domingo, 26 de fevereiro de 2012

Kamalata Numa denuncia. Nomeação do general Nunda é uma capa para enganar a reconciliação


O antigo lugar tenente de Jonas Malheiro Savimbi, que esteve ao seu lado, até os últimos minutos da sua morte, general Abílio Camalata Numa, não acredita na política de reconciliação levada a cabo pelo MPLA e Presidente da República, José Eduardo dos Santos, pois na sua opinião, ela não visa uma conciliação, mas sim uma capa em que uns se sentem vencedores e outros vencidos.

Este general, emprestado a política, que até Dezembro de 2011 exerceu o cargo de secretário-geral da UNITA, foi sempre considerado uma verdadeira pedra no sapato do partido no poder pelas suas contundentes críticas a gestão do país.
Kamalata Numa foi dos poucos generais que ladeavam Jonas Savimbi, no fatídico dia 22 de Fevereiro de 2002, quando as brigadas das FAA irromperam as barreiras de defesa do fundador da UNITA e puseram fim a um longo reinado de confrontos militares.
Dez anos depois, este oficial garante não terem sido ainda dissipadas as causas que estiveram na base do conflito armado e, nem mesmo, a nomeação de um antigo guerrilheiro das FALA, braço armado da UNITA, o general Sachipendo Nunda, para chefe do Estado Maior General das Forças Armadas Angolanas, na sua opinião, não indiciam terem sido lançadas as verdadeiras sementes da reconciliação nacional. Na sua opinião a indicação deste alto oficial não foi pacífica nem é consensual, pois ela decorre de "uma conveniência do Presidente da República. De um lado, para poder encontrar uma couraça que o protege da contestação, que tem mesmo até dos antigos militares das FAA, e, do outro, para dar a perceber que está a projectar a reconciliação com todas as partes angolanas, o que não é verdade"
Tanto assim é, na opinião do antigo cabo guerra de Savimbi, que um dos maiores pendentes do final da conflito armado que opôs os dois maiores partidos angolanos, continua a ser a não integração dos antigos militares do Galo Negro, tudo por falta de “vontade política do MPLA e do Presidente José Eduardo dos Santos”, logo ele não acredita, “que este delicado e sensível problema venha a ser resolvido nos próximos tempos”, estando esta situação a tomar contornos graves, porquanto “ao mesmo tempo que emerge o general Nunda, há generais das ex-FALA que estão a ser despedidos das suas funções” e por isso, acredita “que os acordos feitos com o MPLA foram um fracasso, porque não projectaram a imagem de reconciliação”, daí estar solidário com todos os ex-militares envolvidos no conflito armado. “Todos fazemos parte de um processo político de Angola e parte da mesma população. E é aqui onde quero lançar um alerta ao Governo, para que olhe com mais carinho e responsabilidade em relação a este assunto, que haja a desmobilização e que todos beneficiem dos privilégios que a lei lhes concede”.
Se o governo não tomar em atenção este problema tão sensível, poderá estimular situações descontroladas, porquanto o movimento de contestação de ex-militares está a crescer um pouco por toda a parte, “do Huambo, da Huíla, do Cunene e de outras paragens de Angola, onde ex-militares das FALA, das FAPLA, se indignam, se manifestam para poder reivindicar os seus direitos, face a pouca sensibilidade governamental”.
Em relação a forma como estão a vencer esta situação difícil os ex-militares do Galo Negro, foi categórico: “uma das coisas muito importantes que herdamos da UNITA é a capacidade de adaptação. Adaptamo-nos facilmente, alimentamo-nos e resistimos com pouco. É por isso que a maior parte dos militares da UNITA adaptaram-se muito bem e com pouco, muitos estão a construir casas, a fazer agricultura".

MPLA NÃO CUMPRE ACORDOS
Apesar de ter sido um dos subscritores dos acordos para o fim do conflito, Numa igual a marca registada que o tornou referência obrigatória garante nunca, tal como Savimbi, ter confiado na pureza das negociações entre o seu partido e o governo, por estes não honrarem, nem cumprirem os acordos rubricados. “Desde que estou metido nessas lides nunca vi o MPLA fazer acordos com os outros, chegar ao fim e dizer que os acordos foram cumpridos. Nunca! E eu senti de facto este receio de que possivelmente teria sido mais uma manobra para continuar com o projecto de decapitação da UNITA”.
Quanto a morte do fundador da UNITA, que divide os angolanos, uns a defender ter sido ela, importante para o alcance da paz e desnecessária para outros, por tudo apontar que mais tarde ou mais cedo se iria assinar um acordo, para o fim do conflito e o que aconteceu foi a materialização, por parte do MPLA do seu projecto de aniquilação total do maior adversário de José Eduardo dos Santos, levando este a mobilizar grande parte dos recursos públicos para aquele fim.
“Mas acredito “psicologicamente o país não tinha mais força para poder continuar com guerras durante muito mais tempo e tudo apontava e tenho a firme convicção de ou em 2002 ou mais tardar em 2003 teríamos que fazer mais um acordo, mas com maior controlo e responsabilização, para que não viesse a fracassar”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário