quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Escândalo na UGP


As tropelias que se constatam no desempenho de dirigentes responsáveis de quase todas as áreas de administração, jurisdição e trabalho dos diferenciados aparelhos do Estado angolano são em geral visíveis a olho nu. Tanto, que de algumas delas, das tropelias, se poderia dizer que são propositadamente executadas como que para permitir aos seus executores mostrar ao restante povo de Angola que eles fazem parte da elite, da categoria de personalidades “não-humanas” e estão realmente acima de tudo, de todos e de todas as leis e regulamentos.

Mas também existem atropelos e entorses à legislação em vigor que não são visíveis, que escapam aos olhares mais atentos e críticos, como o nosso, que, ao nos integrarmos no que se costuma chamar o 4º poder do Estado, para além do Executivo1, do Executivo 2 e do Executivo 3, por mais esforços que façamos não os conseguimos detectar.

Esses deslizes, por vezes gravíssimos, são os que se encontram ao abrigo dos olhos mais abertos e das orelhas mais indiscretas, são os que estão, como se costuma dizer, no “Segredo dos “deuses”, e acontece que um desses Segredos foi abalroado por uma das nossas fontes mais perspicazes, que nos revelou o que não poderíamos aceitar como sendo possível, não fosse tão fidedigna a personalidade que nos deu a informação do que quase se poderia designar como um “estapafúrdio” caso.

De facto, pensemos bem, quem acreditaria que na super divisão militar denominada Unidade da Guarda Presidencial (UGP), vocacionada e treinada até à exaustão para a protecção física de Sua Excia. O Presidente da República, nesse corpo de elite responsável pela segurança do Palácio Presidencial e da família Dos Santos no seu todo, reina em permanência um ambiente, não diremos descontraído, não é isso, mas pouco formal? E a expressão “pouco formal” é um eufemismo que esconde outra realidade, mais inquietante essa, porque se por aí ficarmos, pela realidade, o que se passa é de certo modo aterrador.

Ao dizermos “aterrador” referimo-nos ao tratamento desleixado que recompensa o trabalho desses servidores do Estado. Queremos dizer que, à qualidade que se deve exigir do serviço prestado por esses centuriões modernos, deveria corresponder um tratamento “especial”. Ora o que acontece está longe, muito longe das nossas expectativas, como vamos ver.

Partindo do princípio de que é impossível esses militares de primeira água terem a mínima possibilidade de executar defeituosamente o seu trabalho, estamos em crer não cometer um erro de premissa que poderia falsear a nossa análise.

Claro que não, pois toda a gente está ao corrente da abnegação e dedicação desses homens à causa patriótica que abraçaram: defender o chefe supremo e a Pátria. Tirando alguns excessos, não só de zelo, mas também de fervor, ou de nervosismo exagerado, certo é que temos de lamentar alguns mortos no decorrer de saídas à rua do presidente da República e da habitual caravana de viaturas que o acompanha, temos o caso “Cherokee” e outras infelicidades, mas o tudo conta-se pelo dedos das mãos. Tudo acidentes.

Orgulho da Nação
A UGP é indiscutivelmente uma unidade de elite, uma brigada de luxo que nos é invejada por todos os países de África e mesmo para além das fronteiras do continente. Por que razão então não estará em consonância com os seus pergaminhos o tratamento que lhes é dado?

Dizer que o mal começa pelas negligências evidenciadas pela própria Casa Militar da Presidência da República, poderia criar um equívoco que gostaríamos de evitar, porque já estamos a ver daqui que nos vão acusar de incitamento à revolta do mais temido destacamento militar de Angola. Portanto, vamos retroceder e aceitar que a culpa não é de ninguém.

Esse retrocesso, porém, não impede que gostaríamos que nos dissessem por que razão os militares que guardam presidente da República não têm documentos. Sim, sim, os estimados leitores leram bem, a UGP tem nos seus quadros milhares de militares sem qualquer tipo de documento.

Não nos seria de todo desagradável arriscar que nos mentissem ao tentar explicar por que raio de cargas d’água esses soldados, capazes de dar a vida pela Pátria, não beneficiam de quartel general em condições, não dispõem de casernas bem mobiladas, com beliches confortáveis e uma ração de combate bem confeccionada. Muitos dormem ao relento, ao que parece.

Enfim, compreendemos mal como é possível num país independente há mais de 32 anos ainda termos que viver esta situação, ver como são tratados “ao deus dará” os homens que protegem o presidente da República. Homens que vêm de longe, do Cunene, da Huíla e do Kuando Kubango, a maior parte deles com poucas letras, isto para nos contentarmos com eufemismos. Chegam à capital, indefesos face aos espertalhões de Luanda, e não vêem que o tratamento de que são objecto é semelhante ao que é dado a pessoas sem eira nem beira, a ponto de se ter chegado ao cúmulo de os salários lhes serem pagos debaixo das árvores, sem assinarem recibos, mas com descontos que devem ir direito para os bolsos dos chefes.

O mal todo é que isso configura não só um crime como um atentado à dignidade humana. E, precisamente porque não queremos incitar à subversão, pedimos que algo seja feito por eles, para que se evitem esses momentos de grande estupefacção do momento que estes homens queiram criar o descontentamento na tropa, e criarem um estado de ânimo capaz de lhes dar vontade de desleixar as suas responsabilidades.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Dia do herói étnico




Como era de esperar o executivo angolano deixou mais uma vez passar a oportunidade par reatar o processo de reconciliação nacional que o extinto governo tinha iniciado em Abril de 2002, quando foi assinado, entre lágrimas de emoção e abraços, o Memorando de Entendimento de Luena a 4 de Abril de 2002.

