domingo, 19 de fevereiro de 2012

Na Rúbrica Frontal da Rádio Despertar WT afirma



Só com democracia interna no MPLA Angola será diferente e um país democrático
A nossa rubrica de hoje, leva-me a retomar a interessante entrevista, concedida pelo advogado e secretário executivo do AMC, William Tonet à Rádio Despertar no seu programa matinal Frontal, pelo que, com a devida vénia, aqui a retomamos.

Félix Miranda & António Festos*

Pergunta Despertar - Hoje o nosso convidado é William Tonet activista cívico e dono do Bissemanário F8 do qual também é jornalista. É natural da província do Huambo, casado e tem 10 filhos é militante do MPLA, esteve na cadeia de São Nicolau, na companhia de seu pai e foi preso no famoso Processo do 27 de Maio de 1977, é crítico ferrenho do regime liderado por José Eduardo dos Santos. Bom dia doutor, seja bem-vindo e conte-nos um pouco de si.
William Tonet – Eu cresci de facto nos húmus libertários das zonas do MPLA, onde fui com o meu pai ainda bastante pequeno, com três anos de idade, altura que me “roubou”, creio que no bom sentido da minha mãe.
PD – Também é por aí onde começa a sua caminhada pelo MPLA?
WT – Sim! Desde os 3 anos que estou ligado, era filho
mais velho e o meu pai tirou-me da minha mãe para com ele caminhar com nesta gesta libertária. Vivi toda essa grande paixão, toda essa grande utopia de se lutar para construção de um país melhor, mais igual, mais humano, mais justo com menos discriminação, com menos corrupção e isso
levou-me a assistir momentos bonitos, como todo este processo dos movimentos de libertação, da chegada do 25 de Abril de 1974 em Portugal com reflexos em Angola, o Congresso de Lusaka para definição daquilo que deveria ser a grande matriz dirigente do MPLA; o 27 de Maio de 1977, que estivemos envolvidos nele e depois, as mais recentes datas que nos levaram ao multipartidarismo, as primeiras
eleições e, de novo, ao conflito civil entre os angolanos.
PD – William, considera-se um homem de vários ofícios, é jornalista, jurista e também activista. Começo em perguntar-lhe, como é que se desdobra em tantas actividades?
WT – Eu desdobro-me na verdade numa só actividade, como angolano, como autóctone que quer contribuir para que este país possa dar um bocado de pão, de água, de sal, a todos os autóctones desta terra. Temos condições, revejo-me nesta caminhada de homens que acreditam neste ideal. É possível que alguns tirem mais, mas é preciso distribuir para os outros de forma equitativa. Por isso é ainda possível acreditar num país com menos discriminação, menos injustiça.
PD – É o que o caracteriza enquanto jornalista?
WT – Enquanto angolano. Quer dizer, temos que nos ver não muito nas profissões, mas naquilo que somos e no que acreditamos. Acreditamos que independentemente de termos feito a luta de libertação noutros países, termos vindo de outros países, termos nessa condição abdicado e deixado de ser cidadãos reconhecidos pela potência colonial, termos
adquirido durante a luta, todos uma outra nacionalidade, o nosso torrão é este. É o torrão Angola e como angolano, é óbvio, que às vezes, falando um bocado mais alto ou mais baixo, sou conotado como activista, outras vezes menos alto como jurista, mas o que nos vai no cérebro e na alma é sermos angolanos e nos batermos por um ideal. E o ideal é de ver uma Angola melhor e esta Angola não pode ser melhor enquanto houver bastante discriminação entre nós.
PD – Seu nome volta e meia está na boca do povo associada a alguma polémica, através de matérias publicadas pelo seu próprio jornal. Acha-se polémico neste capítulo, atendendo aos factos?
WT – Não. Cada um de nós tem a sua natureza. Nós procuramos emprestar a nossa contribuição como os outros também. É óbvio que quem está na vida pública e política activa, é sempre alvo de maior atenção da crítica. Se polémico é dizer que há excessiva corrupção institucional que inviabiliza que se tenha atenção ao sofrimento da maioria da
população, então somos polémicos. Dizer que não há necessidade de numa região onde nascem todos os grandes rios de Angola como o Bié, de faltar água nas torneiras daquela cidade, faltar água no Huambo, faltar água em Luanda, não é ser crítico, mas ser realista. É uma vergonha 36 anos depois querermos justificar que a guerra esteve na origem disso. Não. Durante a guerra, poderíamos ter aprimorado a nossa gestão.
