quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Deixemo-lo comprar o que quiser. Coragem de Paihama deveria ser a do Presidente da República


Eu acredito na decência e na honradezdo Camarada KundyPahaima. A propósito,ser empresário e membro do governo ou ainda dirigente partidário, além de não ser proibido, não constitui crime nenhum, desde que haja separação nítida entre o público e o privado. Desde que as tarefas e as responsabilidades incumbidas não se confundem, ao menos, no tempo.

Nelo de Carvalho

Kundy Paihama, talvez, é a manifestação direta daquilo que um empresário, político e democrata se sente na obrigação de fazer, diante da desconfiança pública e da sociedade civil num estado democrático de direito, o de declarar os seus bens, para que estes não se confundam com a coisa pública: a coisa de todos!
Este é um gesto que já deveria ser um costumeentre os militantes e empresários do MPLA, que há mais de vinte anos optaram em enquadrar a economia nacional numa economia de mercado. Estaeconomia de mercado vale para todos ou não?
Já diziam os chineses, “ser rico é glorioso”, desde que neste esquema, de criação de riqueza,todos estejam enquadrados socialmente, sem o privilégio excessivos para uns, onde o tráfico de influência é na verdade a verdadeira riqueza de certos empresários nacionais.
Uns pela sua posição no podere a relação que têm com estes. Outros, por sua condição de afilhados e herdeiros, tornando estesaçambarcadores da riqueza nacional. Nem vamos aqui mencionar nomes diretos, todo mundo sabe quem são eles.
Eles não têm como se esconder,nem dentro de um Castelo fabricado para vampiros. Em pretexto da criação de uma suposta burguesia nacional, transformaram-se em verdadeiros chupa-sangues da nação angolana ou, ainda, de milhões de angolanos.
Aquela classe, a burguesia, hojeé o grupo mais reacionário dentro da sociedade Angolana. Eles atrapalham o processo democrático – em nome de umaguerra que andaram travando ( e que já não existe), e que eles também têm parte da culpa-, transformaram o país numa instituição sui generis.
Em nome de um perigoem que eles sempre estiveram muito distante ( é só ver os filhos, os ditos herdeiros, sempre estiveram longe dos sacrifícios que o povo angolano enfrentou, pode se dizer mesmo que muitos deles surgiram do nada; sua aparição como nobres é uma humilhação para milhões de angolanos que precisamente se livraram da escravidão da dita nobreza), intimidam toda uma nação a lutar pelos seus direitos de cidadania.
A coragem do Kundy Paihama deveria ser a coragem do Presidente da República e muitos outros por aí, que têm seus negócios ocultos atrás de todos os tipos de parentescos ( ou seja, dos parentes).
