sábado, 25 de fevereiro de 2012

MANUEL VICENTE ASCENÇÃO OU QUEDA DE MAIS UM TÉCNICO


Na política não há coincidências, o que há é conveniências. Assim, depois de se ter atingido com a ajuda de uma enorme quantidade de máscaras (para esconder uma hipocrisia latente), o pico jurídico da fraude, por via de um recurso a órgãos que deveriam ser, eles sim, de recurso, como sejam o Tribunal Supremo, o Tribunal Constitucional, o Conselho Superior da Magistratura, a Ministra da Justiça, a Assembleia Nacional, etc., todos eles orientados por um controlo remoto manipulado pelo Executivo, a situação jurídica criada por esses diversos intervenientes está a afundar-se lentamente nas areias movediças de uma retórica vazia de senso.

William Tonet

Do mesmo modo que agiu no caso da nomeação de Suzana Inglês para a liderança da Comissão Nacional Eleitoral, José Eduardo dos Santos contornou algumas resistências internas no Bureau Político do MPLA quanto a Manuel Vicente (MV), nomeando-o como ministro de Estado para a Coordenação Económica e Produtiva.
Na realidade MV será um verdadeiro vice-presidente, pois fica com pastas que nem o actual Fernando Dias dos Santos viu cogitadas. Nem por um binóculo!
Em uma das entremeadas deste capricho do chefe de Estado, outros caprichos se assinalam na sua desastrosa liderança (esqueçamos o Kilamba, o ZEE, o Nosso Super, a Aldeia Nova, etc.), como, por exemplo, a supressão do Ministério de Estado liderado por Manuel Júnior, distinto economista formado em Londres, que foi posto a passo para dar origem a um Ministério da Economia, hoje liderado por Abraão Gourgel.
Agora, de repente eis que se cria o Ministério de Estado para a Coordenação Económica, para lá colocar, de bandeja, o Senhor Manuel Vicente, acusado por organizações internacionais de ter uma riqueza pessoal estimada em mais de 250 milhões de dólares.
A pergunta que se impõe é: por que razão é que o actual e recem nomeado ministro da Economia não foi exonerado? Agora temos dois Ministérios da Economia, porquê?
Abraão Gourgel vai desempenhar que funções mais?

Estafeta?
Porta-voz?
Ou a sua antiga de vice-ministro, como ele foi durante anos no Ministério da Indústria? A verdade é que a sua manutenção no cargo a par da nomeação de MV, demonstra que este regime não tem um projecto – país, tão pouco de governo, parecendo ser tudo feito em cima do joelho e sem uma verdadeira visão de gestão de recursos financeiros e humanos.
Houvesse uma verdadeira noção de país e nunca um líder integraria as Pescas no Ministério da Agricultura, porquanto a extensa costa marítima, exigir a separação dos mesmos, pela grandiosidade da empreitada de cada um. Mas é o que temos…

Seja como for, MV vai ser cuidadosamente instalado e funcionará no Palácio Presidencial, em portas meias com a do gabinete de José Eduardo dos Santos, precisamente onde funcionou antes o seu primo, Aguinaldo Jaime, na qualidade de primeiro-ministro adjunto.
Entretanto, o que vemos é que Fernando da Piedade funciona distante do Palácio, ali, como se fosse a “Faixa de Gaza”, e tem de pedir audiência para entrar no palácio. Manuel Vicente terá acesso directo.
Dos Santos mostra assim que o homem que mais capital soltou aos empreendimentos da família presidencial é da sua inteira confiança
Manuel Vicente tem competência profissional, enquanto gestor de petróleos, ou melhor, de uma empresa pública que tem por tarefa recepcionar os bónus e os lucros das vendas de petróleo.
Mas ainda não se lhe conhece uma veia que tenha trilhado isoladamente para multiplicar riqueza, o que é vai de si, não só raro, mas altamente abonatório.
MV tem também, fruto do dinheiro que gere, reputação internacional e créditos em algumas paragens, como senhor do petróleo angolano.
A nível interno goza até hoje da confiança de JES por razões supra mencionadas e por ser o fiel do cofre azul, com base nas receitas públicas do petróleo de todos os autóctones angolanos, mas apenas para favorecer uns poucos do MPLA e a família presidencial, fundamentalmente os filhos.
Tudo isso, parece-nos, não indica que ele tenha pedalada para os grandes palcos políticos, em que a maliciosa e, por vezes, agreste confrontação exigida nos jogos partidários o beneficie. Resta-lhe nesse novo jogo intelectual, o trunfo do capital o facto de ele estar imbuído da tese de que quem tem capital pode facilmente ter o controlo político. Arriscado!
Ou talvez não! E ousemos ir mais longe, conhecendo como conhecemos os usos e costumes da Casa, ou melhor, das Casas, Militar, Civil e Palácio Presidencial: quase por certo que não.
De facto se considerarmos como já assinalamos que esta parece ser uma manobra maquiavélica, Manuel Vicente está pura e simplesmente a ser usado para promover perpetuidade do consulado de José Eduardo dos Santos.

O risco é só dele.
Ser posto de lado depois de ter servido.

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