quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Governo Provincial de Luanda ou Governo Pancada de Luanda é contra manifestações pacíficas


Quem é contra a democracia

A maioria dos habitantes de Luanda, ingenuamente, acreditou que com Bento Bento na dupla condição de 1.º secretário provincial do MPLA e governador de Luanda, este pudesse, no pedestal de representante do Estado, logo de todos, independentemente, da sua filiação política, refrear os seu impulsos partidocratas contra o art.º 47.º da Constituição, que garante a todos cidadãos o direito de manifestações pacíficas e não a sua proibição e espancamento.
Ledo engano.

Kuiba Afonso & Arlindo Santana

Nada mudou, pois se antes a polícia por orientação exlusiva do 1.º secretário dos camaradas de Luanda, já proibia, por privatização de Agostinho Neto, comprovadamente não herói nacional, mas do MPLA, que os manifestantes pudessem entrar no largo denominado da Independência, agora então nem poderão encostar.
Quem tentar, porrada se refilar, como aconteceu no 03 de Dezembro, sem necessidade de disfarce, pois, por mais que os manifestantes gritassem a todos pulmões “a Polícia é do povo, não é do MPLA”…, esta, não se comove, quando tem de baixar o porrete de acordo com a cartilha branca da actual Polícia Nacional, onde a maioria dos seus oficiais e agentes se assume, até publicamente, como sendo do partido no poder, logo, daí a espancar, bater ou mesmo assassinar, todos quantos reclamem o estado deplorável de vida da maioria dos autóctones, vai um curto passo.
E já não colhem os argumentos da corporação de a “Constituição Jessiana”, referenciar o apartidarismo dos órgãos policiais, pois quem move os seus actos é um “livro branco” do regime que orienta a discriminação de todos quanto se oponham a ele, mesmo de forma pacífica, como ocorreu com as três organizações da sociedade civil, nomeadamente, Fundação 27 de Maio, Movimento Associativo Revolucionário e Movimento Estudantil Revolucionário.
Desarmadas, apenas com argumentos pulmonares e verbais, deram conta as autoridades que partiriam de três pontos de três bairros de Luanda, Cazenga, São Paulo e Avô Kumbi, confluindo para terminar em direcção da do Praça 1º de Maio, mas, logo o regime entrou em pânico, numa clara demonstração de ser um gigante de pés de barro, colocando na rua batalhões de delinquentes, enquadrados na Defesa Civil, organização ilegal a luz da constituição, mas legal a luz do MPLA, para além de centenas de polícias, uns armados com armas de guerra com balas reais, outros com cães e cavalos, visando impedir a manifestação.
O povo resistiu, tal como o vem fazendo, ao longo dos 32 anos do regime de Eduardo dos Santos, com a fome, a miséria, o desemprego, a falta de educação e de saúde e a promoção institucional da corrupção, avançando, gritando temas variados entre os quais se contam os contínuos falhanços no exercício da justiça, o caso do 27 de Maio, a luta contra a pobreza, a falta de acessos a bens fundamentais e a proliferação da discriminação institucional.
Porém, mal os jovens manifestantes se meteram a caminho, apareceram-lhes pela frente polícias fardados e agentes de segurança à paisana que dispersaram violentamente essas ondas de manifestantes nos três pontos de partida.
Com esta acção já não restam dúvidas, quanto a veracidade das denúncias do superintendente Viana, ao referenciar a existência de grupos de morte, integrados por marginais, na Polícia Nacional com missões especificas. Ele disse a boca cheia e nada lhe aconteceu, logo é verdade.
Tanto o é que este oficial da polícia tem a protecção institucional do ministro do Interior Sebastião Martins e da Procuradoria Geral da República, indiferentes ao facto destas denúncias e da omissão da corporação, colocarem José Eduardo dos Santos, no pantanal dos vulgares ditadores.
E a ONG internacional, Human Rights Watch, confirmou o que assistiu ao vivo e sentiu na pele, a brutalidade da violência dos agentes do regime, na zona do 1.º de Maio, contra 100 jovens que se manifestavam de forma pacífica. “Muitas centenas ficaram feridas, mas a organização garante, que presenciou pelo menos 14 jovens, um dos quais sofreu um ferimento grave na face.
Esta denúncia foi distribuída pelo mundo inteiro dando a conhecer a verdadeira face do hipócrita regime angolano, governado há 32 anos por um homem que nunca foi eleito por voto universal.
Um ditador nato, camuflado em Maquiavel democrático.
E foi exactamente isso que aconteceu, os manifestantes queriam protestar contra os 32 anos no poder do Presidente José Eduardo dos Santos, que eles culpam pela corrupção desenfreada, pobreza generalizada e repressão política. Acusam-no de ter alterado a Constituição para se perpectuar no poder até à morte. “Ele tem medo de eleições presidenciais directas, por isso, cobardemente, se esconde no MPLA, que engendra toda batota e farsa democrática”, reclamou Pemba Casimiro.
Os manifestantes exigem uma comissão nacional eleitoral independente, mas o MPLA e Eduardo dos Santos, sabem que na transparência e sem fraude, não conseguirão nunca ganhar, como até aqui, por isso os seus agentes policiais investiram e os reclamantes não foram longe nos seus protestos.

