sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

CONGRESSO DA UNITA DERROTA KATCHIUNGO


SAMAKUVA “MUDANÇA” VENCEU SAMAKUVA “DERROTA”

As voltas que o mundo dá trazem com elas surpresas de vulto, algumas delas catastróficas, outras simplesmente dolosas, quase sempre inesperadas e o mais das vezes reflexo de uma degradação natural das “coisas” neste baixo mundo. Deus é grande e os homens são pequenos e fracos e o pior é que, quanto mais alto for os patamares que atingem os homens mais se vê o que eles são.

Sílvio Van - Dúnem & Arlindo Santana

Recordemos hoje o Samakuva que foi eleito em 2003 e depois em 2007, num congresso no qual tudo foi feito, em termos de organização e desempenho, para demonstrar aos angolanos, ao invés do que se passa no MPLA, o que era a prática da verdadeira democracia interna num partido de grande envergadura, neste caso a UNITA. Observadores deram conta das diferenças entre a postura dos “maninhos” e o “Grande Circo” Jesiano, mas isso foi há quatro anos atrás. Lamentamos, hoje, que todo esse esforço tivesse sido, em boa parte, deitado ao lixo.
O poder é doce e Isaías Samakuva não resistiu à tentação. Forçou a dose no exercício das suas prerrogativas e acabou por ter ganho de causa e sair vencedor de um pleito atrofiado
Em 2008, com ele na presidência, a UNITA, perdeu cerca de 83% da sua bancada, passando de 70 para 16 deputados. Agiu nessa altura a “varinha mágica” do MPLA numa batotice que ficará registada na história (há provas), é verdade, mas a culpabilidade do chefe dos Kwatchas não se apaga assim, e em última análise Samakuva tem culpas no cartório. De resto, diga-se, ele resistiu à áurea dos democratas dos novos tempos e assumiu a culpa como sendo só sua.
Isso, porém não chega para fazer esquecer tão grande desaire e muitos dos seus críticos voltaram à carga e acusam-no de não ter feito nada durante o período do seu consulado, ao que ele riposta, dizendo ter feito obra, mesmo que só ele a veja.
Vamos acreditar.
Afinal ele não é o único que promete.
Veja-se a promessa do 1 milhão de casas…

Um Congresso em meias-tintas
A hora do fecho desta edição ainda decorria o congresso da UNITA. Apesar de um discurso consensual e apaziguador do presidente cessante, este não foi um congresso renhido e prestigiante. Samakuva concorreu consigo mesmo, pois com Pedro Katchiungo não teve a peleja e o adversário capaz de lhe tirar o sono, uma vez que a maioria dos delegados faziam parte do séquito dos delegados pagos pelo presidente e ainda com uma disciplina cega de respeito a “quem paga”.
Com a crise no Huambo, que suspendeu figuras de proa, a nódoa ficou aparentemente indelével, a indicar que Samakuva tentou enfraquecer com aquele artifício os potenciais candidatos.
Conseguiu.
Abel Chivukuvuku e Paulo Lukamba Gato abdicaram e estenderam o tapete para a manutenção de Samakuva no poder.
Assim, surpresos ficámos no dia 13.12 em Luanda, na abertura dos trabalhos do XI Congresso do partido, ao ouvir, numa pirueta verbal digna de registo, o candidato Isaías Samakuva defender, que "a palavra de ordem é mudança" apelando, ao mesmo tempo sempre e ainda à unidade interna para as eleições gerais de 2012.
"A palavra de ordem é mudança”, uma mudança que preserve as coisas boas e altere o que está errado", disse ele em plena sessão do Congresso que se realizou até ao 16.12. Para ele, o lema a seguir pela "grande família UNITA" deve ser "unir Angola para a Mudança em 2012", porque, continuou, "o desejo de mudança, profundamente sentido, e em constante crescimento, já ultrapassou a grande família da UNITA".
E insistiu, " (…) costumo mesmo dizer que este desejo de mudança está disperso por todos os segmentos em que se divide a sociedade angolana, tendo adquirido tal grau de consistência, que já não se subordina a ideologias, doutrinas, preferências partidárias ou lideranças políticas".
E a partir desta premissa teórica, sendo a mudança, na sua óptica, um "imperativo nacional histórico e social", a verdadeira questão, fulcral, é determinar o que mudar, como, com quem e em benefício de quem mudar.
E como falar é fácil, mudar é que uma maka, defendeu "(…) uma mudança com grandeza moral, sem revanchismos nem tibiezas, que preserve o que funciona bem e respeite a construção e os construtores. Uma mudança na harmonia e na reconciliação. Uma mudança com todos, operada por muitos e para o benefício de todos".
Partindo do pressuposto que o MPLA ficará sossegadinho a dormir no seu cantinho!
Quanto às eleições de 2012, o líder da UNITA destacou a necessidade de o partido estar preparado para governar, e para tal importa garantir a unidade interna… Samakuva a saltar de utopia em utopia, o que não significa que a sua predição seja de todo impossível.
Força Isaías!