PD – Como assim?
WT - O que é Luanda? O que queremos de Luanda? O que é um governo e o que queremos dele? O que é um gabinete presidencial e o que queremos dele? É isto que está na base de muitas observações que às vezes são consideradas críticas e não são alvos sequer de um debate sadio em prol do próprio país. Porque, veja o que é hoje o gabinete presidencial, ninguém sabe. Estamos ao fim das eleições, temos os partidos a fazer congressos e reuniões, temos o partido maioritário a fazer já projecção pós 2012. Então, está tudo ganho. É
contra esta ausência de transparência, de jogo limpo e com as mesmas armas que nos batemos. Penso que, ainda que a gente faça batota, faça injustiça, que o faça bem, apesar disso ser quase impossível, no sentido de desviar os fogos. E é por isso que nos batemos. Agora, quem nos coloca estes adjectivos, são justamente as pessoas que fogem a crítica, que se aproveitam da situação em que se encontram para
arremessar pedras sem terem a capacidade de irem para o jogo
democrático, para o jogo do debate, abrirem todas as portas no sentido dos angolanos se puderem ouvir.
PD- Está a dizer que não há diálogo?
WT - Neste momento, não há portas para o diálogo, não há tribuna para o diálogo e mesmo a tribuna onde todos nós pagamos; eu pago, você paga e todos os demais autóctones
deste país pagam para que haja Televisão Pública de Angola, Rádio Nacional de Angola, Jornal de Angola e outros, só meia dúzia de eleitos, muitos dos quais até sonegam impostos, é que desfrutam desses órgãos públicos, dialogando em monólogo.
PD – Já que falou em televisão, sabemos que tinha a ideia de um canal, para quando este seu projecto de TV?
WT – Muito seguramente, se tiver de sair, nunca o será nesta República e com a gente desta República que pensa como pensa. Portanto, voltamos a discriminação. É mais fácil eu dizer que hoje eu sou um bajulador e logo amanhã tenho
uma televisão pública para apresentar por exemplo orgias,
Kuduro ou Kumole; é mais fácil aí, do que uma grelha com programas mais sérios, educativos e formativos.
PD – Afirma-se contra tudo isso?
WT – Acho que o país tem questões muito mais sérias. O país tem uma questão mais importante do que termos um canal que faz promoção aos paneleiros e ao Kuduro. Devemos sim, fazer apologia a educação, a cultura e aos costumes angolanos. Um canal que questione os deputados a justificar, junto dos eleitores, por que é que ousaram humilhar as nossas
línguas angolanas, excluindo-as da Constituição em detrimento de uma língua estrangeira, falada apenas por 25% dos angolanos. Perguntar-se a ministra da Justiça que também foi eleita deputada com o mandato suspenso ainda tem aversão as línguas angolanas. Repito angolanas e não nacionais, pois nacional é apenas o português falado por alguns, porquanto no nacional cabem todos, no angolano não…
PD – Isto tem causado problemas na sua opinião?
WT – Tem! Hoje é difícil registar-se uma criança autóctone sem impingir-lhe nomes portugueses, facilmente aceites em qualquer conservatória de registo civil. Há mesmo uma aversão e uma resistência aos nomes angolanos e africanos, tanto que 36 anos depois da independência o livro de referência nominal, presente nas conservatórias ainda é de nomes portugueses, é o livro de Portugal, o que é uma vergonha e tendência neocolonial.
PD – O senhor também tem um nome estrangeiro, William!
WT – Não quer dizer que por isso eu esteja de acordo com o
estrangeirismo. Se eu pudesse influenciar para que mudássemos os nomes para angolanos e africanos como fez Mobutu, eu faria hoje mesmo. Agora, eu não sou uma peça decisória. As peças decisórias é que têm esse sentido de
responsabilidade colectiva, a minha é individual, ainda que tenha uma certa abrangência, ela é individual.
PD – Só tem reticências em relação as línguas?
