quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

11 de Novembro de 2011. Um cocktail “Bornito” de real ficção ao Norte do Kwanza


A pequena frase «O desenvolvimento do país é visível aos olhos de todos», foi talvez a mais notável da semana, a que mais se ouviu, no sentido de ter sido a que mais profundamente ficou gravada na memória daqueles que ouviram falar Bornito de Sousa, ministro da Administração do Território (MAT), quando discursava no dia 11.11.11, no acto central alusivo ao 36º aniversário da Independência Nacional, realizado em N’dalatando, capital da província do Kwanza Norte.

Kuiba Afonso & Arlindo Santana

Na opinião desse dirigente, que presidia ao acto em representação do chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, a conquista da paz, após um tão longo conflito armado que se seguiu à Independência Nacional, trouxe consigo várias realizações do ponto de vista político e socioeconómico mais que evidentes, o que tem permitido o reforço da democracia, estabilizar e desenvolver a economia nacional e atender com prioridade às preocupações das populações.
Como exemplo, o ministro notou e pôs em realce algumas melhorias, o que nos parece não ser questionável, porque, de facto, melhorias houve.
O problema é que a tão famosa necessidade de resolução dos problemas do povo, espécie de refrão (só refrão) do presidente Agostinho Neto, foi mais uma vez posta de lado. Isso não seria assim tão grave se não houvesse tantos exemplos de enriquecimento ilícito (contam-se por milhares) no nosso país. E que nos desculpem os mais carentes dos nossos compatriotas, mas o que queremos dizer é que os seus problemas, em qualquer regime como o nosso, de mercado aberto, jamais serão levados a sério por simples falta de vontade política de o resolver.
Mas, o que queremos sobretudo dizer é que Bornito de Sousa falou de desenvolvimento económico. O que ele disse é exacto, pois o país estava em ruínas quando a guerra civil acabou e o que foi feito pelo regime está à vista de todos, mas somente de todos a quem Bornito de Sousa se refere, isto é, certamente todos os que têm algo a ver com o progresso, resumido em estradas, pontes, hospitais e universidades e outros estabelecimentos que pouco mais são que fachadas, sem pessoal competente, aos quais se juntam os prédios, as torres, os condomínios esterilizados e as centralidades (sic) pimpas, com distribuição programada dos respectivos alojamentos, no total menos de 10% da população angolana)).
E mais além, ali estão elas, as estradas, pagas, algumas, as especiais dos especiais, a 1 milhão de dólares por quilómetro, estradas que ameaçam estar esburacadas em menos de 3 anos de uso, e, nos seus espaços “fofos”, os condomínios, que toda a gente sabe para quem são reservados, assim como as referidas centralidades, de que ficámos a saber não são um empreendimento para resolver o problema da habitação em Angola, nem da pobreza, nem de coisa nenhuma, mas uma enormíssima negociata imobiliária. E toda a gente pode ver, senhor ministro, é verdade, mas só o que foi feito para uma minoria.
Não obstante estas “carecas” do desempenho do Executivo, o ministro do MAT, por quem cultivamos o respeito e o apreço que a inteligência inspira, fez lembrar que desde o ano de 2002 o número de alunos subiu de cerca de dois milhões e meio para os actuais mais de seis milhões e o número de estudantes universitários passou de cerca de 19 mil para 150 mil alunos. Ficou por se saber, onde e em que instalações, com quantos laboratórios e campus universitários dignos desse nome está alojado, este número de estudantes e, mais importante se essa quantidade, significa qualidade, ministrada por quantos docentes de reconhecida competência.
Mas, ainda assim, sem perder o fôlego o ministro opinou, um quanto ousadamente, pois a questão não se resume ao imobiliário, que o nível da Saúde pública aumentou significativamente com o acréscimo do número de hospitais e centros médicos em todo o país. Sem pessoal à altura, tanto qualitativa como quantativamente?...
“Foram construídas importantes infra-estruturas para o desenvolvimento”, disse o senhor ministro, “tais como, estradas pontes, aeroportos, portos, caminho de ferros, estádio desportivos, redes de tecnologia de informação e comunicação que deram acesso aos angolanos à telefonia celular à internet, alargar a rede de televisão, da rádio, redes em banda larga e cabos submarinos que facilitam as telecomunicações”.
Lançado como estava, no bom sentido do presumido “bom rumo” destacado por JES no seu discurso sobre o Estado da Nação, Bornito de Sousa destacou ainda a participação da mulher, que, desde a independência, viu alargada a sua participação nos cargos de decisão e de governação, isto sem se esquecer de destacar os êxitos alcançados no domínio dos desportos, sobretudo, no Basquetebol, Andebol, Futebol, e sem se esquecer da cultura, onde a música, salientou, o teatro e outras artes têm trazido muitas alegrias aos angolanos.

