terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Makas na comunicação social continuam. Carolina no país dos caranguejos não faz melhor que Rabelais


Entre ter de negociar com gente que quer à viva força subir na escala social, a coberto de toda a gama de artes e artimanhas para ser bem-vista pela minoria jurássica do sistema político do nosso país, e, ao mesmo tempo, tentar tirar algum proveito da posição que por ora ocupa num dos altos pelouros do xadrez político nacional, Carolina Cerqueira, como praticamente todos os homens (e mulheres) políticos da nossa praça, numa imitação perfeita do que faz o Chefe, esquece-se de que servir o país é incompatível com o aproveitamento ilícito de vantagens que ele outorga.

Arlindo Santana & Silvio Van-Dúnem

Se fôssemos a dar crédito aos arautos do defunto Governo de Angola, de antes do dia 10 de Fevereiro de 2010, teríamos de admitir que o nosso país (deles) era um dos mais prósperos do mundo e uma das maiores economias de África, mas sem Norte, porque não tinha Constituição (esqueçamos os índices de pobreza, esperança de vida, bem-estar, liberdades e outros mais em que Angola está na extrema cauda do pelotão).

A partir dessa data (10.02.11), fatídica para a ainda infantil Democracia angolana, o país passou a ter uma Constituição, que seria muito boa diga-se a verdade, se pudessem ser resgatadas as “facadas” que ela “deu” ao nosso bom povo, ao qual, muito à socapa, foi retirado o direito de escolher o homem que eles querem para Presidente da República, enquanto pela mesma ocasião se oficializou o que já era prática ilegal corrente, foi concedido poder quase absoluto a um só homem.

A partir dessa data, também, foi enterrado sem pompa nem circunstância o Governo antigo e criou-se outro, gigantesco, um tão disparatado aparelho político que apenas pode funcionar com a ajuda das suas agora já indispensáveis muletas, confeccionadas às medidas do chefe e chamadas “comissões inter-sectoriais”. Tipo de controlo desencontrado, pois tudo funciona segundo um já tradicional associativismo de circunstância, e alguma dessa gente pode muito bem se entender como, por exemplo, fazem os ladrões numa feira.

Assim, nesta grandiosa e extremamente dispendiosa encenação, largamente publicitada com festas no Palácio, seguidas de semanas em declarações entusiastas e hinos laudativos ao dito Executivo, foi nomeado o que se passou a chamar um “novo governo”, mas no qual, passado muito pouco tempo, nem sequer é possível ver uma verdadeira separação de poderes, porquanto o Gabinete Presidencial passa, com muito vigor, a controlar o Poder Legislativo, e muito mais, claro está, o Judicial. E quando escrevemos “nem sequer podia controlar”, estamos a referir-nos a planear controlar, porque executar isso seria suicídio, um autêntico haraquiri político (perguntem ao Fernando Miala o que lhe aconteceu).

Nisto, e do mesmo modo que maridos melindrados apregoam aos quatro ventos que as suas ex-esposas não passavam de prostitutas, ao se separarem delas depois de anos a fio de vida em comum numa conivência e cumplicidade notórias, o Executivo descobriu, como dezenas de vezes antes o já falecido Governo tinha descoberto, que alguns dos seus agentes do topo de gama não passavam de autênticos malandrins, uns, a roubar uns dois, dez ou mesmo 100 milhões (dólares!), outros a desviar jipões para os seu negócios, outros ainda a roubar sem ninguém se dar conta disso e toda a gente ver que eles só podiam estar a fazer isso mesmo. Mas, enquanto eles lá estivessem, a mandar vir nos seus respectivos pelouros, ai de quem se erguesse para dizer que eles roubavam!

A “escorregadela” da ministra
Foi o que aconteceu ao jurista Manuel Rabelais, ex-ministro da Comunicação Social. Enquanto foi ministro, toda a gente via que ele não era são, mas ninguém ousou denunciá-lo. Só depois de ter saído pela porta do cavalo - e por um triz que não voltava a entrar pela janela – é que se levantaram vozes para o criticar. Os nomes que lhe deram são do pior que há. Não vamos enumerá-los aqui. Vamos, sim, dar mais um exemplo do que transparece no que foi supracitado, a impunidade dos governantes enquanto estão no exercício das suas efémeras funções. E não precisamos de ir muito longe, nem sequer precisamos de sair do Ministério da Comunicação Social (MCS), pois o exemplo (mau) vem da parte de uma exímia moralizadora perante Deus Nosso Senhor, a ministra Carolina Cerqueira.

A ministra Carolina Cerqueira merece todo o nosso respeito, e o facto que aqui vamos revelar aos nossos leitores não visa diminuir a sua pessoa em si, mas sim denunciar a impossibilidade de aplicação da famigerada “Tolerância Zero”, lei da “Probidade Administrativa” e outros quejandos.

O que desejamos denunciar é a gravidade do caso “corrupção”, em Angola. Seja quem for que entre no sistema de governação, tendo acesso a todas as alavancas de facilitação de vida, do dia-a-dia em particular, tudo de mão beijada quando antes era um ai-jesus, todos os governantes podem beneficiar de benesses e porquê recusá-las. É isso, ninguém que entre no aparelho de Estado resiste à fruição de vantagens, mesmo que sejam irrisórias.

A nossa ministra Carolina Cerqueira deixou-se levar na onda e cometeu um erro (pelo menos um, talvez dois, vamos ver mais adiante). Seria muito, muito bonito que, no caso vertente, em vez de nos inculpar por sensacionalismo ela viesse a público, reconhecer o seu erro. Isso, sim, seria sensacional!

O mais grave relaciona-se com a sua irmã mais nova, a quem a ministra deu alegadamente a autorização (e não estamos a ver como poderia ser de outro modo) de tratar um passaporte de serviço como se fosse funcionária do Ministério da Comunicação Social. A maka é que a sua irmã, Sara Aminita Cerqueira Lourenço não é funcionária do MCS, mas, sim, quadro médio de uma instituição bancária privada; o BIC que tem sede em Luanda. Mas a ministra, ou algum seu porta-voz, veio dizer em sua honra que a mana é colaboradora... A emenda é pior que o soneto, pois os colaboradores não têm direito a passaporte de serviço e não há ciência do grau da sua colaboração, depois pode por isso ser acusada de nepotismo, se começar a levar para o serviço, irmãos, primos, cunhados, filhos, etc, etc...

Estamos, portanto, longe de toda e qualquer gestão de pasta ministerial rigorosa e transparente. E, se quiséssemos ser rigorosos e claros, diríamos que estamos em presença de uma falsificação e de uma manifesta falta de sentido de Estado. Temos em nossa posse provas evidentes e sugerimos que, em toda a equidade, o sector de Inspecção do pelouro da própria Carolina Cerqueira, proceda às investigações que se impõem em obediência à lei da Probidade Administrativa, e em obediência ao princípio “sagrado” da “Tolerância Zero (foi JES quem o disse). Diga-se que abusos deste tipo já foram objecto de acções punitivas, outros dirigentes e ou responsáveis de instituições públicas do Estado.

GASTOS OU DESVIOS DE DINHEIRO PÚBLICO
Um outro pecadilho da nossa ministra é mais complexo, pois se não é uma casca de banana é algo muito parecido e prende-se com os gastos desnecessários, que estão a revolucionar o seu consulado.

Se a Manuel Rabelais se criticava a sua gestão e alegados excessos no gasto do erário público, a nova inquilina não poderá ficar por menos, em tão pouco tempo. E isso não se deve à imprensa privada, da qual ela se demarcou e hostilizou logo na sua entrada de funções, assumindo-se como justa dirigente do MPLA e ministra exclusiva dos órgãos públicos partidarizados da comunicação social do Estado.

Não! Tem a ver com o facto de o MCS, que estava instalado num prédio do Estado situado na Avenida dos Combatentes (está longe de ser um beco de musseque), pagando um aluguer insignificante, ter deixado essas instalações para montar um gabinete num novo edifício, localizado numa paralela da Av. Amílcar Cabral, à Maianga, defronte ao prédio da Segurança de Estado.