Como que para não sair da pasmaceira ideológica que se apoderou do “ÉME”, nos círculos próximos dos meios políticos ligados ao aparelho de Estado, continua-se a considerar como verdade de evangelho o que foi metido na cabeça dos angolanos pelo velho Partido do Trabalho (PT), sucessor do heróico Movimento Popular de Libertação de Angola”. Sucessivas massagens e lavagens cerebrais foram providenciadas ao longo destas mais de três décadas de navegação política ao sabor de ventos que as modas da ciência política foram levantando em variados e falíveis “Ismos”, incluindo o “Peixefritismo” do nosso amigo literário Manuel Rui Monteiro.

Assim, ao cair do pano do teatro universal a anunciar o final da primeira década do século XXI, festejamos um dia do herói nacional a 17 de Setembro, exactamente como se estivéssemos em plena euforia marxista-leninista com o seu “Ismo” em moda na década de 1980.

O que nos resta hoje como instituição híbrida de governação, que deveria ser de todos os angolanos, mas apenas é de quem diz ámen ao chefe, fecha os olhos e esquece que está a caminhar para um fosso cada vez maior a separar os muito ricos dos muito pobres, realizou as comemorações centrais em Saurimo num alarde de partidarismo barato que nada tinha a ver com uma comemoração de índole nacional.

O que vimos foi o camarada Pitra Neto, como ministro do Emprego e Segurança Social, a reger as festividades do alto do seu cadeirão, perante uma assembleia de militantes do MPLA vestidos a rigor, numa sala engalanada com todas as cores do partido, a estrelinha a brilhar, fechando-se toda essa gente entre si, num fervor ideológico habitualmente definido como sendo comum a todos os camaradas, mas indefinível, ou mesmo inexistente, vácuo, servindo apenas para separar completamente esses cujos de todo o resto do país. Eles na mó de cima, os outros na mó de baixo.

Foi assim também no Largo 1º de Maio em Luanda, com pioneiros da OPA, da JMPLA, OMA e militantes do MPLA, com Francisca do Espírito Santo a ser a chefe de cerimónias. Festas e cantigas, muita cerveja e alguns dramas causados pelo álcool. Depressa esquecidos, era dia do ÉME.

Em Namibe e em Benguela, mesmo refrão, o do MPLA, tudo o resto tinha desaparecido num deserto de esquecimentos. E na maioria das províncias onde se governa com a visão fechada do MPLA e não com um espírito de missão, onde a unidade e o sentimento de reconciliação deve ser transmitido com actos e não só com palavras, foi a mesma coisa.

Foi realmente assim por toda a parte. A festa do Herói Nacional era a festa de um partido, a festa de várias pessoas que não são, nunca poderão ser Angola por si sós.

Um dia acabarão mesmo por compreender isso, quando deixarem de governar, o que fatalmente acontecerá, mais cedo ou mais tarde.

sábado, 25 de setembro de 2010

Peremptória Ngutuika Josefa Matias (dos Santos) afirma: “Sou filha do cidadão Eduardo dos Santos! Se o ADN provar o contrário prendam-me


A história a que se refere a primeira parte da entrevista que aqui publicamos, é resultado de um pedaço de vida que poderia fazer parte do trajecto da existência de cada um de nós. Fazendo abstracção da verdadeira identidade das pessoas a que ela se refere, não é mais do que um caso nascido dum encontro juvenil aparentemente desencontrado, que se quer reencontrar nos dias de hoje, 46 anos mais tarde, depois de o tempo ter desfilado entre a nascença de um amor a que se seguiu a de uma criança, e a busca, muito tardia, do reconhecimento por parte dessa ex-criança de uma paternidade esquecida.

Willian Tonet & Félix Miranda*

O F8, neste caso, não tomou nenhuma iniciativa. Não foi desta vez que partimos em busca de afrontas à ética, para as denunciar, foi, sim, o afastamento talvez involuntário dessa mesma ética, ditado pelas circunstâncias de uma vida atribulada de guerrilheiro, que aqui está retratado, nesta busca de paternidade por parte de uma mulher que se viu sozinha na vida depois da morte da mãe e do substituto do pai, ambos falecidos no decorrer desta primeira década do século XXI.

Folha 8 – Qual é o seu nome
Josefina Matias - O nome que está registado no meu documento de identidade é Josefina Matias. Matias é o nome do meu padrasto. Mas o nome próprio, como me chamavam a minha mãe, avó e tias é; Ngutuika Josefa dos Santos.

F8 – E a sua mãe como é que se chamava?
JF – A minha mãe chamava-se Elisabeth Kaenje ou Konambanfe, que significa; “a filha do Banfe, que era o nome do pai da minha mãe”.

F8 – Sabe como a sua mãe conheceu, aquele que diz ser seu pai?
JM – O que me contaram é que, a minha mãe, lá no Congo, era amiga de uma prima do pai (Edu) e como los angolanos precisavam de ajuda na sua luta de libertação, então fez amizade com a mamã, que naquela altura já era comerciante que viajava muito. E nesse conhecimento, como ela se chegou a zangar com o meu padrasto, então como estava sozinha ele começou a comer lá em casa e assim se conheceram melhor e a mamã engravidou.

F8 – Então ele não soube?
JM – Soube, mas depois de uns meses, partiu para a URSS, onde foi estudar e se comunicava com a mamã através dos padres.

F8 – E o seu nome quem lhe deu.
JM – A mamã diz que ele antes de partir disse que tinha de me chamar Nguituka Josefa dos Santos, mas como ele depois parou de se ligar com a mamã, então me registaram Josefa Matias (Matias que é apelido do padrasto) e o outro ficou nome verdadeiro mas só de casa.

F8 - O que lhe disseram que fazia o seu pai no Congo?
JM – Me disseram estava a lutar para a independência do país dele e que naquela altura andava sempre por perto do Agostinho Neto naquelas coisa de diplomata (política).

F8 – E mais tarde, o que é que a sua mãe lhe contou sobre o seu pai?
JM – Mais tarde a minha mãe disse que ele um dia vai vir para te reconhecer, porque sabe que te deixou na barriga, mas os anos foram passando e nada, até que um dia ela disse ouviu na rádio o teu pai está no poder, em Angola.

