terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Vice-presidente decorativo. Nandó humilhado na sua condição de número II


À luz da actual Constituição, art.º131.º, Fernando da Piedade Dias dos Santos é o segundo homem na hierarquia do Executivo, na linha de sucessão natural do Presidente da República, no caso, o cidadão José Eduardo dos Santos.
Neste articulado ainda como segundo homem da lista do partido vencedor, ele é um órgão auxiliar do Presidente da República, reza o n.º1 do 131.º CRA.
Tudo isto é muito bonito no papel, auguram-se tempos de bonança e bom entendimento entre as mais proeminentes cabeças do aparelho de Estado, mas na prática tudo se complica. É uma das principais características da IIIª República de Angola, dizer, «Estamos juntos», assegurar que «Não tem maka» e gerarem-se como o passar do tempo, makas que nunca mais acabam.
Quer isto dizer que, se nos pusermos no lugar que tomou posse Fernando da Piedade Dias dos Santos Nandó, reagiríamos como ele, que, só se fosse santo é que engoliria o sapo que a providência lhe legou ao ver-se relegado a um papel de subalternidade gritante, confinado a dossiês não de um auxiliar do PR, mas de um sub-auxiliar, pois o que aconteceu foi ele ter sido arredado dos grandes planeamentos como se estivesse no lugar de um estagiário que tem de dar provas de capacidade antes de receber dossiês importantes a tratar.
Assim sendo, tendo-se dado ele rapidamente conta da subtil marginalização a que era submetido, pouco faltou para o vermos a agradecer a ditosa benevolência do chefe supremo, quando, como em jeito de recompensa pela sua mansidão lhe foram confiados alguns pelouros sociais de somenos importância.
Os grandes dossiês, esses, permaneciam longe do seu olhar, longe, ou melhor, deles tinha Nandó conhecimento de forma informal, nas reuniões do Conselho de Ministros ou na comunicação social… Economia, Finanças, investimentos e financiamentos externos, não entravam na sua lavra, pois estavam confinadas ao chefe da Casa Civil, Carlos Feijó, Casa Militar Manuel Hélder Vieira Dias, Kopelipa e Manuel Vicente, ex-director geral da Sonangol.
Assim tem sido a sua subalternidade ou calvário de cumprimento obrigatório por dever de disciplina mesmo em desacordo. Mas, o mais grave, parece ser a sua nova situação de subalternidade com o reajuste do aparelho do Executivo, onde Manuel Vicente deu entrada de forma algo teatral, ressuscitando um pelouro que havia sido extinto: Ministro de Estado da Coordenação Económica, sem que isso tenha sido antes debatido em reunião do Conselho de Ministros. Mais um capricho do chefe supremo.
“Nós não tivemos conhecimento do surgimento deste pelouro, depois da saída do camarada Manuel Júnior do governo, pois na altura, o camarada presidente informou-nos da necessidade de aligeirar a máquina do executivo, mas agora o partido não foi consultado sobre a sua reintrodução”, disse ao F8, um membro do Comité Central do MPLA
Ao que parece o executivo não faz contas e quando as presta é a um grupo reduzido, pois tudo se concentra em volta da vontade e discricionariedade do PR.
Mas, como não há bela sem senão, eis que a introdução do novo figurino ou organigrama do executivo, constando na sua estrutura a figura de ministro de Estado para a Coordenação Económica, vem demonstrar a confusão que grassa por aquelas paragens.

E agora, Nandó, quo vadis?
E, de confusão em confusão, neste momento de crise latente, eis que a criação para acomodação de Manuel Vicente espalha a imagem de trapalhada ao não ser extinto o ministério da Economia
Mas a cereja em cima desta espécie de pudim inglês, no meio de uma salgalhada improvisada à pressa, dando a entender que foram negligenciadas estratégias que deveriam ter sido postas em prática já há muito tempo, é incompreensível e descabido desrespeito constitucional, por mais justificativas que surjam, porquanto aos olhos de muitos espectadores da política indígena elas emergirão sempre, se forem avançadas, com o cariz habitual neste tipo de manobras, isto é, esfarrapadas
É que, para cúmulo do sacrifício que pedido a Nandó, agora, Carlos Feijó passa a ser a ponte entre este último e Dos Santos, pois foi esse ministro de Estado foi colocado para analisar os dossiês, poucos antes de seguirem para JES, o que significa que, se antes já era difícil Nando falar com JES, na qualidade de vice-presidente, agora, muito mais será com este artifício funcional do executivo. Quer dizer, Nandó, para entrar em contacto com o presidente da República não chega directo ao gabinete do chefe de Estado, não pode. Tem que passar primeiro pelo “filtro” Feijó
Os grandes dossiers não estão com ele, passam-lhe ao largo e para um vice-presidente, francamente, é uma situação muito delicada.
“Ele já a viver a mesma situação de Marcolino Moco, quando era primeiro-ministro, que quase não era recebido pelo PR”, disse uma fonte governativa do F8.
Imagem: ... ficasse resolvido na última reunião do CC, mas pelos vistos o processo ...
morrodamaianga.blogspot.com

Um comentário:

  1. O Maka e o Aborrecido do Carnaval


    O Maka e o Aborrecido do Carnaval
    observam, o ano inteiro,
    os mascarados do cortejo presidencial
    a roubarem muito dinheiro,
    os que são muito obedientes às ordens do partido
    no discurso que deve ser escrito ou proferido.
    Ninguém mascarou-se de presidente
    para que esse deus não se zangue
    ao ver trajados muitos mil
    mostrando no presente
    as muitas nódoas de sangue
    da guerra civil,
    que o dono do cortejo do carnaval
    tem no seu curriculum pessoal.
    No cortejo, as figuras mais panfletárias
    são a Isabel e a Tchulé, vestidas de empresárias,
    multimilionárias
    com muitos dinheiros herdados dos gamanços,
    muito aplaudidas pelos mansos.
    O rio beiro e o marraças mascararam-se de cronistas
    e seguem no cortejo, muito obedientes,
    convencidos de que são jornalistas,
    pensando serem inteligentes,
    icapazes de escrever sobre a miséria que há
    porque estão proibidos pelo MPLA.
    As maiores atenções
    vão para uma senhora mascarada
    de Presidente da Comissão das Eleições.
    Ela manda nada
    mas é uma figura principal
    para manter o cortejo do carnaval
    presidencial.
    Os ricos e anafados generais
    também vão
    no meio da multidão,
    gritando no megafone
    que todos os problemas sociais
    e a fome
    serão sempre culpa da colonização
    (que contaminou muita gente,
    incluindo o actual presidente).
    E o Maka e o Aborrecido do Carnaval
    observam esses figurantes
    a desfilarem na Avenida Principal,
    cheirando todos muito mal.
    Mas o marraças e o rio beiro
    garantem que é a melhor fragrância ambiental
    o odor a gás do traseiro
    proveniente desse pessoal
    participante no cortejo presidencial.

    António Kaquarta
    http://miradourodoplanalto.blogspot.com

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