WT – Não! Existem muitas outras questões, que mostram uma certa identidade com a tese luso - tropicalista do brasileiro Gilberto Freire de crioulização de Angola e de tornar os negros, a maioria refira-se, pobres, mais pobres, cada vez mais, sempre pobres. Não se entende como um regime e um partido, no poder há mais de 36 anos, continue com as mesmas práticas da colonização portuguesa de não
reconhecer aos negros o direito do instituto do USUCAPIÃO, do direito a terra, na base do “jus solis”. E para culminar basta ver a nova lei de impostos dos imóveis que é claramente uma campanha para impedir que a maioria negra seja capaz de se habilitar a habitação própria. O povo, os eleitores devem questionar nas eleições os proponentes destas decisões que empobrecem ainda mais os angolanos. Como pode um governo que deve promover a habitação própria eleva os impostos da forma como o fez. O MPLA não pode ser visto como um partido que está contra a maioria dos autóctones angolanos e os quer ver todos no Zango e Panguila, novos campos de concentração habitacional dos indígenas.
PD – Quer dizer que não avançamos muito desde 1975?
WT – Em muitos aspectos não. Veja que muitos angolanos tinham água e luz no período colonial e depois de 1975 deixaram de ter estes bens regularmente: Os negros podiam ter empréstimos, sem apresentar cartões de partido e nomes de família e deixaram de os ter, depois da independência, em suma uma grande maioria, tinha uma vida melhor, mas hoje
vive pior que antes de 75.
PD – Prefere a colonização então?
WT - Não! Eu não prefiro a colonização. Eu prefiro é que não haja métodos iguais e piores que os da colonização. Esta deve ser a nossa luta. Foi por isso que, se lutou pela independência, porque senão nada tem sentido e não valeu o sofrimento e a morte dos que acreditaram ser melhor a liberdade do que a opressão colonial. Mas nós estamos num país de paradoxos, com dirigentes paradoxos e complexados. Veja o regabofe que existe na comemoração das datas das cidades de Angola, que poderão, um dia, criar problemas sérios aos seus distraídos cultores. Como pode Luanda comemorar com pompa e circunstância 400 e poucos anos se Angola só tem 36. Estamos no paradoxo do filho ser mais velho que a mãe e de os dirigentes deste país, baterem palmas e batuques, reunindo-se e comemorando quatrocentos e não sei quantos anos que eu não sei que tem Luanda, quatro centos e tal que tem o Huambo… isto é uma aberração.
Então Angola não tem 36 anos de independência?! Se houve uma ruptura temos de admitir, que estas datas eram fictícias, pois apenas visavam os interesses coloniais e não dos autóctones angolanos. Será que em Luanda e noutros locais não havia gente quando desembarcaram os portugueses. Não havia uma organização mínima das sanzalas e cidades autóctones? Luanda, não era a capital financeira do Reino do Kongo, guardiã da moeda o Zimbo? Só o complexo de inferioridade pode negar esta realidade histórica, tal como a Ilha de Luanda, já habitada por barões bakongos, que deram origem aos Muaxiluandas. Daí o contra senso de não encaixar que as cidades sejam maiores, por decisão exclusiva dos colonos. Então, qual é o marco?
PD – Na altura o estatuto de cidades foi criado com a chegada dos portugueses, creio em 1576?
WT- Mas os portugueses eram o quê? Deuses? Antes dos portugueses, não havia angolanos? Qando morrêssemos, íamos todos para o inferno, não tínhamos as nossas
crenças? Eles não desembarcaram no Porto de MPinda, no Zaire? Não encontraram estruturas mínimas? Encontraram, logo não podemos matar a história da angolanidade. Infelizmente o regime conseguiu em 36 anos de poder, destruir mais a cultura, os costumes, as tradições e as línguas angolanas do que os portugueses em cerca de 500 anos.
Daí a velha questão da descoberta. Nós não fomos descobertos, mas o que nos dói, é termos dirigentes que acreditam e fazem apologia de todos sermos portugueses. Não é verdade, apenas alguns de nós o é, mas mesmo estes os seus ancestrais como os dos outros não vieram de Portugal nas caravelas da descoberta. Estavam aqui. Resistiram a invasão colonial e muitos só claudicaram ante a desproporção das armas, daí ter havido a contínua resistência. Logo é um contra-senso, as pessoas que se dizem ter lutado para a liberdade deste país do jugo colonial, hoje mais defendam os
princípios que foram inculcados pelo colonialismo. Numa só palavra, são datas em que a geração de Paulo Dias de Novais e Diogo Cão mais se orgulham de contentamento, por os novos chefes angolanos venerarem os seus antepassados, que não descobriram Angola. Você na Líbia e outras paradas que foram colonizadas, não se comemoram as datas em que os colonos as transformaram em cidades, com excepção de
Angola por a maior parte dos seus dirigentes, ter um complexo e é contra isso que nos batemos. É um contra-senso, um filho ser mais velho do pai.
