo ao evento, mas principalmente aos pouco-queridos parceiros. Comportamentos desse tipo não são dignos à estatura de dirigente, proveniente das escolas do MPLA e na qual o Presidente da República deposita confiança.

* manuelfernandof8@hotmail.com

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