terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Pride Foramer, nova colonização no crude



Pride Foramer racista discrimina autóctones e pratica actos criminosos com cumplicidade do ministério dos Petróleos

Arlindo Santana

A PRIDE FORAMER é uma multinacional sediada em Houston, nos Estados Unidos da América, e presta serviços à indústria petrolífera em África, Ásia, Europa, América do Sul e Médio Oriente. Instalada em Angola em parceria com a Sonangol, esse gigante americano, uma das maiores empresas do mundo a actuar na área petrolífera, criou em 1998 uma sociedade de direito angolano, a Sonamer, especialista na perfuração de poços de petróleo e gás em águas profundas e ultra-profundas Plataforma Continental Maritima.

Como accionista apenas se contam a própria Pride Foramer, com 51% de acções, e a Sonangol, que detém os restantes 49%.
Infelizmente, daquilo que se poderia esperar dessa “joint venture” como mais-valia para o nosso país, apenas sobrou o benefício fabuloso auferido pela multinacional e o escandaloso fosso entre os montantes relacionados com os salários, consoante eles sejam pagos a nacionais ou a expatriados.

“Um nacional como eu, que sou assistente Barge Master (chefe de plataforma petrolífera como Helicopter Landing Operator), recebe pelo seu trabalho de grande responsabilidade qualquer coisa como 1.600 dólares por mês, se contarmos todos os subsídios, mas se for um expatriado a fazer, igualzinho, o mesmo trabalho, com os mesmos horários, o salário é outro e pode ser mesmo mais de 15.000 (quinze mil) dólares”, revelou ao F8 Nelson Koxi. Abismal e verdadeiramente escandaloso!

Este desabafo do Barge Master Koxi, a cujo caso pessoal nos referiremos mais adiante, não é certamente mentira se algum crédito for atribuído a declarações muito anteriores à dele, no quadro de um outro escândalo que de algum modo desbotou, para não dizer denegriu a imagem da Pride Foramer, alguns dias antes do Natal de 2009, quando foram postos no olho da rua, colectivamente, os trabalhadores angolanos com o beneplácito do Ministério dos Petróleos (ver quadro).

Uma ofensa corporal cruel
Sem medo de exagerar podemos desde já anunciar que vamos neste artigo abordar um caso de notória baixeza moral de que se tornaram principais autores (a cidadã portuguesa, que diz ter, também, passaporte angolano… como é fácil), directora dos Recursos Humanos e outros quejandos… da multinacional Pride Foramer.

O caso em questão refere-se precisamente à nossa fonte, Nelson Koxi, que de entrada em matéria deu a cara e pretende obter ganho de causa numa situação indecorosa criada em torno de uma doença que o atingiu brutalmente.

Trabalhador com excelente currículo, Koxi trabalha para a multinacional Pride Foramer há mais de 20 anos e subiu a punho os escalões da hierarquia dessa empresa para ocupar actualmente o posto de Chefe para Operador dos Helicópteros da Sonair no bloco 17, plataforma essa que foi perfurada pela Pride/África.

A partir de 2003 começou a ter problemas de audição em virtude de o seu trabalho ser sempre realizado em ambientes extremamente ruidosos.

Em 2004, a sua doença agravou-se e ele teve de recorrer aos serviços hospitalares da Clínica Sagrada Esperança (CSE), na ilha de Luanda. Esta, enviou um relatório à Pride, especificando que o técnico não poderia continuar a prestar serviço em locais ruidosos por se encontrar num estado clínico de ameaça de surdez grave do lado direito, sugerindo o uso regular de aparelhos auditivos de ampliação de som.

A empresa multinacional recebeu o relatório, tal como foi ulteriormente constatado, manteve-o “criminosamente” em segredo entre 2004 e 2010 e o mwangolé Koxi, único angolano nesta categoria de serviço, continuou a trabalhar no duro e no ruído realmente ensurdecedor até 2007, (pudera, ele fora praticamente coagido a receber pelo mesmo trabalho, dez vezes menos do que o técnico estrangeiro!) numa altura em que a sua audição se deteriorara de tal modo que foi obrigado a ser evacuado da plataforma para ser internado na CSE e fazer com urgência exames aprofundados do seu sistema auditivo.

O resultado das análises não deixava alternativa a Nelson Koxi, tinha de viajar para a África do Sul a fim de fazer um tratamento específico, impossível de ser realizado em Angola, em função da atitude dolosa e premeditada da sua entidade empregadora.

Entretanto, novas do relatório de 2004 nem por suspiros. Nada. E a vida de deficiente físico de Koxi continuou na sua rotina de tratamentos periódicos na CSE.

Entre 2007 e 2009, portanto, nada de relevante se passou, Koxi esteve à espera que a Pride se decidisse finalmente a enviá-lo à África do Sul, a fim de ser convenientemente tratado, mas a grande multinacional, uma das mais poderosas empresas petrolíferas do mundo do sector de furagem em águas profundas, não só continuou a manter em segredo o relatório de 2004, como considerou que seria dinheiro mal gasto fazer esse tratamento, para minorar a doença de um autóctone negrio angolano, avaliado nuns quinze a vinte de mil dólares, ou nem isso, e, como seria de prever o estado auditivo de Koxi piorou.

A sua surdez passou a ser uma ameaça de atingir os 100%., uma vez que no ouvido direito a surdez era isso mesmo, 100%, enquanto no ouvido esquerdo ela atingia os 40% (60% de audição). Perante a gravidade do seu estado clínico, a comissão sindical da Pride, de que Koxi faz parte, exerceu uma pressão muito forte que levou os responsáveis da empresa a aceitar que o seu técnico angolano fosse tratado na África do Sul.