O que não se compreende bem é por que raio de cargas de água a nossa dirigente decidiu fazer essa mudança muito dispendiosa e aparentando a realização de um capricho. A não ser que se confirme a suspeição de o imóvel em questão ser pertença de um familiar da ministra Carolina, segundo a vox populi. Assim tudo se compreende e entra como uma luva no teor da dita Lei da Probidade Administrativa.

A. João, um dos quadros do MCS, fez ao F8 o seguinte comentário: “Pode ser que a ministra, tal como Manuel Rabelais, esteja a ser levada pela astúcia e traição do vice Wadijimbi e outros quadros, que agiram da mesma forma com o anterior ministro, porque o vice quer chegar ao cadeirão e quanto mais trair os outros está convencido de que o MPLA, lhe vai dar o lugar”, assegurou, acrescentando que “o arrendamento dos vários gabinetes custam os olhos da cara. E mais. Aquele edifício possui apartamentos normais e não escritórios para se arrendar. Isto é rigor? É gestão transparente? Não! É a continuação da bandalha e da roubalheira”.

Mas este parece apenas um substrato do que nos foi revelado pela nossa fonte. Deixamos de lado outras considerações, que julgamos ser do âmbito de circunvoluções sazonais nos autênticos “cestos de caranguejos” que são os órgãos de comunicação social estatais, logo a instabilidade continua a atravessar o sector, cerradamente, controlado pelo MPLA e administrado ideologicamente na sua coloração partidária.

Por esta razão é que tudo o que gravita nos órgãos públicos tem de estar comprometido com qualquer tipo de filiação ao comité de especialidade do maioritário, o mesmo acontecendo nas organizações de classe onde as instruções são as mesmas. Assim, a tese de controlo, visa o Sindicato dos Jornalistas, o Conselho de Comunicação Social, as rádios comunitárias e ou as FM's, cujas licenças, só serão concedidas a instituições públicas e privadas ligadas ao regime. Actualmente, Angola não tem, objectivamente, nenhuma rádio privada, pois todas existentes são de capitais do MPLA e seus membros, a ECCLÉSIA pertence a Igreja Católica e a Rádio DESPERTAR, está ligada a UNITA, fruto os Acordos de Paz, logo, neste lado, estamos entendidos e a ministra já fez saber, que não abrirá mão desta prerrogativa discriminatória...

A ANGOP continua a ser um bastião, conotado como da Segurança de Estado, talvez por o actual vice-ministro da Comunicação Social ser um quadro dos Serviços de Inteligência, um dos maiores carrascos dos jornalistas, principalmente da imprensa privada, logo não dando espaço a muitas engenharias e frescura na Agência, que está sob sua vigilância permanente e só lá assenta arraiais na direcção, quem vassala o chefe...

Na TPA, ainda o andor da renovação não chegou ao adro, já se deram alguns estremecimentos em vários ninhos de besouros. A oposição só vê passar as suas actividades, quando os discursos fizerem alusão ao regime ou ao Presidente da República. Os políticos ou membros independentes da sociedade civil, enquanto CIDADÃOS DE SEGUNDA, não têm direito a cobertura, logo a TPA, será, desde o CANAL UM aos restantes, um MURO DE BERLIM a impedir que se conheçam outras visões e realizações de autóctones.

Neste quadro confrangedor o CANAL 2, foi entregue de bandeja a quem não tinha dado crédito no mercado de capacidade de gestão ou produção de conteúdos televisivos. Tanto assim que os beneficiários nunca produziram um programa ou um spot publicitário que fosse, para além do de serem filhos do Presidente da República e isso servir de alegada pressão ao ex-ministro Manuel Rabelais para entregar de bandeja uma privatização, encapotada, de um órgão público a custo zero, sob a capa de gestão. Se aquilo que vimos ao longo destes anos é gestão, então a indigestão é uma instituição da mediocridade, que grassa na sua grelha de programas, assente na futilidade, no Kuduro & arredores, linguisticamente, mal escritos e falados, mesmo na Língua de Camões...