PD – Mas afirma-se contra a história?
WT – Diga-me uma coisa, você pode ter 30 anos e o seu filho ter 56? Como é que o filho nasce primeiro que o pai? Ninguém ainda me justificou por que é que disseram ter Angola em 1975 Angola atingido a independência e afinal as suas cidades são mais velhas que ela… E, já agora porque nos iludiram de ter havido confisco e nacionalizações das propriedades dos portugueses, se afinal Luanda não parou no tempo? Se Luanda, Benguela, Huambo e as demais cidades não pararam no tempo, não foram atingidas pela rotura da revolução, então os portugueses, têm legitimidade de reivindicar as suas propriedade e bens confiscados, por o terem sido de forma ilegal, uma vez se continuar a festejar datas ligadas aos portugueses. Isto porque, nenhum autóctone negro participou no jantar de criação das datas de cidades angolanas, mas eleitas portuguesas, com visão colonial.
PD – William Tonet é o único jornalista da nossa praça com maior número de processos crimes, na sua maioria ligados a calúnia e difamação. Governantes, generais e pessoas próximas ao PR. Todos esses crimes resultam de matérias publicadas no seu jornal, qual é a missão afinal do Folha 8?
WT – A missão do F8 é a de todo o órgão de informação
com uma linha editorial definida, independente e defensora da autoctonia, com homens e mulheres que não são seres perfeitos, não sei se os há, que erram, mas têm uma missão lutar para a implantação de uma verdadeira Liberdade de imprensa e de expressão e democracia, em Angola.
PD – Está a admitir alguns exageros?
WT – Não! Não estou a admitir exageros, mas é possível que na nossa caminhada tenhamos tido erros e reconhecemos isso, por não sermos seres perfeitos. Erramos, e erramos seguramente, muito menos do que quem nos governa, que tem dinheiro para nos governar, dinheiro que é de todos nós e faz muito menos do que fazemos nós. Ora, e estes não têm
inclusive a hombridade de se penitenciar e reconhecer os seus erros. Todos temos direitos e deveres. O F8 é um jornal que pensa que o melhor é ver o pulsar, o sentir de quem reclama por liberdade.
PD – Desta feita quer destacar-se como um fiscalizador em surdina do executivo?
WT – Todos nós, todo o povo é um fiscalizador e os órgãos de informação, são sim fiscalizadores da acção governativa. É assim nas democracias. Eu penso que, se as pessoas não estão preparadas para a democracia, não deviam ter admitido que ela existisse e este é o grande problema, agorta. Não temos um caminhar democrático. Não temos liberdades efectivas e plenas. Vai querer dizer, está aí o F8. Sim, o F8, é uma luta, uma tribuna para que haja uma verdadeira liberdade de imprensa, uma verdadeira liberdade de expressão. E, nesta luta, está o F8, o povo, os outros jornais e jornalistas que se batem para que isto aconteça, que todos possamos sair deste sufoco de mentira em que estamos envolvidos.
PD – Explique-se melhor?
WT - É mais fácil quem tem poder, movimentar a máquina da justiça que está manietada, com processos contra os fracos, os pobres e os discriminados do que o contrário. Já viu que nenhuma denúncia contra os fortes prevalece? As vezes dão-nos filmes que não têm nada de substantivo, mas na realidade é mais fácil encher e entulhar as cadeias de pobres e pessoas que denunciam do que alguns maus gestores do próprio regime se penitenciar e abrir as portas para que todos nós oiçamos e possamos contribuir, para vencer as diferenças existentes. Infelizmente, aqui só podem os de uma parte, os outros não.
PD – William foi julgado e condenado a um ano com pena suspensa e é obrigado por força da lei a pagar 10 milhões de Kwanzas, equivalente a USD 100.000, 00 (cem mil dólares) a três generais e ao director das Alfândegas, por calúnia e difamação. Na sentença disse que não tinha dinheiro e se recusava pagar no prazo estabelecido por lei conforme ditou o juiz da causa. Pergunto: não tinha mesmo dinheiro ou achou que os generais e o sr. Sílvio Burity não mereciam tão avultadas somas?