F8 – E nunca tentaram contactar-lhe?
JM – Tentamos, muitas vezes, mas sempre tínhamos barreira, em 1999, a mãe e o meu pai adoptivo, Matias, vieram à Lunda Norte fazer negócio, e tentaram chegar a Luanda mas na Lunda lhes disseram ser perigosos porque o país estava em guerra, podiam lhe matar e que era muito perigoso. Esse foi o grande impedimento nessa altura.

F8 – Diga-nos quando foi a primeira vez que fez investigações para encontrar o seu pai (Edu)?
JM – Depois mesmo disso, então disse, como filha vou lhe procurar, apenas para lhe ver e me registar, para ter pai verdadeiro e desde 2001, que vim para Luanda e a partir de 2007 é que encontrei no bairro Popular, uma sobrinha do pai, dona Eva Gaspar, que me recebeu bem e foi falando da minha situação.

F8 – Porque é que esperou tanto tempo para procurá-lo?
JM – Aconteceu que o meu marido adoeceu desde 2000 e foi muito penoso. Tínhamos muitos problemas, até à sua morte, em 2003. Nós estávamos ainda na Lunda, foi então que depois vim para Luanda…

F8 – Quando foram feitos os primeiros contactos com a família do pai e qual foi a primeira pessoa que encontraram.
JM – A primeira pessoa foi o Kelson, neto da Eva Gaspar, amigio do meu filho Arsénio, depois o Solito, o ti Luís e o avó Gaspar dos Santos, tio do papa (Edu).

F8 – Quem é o Solito?
JM – É o primeiro filho do tio Avelino dos Santos, irmão mais velho do pai (Edu)...

F8 – Onde se encontraram pela primeira vez?
JM – A primeira vez foi ali perto do armazém do Solito, na rua da Brigada, junto ao hospital Américo Boavida e quando falamos o Solito ligou para a tia Marta dos Santos. E depois ela pediu ao Solito para nos levar em Talatona, na casa da falecida avó Isabel dos Santos, outra irmã mais velha do papá.

F8 - E quem é que vos levou ao Solito?.
JM - A família do tio Gaspar dos Santos.

F8 – E depois desses encontros visitaram a casa de mais alguém da família de Dos Santos?
JM – Sim, depois fomos almoçar com a tia Marta dos Santos, na casa dela em Talatona, comemos bom funji, fomos muito bem tratados, sem problemas, eu estava mesmo à vontade.

F8 – E depois deram-lhe alguma ajuda? Você pediu dinheiro?
JM – Não! Eu não estou atrás do dinheiro, mas do reconhecimento de paternidade, principalmente depois da campanha que o MPLA realizou sobre a MORAL e a UNIDADE DA FAMÍLIA.

F8 – Só isso mesmo?
JM – Sim, nunca pedi dinheiro, nunca pedi casa, nem colégio para os meus filhos e eles também nunca me perguntaram se os netos andam na escola, em que classe, se estudam bem ou não… Mas já sabem que eu sou viúva e que vivo com os meus filhos.

F8 – Para além disso nunca lhe convidaram para nenhum outro evento da família?
JM – Já sim, fomos ao óbito da falecida avó Isabel, aí nos Bombeiros, por exemplo..

F8 – Então a família lhe reconhece

JM – Sim! Dos tios não tenho razões de queixa, mas isso não basta preciso de encostar no ombro do pai, sentir orgulho de ser filha e depois se não me quiser aqui, pode me mandar regressar para o Congo…

F8 – Acha que lhe estão a impedir de chegar a quem diz ser seu pai?
JM – Acho que sim. Não acredito que lhe tenham informado bem, pois ele é uma pessoa boa, carinhosa e tem bons princípios. Pelo menos ele sabendo, se calhar me deve escutar, pois não acredito que se tenha esquecido da mamã e da relação que tiveram. Também não vim tirar nada de nenhum meu irmão, quero que eles sejam muito felizes, porque o que busco ao longo destes anos é paternidade. É reconhecimento.

F8 – Porque contactou um advogado. Tem medo de poder ser morta?
JM – Tudo pode acontecer na vida, porque ela depende de Deus, mas existem na terra muitas pessoas más, por isso contactei o Dr. David Mendes e os seus escritórios para me ajudarem nesse caminho, que nunca mais termina…

.Este é o lamento de Nguituka Josefa dos Santos, que em língua Kimbundu, à materna de José Eduardo dos Santos, significa SALTAR. E é um salto para o reconhecimento que ela busca agora. Por esta razão, esqueçamos os nomes. O que aqui reproduzimos é uma pequena parte do que nos foi relatado. Voltaremos nas próximas edições. Sem a mais pequena intenção de melindrar seja quem for. Mas com a firme determinação de assumir as últimas consequências em defesa da verdade, que neste caso preciso até tem um nome próprio: chama-se ADN.

*Com António Setas

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Democracia “Old Fashion”


O camarada Rui Falcão conseguiu sozinho realizar o grande sonho do glorioso MPLA: reunir em seu redor um amplo consenso de muito mais que 82% de descontentes com a sua diatribe de baixíssimo nível, ao denunciar factos imaginários e intenções preconizadas por misteriosos discursos subversivos (não identificados) proferidos repetidas vezes pela Rádio Despertar e pelo presidente da UNITA, Isaías Samakuva. Entre as análises e opiniões que foram expressas por todos órgãos de comunicação social privados e as que nos mesmos foram transformadas em eufemismos de lindo lustre, juntas às que no seio do “ÉME” foram engolidas ou ficaram atravessadas na garganta, um ponto comum há a assinalar: o homem político fez um relatório pormenorizado dos candidatos involuntários a ingratos desempenhos que só cabem a “bodes expiatórios”. Por outro lado, e dada a grosseira forma como o fez, esse senhor tomou os angolanos por uma banda de atrasados mentais, pois nas suas afirmações não há ponta de concreto a retirar e tudo o que ele disse é vazio de pertinência e de sentido. Enfim, valha-nos o facto, a alertar-nos, de esse tristíssimo espectáculo denunciar peremptoriamente que continuamos a ser governados por ex-guerrilheiros.

