A vice-presidente do Banco Mundial para África considerou que a pobreza e o excesso de população em Luanda são uma "bomba-relógio" e aconselhou o governo angolano a incluir os cidadãos na discussão sobre o futuro do país.
"Espero que os angolanos percebam a urgência de resolver este problema (da pobreza). Angola urbanizou-se muito rapidamente e quando olhamos para a capital Luanda vemos uma concentração massiva de pessoas e sinais diários de pobreza urbana que o governo precisa combater porque é uma bomba-relógio", disse Obiageli Ezekwesili, à margem da reunião anual do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), que decorre em Lisboa.
A responsável do Banco Mundial considerou, por outro lado, que a situação nas zonas rurais também não pode ser descurada. "Quando visitei uma escola numa localidade rural em Angola, era muito cedo e as crianças estavam todas a dormir devido à má nutrição. Todas estas questões contam e é preciso resolvê-las de forma integrada. A má nutrição impede as crianças de aprenderem, por isso elas tentarão ir para Luanda onde irão engrossar o volume de população sem formação e sem empregos", disse.
Obiageli Ezekwesili defendeu que "é preciso envolver a população" e criar "confiança pública na forma como o governo está a abordar este tipo de problemas.
A vice-presidente do Banco Mundial para África comentava assim as recentes manifestações de contestação ao regime de José Eduardo dos Santos em Luanda, que culminaram com a detenção de vários manifestantes, e os confrontos de Setembro de 2010 por causa do aumento do preço dos alimentos em Moçambique.
Para Obiageli Ezekwesili, Angola e Moçambique enfrentam problemas semelhantes porque ambas as economias são baseadas na exploração dos recursos naturais, desincentivando o crescimento de outros setores.
"A solução passa por olhar as macro e as micro políticas como um todo e gerir prudentemente os recursos provenientes das minas ou do petróleo, direcionando-os para a educação. Quando se transfere este capital para o capital humano, está-se a apostar em capital mais duradouro", disse.
Obiageli Ezekwesili sublinhou ainda a necessidade de resolver o problema das infraestruturas, ligando as zonas rurais às urbanas, considerando que desta forma é possível criar o contexto para a realização de negócios, atrair o setor privado e gerar emprego.
Exclusão de jovens de soluções para África pode ser paga com instabilidade e violência
A vice-presidente do Banco Mundial para África, Obiageli Ezekwesili, calcula que os governos venham a pagar com instabilidade social e violência política o "erro" de excluir os jovens da construção de soluções para o continente africano. "Quando as pessoas virem que os governos estão seriamente empenhados em resolver os problemas e for aberto espaço para os jovens participarem, eles quererão estar envolvidos porque são pessoas responsáveis. O erro é não os envolver", disse Obiageli Ezekwesili.
A responsável do Banco Mundial destacou o problema crescente do desemprego entre os jovens em África, considerando que se nada for feito para o resolver, há riscos de instabilidade social, conflitos e violência política em vários países do continente africano.
"Precisamos de antecipar e dar os passos necessários para suster esta maré. Sabemos que se nada fizermos isso vai acontecer, por isso não vamos esperar que aconteça para responder", considerou.
Obiageli Ezekwelli adiantou que cada ano entram no mercado de trabalho em África entre 7 a 10 milhões de jovens, sendo que destes apenas 10 por cento encontram um emprego correspondente às suas capacidades.
Para Obiageli Ezekwesili, é preciso encontrar intervenções baseadas em "verdadeiras políticas, verdadeiras instituições e verdadeiro investimento público, que em articulação com o investimento privado, impulsione a transformação estrutural das economias".
A vice-presidente do Banco Mundial considerou que alguns países têm conseguido melhor que outros implementar as reformas necessárias.
"Quando há uma elite que está confortável com os proveitos que recebe do petróleo, da platina ou do ouro, pode facilmente desligar-se do resto da sociedade. Para estes, o incentivo para resolver os problemas não acontece até que se lhes mostre quais podem ser as consequências, até que a situação nos seus países comece a assemelhar-se à Tunísia ou ao Egipto. Aí, consegue-se atenção", adiantou Obiageli Ezekwesili, referindo-se às revoluções que resultaram em mudanças no poder naqueles países.
Obiageli Ezekwesili sustentou que nenhum país aborda estas questões da mesma forma, sublinhando contudo que há lições a ter em conta.
"A colaboração dos setores público e privado e da sociedade civil é a chave" para a solução dos problemas da pobreza e desemprego.
Obiageli Ezekwesili comentou ainda a situação económica portuguesa, considerando que, para recuperar a economia, Portugal tem que ser firme na aplicação de medidas difíceis e evitar enveredar por "soluções populistas" de curto prazo.
"O que é importante é fazer as reformas necessárias para manter a economia no caminho da recuperação. Não é altura para adotar soluções populistas que podem ser atrativas a curto prazo, porque o objetivo são as soluções de longo prazo", disse Obiageli Ezekwesili.
Questionada sobre os possíveis efeitos da crise em países como Portugal ou Grécia relativamente aos compromissos assumidos pelo bloco europeu com o Banco Mundial, Obiageli Ezekwesili, adiantou que, apesar da crise, os compromissos europeus com África se mantêm.
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