WT – Não devemos participar em situações em que acreditamos que está a haver injustiça. Por força daquilo que acredito, acho importante num país haver justiça com U, não jostiça. Ora, quando há jostiça, eu penso que as pessoas se devem rebelar. Devem denunciar e tudo fazer para alterar o quadro, conformando-a ao princípio constitucional de “todos serem iguais perante a Constituição e a lei”.
PD – Está a pôr em causa a credibilidade das leis angolanas?
WT – Eu estou a pôr em cheque a parcialidade de determinados actos. A forma como as vezes a lei é pisoteada por quem deveria respeitar, a justiça como importante órgão de soberania. Ora, no caso vertente, não foram apresentadas
provas, contrárias as publicadas pelo F8 e as esgrimidas em tribunal. Mas aliás, este é um processo que ainda caminha,
não houve trânsito em julgado, penso que todos nós estamos condenados em regimes como o nosso em sermos alvos de injustiça. Não vale a pena pensarmos que esta máquina vai bater-nos palmas e deixar de nos amolgar quando a gente se levanta até por questões dignas. O que é que não ficou provado? Que os generais não têm minas? Não! O Chefe do
Estado-Maior General das FAA, disse em plenos pulmões, terem alguns generais minas e ele mesmo, também é sócio de um outro general numa mina. O director da Alfândega disse, também, a plenos pulmões haver meses, por altura de multas, em que recebe no salário mensal entre 80 a 100 mil dólares.
Assim onde é que está a mentira? Infelizmente, por vezes e em determinadas situações, com certos actores, a justiça está moldada partidariamente e alguns juízes, alguns, repito, não todos, pois há aqueles que não aceitam orientações partidocratas, por comprometimento exclusivo com o Direito, sendo por isso escravos da lei, logo rejeitando obediência cega as ordens superiores.
PD – Já lhe pergunto lá mais para frente sobre o nosso sistema
judicial. Agora questiono-lhe mesmo sobre os valores contribuídos pela população. A população com parcos recursos, incluindo zungueiras, tudo fizeram para que pudessem ver William Tonet fora das grades. Congelado
que está o caso com a justiça, onde é que pára o dinheiro?
WT – Esta pergunta não me deve ser direccionada, mas sim ao dr. Minguito Zé e a AJPD, quanto ao outro ponto, apenas lhe posso dizer não ter como pagar este gesto de solidariedade, que responde a visão que o povo tem da injustiça que grassa na nossa justiça. Não é só pelo William Tonet é porque o povo acredita não haver justiça para todos em Angola.
PD – Se o caso está congelado, pensa devolver os dinheiros aos donos?
WT – O caso não está congelado. Foi julgado em primeira instância e subiu à segunda instância, portanto, ao Tribunal Supremo, que vai confirmar ou não a pena. Por outro lado, o dinheiro, e seria bom que o próprio jornalista, que me entrevista e a Rádio Despertar soubessem que este
dinheiro das contribuições, nunca veio para a esfera do William Tonet, está cativo com o dr. Minguito Zé e a AJPD, que lideraram esta acção de solidariedade. O dinheiro, graças a Deus, como disse antes nunca foi parar a minha conta, está de facto estas duas entidades, para tristeza dos meus detractores, que gostariam o contrário.
PD – Está a limpar as mãos sobre eventuais possibilidades de ver desaparecido o dinheiro?
WT – Eu penso que as pessoas são sérias e a AJPD e o dr. Minguito Zé, já deram provas de seriedade, sabem que aquele dinheiro tem um destino e estão a espera do desfecho final. Por isso mesmo e para afastar as más línguas, estas entidades tem noção da responsabilidade e aguardam com serenidade a decisão final do Tribunal Supremo.
PD – William Tonet é formado também em direito, qual é a avaliação que faz do nosso sistema judicial?
WT – Temos que continuar a lutar porque o sistema judicial não podia estar diferente do resto do país, não podia deixar de estar manietado. Ora se tem boas pessoas? Tem! Tem pessoas instrumentalizadas? Tem! Tem pessoas que transformam as leis em ideologia perniciosa? Tem! Por isso todos deveremos nos bater para que haja uma justiça melhor, uma justiça para
os homens e mulheres do país. Uma justiça como propõe deusa da Justiça: cega, logo imparcial.
PD – Está a dizer que a justiça caminha em proporção diferente?
WT – Basta ver quem está nas cadeias.
PD – Qual é a realidade?
