quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

APARTHEID


«Influenciados pela situação de euforia vivida nos anos de 2006 e 2007 em que a prática em Angola foi a de comprar as casas em planta, sem recurso ao crédito e por preços especulativos, muitos destes empreendimentos destinam-se a um segmento alto, com preços exorbitantes, que agora não são possíveis de praticar.

Gil Gonçalves
http://patriciaguinevere.blogspot.com/

Neste momento muita oferta que existe destina-se a um segmento de mercado que está a ser afectado pela quebra dos preços do petróleo e com a crise mundial. Esta situação está a afectar, particularmente, os promotores portugueses que nos últimos anos decidiram apostar no imobiliário neste país e estão a iniciar a construção dos empreendimentos. Muitos destes projectos abrandaram o ritmo de construção ou então estão parados, procurando reposicionar os projectos em outros segmentos. De acordo com o levantamento feito pela Proprime, neste momento, em Luanda – incluindo as diversas zonas da cidade e periferia – estão em construção três milhões de metros quadrados de habitação, promovidos por empresários chineses, brasileiros, angolanos e portugueses, em que a maioria dos projectos se encontram desajustados da procura.» In http://diarioeconomico.com/
Neste campo de concentração, os dias são séculos, sem minutos, e os anos… tão diminutos. Chineses, brasileiros, portugueses e angolanos da junta militar acabados de chegar, já se apresentam como conquistadores, opressores e neocolonizadores. E traçam-nos novos rumos, novas políticas… do tudo ilegal.
A máquina da discriminação e exclusão governamentais à velocidade de marcha militar, espolia das suas zonas de residência tudo o que é negro. Todos os negros considerados pobres e sem condições de viverem ao lado dos condomínios nababos da junta militar. É talvez factual a pretensão do modelo sul-africano, pois o apartheid excluía, e exclui, as populações negras dos centros urbanos e dos passeios onde passava, passeava a minoria branca. Aqui será, é, a minoria endinheirada.
Os destruidores disto tudo continuam activos. Claro que têm selvagens destruições e acumulam muitos passivos humanos. Um país onde não existe lei chama-se quadrilha selvagem. Não era, não é nenhum movimento de libertação, é uma quadrilha da destruição. No fundo esta tralha é como outra Guiné-Bissau. Nadar, nadar sempre como aprendizes da mentira mas, ainda nem mentir sabem. E isto está como está, pior não é possível, porque na realidade intelectos parecem não existirem. Apenas alaridos de vozes pontuais, marciais que estrepitam ou cogitam na sorte do de vez em quando. Antevisão da antecâmara da Guiné-Bissau? Entretanto a quadrilha internacional e governamental prosseguem tal e qual como os espanhóis no tempo colonial da América Latina. Espoliar os nativos. E outro Emiliano Zapata renasce, espera-os, desespera-os. Na verdade os investimentos angolanos em Portugal servem… utilizam-se para a lavagem do dinheiro de Angola. Parece existirem apenas dois tipos de constituições: a do poder dos eternos e outra do poder efémero. Há reis que apreciam reinar eternamente. Outros democraticamente passam por lá, no poder, pouco tempo. Como se fossem visitantes da Constituição. Outros apoderam-se do poder e alteram, rasgam a Constituição como um reles papel sem valor. São os afundadores constitucionais, exterminadores das constituições e das populações. Na Guiné-Bissau é a droga, aqui é o petróleo. De modos que não existe diferença nenhuma. Saíram da mesma fornada, da mesma jornada.
Seres humanos? Já não sabemos o que isso é. Entretanto lá vamos apreciando a persistente campanha dos comentadores, eleitores para a Casa Negra. De vez em quando os nossos intelectuais saem dos túmulos e logo a eles regressam. E regra geral é assim a ascensão e queda do intelectualismo angolano. Ainda não se aperceberam que dum lado e do outro estamos cansados de palavras. Falta apenas o acto das filmagens onde o realizador costuma gritar: «câmara, acção!» «enquanto não passarem dos sapatos». Como deputados e outros mandatados que enredam os negócios na política e isso nunca bate certo. Misturar as duas actividades é levar ao descalabro o que resta da casa da Mãe Joana. E os donos do poder não aprenderam, não desenvolveram nada. Continuam tal e qual como o serial killer de antanho. E agarram-se freneticamente a tal estilo de governação que acabarão como o submarino Kursk. Como é que não se há-de ser chauvinista! O angolano realizava um trabalho, chegou um inglês desempregado e roubou-lho. Isto é o que acontece com todos os estrangeiros que chegam a Luanda devidamente acobertados pela junta militar. Eles vivem, safam-se no país do outro, e nós na miséria, na fome, a vê-los prosperar, a nos roubar.
E os nossos intelectualóides continuam a vibrar os mesmos sons e o mesmo gestual das palavras. As mesmas orações não bentas, desditas. Já não vale a pena ouvi-los. O cansaço atingiu o limite de quem ainda esperava algo deles. Como pobres nabos que vegetam nas quintas nabais.