Mistério do mal do nosso Desporto


O seleccionador dos Palancas Nagras, Hervé Renard, quer bater com a porta. O outro, o responsável dos duplamente pentacampeões de basquetebol de África, Luís Magalhães com a porta quer bater. E o que é triste é que ainda pode haver por aí gente que repita a velha ladainha, «Estes estrangeiros, rabugentos assim, mas qual é a deles!?... Se não estão contentes em Angola, ora essa!, que vão seleccionar para os países deles»1 Esta foi muitas vezes a reacção que mereceram as críticas que nos faziam, quando proferidas por gente de fora. Mas, agir sistematicamente deste modo é um erro. É uma maneira de esconder “peladas” rapando junto à pele o cabelo que nos resta. A verdade a propósito do descontentamento desses dois responsáveis pelas nossas selecções foi muito bem equacionada por um ouvinte da Rádio Antena Comercial (LAC) na sua emissão das quartas-feiras “A sua opinião”, sempre bem manobrada pelo excelente João Armando (tinhamo-lo como possível Prémio Maboque de jornalismo). O dito ouvinte disse: «Quando uma pessoa olha para uma árvore e topa que lá em cima, nos galhos, está uma tartaruga, pergunta como é que ela foi lá ter. E o que nós temos muitas vezes no nosso desporto são “tartarugas” penduradas em “galhos” e ninguém sabe quem as lá pôs, ou como é que elas conseguiram chegar a tão visível patamar».

Temos duas Lemos


Em relação a duas apresentadoras da TPA, Ana Lemos e Manuela Lemos, o Folha preserva uma relação de “amor” e de admiração. Lemos as suas mensagens televisivas com os olhos e a emoção de um irmão que segue de perto as suas carreiras e não há vez que passe sem que nos venha à mente a outra, quando uma delas aparece no ecrã. A Ana é simplesmente a melhor apresentador(a) do Telejornal de Angola, a Manuela, a eterna ternura feita apresentadora de programas, incidentemente na TPA. À Ana só lhe falta o que a Manuela mais tem, aquele encanto quase juvenil de se mostrar timorata diante das câmaras e a sair-se sempre bem, enquanto a esta última, a única coisa que falta é o traquejo que a Ana tem. Assim, juntemos essas duas angolanas de gema numa mesma definição da mulher mais bonita do mundo, a nossa. Elas são a beleza, a força, o saber, o encanto, a ternura e a vontade de bem-fazer (agradar).

A especulação em França


Nós, angolanos, temos a mania, induzida pelo presidente da República numa das suas exibições públicas de encantador de mwangolé, que somos especiais. Em boa verdade, em Angola, como em qualquer parte do mundo, há pessoas especiais, infelizmente a maior parte das vezes mais teria valido que elas não o fossem. Por exemplo, diz-se que uma das nossas especialidades é a de especular. O angolano especula sobre seja o que for e ultimamente essa lamentável especialidade visou o sector do mercado de bens imobiliários, no qual se chegou a ver à venda por 400 mil dólares um imundo apartamento da Avenida Brasil que antes, aqui há uns dois anos atrás, tinha sido proposto a exactamente 35 mil. Mas essa mania de especular não tem nada de angolano, é mundial. O mercado imobiliário da capital francesa, por exemplo, parece não conhecer a palavra "crise". O preço do metro quadrado em Paris ultrapassou a marca de 6.600 euros, um novo recorde histórico. Comprar um apartamento na cidade mais visitada do mundo nunca foi tão caro. Em média, o metro quadrado em Paris custa hoje 6.680 euros, cerca de 8.120 USD. Um aumento de quase 10 % em relação aos preços praticados há um ano. Actualmente, o bairro mais caro de Paris é o 6º arrondissement, conhecido por seus cafés e boutiques de Saint-Germain-des-Prés, na margem esquerda do rio Sena, onde o metro quadrado custa cerca de 13.000 USD.

Economistas franceses apontam as baixas taxas de juros e a tradicional lei da oferta e da procura como as principais razões para o aumento dos preços. Na capital francesa, a oferta é local e a procura mundial, ou seja, um em cada três proprietários de imóveis em Paris não moram na França. Hoje, dependendo do bairro, o número de compradores varia de cinco a dez para cada imóvel à venda. Com um perímetro urbano dez vezes menor do que o da cidade do Rio de Janeiro, Paris não tem mais para onde crescer. Consequência: a classe média francesa tem-se dirigido cada vez mais para a periferia da cidade. Apesar desse aumento, o preço médio do imóvel em Paris ainda é mais barato do que em Londres. A capital inglesa segue no topo da lista, com o metro quadrado custando em média 14.000 USD.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Não nos iludamos, as eleições ainda estão longe, mas a caça às bruxas já começou.


No passado, 12-09.10, o radialista da Rádio Despertar, Alberto Tchakussanga, de 34 anos de idade, foi assassinado na sua casa em Luanda. Um tiro no abdómen. «Mais um crime para engrossar a lista dos casos não esclarecidos? Tudo leva a crer que sim, apenas para não variar, para não quebrar uma preciosa tradição, para valorizar e conservar uma sólida imagem de marca», escreve Wilson Dada.

Anastácio Vianeke, secretário provincial da UNITA no Huambo, acusa o MPLA de ter morto no dia 3 de Agosto de 2010 com pancadaria e à pedrada a Srª. Paulina Chinossole, presidente da LIMA do Mundundu, sector de Calilongue, só pelo facto de ter trazido a camisola da UNITA e um lenço também com o timbre da UNITA. Segundo Anastácio, a dirigente foi morta por dois homens e quando se acompanhou os rastos desses homens, os mesmos foram até à casa do secretário do MPLA nesse mesmo sector de Calilongue.”