WT – Há muita instrumentalização e politização da justiça. Há situações que nos envergonham a todos como angolanos. Eu não acredito que em muitas situações, o colono pudesse, se calhar, ousar fazer pior…
PD – O que quer dizer com isso?
WT – Quero dizer que se fosse neste tempo, não encontraríamos sobreviventes da Baixa de Kassanje,
sobreviventes do Processo 50, sobreviventes do 4 de Fevereiro, sobreviventes do 15 de Março, etc. Era uma justiça colonial, sim, mas em muitos casos regia-se por princípios de legalidade, ética e deontologia, que rareiam em muitos tribunais angolanos. Basta ver o que conseguimos condenar e matar sem provas e culpa formada de 1975 a esta parte. Quantas pessoas foram fuziladas em campos da revolução, catalogadas como inimigos da revolução, agentes do imperialismo internacional ou dos lacaios internos da UNITA e FNLA, muitos inocentes? Quantas pessoas continuam
a ser acusadas, sem nenhum indício que seja suportado, tudo com base na presunção? Muitos...
PD – Foi recentemente impedido pela Ordem de exercer a actividade de advocacia?
WT – Esta é uma informação nova para mim, pois não condiz com a verdade. E aquilo que não condiz a verdade, não
vale a pena a gente continuar a falar. Não é verdade e eu estou a exercer até estou em pleno julgamento.
PD – O que lhe diz a figura de Inglês Pinto a testa da Ordem?
WT – É o bastonário da Ordem dos advogados e nada mais.

TERCEIRA VIA PODE SER ALTERNATIVA ELEITORAL EM 2012
Pergunta Despertar – Voltamos a falar de si enquanto jornalista e também director do F8. Publicou recentemente imagens polémicas colocando na posição de réus o Presidente da República, o Vice-presidente e o ministro de Estado da Casa Militar da Presidência da República. É seu desejo vê-los nessa posição?
WT – Eu penso já termos falado bastante sobre esta matéria, que andava na Net, o F8 assumiu aquilo que achava ser um erro. Ainda que pense ser a criação e criatividade livre em
democracia, tudo deve ter limites. A paternidade destas imagens não é do F8 e daí que eu volto a dizer, é preciso despartidarizar a justiça, é preciso humanizá-las. Temos casos mediáticos que são uma vergonha, uma falsidade desde a instrução a fase judicial . O F8, tem que ter a hombridade de, lá onde erra, assumir o seu erro por ser dirigido por humanos e sobre esta questão, mantivemos uma posição que foi pública. Viemos e reconhecemos o nosso erro em relação aquilo que é o nosso excesso, porque o texto de
condenação aquelas imagens deveria ter sido publicado na mesma edição e não foi. Ora, tivemos de assumir, por não sermos perfeitos.
PD – Como reagiu a resposta da imprensa pública, sobretudo da TPA que entrevistou várias pessoas entre elas padres?
WT – É triste porque infelizmente a nossa imprensa pública tem estado aliada a várias fases pretas da nossa história, têm sido motores muitas vezes de agitação social, conflitos étnicos e de massacres colectivos e selectivos em Angola. Foi assim
em 1977, foi assim em 1992 é assim agora. Logo, enquanto tivermos uma imprensa pública excessivamente partidarizada, vamos continuar a assistir o baile dos apologistas da morte e dos assassinatos colectivos.
PD – Também trabalhou na TPA, fez alguma coisa para mudar o quadro?
WT – Não sou eu que devo falar do meu percurso; basta ir a TPA, pedir os arquivos e ver os programas que eu fazia, ainda em período de partido único e aferirem se as posições que eu tinha antigamente se são diferentes das que tenho hoje, aí as pessoas podem falar. Mesmo em período de partido único, mesmo nos maquis, na cadeia ou na minha militância activa, nunca fui diferente e os meus companheiros e camaradas sabem daquilo que sou hoje. Basta ver os arquivos na TPA e analisarem o que era e qual a linha editorial dos programas, Horizonte e Panorama Económico, estão lá e se ainda não os
destruíram, as pessoas poderão ver a sua veia critica já
naquela altura.
PD – William Tonet, afirmou vezes sem conta ser do MPLA. Como está a sua militância dentro do Partido do poder?
