quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Lopo do Nascimento não acredita. PGR deve dar resposta sobre alegações de desvio de fundos por parte de Dos Santos


O dirigente histórico e deputado do MPLA, Lopo do Nascimento, disse que a Procuradoria Geral da República "deve dar resposta" à queixa-crime contra o Presidente da República apresentada pelo advogado e dirigente do Partido Popular, David Mendes.

Lopo do Nascimento é um homem culto, reservado, senhor das suas opções e profundamente arreigado a princípios “simpáticos” de abertura, compreensão e empatia, conformes às normas directivas do espírito do velho MPLA, o do antigamente, geralmente apenas teóricas, mas enfim, de civismo e tolerância. Agarrado ao MPLA como concha à rocha, esse dirigente nunca se inibe de abrir o livro do seu pensamento para dizer o que pensa, sem se referir em demasia aos cânones arcaicos do velho Movimento Popular de Libertação de Angola.
Na semana passada, respondendo aos ouvintes da Voz da América, no programa “Angola Fala Só" (programa de opinião pública da Voz da América, transmitido à sexta-feira), esse dirigente do MPLA disse não acreditar nas alegações de desvio de fundos que teriam sido perpetradas com a conivência e benefício directo de José Eduardo dos Santos, mas crê que, se o processo está conforme, deve ter uma resposta.
Disse não acreditar, como poderia ter dito acreditar se não estivesse onde está, embora, de qualquer modo, o melhor seja não se pronunciar, pois o que se passa não se compadece com futurologia.
O que é certo é não ser possível pôr de lado a confirmação do que foi avançado por David Mendes. E o ideal seria o PR poder provar o contrário, o que nos parece utópico, pois para muita, ele é considerado um dos homens mais ricos de África. Chama-se a este tipo de situação um impasse. Que em Angola será tipicamente ultrapassado!
Porém, no sentido de dar alguma força ao que tinha opinado, Lopo do Nascimento disse que «(…) a Procuradoria deve dar uma resposta sobre os factos. Eu não acredito no que se propaga. Não acredito que sejam verdadeiros esses propósitos, mas a Procuradoria é que deve dar a resposta", salientando que as pessoas com razão de queixa devem apresentá-la em fórum próprio e não nos jornais.
Preconizou também interessantes tomadas de posição no que toca a certos acontecimentos provados - queixas com "factos concretos" -, como por exemplo, acerca das alegações de que os sobas estão a retirar o cartão de eleitor aos votantes nas zonas rurais. "A lei não prevê esse tipo de comportamento", disse Nascimento, prosseguindo que "se isso acontece, a UNITA deve colocar a questão com factos concretos e não de mera propaganda".
A propósito duma outra situação vivida actualmente pelos angolanos, a discussão que se vem levantando sobre o pacote eleitoral, Lopo do Nascimento disse que "é cedo para fazer um juízo final" manifestando a convicção de que "haverá nova concertação" com os partidos da oposição e "uma decisão consensual".
Pelo que se pode inferir destas declarações, Lopo do Nascimento revela-se igual a si próprio e. além disso, também vem a público para fazer mais uma demonstração do que é , numa certa medida, a arte de fazer política. Com efeito, se atentarmos ao que ele disse, verificamos que não disse praticamente nada e acabou por dizer tudo o que podia dizer sem se comprometer!
Está bem claro que Lopo dos Nascimento não acredita no que dizem sobre o PR, isto é, que José Eduardo dos Santos tem uma conta num banco estrangeiro no qual foram depositados de 37 milhões de dólares e que esse dinheiro teria sido desviado dos cofres do Estado. Como poderia ele acreditar nessa acusação, na situação em que se encontra, posto de lado de todas as alavancas do poder, mas farto de estar rico e numa fase da sua vida política em que renasce a luz duma possibilidade de futuro protagonismo, em virtude da onda de protestos que tem abalado de algum modo as estruturas do poder vigente?
Também vai de si o facto de ele dizer que a Procuradoria-Geral da República tem de tomar conta do caso. Pois tem, o problema é que, mesmo que o faça, vai fazê-lo unicamente como o prestidigitador, ou melhor, o ilusionista de um circo, vai parecer que faz mas é tudo ilusão. Nenhum resultado poderá sair da sua intervenção mesmo que lhe metam diante dos olhos todas as provas.
Quanto ao programa em curso do regime, esse que está a ser implementado com a intervenção abusiva do Ministério da Administração do Território, de preparação da batota nas próximas eleições de 2012, o que conta naquilo que ele disse não são as reticências e críticas sobre o que se está a passar no terreno. O que ele pede, e é sempre a mesma coisa, é que se dê tempo ao tempo e que depois se verá, o que terá por resultado o que sempre se tem passado ao longo dos mais de trinta anos de poder dos camaradas do MPLA, não haverá absolutamente nada a ver, porque a segurança do Estado, o segredos do poder e isto e mais aquilo, acabarão por abafar por completo o diferendo levantado por toda e qualquer atropelo às leis ou violação da Constituição.
Portanto, o que nós vimos nesta saída a público de Lopo do Nascimento é uma pequena mostra do que é o MPLA na sua vertente mais moderada e aberta ao contraditório, ou seja, uma predisposição para aceitar críticas e enviá-las ipso facto, às ortigas, à favas, ou a outro sítio qualquer que agrade àquele que fez as críticas.
Imagem: ... desta vez Orlando Silva, dos Esportes, acusado de desvio de dinheiro.
mulheresnopoder.com.br

Um comentário:

  1. oxala que desta vez o tribunal de conta se faz sentir...e que nao continua como uma instituiçao fantasma...angolano abre o olho...

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