Apresentando a estes, diante da sociedade angolana e do cidadão, como pessoas competentes e capazes quese deram bem na vida, como se só eles tivessem cérebro e a genialidade para tal.
Sabemos que não é verdade e nunca foi verdade isso; sabemos que muitos dos herdeiros ricos, que estão à frente dos negócios dos progenitores ( entre elas grandes empresas nacionais) não têm nenhum talento para tal, nunca tiveram e jamais terão.
E só conseguem fechar grandes contratos milionários porque têm diante de si, abertas, as portas do tráfico de influência. São portas que na maioria dos casos nem são aberta pelos supostos empreendedores, donos dos negócios, príncipes ou princesas. São portas abertas por toda uma obra social ou circunstâncias socioeconômicas e até política, em que quem se apresenta, como privilegiado,é sempre um herdeiro ou alguém que possa facilitar os mesmos contratos.
Vou dar um exemplo simples, mas tão trivial e obvio para todos nós. Um empresário português ou europeu que viessede lá de suas terras para fazer um investimento em Angola, num país de gente pobre, em que existe pouca cultura empresarial. Mas que não faltasse, nesse mesmo país, Angola, odesejo aos nativos para empreendedorismo, ou seja, montar seus negócios; quando aquele empresário estiver atrás de um sócio nativo, todos economicamente no mesmo potencial, a quem este empresário daria preferência para parceiro econômico? A resposta para esta pergunta nem precisa ser dada aqui. Só precisamos dizer que o corrupto europeu transvestido de empreendedor, milionário ou bilionário, sabe a quem corromper. Caberia ao poder nativoe local impor os critérios da transparência. A independência de Angola e o poder que aí existe foi conquistada e instalado, respectivamente, acreditando neste sonho: o sonho da transparência.
Observação, existe aqui uma variável que podemos chamar, “ todos economicamente no mesmo potencial”. Já que atétrinta e cinco anos ou mesmo vinte anos atrás todos tínhamos a mesma origem sociais e econômicas: Éramos vassalos, servos, descendentes de escravos, filhos de camponeses e operários; enfim, uma sociedade de gente humilde que recebeu as maiores promessas sociais jamais feita por ordem política e sistema político algum. E o pior esta promessa vinham do que se pode dizer dos seus próprios filhos.
Assim, só uma revolução burguesa, de gatunos, de bandidos, de corruptos e de gente mentirosatrai os seus próprios filhos, irmãos e companheiros, e, finalmente, compatriotas.
Eu acredito no camarada e comandante KundyPaihama, mas não acredito na totalidade dos ricos angolanos, principalmente, se estiveremenvolvidos com os interesses do Estado. O Kuanhama é a luz no fundo de um túnel do sonho que reclama a obrigação do gestor público declarar seus bens e patrimônio antes, durante e depois de sua gestão.

Cadê a declaração do resto do pessoal que está aí no poder?
4 de Fevereiro, 27 de Maio… e não só
O do do ministro dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria… do MPLA, Kundi Paihama, que a história de Angola é rica em exemplos e actos indeléveis de heroísmo e valentia protagonizados por milhares de patriotas angolanos, de Cabinda ao Kunene, e pelo sacrifício dos melhores filhos desta pátria.

Orlando Castro*
Sim, é o mesmo Kundi Paihama que diz: “Durmo bem, como bem e o que restar no meu prato dou aos meus cães e não aos pobres”. E por que não vai para os pobres?, perguntam vocês, eu também, tal como os milhões que todos os dias passam fome. Não vai porque não há pobres em Angola. E se não há pobres, mas há cães…
Sim, é o mesmo Kundi Paihama que afirma: “Eu semanalmente mando um avião para as minhas fazendas buscar duas cabeças de gado; uma para mim e filhos e outra para os cães”.
Quanto aos angolanos, aos outros angolanos, citando de novo Kundi Paihama, que comam farelo porque “os porcos também comem e não morrem”.
Ao falar no acto central do 51º aniversário do início da luta armada de libertação nacional, em representação do “querido líder” José Eduardo dos Santos, Kundi Paihama disse que “é graças a este heroísmo que celebramos hoje o inicio da luta armada de libertação nacional contra o regime colonial português e comemoramo-lo sob o lema “Honremos a memória dos nossos heróis preservando a paz e democracia”.
De acordo com o ministro do farelo, foi a partir da inspiração e coragem e determinação desta acção que se considerou que a via armada era a única solução para derrubar o regime colonial, generalizando-se aos poucos em todo o território nacional, gerando um amplo movimento de libertação nacional.
Não sei se foi a partir dessa inspiração que o MPLA também resolveu matar milhares e milhares de outros angolanos.
Num outro massacre em Luanda, perpetrado pelas forças militares e de defesa civil do MPLA, visando o aniquilamento da UNITA e de cidadãos Ovimbundus e Bakongos, foram mortos mais de de 50 mil angolanos, entre os quais o vice-presidente da UNITA Jeremias Kalandula Chitunda, o secretário-geral Adolosi Paulo Mango Alicerces, o representante na CCPM, Elias Salupeto Pena, e o chefe dos Serviços Administrativos em Luanda, Eliseu Sapitango Chimbili.
No massacre do Pica-Pau, a 4 de Junho de 1975, perto de 300 crianças e jovens, na maioria órfãos, foram assassinados e os seus corpos mutilados pelo MPLA, no Comité de Paz da UNITA em Luanda.
No massacre da Ponte do rio Kwanza, no dia 12 de Julho de 1975, 700 militantes da UNITA foram barbaramente assassinados pelo MPLA, perto do Dondo (Província do Kwanza Norte), perante a passividade das forças militares portuguesas que garantiam a sua protecção.
Mais de 40.000 angolanos foram torturados e assassinados pelo MPLA em todo o país, depois dos acontecimentos de 27 de Maio de 1977, acusados de serem apoiantes de Nito Alves ou opositores ao regime.
Entre 1978 e 1986, centenas de angolanos foram fuzilados publicamente pelo MPLA, nas praças e estádios das cidades de Angola, uma prática iniciada no dia 3 de Dezembro de 1978 na Praça da Revolução no Lobito, com o fuzilamento de 5 patriotas e que teve o seu auge a 25 de Agosto de 1980, com o fuzilamento de 15 angolanos no Campo da Revolução em Luanda.
No dia 29 de Setembro de 1991, o MPLA assassinou em Malange o secretário Provincial da UNITA naquela Província, Lourenço Pedro Makanga, a que se seguiram muitos outros na mesma cidade.
Nos dias 22 e 23 de Janeiro de 1993, o MPLA desencadeou em Luanda a perseguição aos cidadãos angolanos Bakongos, tendo assassinato perto de 300 civis.
Em Junho de 1994, a aviação do MPLA bombardeou e destruiu a Escola de Waku Kungo (Província do Kwanza Sul), tendo morto mais de 150 crianças e professores.
Entre Janeiro de 1993 e Novembro de 1994, a aviação do MPLA bombardeou indiscriminadamente a cidade do Huambo, a Missão Evangélica do Kaluquembe e a Missão Católica do Kuvango, tendo morto mais de 3.000 civis.
Entre Abril de 1997 e Outubro de 1998, na extensão da Administração ao abrigo do protocolo de Lusaka, o MPLA assassinou mais de 1.200 responsáveis e dirigentes dos órgãos de Base da UNITA em todo o país.
Por alguma razão, no dia 24 de Fevereiro de 2002 alguém disse: “sekulu wafa, kalye wendi k'ondalatu! v'ukanoli o café k'imbo lyamale!” (morreu o mais velho, agora ireis apanhar café em terras do norte como contratados.)
Sekulu esse que também dizia: «Ise okufa, etombo livala» (Prefiro antes a morte, do que a escravatura).