Ainda segundo Vieneke, “No mesmo dia à noite (12.09) queimaram a casa do secretário da UNITA daquela área, nesse momento, o secretário está sem casa, sem seus haveres, tudo ficou queimado” lamentou o dirigente” e “no dia a seguir ao assassinato, 4 de Agosto, foram detidos quatro elementos familiares da malograda, sobrinhos, irmãos, detidos pela polícia do Mundundu e consequentemente enviados para a prisão de Ekuma.”

Para completar este quadro, tão pesado em tão pouco tempo, Faustino Muteka «foi acusado de ter orientado as forças armadas angolanas, Polícia Nacional, bem como as autoridades tradicionais e membros do MPLA para a prática de intolerância política. A acusação devia ser alvo de investigação, o que não é o caso de alguns factos graves comprovados, pois desde a vigência do governador, Faustino Muteka, os administradores municipais e comunais não aceitam receber os membros do partido do Galo Negro para saudações, muito menos para conversações e debates. Não nos iludamos, as eleições ainda estão longe, mas a caça às bruxas já começou.

Imagem: morrodamaianga.blogspot.com






segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Governo está a implementar a caça às bruxas. Para sobreviver MPLA precisa reeditar 27 de Maio


A situação económica da nossa Angola está cada vez de melhor saúde, “uma das mais dinâmicas do mundo”, segundo anuncia a TPA, Nacional e Internacional, sustentada por números e gráficos demonstrativos de um crescimento notável, triste eufemismo, um crescimento inacreditável, isso sim, que, desgraçadamente, não vai além dos papéis A4 que habitam no Ministério da Economia. O único problema desses números e gráficos é a realidade.

Willian Tonet & Arlindo Santana

A realidade nua e crua, uma traição indesmentível que os mete a ridículo e por isso quase pode ser considerada como parte integrante de um complot antipatriótico contra a segurança do Estado pelo mau aspecto que tem, a denunciar todo o lado balofo da propaganda governamental cada vez mais parecida com uma constante lavagem de cérebro generalizada.

Trocado em miúdos, a realidade, no dia-a-dia dos cidadãos anónimos, aquela que tem a ver com a condição da dignidade humana, no capítulo alimentar e de saúde, é a vergonha das vergonhas e se tivesse de figurar de algum modo nesses gráficos, seria semelhante a um electrocardiograma de um moribundo, uma linha contínua estendida de fio a pavio na escala ZERO, com poucas variações a sublinhar a existência da esperança, numa negação visual da prosápia dos arautos do regime.

Mas o regime sabe que esse ZERO e as suas insignificantes variações podem ser deslocados, graças à sábia manipulação de ferramentas publicitárias que possibilitam o enevoamento mental da comunidade internacional e dos bajuladores mais hesitantes, nomeadamente na mostra massiva de imagens de belos estádios de futebol, sem as suas fissuras à vista, estradas lindíssimas, com o seu betão como que encerado e lustrado a brilhar ao sol, sem se poder topar os sítios em que ele se vai derretendo, mais estradas com betão lindíssimo e outras “chinesamente” em construção e ou construídas, mas condenadas a “chumbar” por completo no teste da melhor empresa de fiscalização que há no mundo: a chuva. Essa benta água capaz de pôr a nu as fragilidades de construções mal paridas por terem sido feitas à pressa, a expensas mínimas e facturação máxima, graças, passe o paradoxo, a comissões que podem atingir os 30% e mesmo os 50% do custo total da “obra”!


A arma petrolífera
O petróleo, alavanca e arma do regime, está ali, a servir de pau para toda a colher, para todas as eventualidades e necessidades monetárias que permitam fazer esquecer as arbitrariedades cometidas numa fuga para a frente, em detrimento cada vez mais evidente e pronunciado não só dos direitos humanos, mas também das prerrogativas do cidadão comum.

Assim, ao mesmo tempo que se promulgou uma nova constituição sem verdadeira discussão em praça pública, o regime conseguiu com uma cajadada (essa promulgação foi isso mesmo) matar dois “coelhos”:

Um, obter o apoio da comunidade internacional ao apresentar um texto constitucional aceitável e mesmo, em certos aspectos, moderno, embora seja evidente e lamentável, mas invisível para os compradores, negociadores e empreendedores no ramo dos petróleos, que do ponto de vista do sistema de eleições presidenciais, se tenha procedido a um claro retrocesso na liberdade de opções oferecidas aos cidadãos;

Dois, acentuar a pressão sobre todos os adversários políticos ao abrigo da Nova Constituição, a qual permite ao PR governar praticamente sozinho, sem ter que dar satisfações seja a quem for.

Nesta escalada, rumo não a uma democracia, mas sim a um poder absoluto, o que vimos depois da adopção da nova Constituição, foi uma grande agitação nos meios próximos e no seio da corte do Futungo, a ver quem conseguia ser mais “eduardista” do que o presidente. E o resultado final desta consolidação e concentração do poder político nas mãos de um só homem foi o brutal aparecimento duma falange de bajuladores de toda a estirpe, desde os mais finos e sofisticados intelectuais e artistas, até aos homens de mão, justiceiros, capazes de matar quem se aventure a denegrir o nome do chefe de Estado.

