O Presidente do Burkina Faso, Blaise Compaoré enviou no 22.02 um emissário à capital da Guiné-Bissau para pessoalmente falar com o chefe das forças armadas guineenses, António Indjai, sobre o andamento do processo de reforma do sector militar do país.
O general Silvestre Diemberé, chefe do Estado-Maior particular da presidência do Burkina Faso, chegou a Bissau num voo que o trouxe de Ouagadougou e foi directamente para o quartel do Estado-Maior das Forças Armadas guineenses onde se reuniu durante cerca de duas horas com o general António Indjai.
À saída da reunião, acompanhado pelo chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas guineenses, Silvestre Diemberé disse ter-se deslocado à Guiné-Bissau para constatar o andamento do processo da reforma do sector de Defesa e Segurança do país.
Diemberé, que visitou alguns aquartelamentos militares em Bissau, recusou, em declarações a jornalistas, relacionar a sua visita a Bissau com eventuais preocupações do presidente do Burkina Faso com o evoluir da situação política na Guiné-Bissau, Silvestre Diemberé disse que não.
No entanto, fontes militares admitem que Silvestre Diemberé tenha sido enviado à Guiné-Bissau para se inteirar do evoluir da situação política com o aproximar de eleições presidenciais antecipadas marcadas para 18 de Março.
De acordo com as mesmas fontes, Compaoré estaria a partilhar com os demais chefes de Estado da África ocidental "alguma preocupação" com as eleições e desta forma querem saber qual o grau do envolvimento das Forças Armadas para que o processo possa decorrer com tranquilidade.
A Guiné-Bissau realiza eleições presidenciais antecipadas no dia 18 de Março devido à morte do Presidente Malam Bacai Sanhá, vítima de doença, no passado dia 09 de Janeiro, em Paris.
Liga de Direitos Humanos condena espancamento de polícias
A Liga Guineense dos Direitos Humanos condenou no 22.02 de forma enérgica o espancamento de agentes da polícia por militares em frente à sede da Comissão Nacional de Eleições (CNE), quando estes dispersavam uma manifestação de jovens não autorizada.
Em comunicado, a Liga considera ser "repugnante, vergonhoso e inaceitável o ato perpetrado pelos militares, numa clara violação de todas as normas e princípios que presidem à actuação das Forças Armadas que se reclamam republicanas".
No 20.02 um grupo de soldados, armados com espingardas e lança-granadas, espancou alguns elementos do corpo da Policia de Intervenção Rápida (PIR) que estavam a tentar dispersar uma manifestação de jovens diante da sede da CNE em Bissau.
Os jovens, enquadrados por alguns dirigentes de partidos da oposição, reclamavam pelo facto de os seus nomes não constarem nos cadernos eleitorais o que, segundo diziam, fará com que não possam votar nas eleições presidenciais antecipadas de 18 de Março próximo.
Para a Liga dos Direitos Humanos a actuação dos militares visa desestabilizar o processo eleitoral em curso.
"Esta acção dos militares constitui um ato deliberado da hierarquia castrense com objectivos claros de perturbar o processo eleitoral instalando caos e medo generalizado no país", lê-se no comunicado da organização.
Para a Liga, a actuação dos militares "é criminosa" e ainda coloca em causa o relacionamento entre duas instituições armadas o que pode trazer consequências imprevisíveis ao país.
A Liga responsabiliza o chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, general António Indjai, "pelo disfuncionamento da cadeia de comando e da disciplina na classe castrense" e pede ao Tribunal Militar no sentido de abrir um procedimento judicial e criminal contra os autores do "triste acto que afectou de forma lamentável, a imagem e a reputação do Estado" guineense.
Em reacção ao posicionamento da Liga, a direcção da campanha do ex-presidente guineense, Kumba Ialá diz que a organização "não tem moral" para condenar a actuação das Forças Armadas na medida em que aqueles apenas intervieram para evitar os excessos dos polícias que queriam impedir a "manifestação legítima dos jovens".
Para a direcção da campanha de Kumba Ialá, a Liga "não passa de uma organização que actua a soldo do primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior", pelo que, adianta, a sua actuação tem sido caracterizada por parcialidade.
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