As ambições de Samakuva
Vejamos melhor o que se está a passar.
Isaías Samakuva, voltou a recandidatar-se ao cargo de presidente do partido, eleição em que teve como adversário o militante José Pedro Cachiungo.
A sua palavra de ordem, repetimos foi: "a UNITA deve-se unir", realçando o facto de que a unidade começa em casa, o que de mansinho o levou a propor ao congresso a recuperação de um órgão não estatutário, o governo-sombra, isso sem esquecer a peça essencial da sua luta política: o homem.
"O desenvolvimento social requer que o objecto efectivo da governação e das políticas públicas seja um só: o cidadão. Nesta base, as políticas públicas que deveremos promover através do governo-sombra terão de reflectir as nossas palavras de ordem "o Homem é o nosso ponto de partida e o nosso ponto de chegada!" e "Primeiro o angolano, segundo o angolano, terceiro o angolano, o angolano sempre!", salientou.
Isaías Samakuva interveio perante os mais de mil delegados e convidados, entre os quais representantes de todas as estruturas partidárias com representação parlamentar, incluindo o partido maioritário, MPLA.
No final, o seu adversário no congresso de há quatro anos, Abel Chivukuvuku, escusou-se a comentar a sua intervenção, reservando-se para mais tarde.
Resumindo, a reunião magna do partido do "Galo Negro" decorreu sob o lema "Unir para a Mudança em 2012", e as sessões de 14 e 15.12 decorreram à porta fechada.

Cachiungo quer menos verbo e mais acção
Quanto ao seu corajoso e pacífico concorrente, José Pedro Cachiungo, esse inesperado candidato à liderança da UNITA disse que o apelo à unidade feito pelo líder do partido no discurso de abertura dos trabalhos "não deve ficar pelas palavras". "A unidade não é um discurso. A unidade são práticas. Creio que ele (Isaías Samakuva) teve tempo suficiente para fazer a unidade no partido. Agora o momento é outro e a pergunta que se coloca é o que é que vamos ter de novo nos próximos quatro anos que não tivemos nos oito anos passados".
A referência de Cachiungo aos oito anos passados tem a ver com o período de liderança de Isaías Samakuva, eleito presidente da UNITA pela primeira vez em 2003 e reeleito em 2007.
Referindo-se ainda ao discurso de Samakuva, Cachiungo classificou como "tardia" a proposta de recuperação da figura do governo-sombra, apresentada ao congresso pelo líder do partido. "É tardia. Não é agora. A UNITA não é um partido para ficar na oposição, é um partido de alternativa à governação. Queremos uma UNITA unida para crescer e vencer. Uma UNITA que não exclui, em que os que estão dentro se sintam orgulhosos e os que estão fora se sintam atraídos", acrescentou.
Segundo José Pedro Cachiungo, a política deve ser feita com "coerência". "A UNITA não pode pretender vencer Angola sendo igual ao MPLA. O líder ou as lideranças têm que aceitar a alternativa. Têm que aceitar a opinião contrária, não podem fazer como a liderança do MPLA", frisou.
"Vamos ser frontais: não podemos libertar quem tem medo se estivermos com medo", concluiu.
Sejamos frontais: Cachiungo foi um bom adversário, óptimo mesmo. desses que o MPLA tanto protege por, e para, não ter medo nenhum deles. Samakuva aprendeu a lição e joga agora no tabuleiro dos escrutínios decididos de antemão. A decadência da democracia ameaçada por uma paz interpartidária podre.

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