quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Educação e giz. Administração do Lobito, motivo de orgulho para os jovens formados no período de guerra


Manuel Fernando

18 de Janeiro de 2011 registou um verdadeiro movimento não-espontâneo que aglutinou académicos de diferentes áreas do saber, do nosso vasto território nacional, na cidade do Lobito, para render homenagem a um homem de ciências. No entanto, mesmo com os olhos lacrimejantes, pela perda de um homem de ciências, o Doutor Alves dos Santos, houve espaço e tempo para cada observador visitante, referir-se ao semblante que a cidade do Lobito está apresentando.

Em Angola ainda reina o conflito de duas gerações, divididas pela 4ª classe: dos que se consideram mais capazes por terem concluído a 4ª classe antes de 1974 e a dos novatos que a fizeram depois de 1975. Embora entre os primeiros se encontrarem os maiores de quarenta anos, somente os que estudaram com a famosa gramática de José Maria Relvas se considerem os mais iluminados do saber, e estes na actualidade têm vividos mais de 50 cacimbos. Não foi em vão que esse exacerbado saudosismo levasse a cargos de Ministro e/ou Governador personalidades como Mendes de Carvalho (Ua nhenga ó Xito), Sapilinha Sambalanga, Pedro Mutindi & Cª. No entanto, o país amealhou anedotas de toda classe, das insensatezes protagonizadas por esses kotas que empiricamente tentaram governar o país, ignorando as leis e regularidades do desenvolvimento das sociedades.

O Governo e o partido apostaram no desenvolvimento de algumas parcelas e territórios do país com objectivos políticos, como são os casos das províncias do Huambo, Bié ou Cabinda, investindo em alguns casos dinheiros nunca antes disponibilizados pelo OGE, nessas regiões, principalmente nos períodos de campanhas eleitorais. Muito poucos governadores conseguiram honrar esse sacrifício financeiro do governo Central, no qual emergiu, como bandeira, a cidade do Huambo. Sacrifício premiado com a ascensão de Paulo Cassoma aos mais altos estandartes dos órgãos do poder. Provavelmente, algures nesse imenso território nacional, estarão anónimos gestores do erário público, cujos esforços merecessem iguais ou melhores louvores, mas claro, os lobbies nunca estão do lado dos pobres ou peões de guerra. É negócio.

A concentração forçada de académicos na cidade do Lobito levantou questionamentos sobre a estéril governação de Dumilde Rangel na província de Benguela. “O partido falhou”, era a convergência de opiniões. A cidade do Lobito é apenas uma das três melhor recuperadas do pôs-guerra, desta Angola. O actual Governador da província tem a ingente missão de recuperar o “tempo morto” de Dumilde, onde tudo regrediu, mas com mão de ferro e com o medo que impõem os Generais, vai levando a água ao moinho da governação. Segundo os académicos, Benguela tida como um reservatório de intelectuais não merecia a sorte madrasta de ter sido ignorada pela superstrutura, tudo isso por velar conveniências partidárias de ocasião.

Estupefactos quedaram os curiosos forasteiros quando informados sobre o protagonista empreendedor da imagem que estava sendo deleitada pelos eventuais turistas. Um jovem, que não terá cumprido ainda os 45 anos é o actual administrador cujo nome é Amaro Ricardo. Suposto condiscípulo do académico que foi a enterrar. Não o podemos identificar entre os presentes, mas dizem, ter sido formado nas escolas de Fidel Castro, não conseguimos apurar se o mesmo terá alguma relação de consanguinidade com a “família real”, como tem sido praxis na nomeação dos cargos de governação. O miúdo _ como um conviva o tratou_ é o nosso orgulho. Eu que conheci Lobito pela primeira vez e que imaginei o interior ainda perene de escombros, emudeci, uma pena não o poder conhecer, para descrevê-lo.