E os espoliados, deserdados lançados outra vez na mais ignóbil miséria pelos novos negreiros, como párias, apátridas vendem a sua desgraça de muitas maneiras. Por exemplo em garrafas plásticas com água bem fresca que vendem nas ruas. Mas a junta militar persegue-os, e o comportamento neonazi dos fiscais (?) do GPL-Governo da Província de Luanda caça-os, prende-os e desterra-os. A única fonte de sobrevivência o vender qualquer coisa não se permite. Nem os brancos, não escondamos o falso nacionalismo e patriotismo, deixemos estes sofismas, o nos refugiarmos no colono português, tratava desta forma os negros angolanos.
Por aqui a água nas torneiras só desce, sobe de vez em quando e nas festas nacionais. Como um escravo que não a espera. E como os intelectuais dos quintais angolanos que são de fingimento, de trazer por casa, Angola viverá, dependerá exclusivamente de ONGs e coisas assim de… externa e eterna mendicidade. Viver num mundo (neste país, claro) extremado de maldade onde conseguir sobreviver é pura sorte.
Ao menos se a nossa oposição política deixasse de ser tumular. Mas que palhaçada democrática. Fazerem-se eleições e pronto. Estão os problemas resolvidos. O problema é que há muitos democratas e os tachos não chegam para todos. Por exemplo, com a infestação de democratas em Angola, os navios da democracia não suportam o peso e afundam-se.
Luanda, a cidade parte-paredes, a cidade amaldiçoada. E um jovem ameaça outro em tom de chacota: «É pá! Não me chateies. Vou-te queixar nos chineses, vais apanhar».
A governadora de Luanda, Francisca do Espírito Santo, não sabe onde colocar cerca de vinte mil pessoas que vivem numa vala de drenagem em Luanda. Que fraca visão governativa: Angola é tão grande, espaço é o que não falta.
É impossível viverem e venderem tantas, e tantas empresas imobiliárias em Luanda. Não há espaço, então para sobreviverem promovem a selvajaria, a espoliação, mais guerra que psicologicamente já começou, mas decerto virá, acontecerá. São estes os eleitos do Deus do terrorismo imobiliário?! Das ordens das hordas superiores?! Depois de mortos vão garantidamente para o reino da eterna especulação e lá reinarão.
Antes era e é célebre, A Cabana do Pai Tomás. Seguidamente escrever-se-á A Cabana dos Espoliados dos Casebres.
Os terrenos são a pouca vergonha do Governo, que depois de retirar, decerto esbulhar os cidadãos dos bairros Iraque e Bagdad, prometeu a venda de terrenos e que as pessoas para se habilitarem a eles deveriam depositar 1500 kz no BPC. Depois entregarem os papéis na Administração. Resultado: milhares de pessoas obrigam-se a enfrentar descomunal bicha madrugadas adentro, para tentarem entregar os processos mas sem êxito. Mesmo depois de três dias. E depois de processados (?) 45.000 inscritos multiplicados por 1.500.00 Kwanzas dá 67.500.000.00. Sessenta e sete milhões e quinhentos mil kwanzas. O manual do terrorismo bancário diz-nos que é um modo de amealhar dinheiro porque os bancos afligem-se tremendamente com a actual falta de liquidez. Esse dinheiro assim depositado rende-lhes altos juros. Mais uma vez a população sai depenada, sem qualquer direito, sem qualquer juro, ou jurisdição.
Esta é a outra Guiné-Bissau do narcoestado petrolífero. De governantes-empresários… todos nas negociatas.
Adquirirmos a certeza que governar é mentir, iludir as pessoas. E por arrasto temos, vemos o caos da democracia económica e financeira instalar-se, reconfortar-se, apoderar-se dos nossos bens. Um grupo de mentecaptos que nos espolia assessorado por intelectuais oposicionistas de pastel, de cordel.
Neste momento já estamos nos corredores da dinastia Isabelina. Tudo e todos neste reino lhe pertencem. Depois da dinastia Eduardina, por direito de sucessão inscreve-se no trono real a Isabelina. Há que retornar aos feudos medievais. E neste reino, escravos da gleba não faltam.
É que tudo isto cheira a publicidade enganosa, pantanosa, porque o Governo promete que vai vender, mas omite um elemento básico. A da promessa não ser sustentada. Pois não se pode prometer o que se não tem. A primeira coisa a saber é: as zonas loteadas e os talhões, para se saber quantos talhões as pessoas poderão concorrer e as respectivas localizações. Mas nada disso acontece e mais uma vez o Estado surge aqui como figura de má fé e a humilhar os seus cidadãos.
Que se saiba, os escravos angolanos ainda não se emanciparam. As cordas e as correntes da independência amarram-nos e acorrentam-nos. Também nunca se viu, em tão pouco tempo, negros serem esbulhados com armas de fogo, por outros negros no poder, que num passado recente prometeram um mundo melhor e os direitos de cidadania.
A forma como o governo se verga ao capital e o confinamento das populações ao Zango e a Panguila, leva-nos aos campos hitlerianos de Auschwitz e outros onde concentravam os judeus.


















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