*http://www.altohama.blogspot.com
http://www.artoliterama.blogspot.com


CRÓNICA. Numa tarde de verão. Marta Fernandes de Sousa Costa

Quem sai de Pelotas e, no trevo da BR116, toma o rumo de Porto Alegre ou, ao contrário, segue para Pedro Osório e Jaguarão, encontra estrada sempre plana, campos semeados com soja e arroz, criação de gado. Se, no trevo, escolher a direção de Morro Redondo, Canguçu e Santana da Boa vista, encontrará uma paisagem ímpar, a estrada sinuosa, margeada por belas árvores.
Pouco adiante, está Canguçu, terra de povo trabalhador e gentil. A cidade é feita de altos e baixos; ciclistas não se arriscam pelas ruas cheias de subidas e descidas e até as motos são escassas, na tarde de verão. Lá, as pessoas ainda param para conversar, ao encontrar algum amigo ou conhecido, e são vários os grupos de dois ou três, interrompendo o fluxo do trânsito, sem perturbar ou serem perturbados.
O sol é forte. À porta da Sorveteria Arndt, mulheres e crianças esperam para saborear o sorvete de casquinha. Consigo a única mesa desocupada e peço um Milk Shake, na intenção de escapar da fila do sorvete. Na mesa ao lado, o menino divide a atenção entre um enorme pastel e a coca-cola, com a expressão feliz de guri que aproveita o passeio com o pai para saciar todas as vontades.
Caminho ao longo da rua principal, observando o nível dos estabelecimentos comerciais, sinal de que o potencial dos consumidores é reconhecido. Canguçu possui filial da Casa Hercílio, Sulpar, Lojas Colombo, Farmácias Tchê e Popular, percebo, num rápido olhar. É berço da Yara Decorações, com excelentes filiais em Pelotas.
Entro na Agro-comercial Afulra e não resisto a algumas compras. No caixa, descubro: a Afulra possui banheiro! E não daqueles interditados, com a corriqueira alegação de “faltou água”, como acontece em certas lojas do free-shop de Rio Branco, por exemplo, em total desconsideração aos consumidores. Ou “só para os funcionários”, como em algumas de Pelotas e de outros locais. Ou bagunçado e com aparelhos de segunda categoria. O banheiro feminino é bonito, moderno, asseado. Há também o masculino, naturalmente, e o para portadores de necessidades especiais. Ponto para Canguçu, que sabe pensar grande.
O movimento intenso de automóveis, caminhonetes e transeuntes dá idéia de cidade pujante e povo trabalhador. Canguçu, com mais de 53.000 habitantes, é considerado o município brasileiro com maior número de minifúndios, cerca de 14.000 propriedades rurais.
A jovem amiga, advogada, com escritório em Canguçu, só tem elogios para a gente do lugar, sempre orgulhosa da capacidade de honrar seus compromissos. Moradores de grandes centros podem ficar surpresos com a opção de morar e trabalhar em uma cidade de porte menor. Mas hoje, quando se usufrui das notícias globais a um clique na internet, junto com a facilidade cada vez maior de viajar para todos os cantos do mundo, há quem prefira incrementar essas circunstâncias com o prazer da convivência e o calor humano, ainda encontrado nas cidades menores.
E não se engane quem vir algum cidadão local, na fila do Banco do Brasil, com chinelos de borracha e mãos calejadas pelo trabalho manual. É bem possível que ele tenha mais dinheiro na conta do que quem se atém a juízos apressados.
Retorno ao automóvel, estacionado em frente à Lynitron, onde o marido permanece, sabendo as novidades da terra, enquanto acompanha o conserto do telefone rural. A gente anda por aí e enche a boca pra falar de tudo que viu; ignora a beleza próxima, aquela escondida na luta de todos os dias, no trabalho que rende frutos e torna um povo orgulhoso de ser como é.
Prazer, Canguçu: gostei de te rever. Não sei se mudaste, desde a última visita, ou se eu é que adquiri olhos para te enxergar.

*www.martasousacosta.com


Uma Espécie de Resposta a Uma Dita Esquerda…

“…que não assinei este memorando, que não concordo com uma parte desse memorando, mas naturalmente que o honro” António José Seguro in DN


Joffre Justino*

O objectivo é o habitual – dividir o Partido Socialista.