Começou a caça
Em Angola, nos dias que correm, observa-se uma série de desencontros entre a realidade e os anseios da população. Esse afastamento deve-se por um lado a erros crassos de governação, a começar pelas habituais fintas de mentirosos compulsivos, que têm alguma autoridade e se permitem fazer o contrário daquilo que anunciaram oito dias antes, por outro, a conjuntura internacional, o arrastar da crise, a dívida angolana, os roubos no BNA e os acontecimentos trágicos em Moçambique, não ajudam de forma alguma a levantar o astral do angolano, mesmo do muadié que conseguiu extrair-se do lamaçal da miséria material que assola cerca de 90% da população deste país, uma das mais importantes economias de África e uma das mais dinâmicas do mundo no papel e na TPA. Isto sem esquecer dois acontecimentos que se deram quase ao mesmo tempo: o aumento de 50% do preço da gasolina e a extinção faseada do Roque Santeiro, praticamente concomitantes com os acontecimentos trágicos ocorridos em Maputo na sequência de uma decisão do governo moçambicano aumentar os preços de produtos de primeira necessidade. Foi um levantamento sangrento dos pobrezinhos, os danados da terra, a lançar sombra sobre o mesmo tipo de política praticado pelo nosso executivo.

MPLA em busca de bodes expiatórios
Comecemos pela gasolina. Ultimamente, o governo anunciou que iria aumentar o preço da gasolina na ordem dos 8 a 10 por cento. Aumentou de 50%! Explicação: é para transformar os subsídios que o Estado paga para o abastecimento de combustível ao país em capital acumulado para obras de monta nos sectores sensíveis da Educação e da Saúde. Vamos esperar, sem esperança… tanto mais que mesmo em caso de o executivo cumprir à risca a sua promessa, o que acontecerá, bem vistas as coisas, é que será o mwangolé contribuinte quem vai pagar esses investimentos de índole social na Saúde e na Educação. Portanto, a verdade é que não há nada a esperar.

Nestas andanças, a inflação, que fatalmente ocorrerá por via deste aumento, já faz parte dos cálculos dos sabichões economistas e já não se chama inflação, passou a ter o nome de aumento momentâneo dos preços. Nisto, também o aumento dos salários da função pública, que rondam os 5,6%, deixou de ser aumento para ser tapa buracos de uma diminuição do poder de compra muito mais importante que cinco e mesmo que 10 ou 15 por cento; sai um decreto a proibir a importação de viaturas com mais de três anos, e camiões com mais de cinco; o preço dos transportes já aumentou e em certos casos os candongueiros pedem 200 kwanzas por uma puxada: os motoristas da TCUL e da Macon governam-se nas primeiras puxadas do dia que vão integralmente para os seus bolsos e para os do cobrador.

Pobres são cada vez mais pobres.
Estamos de facto em face do empobrecimento institucionalizado do povo de Angola, que prossegue malembe malembe. E se em 1977, na altura em que o regime engendrou a falsa intentona, sob a alegação de os homens de Nito Alves estarem a desviar a comida das EMPA’s, hoje que é o mesmo regime que domina todas as EMPAS, quem são, afinal os causadores da desgraça e penúria da maioria do nosso povo? Quem?

Adiante.
A sociedade civil, junta a sua voz de indignação, ante a concentração da riqueza e a privatização do Estado. Os partidos políticos da oposição gritam e clamam aos céus o aumento das dificuldades e discriminações.

A UNITA reúne-se. É preciso fazer qualquer coisa, isto é demais, não podemos ficar calados, temos de agir, resistir protestar…

Mentira.
Não podem. Porque perante a acumulação de nuvens ameaçadoras do descontentamento popular em progressivo estado de incubação – dezenas de milhares de pessoas a sofrer com o encerramento do Roque, a ter que fazer mais de 20 quilómetros e a aguentar a subida de preços dos combustíveis na frequentação diária de engarrafamentos dantescos -, veio de lá Rui Falcão, arauto-chefe do partido do Poder, denunciar fogo posto na fogueira que o seu partido tinha acabado de atear.

O seu discurso, antes de mais nada, absurdo, apenas conseguiu reavivar velhos instintos bélicos de pessoas frustradas, isto sem perder de vista que o seu discurso serviu, como uma luva, de contributo inestimável para a derrocada duma reconciliação nacional já de si em meias-tintas, ao relembrar a nossa trágica guerra civil. Eis o que escrevemos sobre a sua tirada na nossa última edição:

«(…)Referindo-se à UNITA, (Rui Falcão) disse, «Essa gente que nunca fez nada e destruiu o país». Enorme! Mais do que enorme, monstruoso, quando se sabe que noutras ocasiões esse porta-voz pretende estar a favor duma verdadeira reconciliação nacional.

Ouçam bem: “Destruíram o país”(!!!)…

É de bradar aos céus e perguntar quem é que fez a guerra para alcançar a paz? Foi só a UNITA?... Não foi, pois não!? E se não sabem quem foi, perguntem a Marcolino Moco. Ele sabe».

Este foi o nosso grito de indignação, que hoje aqui repetimos. Porque esta frase devia ser motivo e impugnação do seu autor, isso sim, como incitação a actos subversivos e assassinatos de personalidades da oposição.

De resto, os resultados não se fizeram esperar.

Entretanto, o Ministério da Comunicação Social ignorou por completo o drama do nosso colega. E na gala do Prémio Maboque, o silêncio foi feito não em sua honra, mas para esquecer o funesto acontecimento.

domingo, 19 de setembro de 2010

Rapto de cidadão luso em são Tomé e Príncipe. Dos Santos sob pressão internacional poderá sacrificar ministro do Interior



A Presidência de São Tomé e Príncipe e um grupo de advogados, bem como o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, têm estado a desenvolver uma campanha de denúncia contra a postura expansionista e “invasora” dos agentes policiais de Angola, que no final do ano passado, realizaram uma operação relâmpago, considerada de “sequestro” de um cidadão português que se encontrava legalmente no arquipélago, violando dessa forma a soberania de um Estado e o Direito Internacional.

Willian Tonet & Arlindo Santana

O clima de tensão entre os presidentes Fradique de Menezes de São Tomé e Príncipe e José Eduardo dos Santos de Angola, poderá não diminuir, para lá do cinismo político, muito pela pressão e denúncia de advogados são-tomenses, pela forma como o empresário Jorge Manuel dos Santos Oliveira, foi “sequestrado” por agentes da Polícia angolana naquele país da CPLP.

