Os militantes estão fartos de esperar por mudanças. Pretendem mudar a velha guarda, mas substitui-la não por jovens como Bento Bento, ou João Pinto, ou Rui Falcão. Querem outras vozes outras gentes menos radicais e bajuladores, querem jovens capazes de um discurso de mudança e coragem para assumir os erros e criticar o chefe. Querem líderes como Marcolino Moco e outros da mesma água.
A maka das divisões no seio do MPLA começou quando o MPLA ainda nem sequer existia, ou melhor, existir existia, mas só na mente de alguns dos seus melhores militantes futuros.
Agentes de divisão dentro do MPLA houve muitos, mas não adianta enumerá-los, tanto mais que o mais correcto, a esse propósito, é dizer que nunca houve no seio do partido dos camaradas uma só pessoa que ousasse assumir a ingrata tarefa de unir tendências internas – cuja aparição se pode considerar como coisa normal em qualquer partido do mundo -, numa só frente de combate coesa em nome de um realmente grande MPLA.
Hoje, numa altura em que o partido é dito por alguns como sendo o maior de África, o que se verifica é o aparecimento de um cada vez maior número de indícios de amuos, desencontros e fricções a anunciar um estrondoso futuro rebentamento pelas costuras dessa prestigiosa organização.
A prática do não-dito
Uma das maiores pragas reinantes dentro do “ÉME”, desde os seus primórdios, tem por nome “o não-dito”. Mas o que é “o não-dito”? É o que não se diz, por medo de dizê-lo, quando devia ser dito, para ser mais claro, é o desacordo camuflado em uma adesão, falsa adesão essa decorrente de uma estratégia pessoal, por pesar sobre toda e qualquer declaração oposta à linha do partido, uma possível marginalização do declarante, método já corriqueiro no partido dos camaradas.
MILITANTES JÁ CONTESTAM PRÁTICAS DE DOS SANTOS
Hoje, como sobredito, estamos em crer que, em termos de ambiência, o MPLA caminha para uma fase crítica. Em alguns comités provinciais e municipais, foram assinaladas divisões internas que têm vindo a merecer a atenção de analistas ligados às diversas tendências internas (amordaçadas), que sublinham a frontalidade que, em geral, caracteriza a conduta dos protagonistas das mesmas.
A atitude frontal de riposta é inédita dentro do “ÉME”. Nunca se tinha visto isso antes, ou melhor, ver até se viu, intramuros, o que nunca mais se viu foram os energúmenos que ousaram assumir essa atitude de chamar gato a um gato. E, a sustentar esta visão das coisas, tem-se citado a gravação de um telefonema em que um suposto membro da “Segurança” é nitidamente repelido por um jovem que o “patriótico funcionário” tenta intimidar como forma de o levar a não participar em actos de contestação política.
Ademais, estas pequenas quezílias e outras divisões internas registadas nas estruturas intermédias do MPLA, apresentam igualmente a novidade de se transmitirem, de forma também ostensiva, à massa de militantes. E não é tudo, uma outra novidade no desgastadíssimo e esburacado figurino do partido, é o facto de os diferentes desacordos não serem ocultados como acontecia no passado, saem da boca para fora, claros e, por vezes, pungentes, na sua irreverente formulação. Abrenúncio!
Diga-se o que se disser, os ventos do norte de África vão chegando a Angola, trazendo com eles um novo clima e expectativas de mudança e a proliferação de tomadas de atitude mais ousadas.
É dado como exemplo concludente a fractura ocorrida no Comité Provincial do Huambo entre apaniguados de Faustino Muteka, primeiro secretário, e Paulo Jimi, que o contesta. Mas é em Luanda que presentemente ocorrem mais casos de dissensões internas.
Cenas de grande tensão têm-se verificado aqui e acolá, anunciando futuros desenvolvimentos que poderão ser épicos. Augura-se o ressurgir de novos heróis da Pátria na contenda interna do MPLA.
Para dar alguns exemplos, citaremos a existência de evidentes discórdias nos comités municipais da Samba, Maianga, Sambila, Rangel e Ingombota, onde o cacimbo de nada serviu para arrefecer os ânimos já bastante alterados pela quentura das discussões, por vezes pueris, por dá cá aquela palha, por ter cão e por não ter.
O caso mais intrincado é o da Ingombota, onde um grupo de contestatários de Joana Quintas, secretária do comité, devidamente identificados, exige o seu afastamento através de um abaixo-assinado que já reuniu 30 assinaturas de membros do aparelho que se encontra sob a sua alçada. São-lhe dirigidas, ao que parece, acusações consideradas graves, definidas como sendo…“pesadas”.
Na nossa próxima edição esperamos poder trazer a este espaço novos episódios desta “novela angolana” de triste cariz, mas de enorme esperança numa verdadeira e profunda mudança dos métodos retrógrados do partido que nos governa.
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