quarta-feira, 22 de junho de 2011

Lição de democracia caseira


Ainda hoje se diz por aí que o resultado das eleições de 2008 não reflecte a realidade política de Angola, mas a oposição continua embasbacada, sem saber como explicar o seu tremendo desaire nas urnas. O Top Secreto teve acesso a um compêndio de estratégias políticas estritamente reservado aos militantes mais meritórios do MPLA no qual se explica que os segredos da estrondosa vitória do partido repousam na aplicação dos seguintes princípios. Primeiro, começa-se por diabolizar a acção dos principais partidos da oposição nas suas zonas de maior influência; segundo, todos os montantes monetários arrecadados por empresas fiéis ao Estado são submetidos a um esquema de retribuição em compensação das benesses obtidas do Estado, semelhante ao dízimo das seitas religiosas; todos esses dinheiros (centenas de milhões de dólares) são utilizados nas propagandas do partido; calculam-se com precisão o final de obras importantes para uma data anterior e muito próxima do dia do escrutínio; considera-se a publicidade feita em redor das inaugurações dessas obras, assim como tudo quanto possa ser testemunhado em favor do Governo, ou contra a oposição como nada tendo a ver com a campanha eleitoral; programam-se horas e horas, sem contar, de tudo que seja laudativo para o Governo, de par com ataques violentos à oposição; perseguem-se ou intimidam-se jornalistas... e pronto, assim vai indo a nossa democracia. Parabéns pirataria política, mutismo e mimetismo geral.
De todas as espécies de pirataria a política é a mais comum. Nasce da multiplicação de ideias políticas, no fundo iguaizinhas umas às outras, como as amibas, num irreprimível fraccionismo que afecta as cabeças de dirigentes, o mais das vezes de “partidúnculos” sem expressão efectiva, incrusta-se de uma maneira muito confusa no espírito dos militantes mais influenciáveis, mas com a característica sui géneris de nessa fragmentação haver não mil e uma variantes de uma ideia central, como o que acontece com a pirataria religiosa, mas sim uma só ideia: a busca de dinheiro em nome do nobre ideal democrático. Alguns desses “partidúnculos” que apareceram na ribalta angolana (no total, uma boa centena) eram (alguns ainda são), de facto, enxertos provisoriamente não rejeitados pelo poderoso corpanzil do MPLA, outros, também enxertos, mas já rejeitados por via de um repentino amuo no seio do mesmo partido, outros ainda, obra de um só homem, com dinheiro e ambição suficientes para sonhar, como se criança fosse, em altos voos à frente de um ainda mais alto cargo político. Entre estes últimos apareceram em Angola figuras de proa, para não dizer de choque, como o que matou o filho e tentou camuflar o seu crime, ou de cheque, como aquele que roubou tudo o que havia no cofre do partido, ou de chique (os mais frequentes), como esse outro que empatou os fundos monetários do seu partido em negócios pessoais e na compra de um jipão. Enfim, de tudo um pouco, menos democratas.

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