“Um país sério e democrático deve respeitar a soberania e as instituições dos outros países, por mais pequenos que sejam, como é o nosso caso, sob pena de ficar patente que Angola é uma ditadura expansionista, cuja matriz é a desestabilização e invasão de outros Estados soberanos, que não tenham a mesma capacidade militar que a sua”, denunciou ao F8, o advogado de São Tome, A. Manuel António.

Este “desabafo – denúncia” surge numa altura em que Angola assume a presidência da CPLP e se fala do seu empenho em enviar uma força militar de estabilização e organização das forças armadas guineenses.

“A cultura dos angolanos é arrogante, militarista e ainda ligada a uma visão de guerrilheiros comunistas, pois para eles não contam os governos dos outros países, mas os seus amigos dos antigos movimentos de libertação, logo, não têm uma visão de Estado. Por isso, financiaram o MLSTP nas últimas eleições, mas apesar dos milhões de dólares de Angola e de Eduardo dos Santos, os seus aliados perderam redondamente, porque o nosso povo julgou e condenou essa arrogância e interferência do partido MPLA, já há muito tempo a desgastar-se no poder em Luanda”, disse a nossa fonte.

Tudo isso, na sequência de aventuras económico-financeiras já de si rocambolescas, entre Mello Xavier e um dos seus mais importantes quadros superiores, Jorge dos Santos de Oliveira, num desentendimento que trouxe à praça pública a lavagem de muitas engenharias, qual delas a mais danosa e dolosa, contra os interesses do Estado angolano.

“O rapto do Jorge Oliveira visa tentar esconder o envolvimento de altas figuras angolanas em negócios sujos, realizados com o senhor deputado do MPLA, Melo Xavier. Como se pode entender, que este senhor tenha vendido ao Ministério do Interior camiões Kamaz da Rússia, avaliados já com a comissão em 12 milhões de dólares, mas não se sabe como aumentaram o seu valor em 100%, emitindo uma factura de 24 milhões de dólares, que foram pagos e que são do conhecimento do Jorge”, disse um dos causídicos que o defende.

Verdade ou não, o que é certo é que o seu antigo boss angolano, indignadíssimo, acabou por o impugnar, “não junto às barras dos tribunais, por vias lícitas, mas optando por silenciar o homem pela força da manipulação, para assim esconder os segredos que ele detém sobre um enriquecimento ilícito e “esquemático”, que lesou gravemente os cofres do Estado angolano, “com a maior das impunidades e cumplicidades”.

Diante deste quadro ameaçador, o homem sentiu saudades de Portugal, sua terra natal, girou e partiu. Por aí ficou um par de anos e voltou passados uns anos, em 2009, não a Angola, não fosse o diabo tecê-las, mas por perto se ficou. Deu uma saltada a São Tomé. Infelizmente para ele, o “mafarrico” era lá que estava. À sua espera.

O cidadão português Jorge Oliveira foi preso, atentemos, por agentes policiais angolanos, naquele pequeno paraíso terrestre, sem perceber bem porquê. Tiveram que lhe explicar.

- “O senhor lembra-se daquele dinheiro que havia nos cofres do seu patrão, o empresário e deputado do MPLA, camarada Mello Xavier?...
- “Não me lembro do que estão a falar…
- “Não? Bom, uma queixa-crime foi depositada contra si e temos que levá-lo”.
- “Para onde?” teria perguntado Jorge Oliveira.
- “Para Luanda, meu amigo, para Luanda”.
- “Mas estamos em São Tomé !”.
- “Não faz mal, temos avião”.

Estava consumado o rapto, ilegal, pois se havia um Mandado de Captura, este não tinha validade internacional por não percorrer os requisitos, mais a mais por o visado estar legalmente noutro país.

“Nós não recebemos, nem oficial, nem oficiosamente, nenhuma carta rogatória de Angola solicitando diligências para interrogatório ou extradição do cidadão português. Fomos apenas surpreendidos, horas depois da invasão dos angolanos, com a informação desta deselegante e grave situação, como se fossemos uma colónia de Angola”, explicou ao F8, um juiz do Tribunal de São Tomé

Ao que parece, não havia um compromisso com a lei, mas com a força, e por esta razão já havia no aeroporto são-tomense um avião à espera do Sr. Oliveira, uma nave ligeira fretada ou propriedade do empresário - deputado do MPLA, Mello Xavier, “com um falso plano de voo, pois enganaram, também, os serviços de navegação aérea angolana”.

Como depois ficou provado, os polícias eram angolanos, afectos à Investigação Criminal e a operação, segundo consta teria sido gizada, previamente, no gabinete do ministro do Interior de Angola, general Ngongo, considerado, por muitos, sócio de Mello Xavier ou seu protector.

Repetimos, o alegado crime de que é acusado Jorge Oliveira não tinha sido objecto de nenhum pedido de intervenção da Interpol. E por mais explicações que lhe fossem dadas, o refém não podia compreender o sequestro de que era vítima, sendo este o termo exacto, vítima, pois nada lhe podia ser apontado como crime cometido em São Tomé e Príncipe.

Estamos em crer que esta operação tipo “James Bond” em caso algum possa ser avançada como abonatória dos nossos serviços de policiamento e defesa do território, por mais secretos que sejam.

Senão, resumindo o que se passou, repare-se:

1 – O senhor Jorge Oliveira teria roubado Mello Xavier, uns 100 mil dólares (se não roubou, tentou).
2 – Mello Xavier roubou o Estado (se não roubou, tentou).
3 – Jorge Oliveira fugiu.
4 - Mello ficou em Luanda a passear nos seus jipes e a arriscar a vida no seu helicóptero e avionetas podres. Intocável, em todo o caso. Deus é grande.
5 – Jorge Oliveira vai a São Tomé e é preso por polícias angolanos.
6 - Mello Xavier pega no seu telemóvel, telefona à Polícia e fica a saber que o seu ex-colaborador está a ferros. Agradece, talvez dê uma “gasosa”. Apesar de sobre ele pesar a acusação de ter desviado 12 milhões de dólares ao Estado angolano, tendo passado em sítio lindo o Réveillon, talvez no Mussulo!
7 – Jorge Oliveira continua ilegalmente detido em Viana, em todo o caso na prisão, como resgate duma inacreditável prepotência, “Made in Angola”.

