sábado, 25 de fevereiro de 2012

Em Benguela dança nos negócios. Governador acusado de entregar “Jardim Milionário” à família


A nomeação do general Armando da Cruz Neto em substituição de Dumilde Rangel que governou a província de Benguela durante 14 anos, chegou como uma luz de esperança aos benguelenses, mais a mais por ter vindo acompanhada de informações de com tal acto o Presidente da República pretendia devolver uma disciplina férrea na gestão dos recursos financeiros do erário público. Infelizmente ao que parece, com o andar dos tempos, tudo terá caído em saco roto de acordo com informações que circulam nos bastidores do próprio governo provincial e do MPLA.

Santos Vilela*

Nos últimos dias tem corrido já não a boca miúda, mas a boca grande, que os vícios apenas mudaram de dono, em Benguela. Se antes era a família Rangel, que se apossava de tudo, agora é a Cruz Neto, que gravita directa ou indirectamente em torno de tudo que cheira a dinheiro.
Os familiares do governador são acusados de, num de repente, se terem tornado sócios ou proprietários de pequenas e médias empresas que, mesmo sem concurso público, abocanham obras e demais negócios, afastando outras empresas benguelenses, a muito no mercado.
“Isso cria mau estar no seio da classe empresarial local e de sectores do MPLA, pela forma voraz e de tráfico de influência como o clã actua, indiferente a tudo e todos”, denunciou uma fonte empresarial do F8, acrescentando que isso tem estado a manchar o consulado de Armando da Cruz Neto “e as consequências poderão afectar o desempenho do nosso partido no pleito eleitoral que se avizinha”.
E o grande mau exemplo a mão de semear, prende-se com a adjudicação directa, sem concurso público, à empresa denominada «Agro – Angola», alegadamente, pertencente a Esmeralda Neto, esposa do governador provincial, para a reabilitação de todos os jardins da cidade, cujo orçamento as fontes de F8, calculam rondar os cerca de dois milhões de dólares.
“Ora se o ex-administrador de Benguela Manuel Francisco foi parar a cadeia, acusado pelo crime de peculato, devido ao elevado valor do jardim milionário, não se entende como afinal estes espaços constituem, também, um filão para a família do actual inquilino do Palácio da Praia Morena”, questionou o economista António Bernardo.
Mas pormenor considerado grave, prende-se com o facto da empresa conotada com a esposa do governador, contar com mão de obra maioritariamente portuguesa, até mesmo em sectores básicos, denotando uma certa discriminação em relação aos angolanos, que desta forma receberão o desemprego, como prémio da actual governação.
Tanto assim é que a entrada da família Cruz Neto, no “milionário” negócio de jardinagem, sacrificou, também, um pequeno empresário autóctone, ex-oficial das FAPLA que procedia a reabilitação do jardim do Largo da Peça, com contrato assinado em vigor, com a administração municipal de Benguela.
Os negócios de Esmeralda Neto e filhas que se estendem a recolha de lixo, espaços verdes, limpezas de instituições públicas, turismo e hotelaria, vão dominando o pequeno espaço de negócios outrora pertencente a empresários que no passado face a uma política velada muito polémica de Dumilde Rangel que consistia dar oportunidades de negócios aos filhos da “terra” tinha merecido o vivo apoio da sociedade civil.
A postura da actual governação benguelense em favorecer alegados negócios familiares para além de ser uma contravenção a actual lei da probidade administrativa, está a ofuscar cada vez mais a imagem que o general Armando da Cruz Neto projectou quando desembarcou em Benguela e levantou o machado da luta contra a corrupção e um vigoroso apelo a disciplina na gestão do erário público.
Por outro lado, o governador, para muitos, não tem necessidade de manchar a sua imagem e reputação, com estes negócios de “galinheiro”, pois é visto como fazendo parte dos homens do regime mais endinheirados de Angola a julgar pela sua presença como sócio em empresas mineiras, cervejeiras, de segurança privada nas Lundas, materiais de construção etc, de acordo com um estudo de investigação do jornalista Rafael Marques.
Para o jurista José Agostinho Botelho, o mais grave prende-se com as denúncias de “a esposa do governador estar também, face aos seus interesses empresariais a influenciar o marido para a nomeação de titulares de cargos públicos para obtenção de vantagens pessoais e ter dirigentes dóceis”.
As nomeações recentes do administrador municipal de Benguela, Leopoldo Muhongo, da vice governadora Maria Garcia e da administradora municipal da Catumbela, Alice Pascoal, respondem a esse desiderato, pois “são agora apontados como pessoas dependentes e subjugadas as orientações da primeira-dama.
Pode ser que sim, como que não, mas enquanto Armando da Cruz Neto, não esclarecer os factos vai continuar a carroça da suspeição, salvo se conseguir benzer-se nas águas da lagoa de Tchiuia Uya, no Dombe Grande.


*Em Benguela

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