AQUI ESCREVO EU. William Tonet.
A maioria dos tiranos dos séculos XX e XXI não gosta de sair do poder a andar, preferem fazê-lo a correr, por teimosia, bestialidade e arrogância das suas acções quotidianas e marca intimidatória dos respectivos consulados. Todos eles são precursores de uma gestão danosa e dolosa contra o próprio Estado e os direitos fundamentais dos cidadãos, principalmente dos que criticam e se opõem a práticas desumanas e ilegais.
Eles tal como nos séculos XVIII, acham-se representantes de Deus na terra, pelo que os demais seres lhes devem obediência cega. Assim pensava, Napoleão, César, Hitler, Idi Ia Min, Mobutu, Ben Ali, Moubarak e mais recentemente Kadhafi.
O líder da Líbia, até aos últimos momentos mostrou-se sempre indisponível a abrir uma porta de diálogo com a oposição representada no CNT (Conselho Nacional de Transição), acreditando sem esmorecer que iria inverter a situação a seu favor e eliminar os adversários. Infelizmente para ele, a realidade demonstrou-lhe haver um ciclo para tudo. O seu estava no final e ele não soube ler os sinais dos tempos nem prever que as consequências poderiam ser piores que aceitar uma negociação e reconciliação. Foram. Por sua exclusiva opção, porque Kadhafi, tal como todos os outros ditadores, não acreditou que fosse preciso aprender com os erros e a desgraça dos outros, como se ele fosse diferente e a sua manutenção no poder fosse perpétua.
Daí, não ter colhido, para muitos observadores e, para mim, particularmente, que estive na Líbia, entre Fevereiro e Março de 2011, as suas lágrimas de crocodilo ante a intervenção da NATO, pese ter colhido a solidariedade dos presidentes de Angola, José Eduardo dos Santos e do Zimbabwe, Robert Mugabe, condenando a acção militar da comunidade internacional, no âmbito do Direito Internacional. Daí, muitos perguntarem onde estavam Dos Santos e Mugabe, quando Kadhafi mandava assassinar cidadãos líbios desarmados e inocentes, rejeitando negociar com o CNT e enforcando todo líder da oposição ou tribal que o criticasse?
Na certa, refastelados e indiferentes, nas suas poltronas palacianas e indiferentes ao sangue do povo assassinado, pelas balas da ditadura “kadhafiana”. Cínica omissão.
Por outro lado, se ninguém travasse o ditador, através do recurso ao Direito Internacional, a chacina colectiva do povo líbio seria pior, por esta razão não tem credibilidade criticar a intervenção da OTAN, pois quem chama a comunidade internacional, militar ou mesmo económica, são os próprios ditadores, em tempo de bonança. Eles é que escancaram as portas do país, basta ver quantos deles colocam o dinheiro roubado nos cofres públicos dos seus países em África. Nenhum!
Todos colocam os seus valores em paraísos fiscais e estes estão localizados na Europa e América. Se assim é, são eles, com esta acção, a abrirem o mapa dos seus próprios países ao ocidente, mais a mais quando se acercam de estrangeiros para a construção de zonas secretas e confidenciais. Se os bunkers de Kadhafi foram construídos por técnicos suíços, se as operações plásticas contaram com médicos internacionais, se as plataformas petrolíferas, igualmente, se a maior base militar aérea de Misrat, foi construída pelos russos, logo, a geografia do país ficou na mão da OTAN, dos americanos e da Rússia.
Mas ditador é mesmo ditador, seja pela capa do fascismo, do comunismo ou da democracia, eles se julgam seres superiores e sempre conseguem reunir, tal como no passado, na sua corte, bajuladores de toda espécie, até mesmo pastores e bispos, quais bajuladores do templo sanguinário, vergados pelo peso do vil metal. Kadhafi, é certo, teve um fim triste, que não se deseja a nenhum ser humano, mas foi por ele traçado, com a arrogância que lhe era peculiar e a falta de conselhos dos seus amigos.
Não se sabe quem o terá aconselhado, como aconteceu com José Eduardo dos Santos na hora mais difícil, até pelo que aconteceu antes, também, a outro amigo comum, Laurent Gbagbo, preso em FLAGRANTES DELÍCIAS e que agora está a contas com o Tribunal Internacional de Haia, onde vai ser julgado por crimes contra a humanidade.
O antigo presidente da Côte d’Ivoire, como a maioria dos ditadores, esticou demais a corda. Mostrou-se indiferente aos adversários políticos e aos apelos de tolerância e compaixão lançados pela sociedade civil. A tudo e todos fez ouvidos de mouco, como se ele fosse uma santa divindade, com poder e mandato ilimitados, para fazer da vida dos demais o que lhe desse na real gana. Mandou prender, ordenou mortes e assassinatos cruéis de milhares de costa-marfinenses. Tudo isso em nome de um poder déspota, que não olhava aos meios para atingir os seus fins.
O seu poder estava na ponta do fuzil e não restou aos demais utilizar o mesmo recurso, ainda que, no final, se desviassem da matriz da Lei de Talião: “olho por olho, dente por dente”, pois ao ser capturado não foi barbaramente assassinado, como ele faria se se passasse o inverso.
Os seus captores, mostraram ser diferentes, tiveram compaixão, urbanidade e civismo, pois apanhando-o em plena hora sexual, respeitaram o momento deixando-o acabar, para só depois lhe darem ordem de prisão, na qualidade de ex-presidente da República. Deixaram-no vestir a camisola interior, tal como a sua mulher, numa clara marca do nascimento de uma nova era na Côte d’Ivoire. Gostaria, muito sinceramente, que isso não viesse a acontecer em Angola, onde temos todas as condições para projectar uma transição pacífica e sem derramamento de sangue, bastando para tanto que nos respeitemos. Seria inteligente que José Eduardo dos Santos, no final do seu longevo consulado, se vestisse com a humildade de Ghandi, ou de Nelson Mandela, estendendo verdadeiramente a mão aos seus adversários, para uma séria política de reconciliação, capaz de esbater os recalcamentos incubados nos corações de milhões, em prol da estabilidade presente e futura. Na África do Sul, nenhum membro do apartheid saiu a correr do país, devido a uma verdadeira política de reconciliação espelhada na Comissão da Verdade.
Em Angola se a opção de prender, condenar e assassinar, pela intriga continuar a crescer, o regime, seguramente, verá o poder cair na rua e quando isso acontece esfumam-se os interlocutores e as populações descontentes transformam-se numa onda ingovernável que vai consumindo militares e policiais injustiçados e injustamente levados para as masmorras fedorentas do regime. Hoje já não são poucos os batalhões de militares e polícias descontentes, que se juntarão ao enorme exército de cidadãos descontentes, sedentos de uma verdadeira mudança e FIM DESTA INDEPENDÊNCIA, que só consegue dar aos milhões de autóctones, Menos Pão Luz e Água, enquanto uns poucos, muito poucos, se apossaram indevidamente dos milhões e milhões de dólares do erário público. É por tudo isso que acredito ser esta a hora de Dos Santos, marcar a diferença e consultar o seu mapa astral, visando recuperar o tempo perdido com as seguintes acções:
1) anúncio de uma Conferência sobre os excessos do 27 de Maio de 1977, como grande teste, pois se não conseguir se reconciliar internamente, com militantes do MPLA, dificilmente o conseguirá com o país.
2) criação de uma verdadeira e imparcial Comissão Eleitoral Independente
3) negociação directa com os representantes dos povos de Cabinda, Lundas e Khoisan
4) devolução do património confiscado e fim da interferência política nos partidos FNLA, UNITA e PRS.
5) criação de uma comissão para analisar, discutir, avaliar e ou perdoar, o enriquecimento ilícito de membros proeminentes do seu regime, filhos e familiares
Se Dos Santos for capaz destes feitos, na certa ainda poderá carimbar o seu nome e alguns feitos, no “disco duro mental”, daqueles que não o bajulam e escreverão a verdadeira história de Angola, bastando para isso que tenha como padrão a seguinte citação: “o dinheiro faz homens Ricos, a sabedoria faz homens Sábios e a Humildade Grandes Homens”
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