A brutal promessa de Bento Bento
Todos os locais que confluíam para “a Praça da Independência estavam cercados e todas as pessoas que faziam qualquer movimento identificando-se com os protestos foram intimidadas e, muitas das vezes, espancadas. Polícias e marginais usaram todos os métodos repressivos ao seu alcance para impedir a manifestação. No Cazenga, a dispersão causou o pânico generalizado entre os manifestantes, havendo-se registados inúmeros desmaios e pessoas feridas. No São Paulo foram espancadas e presas sete cidadãos: Sozinho, Campos, Tomé, Américo Vaz, Lacerda Vandunen, Adão Ramos e mais um elemento de nome desconhecido. Adão Ramos, dirigente do Bloco Democrático – BD_ é portador de deficiência. No seu relato sublinha “Eu (com os meus cerca de 90 kg) fui retirado da cadeira de rodas por 2 cahênches e atirado para o carro patrulheiro da Polícia com toda força possível (…….), e seguiu-se a cadeira de rodas para cima de mim mais as palavras discriminatórias que, a emoção e a dor não me deixam transcreve-las agora”.
Palavras?
Para quê, se tratam assim um deficiente físico?
Isto só tem um nome: DITADURA ASSASSINA!
Noutro extremo, um grupo de cerca de 30 elementos que se encontrava nas imediações da Praça Primeiro de Maio foi atacado pelas costas por “delinquentes policiais dos esquadrões da morte” trajados há civis; “os cahênches” – gente de respeitável compleição física – já rodados nesses casos que, inclusive, lançaram água misturada com gindungo – substância ardente – para os olhos dos pacíficos manifestantes.
“Alguns cidadãos clamaram por “SOCORRO” à Polícia que cercava o local. A resposta foi, mais cacetada e porretada, sobretudo na cabeça, o que desorientou mais os manifestantes. Entre os mesmos encontrava-se Casimiro Carbono, activista preso em 03 de Setembro passado que teve que receber assistência hospitalar. Lisa Rimel da Human Right Watch, encontrava-se no local, havendo pedido ajuda a jornalistas locais”.
É porrada a sério contra o povo desarmado, por orientações expressas de um presidente da República, não eleito há 32 anos, que se quer manter até a morte no poder, como se fosse um rei, investido pela via hereditária, para estar a frente dos destinos do país. Melhor seria que ele institucionalizasse a MONARQUIA e transformasse o MPLA em único partido, para tudo ser mais claro.
Mas de cobardia em cobardia, já se retirava para a sua viatura, quando João Baruba, secretário Nacional para Organização e Mobilização, foi espancado, nas imediações da Casa 70, na Vila Alice, à rua da Liberdade, por sinal junto a sede do comité provincial do MPLA, local que alegadamente albergou alguns “delinquentes policiais”.

A democracia em todo o seu esplendor
Perante, no máximo, um total de um milhar de manifestantes desarmados, jovens e pacificamente aglomerados para gritar o seu repúdio ao governo, para dizer alto o que se passa nesta nossa terra e é sistematicamente abafado pelos órgãos de comunicação social do Estado e outros privados ao seu serviço as imagens colhidas no terreno vão falar mais forte. Os telespectadores do mundo inteiro vão-se fartar de rir quando virem as imagens descritivas do cenário que foi montado por alguns membros das autoridades policiais angolanas, notórios psicopatas gravemente atingidos por uma paranóia irreversível.
No centro da cidade, as autoridades bloquearam o acesso à Praça da Independência e enviaram um grande dispositivo de polícias uniformizados e à paisana, uma brigada de cães, a cavalaria e os helicópteros.
Agentes de segurança vestidos à civil, na sua maioria envergando chapéus e óculos de sol para ocultar o rosto, foram largamente vistos nas manifestações a participar na repressão policial.
A Human Rights Watch viu agentes da polícia perto da Praça da Independência a agredirem manifestantes com porretes e a empurrá-los até às ruas da avenida principal, onde havia trânsito intenso. A polícia não fechou nenhuma rua de forma a impedir acidentes durante a manifestação.
Mais uma vez damos a palavra aos organizadores da manifestação.
“Os nefastos acontecimentos do 03 de Dezembro são gravíssimos e não se compara à repressão havida em 03 de Setembro último, o que mostra a disposição das autoridades de responderem com maior repressão e selvajaria aos protestos de cidadãos pacíficos. Mais uma vez ficou demonstrado que a iniciativa da violência partiu da Polícia e de indivíduos civis sem escrúpulos, vulgo lúmpens, em conjugação perfeita com a Polícia Nacional. A táctica de dispersão pela máxima violência, consagra o diálogo proposto pelo Presidente da República em gesto de meliante”.
Nenhum relacionamento com a sociedade civil em protesto, a juventude em particular, após o discurso do reconhecimento da incapacidade do Executivo lidar com a diferença de opinião, resultou em conversa civilizada, nomeadamente, as prisões rápidas de 22 de Outubro, o impedimento de realização de conferências, de actos culturais no Lobito, etc.
O Executivo deve explicações claras ao povo sobre:
1 - Que razões levaram a dispersar e de forma repressiva manifestações pacíficas e prender cidadãos sem culpa formada?
2 - Qual o significado dessa aliança espúria entre a Polícia Nacional e a lumpenagem?
3 - Por que razão são perseguidas pessoas conhecidas, referidas em artigos apócrifos do Jornal de Angola, espancadas e presas?
4 - Em que país, finalmente, estamos nós? Para onde nos pretende levar o Executivo?
É evidente que é ingénuo pensar que o crescimento da repressão do Executivo vai obrigar a parar a onda de protestos, perfeitamente justificada pela degradação da situação do país e da falta de capacidade para o regime mudar, quer na sua relação com os soberanos governados, quer dando solução à pobreza, ou combatendo a corrupção, ou melhorando as oportunidades para a juventude, ou aperfeiçoando os padrões de justiça.
Em boa verdade, nem “machados cortam o pensamento”, nem “o vento se trava com as mãos”.

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