segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Enquanto o povo morre de fome, governo salva clube estrangeiro


Neocolonialismo benfiquista na mente de uns poucos gastadores do kumbú de todos

Frequentemente mencionada por revistas especializadas e organizações internacionais de renome mundial como sendo um país rico em matérias-primas mas com um dos mais baixos índices de pobreza do mundo, como sendo um dos países com maior crescimento económico mas com um progressivo agravamento e aprofundamento do fosso que separa os ricos do pobres mas também um dos que se queda nas profundezas do muito oficial Índice Mundial de Desenvolvimento Humano, ocupando, tristemente, o 162ª posição entre 177 países nesse “ranking” estabelecido pelas Nações Unidas, Angola, quer dizer, o seu povo na sua inteireza, acabou de ser testemunha de um acto cujo significado é tão enorme, quanto é baixo o nível intelectual, cívico e mesmo moral das pessoas que detêm as rédeas do poder político.

O acto a que nos referimos foi na realidade um evento anunciado de longa data, a presença do grande clube português Sport Lisboa e Benfica (SLB) em Luanda para participar no dia 10 de Novembro a um jogo de futebol contra a selecção nacional de Angola, os nossos Palancas Negras, no quadro das festividades do 35º aniversário da independência, que afinal não é de todos mas de alguns. Basta ver que com tantos a morrer de fome, os dirigentes esbanjam dinheiro no regabofe futeboleiro.

Pouca sorte, para estes ferverosos dirigentes de “mente neocolonialista” o Benfica perdeu copiosamente no dia 06.11, cinco a zero com o Futebol Clube do Porto, e ainda muito pior que isso foi o facto de todas essas juras de respeito e amizade custaram a não se sabe bem quem do “governo”, mas seguramente aos pratos dos milhões de autóctones famintos, de Angola a módica quantia de USD 2.500.000,00 (dois milhões e quinhentos mil dólares). Inacreditávell! Mais do dobro daquilo que pede o Real de Madrid!!

Até aí, nada de especial, a não ser a visita espalhafatosa do presidente do SLB, acompanhado pelo triste menino “bom preto” Pedro Mantorras, transformado em embaixador de “bons ofícios”, ambos desfeitos em piropos a Angola, juras de amizade eterna e respeito profundo, o tudo pontuado com a promessa de vermos em Luanda um Benfica, criado à imagem de Salazar, na sua máxima força, ao Palácio Presidencial. Como poderiam sem tráfico de influência, estes senhores do pobre futebol lusitano, na escala europeia, conseguir uma audiência com o chefe de Estado de Angola? Como? É fácil a filha do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, a senhora dona Tchizé dos Santos é, pasme-se, não só casada com um cidadão português, como também é a presidente, não do Progresso ou Juba do Sambizanga, mas do Benfica de Luanda, logo, ao Benfica de Lisboa ela deve reverência e vai daí, o pai recebe-los em audiência, quando uma fila enorme de quadros e dirigentes angolanos, que apenas precisam de apresentar um projecto ou plano de interesse para todos os angolanos, DESCONSEGUEM!

Para definir o país em que vivemos, este inacreditável esbanjamento de fundos do Tesouro e subsídios ad hoc para pagar uma equipa de futebol que actualmente está muito longe dos lugares cimeiros do “Ranking europeu, só se pode explicar, a nosso ver, com muita “gasosa” pelo meio. Doutro modo não é possível, a não ser que tenhamos que considerar como sendo autênticos “OTÁRIOS” os nossos dirigentes desportivos, sei lá, da FAF, do Ministério, do Governo ou doutro sítio qualquer. Ora nós sabemos muito bem que de “otários” eles não têm nada”. Só podia ser “gasosa”. Mas como a “gasosa” angolana é uma autêntica instituição e foi com ela que o regime nos governou durante estes 35 anos, fazer o quê, á parte tomar todas as providências todas e mais algumas, para não haver mais batota nas próximas eleições?

Este é, portanto, um exemplo característico de uma mentalidade sem qualquer envergadura, virada para a afectação, para o espectáculo balofo, para a fachada, para a venda de “banha da cobra”.

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