A forma é a mais banal, aquela a que nos habituamos – pôr a comunicação social a repetir, à exaustão, o “caso”.
Não há nada de novo naquilo que António José Seguro disse, quanto a este Memorando que dizem “da troika” e que acima retomo, pois é natural que cada leader tenha os seus pontos de vista e, se assume cumprir o acordado, não se entende porque não pode esse leader explicitar sobre o que concorda e o que não concorda nesse memorando.
Note-se, entretanto, que o que está em jogo não é um memorando “da troika”, é mesmo um acordo que envolve o Estado português, que teve o acordo do PS, do PSD e do CDS, que envolve portanto algo como (e vou ter em conta os absentistas), representantes de 50% do eleitorado português.
Há, diga-se, uma grande diferença entre o Ultimatum britânico a Portugal, a razão central do 5 de Outubro de 1910, onde a corte que envolve sempre um rei aceitou ceder ao poder bélico do Império mais forte, e um acordo onde representantes de cerca de 50% do eleitorado assumiram um conjunto de compromissos com o FMI, a União Europeia e o Banco Central Europeu, por forma a que o Estado português cumprisse compromissos financeiros internacionais e se capitalizasse, para responder a necessidades imediatas.
Claro que existe a tese Não Pagamos, como existe a tese Façamos uma Auditoria à Divida, como existe a tese Façamos um Referendo, e claro que todas têm todo o direito de ser atendidas, evidentemente rebatidas ou não, mas sem duvida tidas em conta.
Estamos pois perante quatro posições politicas sendo que em Portugal se entendeu, sabe-se lá porquê, que as três ultimas são as opções “de Esquerda” e a primeira é uma opção “de Direita”.
Acho que é tempo de recalibrar esta balança, de reposicionar a Esquerda e a Direita nesta matéria.
Vou voltar a repetir argumentos que tenho utilizado ultimamente, mas, que remédio, o debate exige tal.
O que urge esclarecer, antes do mais é que o Estado português optou por se endividar para tentar superar, em um curto período, o que não fora feito em 48 anos, na ditadura salazarenta, no plano da Segurança Social, do Bem Estar, e do Desenvolvimento económico.
Desde as escolas, aos hospitais, às estradas, à electricidade, à água canalisada, aos equipamentos sociais, tudo faltava e tudo se procurou fornecer por via do Estado.
Estado esse que foi gerido no plano do Governo, por ordem de presença no Governo, pelo PSD, pelo PS, pelo CDS, sendo que sem duvida que as preocupações foram variando de governo para governo, e onde as soluções de maior distribuição dos rendimentos foram sobretudo efectuadas pelos governos PS, mas onde os outros dois partidos participaram também.
Mas, houve ainda medidas de apoio a estas politicas de Bem Estar e de distribuição dos Rendimentos feitas no plano do Poder Local e envolvendo portanto o PCP e o BE.
O arco parlamentar é pois, todo ele, responsável por medidas que urgia serem concretizadas e que em geral só puderam ser feitas através do endividamento do Estado.
A par destas medidas houve também muito desperdício.
A distribuição de postos de trabalho a “amigos da cor” que aconteceu em todos os governos e em todas as municipalidades; a delapidação de verbas do Estado em “obras a mais”, ou em “empregos a mais”, ou em “prestações sociais a mais”, ou em “supermercados a mais”,que aconteceram em todos os governos e em todas as municipalidades; as pequenas e grandes corrupções que aconteceram em todos os governos e em todas as municipalidades, etc.
Ou, claro, o ter o governo e o terem os partidos, silenciado funções pedagógicas sobre um conjunto de cidadãos de baixas qualificações escolares, facilmente permeáveis portanto a publicidades exageradas, em favor de um exagerado consumismo, que beneficiaram claro o crescimento do mercado, ( o Imobiliário por exemplo vendido e não alugado á custa dos empréstimos fornecidos sem regra), que geraram também Emprego, mas que não acrescentaram Valor suficiente para reposicionar o país no âmbito da competitividade internacional.
O que justifica que, até por razões pedagógicas, se aceitasse a ideia de uma Auditoria à Divida, que permitiria demonstrar o que acima digo – mais ou menos todos seriam mostrados como responsáveis pela Divida do Estado.
