quarta-feira, 29 de junho de 2011

Viagem presidencial ao "fim do mundo". Santos no KK desiludiu o povo


Romaria ano interior foi um pesadelo. Kuando Kubango ficou mais pobre depois da estadia do Presidente

Depois de tantas chamadas e críticas do F8 de um estilo de governação sedentário, finalmente JES decidiu abandonar o conforto do seu palácio em Luanda e organizar uma sessão do Conselho de Ministros na longínqua e abandonada província do Kuando Kubango. Esperávamos que não fosse uma passeata, apenas para que os autóctones locais sejam visto como exóticos para os observadores estrangeiros e também para ver de que maneira mais ou menos calculada o chefe de Estado se daria ao trabalho de calcorrear o abandonado torrão do “Fim do Mundo”, onde a miséria que lá mora, e que é a nossa miséria, persiste em sobreviver a todos os atentados à luta do K.K. para ser incluída nos programas de progresso da sociedade angolana.

Antes de ir mais longe devemos sublinhar que aqui na Redacção do F8 esta viagem ao extremo sul de Angola cheira imenso a uma jogada de campanha eleitoral, e não admiraria que doravante assistamos a outra viagens deste género, uma ao Cunene, outra às Lundas, talvez também a outras províncias em que o MPLA está mais tremelicas no que toca a impacto eleitoral.

Talvez nos enganemos, mas, de qualquer modo, o eterno problema é saber em que pé temos de dançar com este e qualquer outro magnânimo gesto de Sua Excia. Isto, porque, o que normalmente acontece com este tipo de atitude é a gente pôr-se a aplaudir – neste caso estamo-nos a referir a JES, novo Guia Imortal –, exactamente como quando depois de repetidas falhas de energia eléctrica ou de água, os seus súbditos, em vez protestarem com veemência quando ela falha, aplaudem freneticamente quando ela vem.

Assim, depois de trinta e cinco anos de esquecimento dessas terras longínquas, estamos mesmo a ver que temos de aplaudir esse acto, que, ao contrário, deveria ser pontuado por um pedido de desculpas, solene e público por parte do Chefe de Estado!

Mais vale tarde do que nunca
JES, portanto, “pegou na sua coragem e depois lá foi”, no que se pensava ser o inicio de uma presidência aberta, onde a população do interior poderia ver o seu pulso apalpado com um contacto directo com o chefe grande, personagem quase mítica, tão longe que ele vive e nunca se vê.

Tudo foi calculado a preceito. As populações foram mobilizadas desde as 4 horas da manhã, para receberem o que lhes disseram que era o seu Presidente.

Aceitaram com alegria contida a ideia de receber uns trocos e alguma comida e não precisaram de pegar na coragem para lá ir, coragem só foi preciso para se levantarem tão cedo.

Chegados ao sítio previsto para aplaudir, cantar e gritar urras, esperaram que o Presidente chegasse.

O tempo passou, passou, a fome apertou, eles aguentaram a fome e o cansaço acumulados e viram-se obrigados a expulsar os pulmões com os seus cânticos, na esperança de que depois haveria uma luz no fundo do túnel. Mas a luz era fraca e a fome apertava.

Entretanto, o Presidente e os seus ministros foram para uma sala confortável, falaram de Luanda e dos diversos empreendimentos faraónicos, e no meio das auto-satisfações expressas foi possível ouvir de soslaio pequenos apartes vagamente relacionados com os verdadeiros problemas do Kuando Kubango.

E foi mais ou menos tudo.
A província não lucrou nada com esta passagem.
Pelo menos é esta a impressão que se pôde extrair, logo a seguir ao regresso a Luanda de JES, com a expectativa daquelas gentes, face aquilo que se passou no KK e que reclamavam e protestavam por se sentirem cada vez mais esquecidas em comparação com o que se passa no resto do país.

Levaram o farnel, não fosse o diabo tecê-las
Gente fina como a de Luanda não se desloca a tão recônditas paragens com a ligeireza do turista imprevidente, toma as devidas precauções para não ter que suportar situações de inesperada contrariedade e encontrarem-se desarmados perante a ocorrência. O melhor seria prever o pior.

Foi o que a delegação que acompanhava JES fez. A comitiva chegou, instalou-se mas não aceitou comer os quitutes da terra.

No quadro da probidade pública, levaram tudo de Luanda, até cozinheiros estrangeiros!, não fosse o diabo ser tendeiro…

Dizer que o povo do KK não apreciou o gesto, é um suave eufemismo e por aí nos quedamos a fim de não ter mais um processo em cima.

Diga-se, porém, a verdade, o interior do país está abandonado pela Presidência desde que esta última existe. E de nada serve relembrar as palavras do presidente Neto, um só povo numa só nação e que o que conta é resolver os problemas do povo, simples pastilhas elásticas para acalmar os nervos desse mesmo povo, que, desgraçadamente acreditou no que esse guia ia debitando sem ter a mínima hipótese de levar avante o que ele dizia! Veremos se agora o que vai ser diferente e o que depois se depois passará. Normalmente é... NADA!

Resumindo sem concluir: com esta visita de JES o KK ficou mais pobre. É o que dizem os seus autóctones que se sentem humilhados pois não escutaram nem ouviram o seu Presidente. Mítico.

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