Mas o pior é o facto de o CANAL INTERNACIONAL DA TPA, também ter sido "colonizado" pelos filhos do Presidente da República, confundido, numa clara falta de sentido de Estado, com uma parcela privada de uns poucos.

Assim, o mundo e os angolanos no exterior têm uma visão falseada do que é a verdadeira Angola, por lhes ser mostrado exclusivamente o que os príncipes querem dos feitos de uns poucos... Ante todas estas aberrações a ministra já confirmou manutenção, mesmo que os gestores não consigam pagar os salários dos trabalhadores...

Mudando de tema, voltemo-nos para o novo Roque Santeiro. Mediático este.

No Jornal de Angola é uma festa, com o Artur Queirós, convertido, alegadamente, em militante número 1 do comité de especialidade do MPLA, a querer mandar a coberto de uma protecção da direcção do Kremlim, da ministra e do amigo fiel, “Manribas” (José Ribeiro, director), por ser o homem que se presta com mestria, diga-se, a todos os trabalhos sujos contra membros da classe jornalística não bajuladora, da oposição e da sociedade civil não arregimentada. Todos se lembram da Paula Frazão e Afonso Bunga, que malhavam em todos da outra margem discriminada, servindo de máscaras a um homem, que, quando abandonou o barco de Angola, em Portugal, lançou todos os impropérios aos governantes angolanos. Aliás não são outros, são os mesmos... e quanto a isso não vale a pena falar da sua natureza.

Na RNA o quadro não é diferente, tal como nos outros órgãos, estão a perseguir-se os alegados homens e mulheres, conotados como sendo pontas de lança do ex-ministro Rabelais, numa festa complicada, face às anunciadas e realizadas medidas de câmbio de pessoal. Actualmente, em Luanda e nas províncias o ambiente de intriga é o ponto número um da grelha de programas, assemelhando-se ao que se vive num palco de Comédia Della Arte, em que se improvisa em cima de improvisos, onde impera a sublimação da hipocrisia, da calúnia e da inveja, pois toda a gente quer é guardar o seu “tacho”.

As emissoras provinciais na sua maioria, passaram a servir exclusivamente, os propósitos do MPLA e do governador e adoptando a estratégia, mesmo fora da campanha eleitoral de denegrir a oposição e a sociedade civil não bajuladora.

Já em Luanda, merece preocupação o clima na Rádio 5, por exemplo, onde o bombo de festa nesta altura é o infeliz Vaz Kinguri, que não conseguiu ainda levantar-se direito nas botas depois de ter sido ridicularizado por um falso Presidente Lula. Carlos Pacavira, o novo homem da R5, pela competência que se lhe reconhece e o longo período de formação no Brasil, seguramente, conseguirá contornar as cascas de banana que lhe arremessaram, para não escorregar, no jogo de tentar mudar tudo e todos. De facto, o que a RNA precisa é de estabilidade, até mesmo com o seu principal rival se deve adoptar uma política de coabitação inteligente, pois ambos, são poucos para a empreitada desportiva que à R5 tem de cobrir. Por esta razão o serenar de águas com António Rodrigues no sentido deste esperar o seu tempo, pode ser de bom augúrio.

E é neste cenário teatral – espera-se não finalize em drama – que Carolina Cerqueira se debate com o que lhe foi legado pelo jurista Manuel Rabelais. Esse dirigente - enquanto lá esteve -, ao sair, deixou-lhe nas mãos vários dossiers quentes e a ferver, numa só mão, enquanto na outra, a ministra continua a segurar um “cesto” que o Wadijimbi, segundo parece, lhe ofereceu e, com ele na mão, fazendo atenção às mordidas, vai negociando com os caranguejos grandes que vão chegando ao seu cimo.

Assim vamos aonde então?

Aiuée, mama, aiuéé!

Nenhum comentário:

Postar um comentário