sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Costa do Marfim. EUA desmentem envio de mercenários para derrubar Laurent Gbagbo


Os Estados Unidos desmentiram no 28.12 o envio de mercenários para a Costa do Marfim, considerando “absurdas” as acusações dos apoiantes do presidente cessante, Laurent Gbagbo, sobre a existência de uma conspiração para o afastar. “Direi apenas que são absurdas”, afirmou um porta-voz do Departamento de Estado, Mark Toner, à France Press.
“Continuamos a pedir ao presidente Gbagbo que respeite a vontade do povo da Costa do Marfim e entregue o poder ao presidente eleito, [Alassane] Ouattara”, acrescentou, considerando “ridícula” a ideia dos apoiantes do presidente cessante quanto à existência de uma “conspiração malfazeja” para o afastar.
Durante uma conferência de imprensa realizado no 26.12, o ministro do Interior do governo de Gbagbo, Emile Guiriéoulou, disse que um avião dos EUA, que supostamente transportava peritos para avaliar as consequências de um disparo de RPG contra a embaixada norte-americana em Abidjan, a 16 de dezembro, aterrara de facto em Buaké, no Centro do país, base dos ex-rebeldes das Forças Novas (FN), que apoiam Ouattara. “Temos razões para pensar que os dez norte-americanos que desembarcaram são mercenários”, acusou o ministro.
Por seu turno, a imprensa costa-marfinense pró-Gbagbo disse que o avião transportava uma dezena de mercenários alemães, financiados por Washington, com a missão de eliminar Laurent Gbagbo. Um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão refutou estas acusações por serem “absurdas e completamente falsas”.
Um porta-voz do Pentágono, o major Chris Perrine, adiantou à France Press que o avião transportou uma “equipa de avaliação e peritagem integrada por um pequeno número de militares norte-americanos”, para assistir o embaixador dos EUA no país, Philipp Carter, a pedido deste. O avião partiu de Estugarda, na Alemanha, onde está o Comando África do Exército norte-americano.
Na Costa do Marfim, a equipa deve servir de ligação militar junto da embaixada, “se o embaixador precisar de apoio militar para evacuar cidadãos dos EUA”, avançou Perrine.

Delegação da CEDEAO esteve na Nigéria
Os três chefes de estado que, no 28.12, exigiram a Laurent Gbagbo que ceda a presidência da Costa do Marfim a Alassane Ouattara, reuniram-se no 29.12 com o presidente da Nigéria e da CEDEAO sobre os resultados da missão.
Segundo fonte da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), os presidentes Yayi Boni, do Benin, Pedro Pires, de Cabo Verde, e Ernest Bai Koroma, da Serra Leoa, que se encontrarão com Goodluck Johnatan em Abuja, advertiram Laurent Gbagbo que a organização poderá usar "a força legítima" para retirá-lo do poder.
Os três chefes de Estado, acompanhados pelo presidente da Comissão da CEDEAO, Victor Gbeho, reuniram-se também com Alassane Ouattara, que consideram o legítimo vencedor das eleições de 28 de novembro e presidente eleito da Costa do Marfim e com o chefe de operações das Nações Unidas no país (ONUCI), Choi Young-jin.
A delegação enviada pela CEDEAO saiu do país depois das partes em conflito terem “pedido mais tempo para reflexão”, informou a presidência de Cabo Verde em comunicado.
O texto adianta que “após a realização dos contactos, primeiro com o representante do secretário-geral das Nações Unidas e depois com cada uma das partes no processo, estas pediram algum tempo para reflexão, na tentativa de se encontrar uma solução viável à conclusão do processo eleitoral enquanto saída que promova a paz e a estabilidade duradouras” no país da África Ocidental.
O comunicado da presidência cabo-verdiana acrescenta que “a missão dos chefes de Estado regressará à região no decorrer da próxima semana para prosseguir os contactos e tentar concluir a mediação”.
Enquanto os três presidentes visitavam Abijan, em Abuja começou uma reunião do comité de chefes de Estado-maior da CEDEAO para estudar os pormenores técnicos e logísticos que implicaria o destacamento de tropas numa eventual operação para retirar Laurent Gbagbo do poder.
Segundo fonte da CEDEAO, a reunião que decorreu à porta fechada entre as mais altas patentes militares já "tem praticamente fechados" os planos de uma eventual intervenção para colocar Alassane Ouattara na presidência.
A situação de conflito na Costa do Marfim agudizou-se após a segunda volta das eleições presidenciais, a 28 de novembro. Laurent Gbagbo, no poder há dez anos, perdeu para o candidato da oposição, Alassane Ouattara, segundo os resultados da Comissão Eleitoral Independente.
A comunidade internacional reconheceu Ouattara como chefe de Estado, mas Gbagbo recusou deixar o poder e alertou, em entrevistas divulgadas na segunda-feira, que o país corre o risco de uma guerra civil. A crise política pós-eleitoral na Costa do Marfim já provocou cerca de 200 mortos e milhares de pessoas refugiaram-se nos países vizinhos.

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