Os augúrios e a realidade
Noutro plano do seu discurso, o ministro referiu ainda que Angola projectou-se também durante este período como uma referência nas relações internacionais, como referência de paz regional e mundial. Mais um pouco e atingiremos os patamares das definições de paraísos terrestres.
É claro que a província anfitriã, o Kwanza Norte, também mereceu particular referência do presidente do acto, apontando que são visíveis os benefícios da paz e do desenvolvimento através da rede de estradas, caminhos-de-ferro, construção de hospitais e escolas e do Centro de Produção da TPA, do novo edifício sede do Governo provincial. Isto sem esquecer não só o plano de construção dos pólos industriais nos municípios do Dondo, Lucala, Camabatela e dos projectos no domínio agrícola, mas também um projecto de construção de quatro mil habitações sociais que vai abranger todos os municípios.
Bonito, isso sim, mas também assente apenas numa pequena parte da verdade angolana, ou seja, numa parte da sua realidade, confundida neste discurso com a vontade de que assim seja ou venha a ser. Porque, senhor ministro, Angola continua a arrastar-se nos níveis mais baixos do desenvolvimento humano no que se refere à esperança de vida, educação, saúde, nível de pobreza, mortalidade infantil e tutti quanti.
Este ano, senhor ministro, o desenvolvimento de Angola, esse mesmo que está à vista, foi alvo de um traiçoeiro ataque da parte de um dos mais prestigiados economistas europeus, Jorge Vasconcelos e Sá, uma reconhecida sumidade científica. Esse homem ousou dizer que todas essas classificações nos mais baixos escalões do ranking mundial de nível de vida das populações angolanas não era campanha contra Angola, tanto mais que nos últimos relatórios do Fórum Económico Mundial, das ONG’s e outras organizações, tais como Transparência Internacional e Coface, conotada com a mais alta credibilidade científica, Angola não progrediu em praticamente nenhum sector e no concernente ao nível de vida em geral, desceu de dois lugares, estando apenas à frente de países como… como o Haiti, por exemplo. E isso está escondido a vista de todos.
Mas o estranho mesmo é a demonstração da má política de reconciliação nacional, com o partido no poder na sua caminhada de privatizar a independência nacional, tendo a data, como sua, tal como o faz com o desporto, a cultura e afins, logo mandando bugiar os demais actores da vida política e da sociedade civil.
O Presidente da República acredita, que Angola se faz apenas com os militantes e eleitores do MPLA, podendo nessa convicção preterir, mesmo em datas que devem ser emblemáticas, para todos, não convidar os líderes dos partidos da oposição e da sociedade civil, considerados inimigos e dispensáveis.
Uma má e estúpida política que cada vez mais desprestigia, uma data; 11 de Novembro, que afinal não é de todos autóctones mas apenas de uns quantos, tal como a bandeira, não cobre a maioria dos angolanos, o actual hino nacional, com inspiração e letra comunista, hoje pouco cativante, numa clara demonstração do regime, não ter capacidade de emprestar a sua marca, para lá da sua vigência.
Imagem: Cerimonia da Independência de Angola - 11 deNovembro de 1975
flickr.com

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