WT – Felizmente eu não sou muito de mudar. Gostariam os meus detractores que eu andasse a mudar. Mas, uma pessoa pode ser de um partido, de um clube, mas não estar de acordo com a sua equipa técnica. Pode ser o meu caso, em certos momentos., mas o facto de não gostar dos treinadores não me leva a abandonar o clube.
PD – Pensa algum dia fazer frente a José Eduardo dos Santos?
WT – Não é uma questão de pessoas, eu penso que o PR quando pensa no William Tonet, não o faz enquanto pessoa, mas como militante com um percurso e desapontado com as práticas actuais de falta de democracia interna.
PD – Está a dizer não haver democracia no MPLA?
WT – Sim! No MPLA não existe democracia, apenas se fala dela para constar no texto, mas não se efectiva. Eu gostaria que houvesse primárias no MPLA, eleições livres
e justas que todos os militantes estivessem em pé de igualdade. Eu gostaria de ver de facto o Presidente Eduardo dos Santos, ter a capacidade de disputar as eleições livres e justas sem qualquer tipo de favorecimento da máquina. Eu, acredito que em eleições verdadeiramente livres e justas, no
seio do MPLA, muito seguramente o militante José Eduardo dos Santos poderia não as ganhar…
PD – Quais são as bases de sustentação desta afirmação?
WT – É a falta de igualdade e oportunidades iguais. Nunca vimos o Presidente partir em pé de igualdade, em qualquer disputa. Numa corrida de 100 metros, ele vai sempre 50 metros a frente, o que o leva a cortar a meta sempre em primeiro. Era preciso que houvesse uma democracia verdadeira no MPLA, pois o que perdura é a voz do Presidente que impõe e todos os demais cumprem. Esta é a realidade. Agora, não acredito que o Presidente
despido da força militar que tem, da possibilidade de utilizar o
dinheiro público como quer, partindo em eleições em pé de igualdade, porque o MPLA tem militantes capazes de dirigirem o MPLA, que o presidente ganhasse fácil.
PD – Estaria disposto a candidatar-se?
WT – Em condições normais, eu poderia, usando da faculdade estatutária e da minha condição, vendo o que diz, no caso, o Estatuto e o Programa do MPLA. Se tudo certo, talvez ousaria, mas se a minha condição for inferior a daqueles que se encontram lá dentro, eu prefiro ajudar os candidatos melhores colocados para termos um melhor
partido. Com um partido no poder, verdadeiramente democrático, Angola ganharia muito mais, porque, acredito, o dia em que o MPLA for uma verdadeira democracia interna sem jogos baixos, o país será melhor. Enquanto isto não acontecer, o país estará pior.
Tudo depende, de como o MPLA vai resistir a era “Eduardista” ou a “pós Eduardista”, para não viver o espectro da extinção, como acontece a maioria dos partidos comunistas ou ditatoriais quando abandonam o poder.
PD – Voltamos a falar de si. Há rumores que apontam que o senhor vai liderar a lista de um partido político nas próximas eleições gerais. Confirma-se?
WT – Não!
PD – O PALMA, o que é que lhe diz?
WT – Duas mãos a bater e a sair o som, não me diz mais nada.
PD – Então porquê a especulação?
WT – O que se passa é; o AMC - Amplo Movimento de Cidadãos -, que é uma associação da sociedade civil, conclamou aos vários actores políticos e partidários para que ao invés de partirem isoladamente, mas totalizando, 70, 80 ou 100 partidos, se unam, juntando os tostões para fazerem um bolo maior e assim concorrerem, nas eleições de 2012, com maior dignidade. Apelamos que abandonem os orgulhos umbilicais de todos quererem ser candidatos a Presidente da República, quando escasseiam os recursos financeiros. Todos, em Angola, enfermamos directa ou indirectamente deste problema, de concorrer por concorrer, mesmo queimando etapas, quando se sabe só haver um lugar e para este, temos de escolher aquele candidato que estiver em melhores condições e com mais possibilidades.
PD- Então é um potencial candidato?
WT- Não! Volto a dizer, que neste momento, o cidadão que
vos fala, não tem no seu projecto pessoal em 2012, não tem a sua candidatura a Presidência de Angola. Portanto, eu não vou liderar, nada. O que lhe garanto a si e a todos é que vou ajudar estes partidos e organizações, por estar de acordo, quanto a facilitar na união dos meus companheiros em torno de um
projecto maior, a que chamamos Terceira Via, para que não haja a multiplicidade de partidos e a dispersão de votos.