Mas, na verdade, as razões que surgiriam mostrariam que muito do desperdício se mostrou “adequado”, por gerar Emprego, (talvez erradamente distribuído…), e por permitir melhores acessos, melhor aproximação aos mercados “centrais”, etc.
E, claro, detectar-se-ia também a corrupção, o erro clamoroso, o que nada de mal traria ao mundo, pelo contrario ensinar-nos-ia a gerir melhor os Recursos escassos que temos.
Mas não temo errar quando digo que o essencial teve de ser feito a bem do Bem Estar!
Perante esse facto, o de muito do despendido ter mesmo de ter sido despendido, haverá quem diga – então se foi assim Não Pagamos!
E há alguma razão nesta ideia.
Quem sustentou o regime salazarento não foram somente as forças de repressão do mesmo regime e as suas elites e apoiantes, foram mesmo os países democráticos que beneficiaram e muito com a Ditadura e a Guerra Colonial.
Pelo que deveriam ter pago para compensar os portugueses de um atraso que lhes foi imposto, também de fora.
Assunto que não foi adequadamente debatido com os “países democráticos”, por boas e más razões.
As boas, como o pudor em levantar o problema pois, internamente, faltaram tantas vezes, demasiadas as vezes, as forças para derrubar o ditador…As boas como o ter-se achado que os “países democráticos” seriam mais facilmente convencidos a apoiar o desenvolvimento, se não fossem acusados do atraso que tinham imposto com o seu silencio, e o seu apoio mesmo, à Ditadura, e daí a entrada na CEE.
As más, porque havia ao tempo um outro conflito que alguns querem calar, sabe-se lá porquê, o conflito EUA/URSS, e onde a divisão em Portugal sobre esse conflito, no pós 25 de Abril era bem grande, divididas que estavam as forças politicas em três grandes grupos – o que apoiava os EUA, (CDS, PSD, e parte do PS), o que apoiava a URSS, (o PCP), e o que apoiava a terceira via, o Terceiro Mundo, os Não Alinhados, (parte do PS, e as forças que hoje se agregam no BE) – e que acabaram por empurrar Portugal para uma adesão mal pensada e apressada, (no plano da negociação), à CEE.
Daí o não apoio adequado às Pescas, à Agricultura e Pecuária, e mesmo à Industria portuguesa, o que veio fragilizar o tecido empresarial em Portugal, que passou a centrar-se por demais nos Serviços, na Distribuição e nas Obras Publicas e Construção Civil e veio ainda facilitar a ideia do Emprego Publico como alternativa assim como o Consumismo desbragado.
E não o Investimento.
Há que começar a assumir, com humildade, e que seja toda a elite politica e económica a fazê-lo, estes erros cometidos e que estão por detrás deste endividamento publico e privado.
E, perdoem-me, até agora não vi nem Esquerda nem Direita que possa ficar de fora do erro!
Pelo que o acordo com a troika, não foi um acto de Esquerda ou de Direita, mas sim um acto de sobrevivência, que quem governava tudo fez para que não acontecesse, se bem se lembram, e que quem se situava na Oposição, boicotou numa primeira fase, para impor eleições que conduzissem como conduziram a uma outra governação, o que os leva a ter que assumir também esse acto, por uma vez!
A tese Vamos a um Referendo, testada e deixada cair no governo socialista grego, o que espantou toda a gente, quer pelo ter surgido, quer pelo ter sido tao depressa abandonada, quer pelos urros de horror que gerou nas instancias da União Europeia, mostra bem o caminho que ainda falta fazer para que a Democracia seja realmente aceite na sua globalidade, mesmo nos chamados “países democráticos” mais antigos!
Pois teria sido bem útil que o Referendo tivesse tido a oportunidade de ser assumido como instrumento perante esta Crise Global.
Porque responsabilizaria toda a Comunidade na sua decisão última.
De novo, os silêncios o mostram, não se pode afastar a Esquerda e a Direita desta não utilização deste instrumento democrático que, hoje, perante os empréstimos já concedidos, fica bem difícil de defender.
Finalmente, resta a opção que António José Seguro tem procurado concretizar – assumir que existe um Memorando que tem de ser cumprido, mostrar que o Memorando pode ser gerido de outra forma que não a deste governo e saber cumprir o que há a cumprir neste Acordo que se chama de “memorando da troika” e assumir ainda que teria feito outro acordo se tivesse tido a oportunidade estando no governo.
Nota essencial neste momento do texto,
