quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

DIÁRIO DA CAVERNA. Devaneios do Homem Novo


«Eu tenho alunos do terceiro e quarto anos que ainda têm dificuldades de fazer contas de somar… pasme-se. Contas de somar, sem exagero. Há alunos que escrevem tão mal que você não consegue ler. Há alunos que falam tão mal que você não consegue entender. Talhos, peixarias estão nas mãos de estrangeiros.» in Fernando Heitor. Folha 8 09Out10

Gil Gonçalves
patriciaguinevere.blogspot.com

Acabo de estudar os discursos de Kin-Il-Sung I e confesso que são muito edificantes. Fiquei deveras esclarecido, sinto-me com ganas… de repente baptizei-me num magnífico líder.
Ó politizados na irresponsabilidade, espoliados do petróleo, dos diamantes, dos empregos, dos casebres e das tendas. Nunca em trinta e cinco anos se instituiu tanta miséria nestes dias de vida lavados pelo vulcão de Luanda.
Os nossos problemas resolvem-se com as nossas manifestações, sempre autorizadas, de apoio incondicional na manutenção do poder eterno da nossa esclarecida, clarividente liderança. Esses deuses omnipresentes… mas o que é que fizeram dos livros? Mano, se durante a tua existência nunca conseguiste ler um livro, então a tua estadia foi em vão.
O que se passa com o abastecimento da energia eléctrica e água é a declaração da anarquia institucional. Não é preferível mudar-lhes o nome para energia destrutiva e água invisível?
«Negoceia-se fazenda com 175 a. com financiamento aprovado.
Negoceia-se fazenda com 200.000 pés de abacaxi.
Arrenda-se, óptima vivenda “Lar do Patriota” 350 m2 de construção, ampliações e acabamentos extras, piscina, churrasqueira, bar esplanada 1 suite, 2 quartos, 2WC, salões de 50m2, cozinha, grande pátio coberto, parque pavimentado 6 carros e 2 geradores insonorizados 20KW, toda climatizada.» In Jornal de Angola 24Out10
As ratoeiras inventaram-se para que os ratos não roubem os seus irmãos humanos.
Sim, realmente, para quê eleições se não existirá ninguém para votar. Porque até lá, com a inflação galopante da miséria e a imposição da fome nacional, a população sucumbirá. Tem ainda a apoiá-la bastas doenças e epidemias. E o Politburo a bater palmas de regozijo por mais uma vitória eleitoral antecipada.
E esta revolução criou uma nova classe social: os desbravadores dos caixotes do lixo, o prémio especial da nossa nova vida.
Os geradores incrementam-se, o fumo tóxico e a matança daí resultante também. Pelo andar deste carro fúnebre, a curto prazo será impossível sobrevivermos a tal engenharia genética.
Um Politburo que obriga à proliferação de geradores numa cidade capital que nos intoxicam, nos derretem a vida, não nos merece qualquer consideração. É este o rumo deste moderno Awschvitz, agora empossado no comité de especialidade da subida dos preços. E a Igreja e esta ditadura estão na mesma moldura. Atabalhoaram, transformaram um povo numa espécie animal desconhecida. O que esperar de um povo educado numa universidade por docentes experimentados no roubo e na corrupção. Convicto, este povo segue tão salutares exemplos.
Os especuladores imobiliários e os seus sócios também não estarão imunes à onda de assaltos, incluindo a perda de vidas. As seitas religiosas não são o parte-coração da nossa aflição. Na nossa caminhada para Awschvitz é o pavor da proliferação das seitas imobiliárias que nos perseguem com os seus ritos sanguinários e secretos, com financiamentos das seitas bancárias. Que sofisticada é esta democracia do Inferno. A caminho deste Awschvitz sem arame electrificado porque não tem energia eléctrica. Um país desorganizado é como casebres em ruínas, onde fazem morada ratos e outros espécimes. E os descamisados aumentam nos supermercados dos caixotes do lixo. A prole dos esfomeados bandeirantes invade, aumenta os grupos que fazem concorrência na recolha do lixo. Há dois petróleos: um para os endinheirados do Politburo e outro para os espoliados e esfomeados.
Estamos carentes dos não crentes. De nos lavarem sistematicamente as mentes. E os estrangeiros postados no topo observam-nos finalmente vitoriosos. A nossa chefia postada na caverna muito negra, muito escura aplaude-os: «Estão a vê-los?! Cumprimos tudo conforme as vossas instruções petrolíferas e diamantíferas. Vejam-nos definitivamente domesticados, abrutalhados, armazenados… amigos estrangeiros… nunca mais vos incomodarão.» Meia dúzia de ex/escravos governam milhões ainda sem carta de alforria.
Não são as roupas que são indecentes, mas quem as usa.
E os apoiantes da ditadura lavam-lhes a imagem: «A África é o continente berço da humanidade. O futuro está na África»
A avó criou as duas crianças com muito sacrifício. Já crescidas, cuidadas, vividas, retribuíram-lhe… envenenaram-na.
O dinheiro petrolífero suja as matas de betão. O que interessa é facturar sob um mar de cadáveres.
Muita gente diz que viu, falou com Jesus Cristo, com Deus, com a Virgem Maria, e muitas mais divindades. Mas ninguém conseguiu fotografá-los ou filmá-los.
O último partido político. «Então, tu por aqui? Sempre na incessante busca do homem desencaminhado, órfão político. Pois é… então o que fazes, quais são as últimas?» «Ando na demanda do último partido político.»
