quinta-feira, 9 de junho de 2011

Roubo institucional. Fiscais de Luanda deveriam ser processados por furto.


WILLIAM TONET & ARLINDO SANTANA

Uma das maiores pragas da sociedade em que vivemos, especialmente no que toca ao persistente, proeminente e crescente mal-estar das gentes dos mais baixos extractos sociais, é o desdém, a falta de respeito e a agressividade de que os seus componentes são vítimas por parte de um certo número de agentes da autoridade do Estado.

Desde que Angola é país é assim, mesmo no tempo dos “Ogêpês” dos primórdios da Dipanda, em que o roto maltratava o nu, com medo de ser ele próprio maltratado pelo mal vestido, subjugado e submetido, a ferro e fogo, a uma disciplina marxista-leninista, revista e mal corrigida por ignorantes de tudo quanto dizia respeito às artes de governar.

Este medo do superior hierárquico, em vez se ir desfazendo a pouco e pouco com o passar do tempo em nada de significante, cresceu e, por altura do virar de casaca de 1992 em que a traição ao sacro santo marxismo foi eloquentemente mascarada em acto de grande coragem a abertura de espírito, o sentimento dominante do mwangolé resumia-se a uma indefinível mistura de esperança com muitas dúvidas.

A gente já sabia quem estava nos poleiros e nas alavancas do Estado, e ao vê-los assim a mudar de política, a renegar de repente o que ontem era quase uma religião, optaram por se servir da abertura que lhes era oferecida para aderir ao que dela pudessem tirar o máximo proveito, olvidando completamente todos os preceitos, todos mesmo, da fraternidade e da igualdade, passando a erguer a única bandeira que lhes convinha, a da liberdade, mas sem levar em conta os seus limites, impostos pela vivência numa sociedade organizada.

Nesta mudança quem pagou as favas, como sempre desde que a humanidade se transformou em calamidade, foram os mais carentes, os pobrezinhos. Dos poucos subsídios de que fruíam do tempo do partido único, só lhes ficou a miragenzita da liberdade e do poder ter, possuir, quando eles não tinham sequer dinheiro para comer. Mas como quem não tem dinheiro para comer só de esperanças pode viver, o fenomenal virar de casaca do clarividente consulado de Nguxito funcionou.

FISCALIZADORES OU GATUNOS DOS POBRES
O mercado negro passou a ser mercado preto, segundo a nomenclatura atribuída ao ex-colono, por certo depreciativa para o angolano, mas de certo modo justificada, pois o esperançoso mwangolé passou a viver pior do que no tempo do partido único.

Cresceu a concorrência selvagem, multiplicaram-se as ocasiões de cambalacho, os momentos propícios a embustes e armadilhas na desenfreada corrida à riqueza augurada pela propaganda populista e paisagista das miragens “Made in Occident” com as suas liberdades anunciadas em bandeiras, que permitiram o crescimento exponencial de vendedores ambulantes, zungueiras e kinguilas, estas últimas por força dos crescimento económico e até à data em que o kwanza passou a manter-se num valor mais estável.

A economia nacional, que estava baseada na actividade desses vendedores, assim como na dos seus confrades que se esgrimiam nos mercados informais, foi-se mantendo nos limites do mais ou menos sustentável. Mas, com o passar do tempo, a função essencial desses mercadores derivou inexoravelmente. Primeiro para o não indispensável, depois, para o inconfortável, a seguir para causa de prejuízo, enfim para o inaceitável e condenado a ser banido a qualquer custo.

Começou então o martírio dos vendedores ambulantes zungueiras. e mais recentemente. As kínguilas. Martírio, porque os nossos dirigentes resolveram arrancar à bruta o mal pela raiz. Mandaram para rua os fiscais que não se sabe ao certo onde eles os foram buscar, mas que em todo o caso em vez de serem elementos da resolução do problema são verdadeiros agentes agravantes do mesmo.

Esses camaradas, roubam as zungueiras, matam mulheres grávidas, roubam os seus bens, pilham os ambulantes e todas essas pobres criaturas que querem ganhar vida honestamente por falta de emprego. É uma polícia que não serve os angolanos, que não têm a mais pequena noção do que está a fazer, à parte uma só, que se lhes impõe uma missão a cumprir, quer dizer, como um negócio que eles não aceitam deixar fugir.

De facto, o único e exclusivo objectivo desses fiscais, não tenhamos medo das palavras, é roubar, roubar, roubar. Finda a jornada, eles dividem os bens furtados e, tranquilamente, integram as suas famílias com os bens arrecadados. Não se passou nada, eles são impunes como muito boa e má gente no nosso país.

O Executivo, mas antes do Executivo, a própria Polícia Nacional, deveria velar para que situações do tipo abuso grave não se produzam com elementos da sua corporação. Não se compreende que esses responsáveis se tenham esquecido de muitas mães de ministros de hoje eram quitandeiras no tempo colonial e os colonos não as tratavam dessa forma. É triste, indecoroso, mau, muito mau, para a péssima imagem que esses actos transmitem para o exterior do país.

O Folha 8 propõe que se faça dentro de pouco tempo uma campanha para recolher todos os actos de gatunagem institucional dos fiscais.

Por outro lado, ainda há no meio disto tudo, como que a complicar o que já não é simples, toda uma massa humana constituída por migrantes estrangeiros que vieram para o país para executar outras funções que as de zungar, ou fazer qualquer outro tipo de negócio em Luanda. O Governo não deve estar preocupado e tentar tirar esses homens e mulheres da rua, mas cadastrá-los e talvez obrigá-los a pagar um imposto/mês.

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