Koxi foi à terra de Mandela e regressou à pátria, depois de feitas as análise e pouco mais. Mal chegou a Luanda, ou melhor, mal o relatório médico e o resultado das análises feitos na clínica sul-africana chegaram a Luanda, o Dr.Elieser, advogado da empresa, convocou-o para uma conversa, de facto, para lhe propor uma rescisão do contrato que o ligava à Pride e dizer quanto dinheiro queria para a sua devida indemnização, ao que o angolano respondeu que a saúde não tem preço e, de qualquer modo, o cálculo do montante da dita indemnização cabia à empresa não a ele. A conversa não foi muito mais longe.

A inqualificável postura da Pride Foramer
Visto com frieza e um certo distanciamento, este arrepiante caso de prepotência bestial por parte da Pride Foramer, denota, meramente, sem querer denotar, o desaparecimento inexplicável de algumas das mais elementares obrigações legais de todo empresário para com os seus funcionários. Em boa verdade, estamos em face da ressurgência de uma nova variante de escravatura, não podemos escrever assim, tão pequeno, tem que ser escrito em grande, ESCRAVATURA.

Não a escravatura clássica, de poder de vida e de morte sobre o escravo, isso já não é possível! Esta “escravatura” da Pride Foramer é a escravatura possível, porque há leis e é imprescindível fazer crer que se obedece a essas leis.

E a Pride obedece, mas escondendo relatórios médicos, por exemplo, esperando a reacção do empregado quando lhe desfalca da sua conta bancária os montantes pagos para o tratamento da sua deficiência física, de que ela, a Pride, é responsável da A até Z

Uma empresa Multinacional como a Pride, de grandeza máxima no mercado petrolífero, facturando milhares de milhões de dólares, ousa ir à companhia de seguros (ENSA, neste caso) fazer uma falsa declaração dos emolumentos de um dos seus funcionário para receber em troca umas dezenas de dólares por mês!!!? Não é possível? É.

Não é credível, de acordo, mas foi o que aconteceu com o Nelson Koxi, que teve a satisfação de ter ouvido, mau grado a sua deficiência auditiva, um pedido de desculpas por parte de representantes da sua empregadora, provavelmente os mesmos que contribuíram para que tão vergonhoso acto fosse perpetrado em nome duma tão prestigiosa organização.

Resta pendente pois a pergunta principal: como a Pride pediu que se procedesse a uma rescisão do contrato de trabalho, que variante escolher das duas que estão por ora em balança:

1) a proposta dos advogados de Nelson Koxi, que reclamam uma indemnização de 500 mil dólares para tratamento do que já é incurável, mas enfim, chamemos-lhe tratamento, ou a que é proposta sem vergonha alguma pelos escritórios da dra Fátima Freire, advogados da Pride: 35 mil dólares?

Dizer que num país do norte da Europa os algozes da Pride correriam risco de ir à barra de um tribunal penal por OFENSAS CORPORAIS CAUSADORAS DE DEFICIÊNCIA FÍSICA IRREVERSÌVEL, não chega para abarcar o significado tão miserável da proposta que a Pride Foamer, com a cumplicidade de gente que se diz angolana, fez a Nelson Koxi, que hoje tem a vida desfeita, a carreira desfeita, a audição desfeita, cinco filhos a educar e um insistente zumbido na orelhas que o impedem de viver normalmente. E não tem trabalho.

Porque durante 6 anos a sua empregadora escondeu um relatório médico que poderia ter modificado completamente o rumo da sua vida.


Despedimento colectivo da Pride em Dezembro de 2009 em conivência com o Ministério dos Petróleos

Em Novembro e Dezembro de 2009 desenvolveu-se na Pride Foramer um movimento de repulsa aos desígnios da empresa. A Comissaão Sindical da empresa levou avante uma luta que redundou em fracasso total por o Ministério dos Petróleos ter aderido á tese da Multinacional. Eis o documento publicado sob égide da Comissão Sindical que dá conta do que se estava a passar na altura

Alerta aos Angolanos
Segundo o que se sabe o nosso governo devia lutar contra o desemprego e não promover o desemprego ou a humilhação dos trabalhadores angolanos, segundo vários discursos do Presidente da Republica de Angola. Ao contrário disto, segundo o documento abaixo confirmado pela directora dos recursos humanos da Pride Foramer, Bárbara Morais, o Ministério dos Petróleos (o Sr.ministro dos Petróleos) aprovou o despedimento colectivo dos trabalhadores nacionais Angolanos, permitindo a permanência dos expatriados.
Quer isto dizer que, face à autorização do despedimento colectivo pelo ministro, amanhã a direcção da Pride Foramer comemora a mesma festa patrocinada pelo Ministério dos Petróleos. O nosso espanto é que o nosso governo aceite que a crise nas empresa afecte somente os angolanos

Os trabalhadores Angolanos têm a honra de convidar a todos os que puderem a participar na festa do despedimento e sofrimento do povo Angola criado pelo nosso despedimento.

(…)

Um dos membros da Comissão Sindical respondeu: “eles falam em crise financeira, mas continuam a trazer expatriados. A nós recusam pagar 95 dólares diários, mas aos expatriados pagam 800 dólares diários. A maior parte deles vem sem formação nenhuma e são os angolanos que os formam. Mas depois, esses estrangeiros tornam-se supervisores dos nacionais e quando não dão conta do recado, transferem-nos para um outro sítio, com salários mensais fixados entre os 11 e 18 mil dólares. Quando se trata de um angolano, que não é formado no ramo dos petróleos, a solução é a rua e fora dos quadros da empresa”.

Também não queremos que os nossos técnicos médios e não só, passem a vida toda a limpar e a pintar sondas, acrescentou o sindicalista.

Luta inglória!

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