Não tendo eu concordado com a forma cambalacheira como José Maria dos Santos aterrou como Governador de Luanda, talvez porque fosse eu um dos apaixonados incondicionais da tia Xica, continuo advogando que aos jovens há que dar uma oportunidade, mas começando por baixo, se não os quisermos linchar. Ao nosso nguvulo de Luanda cujo fôlego matinal ainda lhe permite xingar os administradores incompetentes e preguiçosos, está conquistando a população, mas se não for bem sucedido, será simplesmente a morte prematura de um jovem a quem se lhe podia brindar uma rosa menos espinhosa.

Nas últimas remodelações governamentais o Presidente da República tem manifestado a perda de confiança pelos kotas, e embora se tenha equivocado com jovens da estirpe de Isaac dos Anjos, as “esperanças moribundas” se vão rejuvenescendo com as nomeações de dirigentes jovens.

Há exemplos sonantes sobre a demonstração de capacidade da juventude que julgo ser o móbil das últimas ‘mexidas’ de Dos santos e certamente, se esta onda tivesse chegado mais cedo, provavelmente muitos desfalques financeiros não tivessem ocorrido e as províncias não conhecessem as agruras em que chegaram os lugares onde estiveram vegetando figuras como Manuel Pedro Pacavira, Flávio Fernandes, Luís Paulino dos santos, Mawetes e tantos outros. Com a nomeação de jovens para disciplinarem a banca, de mulheres no staff do ‘pai grande’ e de ex-Kwachas/FALAs no poleiro das FAA, Dos Santos vai dando mostras de que muitas apostas falidas, tinham um fim: agradar os conservadores do partido, ele sabe o que faz. Muitos erros têm sido cometidos para responder a interesses partidários, contudo devemos saber que não basta ser jovem, deve-se reunir apetrechos académicos e profissionais que garantam a funcionalidade das estruturas. Os maquisards atingiram a data de caducidade e não deve haver compaixão porque o país tem a obrigação de concorrer com os gigantes da região e para tal há que contar com especialistas que o país formou durante mais de 30 anos.

Contrariamente ao que observamos no Lobito, a nossa passagem pela cidade do Sumbe é para dizer “camarada Presidente, exonera-me já o Governador Serafim do Prado e que com ele seja chamado o deputado Higino Carneiro para explicarem onde foi utilizado o dinheiro do OGE”. A população do Sumbe não merece dirigentes inertes ou activos apenas para os seus bolsos. Muito dificilmente os residentes do Sumbe não sejam vítimas de doenças pulmonares, agora ou amanhã, pela poeira que inalam diariamente. Uma autêntica aldeia esburacada, sem ruas asfaltadas, pessoas com semblantes tristes, restaurantes da era Higino, inacessíveis à população, pelos preços que praticam. Esses governantes são inimigos do MPLA e da população que dizem governar.

A cidade do Lobito recebe do OGE nada mais que 24 milhões de Kwanzas anualmente, verba similar da que recebe por exemplo o município da Caála no Huambo, para não falar provavelmente de Catete que só tem cacusso miúdo. Ou o administrador do Lobito é milagreiro ou os outros são descerebrados incompetentes.

Não continuarei a chorar pela tia Xica porque afinal já está nestas paragens faz tempo, se ela perpetuar-se no poder os meus filhos não poderão aspirar a sonhos altos porque as vagas estarão mais caras do que já se está pagando hoje para entrar no ensino médio, sob o olhar tranquilo das autoridades. Tranquiliza-me o facto de saber que acabou a era dos da 4ª classe do colono, da mesma forma que acabou o comunismo, está acabando os restos do colonialismo. Só não entendo as razões da propaganda exagerada sobre a imagem do Huambo e nada se comente sobre o Lobito. Para mim o Lobito está mais bonito que a cidade do Huambo e se o General Armando Neto tivesse substituído há mais tempo o ancião Dumilde é muito provável que Benguela já estivesse a absorver parte dos técnicos nacionais que se resistem a trabalhar no interior por falta de condições de trabalho, entre outros incentivos.

Muitos jovens preparados encontram-se na prateleira a espera de receberem o testemunho da governação, mas conscientes de que em Angola o amiguismo e o tráfico de influências fazem morada nas candidaturas aos cargos de grande responsabilidade. Haja fé.

*manuelfernandof8@hotmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário