quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Deputado português não sabe onde e o que é Cabinda


De vez em quando alguns deputados portugueses mostram alguma sanidade mental. No que toca à Lusofonia, quando o rei faz anos, lá aparece algum a dizer umas verdades. Pena é que, passada a onda momentânea, todos regressem à santa paz do seu umbigo, ora olhando para o lado e assobiando, ora alinhando com os ditadores e os atropelos aos direitos humanos, por exemplo.

Orlando de Castro

Recordo que, por exemplo, o estado de saúde do Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas guineense, detido sem culpa formada desde o passado dia 1 de Abril, tenha preocupado os deputados portugueses a ponto de, no dia 14 desse mês, terem escrito ao embaixador guineense em Lisboa e ao parlamento daquele país.
Não me recordo, contudo, de os deputados portugueses terem escrito ao embaixador angolano em Lisboa nem ao parlamento daquele país, manifestando preocupação com os vários activistas dos direitos humanos detidos em condições execráveis pelo regime do MPLA em Cabinda.
As cartas foram enviadas pelo deputado José Ribeiro e Castro, presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros do parlamento português, ao embaixador da Guiné-Bissau em Lisboa, Constantino Lopes da Costa, e ao presidente da comissão homóloga da Assembleia Nacional Popular guineense.
"Face às notícias publicadas quanto à situação em que estarão o comandante Zamora Induta e o coronel Samba Djaló, é um assunto que nos preocupa muito", disse o deputado Ribeiro e Castro.
É verdade que foram, são e serão, muito menos as notícias sobre o drama de Cabinda. Os jornalistas portugueses estão (quase) todos proibidos de falar do assunto. Mas mesmo assim, será que Ribeiro e Castro não ouviu falar, entre outros, de Raul Tati, Francisco Luemba, Belchior Lanzo Tati, Barnabé Paca Pezo, Andre Zeferino Puati ou de Jose Benjamin Fuca?
Não saberá que as detidos não têm as mínimas condições de vida, em muitos casos sendo obrigados a dormir no chão em celas minúsculas sem condições mínimas de salubridade?
Curiosamente hoje, em Luanda, José Ribeiro e Castro frisou que a visita de deputados portugueses coincide com uma fase muito boa do relacionamento entre Angola e Portugal, não existindo contenciosos do ponto de vista político ou económico.
Pois é. Também Ribeiro e Castro varreu para debaixo do tapete a questão de Cabinda, protectorado português, razão pela qual (tal como dizia a Indonésia em relação a Timor-Leste) a questão não se enquadra em nenhum contencioso.
Talvez o deputado do CDS-PP não se recorde, mas para isso existe (vai existindo) alguma memória em algumas pessoas (mesmo quando sujeitas ao aniquilamento socialista de José Sócrates), mas foi ele quem, no dia 23 de Outubro de 2008, acusou o primeiro-ministro português de ser "lambe-botas" do presidente venezuelano, Hugo Chávez, e de prosseguir uma "política externa de cócoras".
Não teria ficado mal, até porque corresponde à verdade, que tivesse também acrescentado – entre outros – o presidente de Angola, há 31 anos no poder sem nunca ter sido eleito.
Na altura, durante o debate sobre "perseguições políticas na Venezuela" no Parlamento Europeu, Estrasburgo, Ribeiro e Castro lamentou ainda que "Portugal esteja a ser transformado na sala de visitas do tirano".
Tirano por tirano, eu gosto mais de ver em Portugal o dono de Angola, mas este tem outras salas de visita que lhe dão igualmente cobertura, mesmo no âmbito dessa coisa que dá pelo nome de Comunidade de Países de Língua Portuguesa. É o caso do Brasil.
Já agora, meu caro Ribeiro e Castro, não seria mau que de vez em quando fosse olhando para aquele território a norte de Angola que, como sabe, está ocupado pelos norte-americanos e pelos angolanos, que dá pelo nome de Cabinda e onde ter ideias diferentes das do MPLA significa crime contra a segurança do Estado e dá “direito” à prisão... na melhor das hipóteses.
*orlando.s.castro@gmail.com

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