sábado, 18 de junho de 2011

Lazarino no País das Maravilhas. Em Angola um advogado pode ganhar tanto em tão pouco tempo


A propósito da fenomenal ascensão de Lazarino Poulson na escala social depois de ter terminado a sua licenciatura em Direito no ano de 2003, com a média mediana de 13 valores, de facto um ponto a mais do que o mínimo exigido para ter um suficiente, nota muito modesta, há a salientar vários aspectos muito significativos de uma certa mentalidade que poderemos classificar de vulgar, não de Lineu, mas de Angola.

Sílvio Van-Dúnem

A primeira questão que se levanta, depois de Lazarino Poulson ter vindo a público confessar a sua paixão transbordante por viaturas topo de gama, tem a ver com o dinheiro disponibilizado para a satisfazer, uns 4 (quatro) milhões de dólares, sem dúvida sem contar as “esquebras” atinentes à manutenção, limpeza, aprimoramento e gastos diversos de utilização das sua viaturas, cujo enumerado nos deixa sem ar para respirar, tão alto é o patamar a que este coleccionador fora de série chegou em menos de 7 anos de carreira profissional, a contar do dia em que começou a trabalhar na Universidade Agostinho Neto como assistente a título de excepção, pois a sua média no exame final de licenciatura nem isso permitia.

A jornalista que o entrevistou para a revista “Vida” afirma de entrada que “Lazarino Poulson é um nome a ter em conta. Introvertido e sereno na forma de ser, o seu gosto refinado por automóveis destaca-o entre os coleccionadores dessa classe em Luanda.

Lamborghini Gallardo V10, Ferrari F430, Bentley, Aston Martin, Porsche Panamera, Porsche Carrera, Porsche Cayenne e Rolls-Royce são alguns dos modelos que a “VIDA” encontrou na sua garagem quando o foi visitar”.

Wawo!

Isto sem falar do seu iate e de, segundo o que ele próprio revela, “(…) algumas casa que tenho em Luanda e no Mussulo, local onde residi durante um ano e onde passo parte do meu tempo”.

E ainda sem levar por enquanto em conta a prenda que o advogado se oferecerá a si mesmo daqui a menos de dois anos, em Fevereiro de 2013, quando completará 40 anos de vida, “(…) A cada aniversário eu ofereço-me uma prenda especial. Aos quarenta anos de idade quero presentear-me com um Bugatti Verlan”, uma “maquinazinha cujo “modelo mais caro custa cerca de 7 (sete) milhões de dólares”.

E quanto à manutenção de todas essas maravilhas em perigo de serem atacadas pela ferrugem, como é?

“Pas de problème”!
“Fazemos vir se for preciso um técnico do estrangeiro”…
Fazemos?
Fazemos, quem? A entrevistadora não esclarece este e outros “emos” da entrevista. Mas tudo isso somado, também denota uma exposição e perigosidade contra a sua própria família.

OMISSÃO DEMONSTRA QUE CORRUPÇÃO É INSTITUCIONAL

Supomos que Poulson, não estamos em erro, referia-se às suas empresas, ou o seu tráfico de influência por entre os corredores do poder, onde a CORRUPÇÃO, campeia e é uma instituição, uma vez até, ter dito na mesma entrevista que não era empresário, mas sim, simples investidor!

É demais, ficamos sem palavras, pois este nível prosápia a deixar a nú um nível de vida exorbitante, deixa supor que o jovem estudante de Direito de 2003, que começou a trabalhar por favor em 2004 como assistente da UAN, pelos visto teria arrecadado entre 10 e 20 milhões de dólares em menos de 8 anos.

É muito…
E num país normal, o homem teria de passar à pedra e explicar tintim por tintim como tinha ganho tanto dinheiro pagando tão pouco dinheiro em impostos!

A segunda questão que se levanta perante este cenário de superprodução de filme americano “Made in Holywood”, é a inopinada intromissão nestas confidências do jovem jurista, do ex-bastonário da Ordem dos Advogados, Raul Araújo, ao vir a público fazer alguns ajustes, entre os quais, talvez, alguns de contas, à prosápia de Lazarino. Infelizmente, neste segundo episódio saltamos, quase sem dar por isso, do filme americano realizado por Lazarino Poulson, para uma má novela brasileira, diremos mesmo, mexicana, que ainda são piores, encenada por Raul Araújo.

Mas que bicho teria picado o decano para ele sentir necessidade de intervir para denunciar um erro da jornalista que entrevistou Poulson?

Não seria muito mais elegante, ele ter enviado à entrevistadora uma nota rectificativa a fim de esta última fazer publicar uma espécie de errata da sua lavra? …

Em todo o caso, nesta curiosa descida aos níveis normalmente baixos dos meandros da vaidade humana, o decano Raul Araújo ficou muito tremido na fotografia, e, sem estarmos a ver o que ele teria ganho com isso, vemos perfeitamente que meteu positivamente o pé na poça. Nem que seja só o seu nome e reputação de insigne jurista, certo é que ele vai sair deste entremez mais ou menos maculado.

Enfim, terceiro ponto a ressaltar nesta paródia mundana, que, vistas bem as coisas, nada trás de abonatório para a reputação do nosso país lá fora, no estrangeiro, onde já há muito tempo que Pulson estaria a contas com a fiscalização de impostos e das fontes de enriquecimento pessoal, apareceram logo por aí, após a publicação dos "ajustes de Raul Araújo, umas vozes indignadas (a começar pela de Poulson) a dizer que esse jurista nunca precisou das cunhas e das benesses do MPLA para subir na vida e chegar aonde chegou e que está profundamente a marimbar-se para o “ÉME”, e aí está o resultado, sai de lá um decano que vem achincalhar o homem sem outra razão aparente que não seja o facto de o querer diminuir em relação à, não tenhamos medo das palavras, em relação a essa espécie de auto-lambidela de botas de que Poulson foi o único e reluzente protagonista.

Para terminar, uma derradeira reflexão. Tudo isto, a vaidade incontida de Poulson, a dor deontológica quiçá de cotovelo, mal escondida do decano Raul Araújo e a pretensa ligação da tomada de posição do decano a uma vingançazinha mesquinha do partido no poder, relega toda esta embrulhada de um repentino e escandaloso enriquecimento – de facto, uma monumental bofetada ao povo de Angola -, para o reino do medíocre, com intervenção canhota de um dignitário do Estado e uma vaga de reacções a defender o novo-rico, a retratar perfeitamente o nível médio das diferentes camadas sociais do país em que nascemos, vivemos e aprendemos desde sempre a amar: baixo, muito baixo nível!

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