PD – Quem pode aderir a este projecto do AMC?
WT - Podem aderir a este projecto, partidos políticos, actores políticos independentes e outros. Queremos que haja uma grande força capaz de contribuir melhor para a democracia do que estarmos a ver a fragmentação e a extinção de partidos, depois das eleições. Se os partidos forem individualmente, muitos vão ser instintos por força de uma lei que só
beneficia os fortes.
PD – Já estamos a caminhar para o final da nossa conversa. Coloco-lhe a última pergunta: como acha que será a actividade dos jornalistas até as eleições. Haverá mais pressão, ou nem por isso?
WT – Eu penso que os jornalistas têm que encarar de frente esta realidade, porque o regime não tolera as liberdades. Muitos de nós, hão-de ser assassinados e outros serão presos.
PD – Não está a ser bastante pessimista?
WT – Não! A natureza do nosso regime nunca foi diferente. De tempos em tempos há prisões arbitrárias, há provas forjadas, de tempos em tempos, há assassinatos que não são justificados. Portanto, este é o ano decisivo, está tudo atabalhoado. Portanto, os jornalistas vão ser alvos. Nem todos os jornalistas foram comprados, nem todos vão aceitar
ser untados e corrompidos. Há jornalistas que vão se manter nas suas trincheiras preferindo ficar a fome, mas com a sua dignidade, do que aderir aos princípios da bajulação e estes que não fizerem, muitos ficarão pelo caminho. É assim infelizmente que tem sido o nosso país. Depois, forjam uns pseudo julgamentos para distrair a opinião pública,
mostram que entre eles também se comem, mas é tudo batota. Por isso eu penso que vamos viver momentos bastante difíceis e tenebrosos em todos os sentidos. Eu acho que havia condições de fazermos um país mais tranquilo, melhor e
mais justo.
PD – O F8 está preparado para enfrentar estes momentos?
WT – O F8 vai manter a sua caminhada, logo se o povo vai manter-se firme, F8 vai também manter-se de pé e fiel aos seus leitores.

* Com Rádio Despertar

Um comentário:

  1. O Marraças é o mais sério candidato ao Prémio Mórbido da Estupidez.

    Não me causa admiração o facto de os generais e os criados e os descendentes mais directos do Presidente de Angola controlarem a Economia e as Mentalidades desse país, quando são diariamente endeusados por rapazitos, como o Marraças, nos órgãos de comunicação social. Isso pode alimentar a auto-estima dos chefes mas contribui muito fortemente para uma maior vulgarização da mediocridade nas pessoas e nas instituições.
    Mete dó o engarrafamento no fluxo mental da Marraças do Jornal de Angola, nas suas análises políticas, económicas e estratégicas, a nível nacional, regional e internacional. No caso da Síria é confrangedor, especialmente porque o principal motivo que leva a China e a Rússia a serem parciais neste conflito, já com muitos milhares de mortos, tem a ver com o “livro dos fiados” em material bélico que, para esses países e para o Marraças, deve estar primeiro do que os direitos humanos. Mas se tiverem paciência para ler um exercício de parolismo intelectual, vejam só o que diz o Marraças no Jornal de Angola:

    “A Síria é empurrada para a mesma situação de caos que reina no Egipto e na Líbia e que está a afectar também outros tantos países do Médio Oriente. Com o apoio do Ocidente e da Liga Árabe, que caucionou o assassinato de Muammar Kadhafi pela OTAN, a oposição síria recusa-se a negociar e a aceitar as propostas do governo para a saída da crise política em que o país se encontra. A Rússia e a China, que no Conselho de Segurança vetaram uma resolução que condenava o Governo sírio e se opuseram a resolução aprovada pela Assembleia-Geral das Nações Unidas, por considerarem-na não equilibrada, são os únicos países que podem, mediante mandato claro da ONU, influenciar para que o país de Basshar Al Assad saia do ciclo de violência em que mergulhou. Quer a Liga Árabe, quer os países ocidentais tornaram-se, agora, partes suspeitas na procura de uma solução pacífica para a crise. Uma crise que ultrapassa a simples dimensão “Governo versus oposição”, pois estão em causa interesses estratégicos na região, particularmente o alinhamento entre forças que, no Médio Oriente, não comungam das posições do Ocidente em relação ao direito dos palestinos a um Estado independente.”

    António Kaquarta
    http://miradourodoplanalto.blogspot.com/

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