Eu não apoiei Antonio José Seguro aquando do Congresso do PS que o elegeu, eu não sou, de forma alguma, “um indefectível do Seguro”, nem fui um “indefectível do Francisco Assis” em quem votei, mas sem grande convicção….
Precisamente porque sou de uma “Outra Esquerda”, socialista, autogestionária, participativista.
O que me obriga a saber assumir os erros, os meus e os da comunidade onde me situo, (pois se ela os comete foi porque não fui capaz de impedir tal e assim ter de, com ela carregar com as consequências), e o que me obriga a ter de intervir sabendo que tenho hoje mais limites na intervenção – os que resultam dos erros cometidos, mesmo que não por mim.
E a procurar perceber os caminhos possíveis e entre eles a optar.
Por isso sou dos que entende que tendo várias Esquerdas e várias Direitas em concorrência no “mapa politico” português, há que ir debatendo entre as múltiplas presenças nesse mesmo mapa e encontrando os pontos de consenso e de intervenção conjunta possível.
O que me leva a recusar sectarismos, posições “religiosas” do tipo “ a verdade sou eu”, ou a tentar “conquistar o adversário” pondo-o sob pressão.
Há posições a defender, há debates a dinamizar e há caminhos a percorrer, uns entre a Direita e a Esquerda, e outros no seio da própria Esquerda, como os há no seio da Direita.
Mas, um deles será totalmente transversal – o desta IV Globalização e a forma como decorre.
E nessa matéria continuo a achar que o principal erro e que cruza o Planeta está no facto de vivermos um tempo de total Liberdade de Circulação de capitais, (total e aceleradíssima como nunca), de significativa Liberdade de Circulação de Bens e Serviços e ainda de impossibilidade de Livre Circulação de Pessoas.
Desta forma vivemos um tempo onde as Nações e os Estados existem de facto para as Pessoas, tendem a não existir para os Bens, Serviços e Organizações, e não existem de todo para os Capitais.
Nestas condições quem ganha são, (e serão sempre se nada Mudar), os totalitários, digam-se eles “em transição”, ( como Angola, ou a Republica Popular da China), ou não,(como o Vietnam, ou Cuba…)!
Porque usam o instrumento Estado, sem regra de mercado mas no contexto de uma economia global de mercado, desvirtuando-o globalmente, em favor de ultra minorias, as dos Estados totalitários em santa aliança com as elites financeiras que apostam na desagregação dos Estados democráticos, e com as elites “industrialistas” que apostam também no findar dos Estados democráticos.
Eis porque neste combate pela sustentabilidade dos Estados democráticos se podem e devem juntar várias Esquerdas e várias Direitas, em nome de uma intervenção pela Democracia no planeta e no contexto desta IV Globalização.
E, para que tal aconteça deveria existir um campo da unidade possível, na governação sem dúvida, em nome da manutenção de Regulabilidade da atividade económica, da Responsabilidade Social das Pessoas e das Organizações, em nome da exigência da Regulamentação das atividades financeiras, (a taxa Tobin é um exemplo) e claro da regulamentação das actividades das Agencias de Notação!
Tarde ou cedo colocar-se-á, em Portugal, a questão do país ser ingovernável no contexto de um governo de família politica e está tal à vista, pela forma como cresce aceleradamente a divida em Portugal, o que nenhuma família politica quererá assumir sozinha, a não ser que se queira suicidar.
Claro que há tolos, ( na AESE parece que existem muitos) que são capazes de escrever alarvidades como, “À medida que o Estado nos fez sentir mais ricos os salários tiveram que subir, mesmo sem aumentos de produtividade”…(!), procurando defender o indefensável pois dificilmente se pode dizer que houve aumentos salariais em Portugal e só um tolo e nunca um economista não sabe distinguir salários nominais de salários reais, ou de pensar que pode escrever esta alarvidade num jornal sem cair no ridículo!
Ou de não entender que o Estado em Portugal com a sua politica de Bem Estar funcionou como uma importante válvula de segurança para os baixos salários vividos pelos portugueses!
Em especial num pais que tem como Salário Mínimo os miseráveis 485 euros, e como salário médio os 700 euros.
Mas esses não contam nem para os Homens e muito menos para Deus, (Jesus Cristo escorraçou-os do Templo lembram-se?).

*jjustino@epar.pt
Blog pessoal: coisasdehoje.blogs.sapo.pt/

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