Estamos no pleno desenvolvimento, e contudo sem energia eléctrica. Infeliz povo que se deixa conduzir por pastores da desgraça. O constante desliga e liga destrói-nos o que resta dos nossos equipamentos e electrodomésticos. Dinheiro para comprar outros, está onde?! Até lugar para enterrar defuntos já se foi. Os cemitérios existentes estão em vias de declarados coisa de utilidade pública, reserva especial. E em cima do repouso dos nossos mortos edificar-se-ão centros comerciais, e magnificas torres de escritórios.
E vi um homem que parece só entender de futebol que nos ensina o que é, como deve ser Angola, e nela nos lecciona como se consegue dinheiro com facilidade e também como se educa a teimosia do homem novo nascido desta invulgar juventude. Ensinar-nos como apoiar os jovens sem qualquer interesse partidário, apenas porque compreende e se curva perante os anseios da mocidade inexistente, mais que evidente. Isto é que é a sublime apologia da humana caverna. E que triste exemplo da mediocridade humana tecer considerações, pretender dar lições a um homem, quiçá o único intelectual angolano, e não se sujeitar aos seus ensinamentos críticos. Agora até um insigne, talvez o único homem vivo de facto e de jure, Justino Pinto de Andrade, ser enxovalhado por um adepto do embrionário futebol angolano. Essa não! Que o adepto solicite imediatamente desculpas ao DR. Justino. Já o disse algures e repito-o: este é o tempo momentâneo da ascensão dos idiotas e similares ao discricionário poder. Isto não é política, é destruir o que ela nunca foi. Como é possível um homem nadar em dinheiro perante milhões de náufragos a sucumbirem agarrados em vão na âncora, no derradeiro suspiro das plataformas petrolíferas de alguns que de momento se arvoram de os únicos que institucionalizaram a democracia. Afinal as plataformas petrolíferas também produzem democratas.
Estamos no plano do pleno desenvolvimento, e contudo querem impor-nos o viver sem energia eléctrica.
Algures em Luanda, os cinco chineses desconjuntados pelo paludismo jaziam há alguns dias quase entre a vida e a morte. Um talvez chefe deles preocupava-se em diariamente dar-lhes um comprimido que não se sabia se era para baixar a febre ou não. O mwangolé vizinho da obra em que trabalhavam barafustou com o chinês que tomava conta deles. O chefe chinês não ligou, quer dizer, os cinco colegas morreriam pela certa. Então o nosso mwangolé cheio de compaixão levou os doentes para o hospital público mais próximo e passados dias salvaram-se.
Que infeliz povo, o angolano, que se deixa massacrar por governantes que elegeu com votos nas urnas. É uma democracia de lobos que devoram humildes e pacificas ovelhas. Como bancos de sangue sempre disponíveis para vampiros sempre sedentos de repastos se saciarem. Uma reserva estratégica para se banquetearem. Como gigantescos currais de gado inaugurados para abate. Pelo movimento pendular, abraçaremos mais um teatro de operações de mãos estendidas para conseguir algo de comida ofertada pelos brancos que escorraçámos.
Continuamos a assistir ao desfile de governos no poder, melhor dito, de palhaçadas… de aventureiros que levam à bancarrota os seus países, e a comunidade internacional não se move, finge, deixa andar. Desconfio mas é que o nosso planeta Terra foi invadido por uma raça de extraterrestres que nos dominam. Claro que isto não é nada de novo, mas que mais pode ser?
Que patético ousar afirmar depois da derrocada arquitectada e fomentada pelo inútil poder se diga com convicção: «A situação está difícil, já não se vê nenhuma luz no fundo do túnel.» O maior erro que o quase cinquentenário cometeu, e comete, foi vender-nos às redes mafiosas dos especuladores imobiliários internacionais conluiados com os novos-ricos locais. Farto-me de dar voltas na cabeça, e não consigo discernir qual é o sistema económico que vigora em Angola. Bom, acredito que é simplesmente a pureza de uma economia selvagem. Mas é que não existe nenhuma economia, existe é um grupo que rapina tudo para si sem deixar algumas moedas. Isto sim é que é o actual sistema económico que sobrevive. Na realidade quem nos governa é a fome. É um governo da fome e para a fome.
Há enxames de economistas que papagueiam a rodos sob o estado da economia. Mas ela definha-se no inexistente. Se os políticos são incompetentes, a economia também o é. E na multidão de economistas renasce o que não é. Se o governo atira a população para a fome, e revelando-se frívolo segue de plantão no poder? Porque a oposição é decerto, ou de grande modo, conivente. É um sofisticado satélite da lotaria habitacional.
É que estamos de tal modo no rumo do roubo e da corrupção que nada mais nos resta. Sim! Dos tubarões aos peixes mais minúsculos todos roubam, e se assaltam. Mais um país africano que ganhará o campeonato dos estados-falhados. Parece que está a dar brincar aos países. Sem dinheiro para pagar vencimentos, o poder desfigura-se na sistemática afirmação que existe crescimento económico. Todos sabemos que não é bem assim, e o poder insiste nesta maledicência. Mas parece que há, dá sempre para sustentar concubinas, amantes. Mas, perante este estado de coisas caótico a culpa é do governo, ou será porque a grande maioria da população, tal como em Portugal por exemplo, estão possuídas por uma epidémica idiotice natural?! Mas a culpa não é nossa, do povo, é do governo que não nos governa, lamentam-se. Mas quem votou nesse governo foi quem?!! Foi o povo, claro! Não se pode esperar nada de povos que passam o tempo em orgíacas e intermináveis festas.




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