Não há comentários a fazer sobre este tipo de situações. De facto, em Angola uns podem tudo, outros não podem nada. E quando dizemos podem, referimo-nos a desmandos. Numa palavra parece não haver leis em Angola, nem direito, só há directivas.

A retrospectiva deste caso de prepotência e ladroagem de fato e gravata era indispensável fazê-la para compreender os desenvolvimentos que dele advieram recentemente.

Dos Santos último a saber desta trama vergonhosa

Segundo informações de fonte segura as autoridades de São Tomé e Príncipe, assim como as de Portugal, têm pressionado e denunciado, com maior intensidade em fóruns diplomáticos internacionais, a postura “guerreira e invasora” das tropas policiais de Angola, que, no caso vertente, a um dado período do ano passado, 2009, entraram em jeito de assalto no arquipélago de São Tomé e sem qualquer mandado judicial, nem tão-pouco uma decisão de um tribunal sobre sentença de extradição. Raptaram o cidadão português Jorge Manuel dos Santos Oliveira, antigo gestor de Melo Xavier, na altura dos factos deputado da bancada parlamentar do MPLA. E ponto final.

A forma muito arriscada como esse homem foi preso, à margem de todas as leis, visava, segundo algumas fontes, ocultar o envolvimento de altas patentes do Ministério do Interior com o antigo deputado, Mello Xavier, deixando supor uma cumplicidade do governo são-tomense. Assim, não admira que, ao tomar conhecimento do acontecido, o Presidente Fradique não tivesse gostado da brincadeira. Por seu lado, Dos Santos ainda gostou menos, pois só teve conhecimento do caso por essa via, num desabafo.

Uma outra versão, no entanto, veiculada por outra fonte do F8, garantiu ter Dos Santos manifestado o seu desagrado, na última reunião do Bureau Político do MPLA, nos seguintes termos: “Já nem na Polícia ou Segurança do meu país posso confiar, pois foi a minha mulher que teve de me informar este comportamento, que era do meu total desconhecimento”.

E se assim é, o desagrado ainda devia ter sido maior, pois esses polícias na golanos armados em “james bondezitos” tinham andado a brincar com o nome e a reputação de Angola e do Presidente da República. Isto sem se poder esconder que este, e, estamos em crer, muitos, mas mesmo muitos outros casos lhe teriam sido escondidos e continuarão a sê-lo. É já uma tradição do “ÉME”, desde o tempo de “Manguxe” Uanhenga Xitu sabe do que estamos a falar, ele que o diga.

Com base nessa informação, como era de esperar uma onda de solidariedade rodeou Dos Santos, enquanto uma outra, de condenação, apontava baterias contra Leal Monteiro Ngongo, ministro do Interior, José Cerqueira, Director da DNIC e ainda do procurador que legalizou esta rocambolesca aventura.

“Na minha opinião estes camaradas devem ser demitidos, pois estão a manchar o nome do camarada presidente José Eduardo dos Santos, que ,coitado, não sabia, nem lhe informaram, do país e do MPLA, por ser grave a situação, principalmente agora que assumimos a presidência da CPLP”, confidenciou ao F8, um membro do comité central do MPLA, que por razões óbvias solicitou o anonimato, acrescentando ainda o facto de “ter sido mesmo uma invasão e rapto, pois ficamos a saber que este cidadão português veio sem nenhum documento pessoal, logo entrou ilegalmente em Angola, e isso é grave, pois não se trata de uma questão de Estado, mas de negócios particulares, que deveriam ser resolvidos em tribunal. Agora desta forma é muito grave e se eu tivesse poder de decisão exonerava imediatamente toda a direcção do Ministério do Interior e mandaria investigar todos os pagamentos feitos pelo Estado ao camarada Mello Xavier”.

O investigador presidencial
Apresentando-se deste modo a realidade, foi ordenada a abertura duma investigação por quem de direito, um personagem fantástico, angolano, que não se parece com ninguém e pode fazer tudo. O dito cujo mandou investigar a sequência de procedimentos que ocasionaram um tão inesperado e ao mesmo tempo previsível lesa-majestade na pessoa de Sua Excia. Portugal tinha manifestado por via diplomática o seu descontentamento e a Presidência da República de Angola mostrado o seu desagrado. Países irmãos é assim, sempre em consonância.

Os resultados de todas as investigações sobre este complicado caso parecem, até agora, nulos, por uns continuarem a confundir o Estado angolano com o MPLA, tal como os seus símbolos. Pouca sorte!

No entanto, um grande número de advogados de São Tomé, não se conformam com tantas arbitrariedades a lesar a lei e um Estado de direito democrático, e por ora estão a fazer uma campanha internacional, denunciando a postura musculada das forças armadas e policiais angolanas, por eles consideradas, “peritas especializadas na destabilização da democracia, não só do seu próprio país, como de outros países da região”.

Uma tradição. Que não é ancestral, mas a que a produção de petróleo não está alheia.

O “Porquê” e o “Como” dos Estados Kimbundu


A história dos Kimbundu mostra que, fossem quais fossem as tendências estruturais que incitavam as pessoas a criar estruturas políticas, foram, antes do mais, circunstâncias históricas não estruturais que determinaram, dentre a miríade de instituições transversais, as que cresceram, se desenvolveram e duraram o tempo suficiente para poderem mais tarde serem consideradas um Estado.

António Setas

Sem dúvida mais de um factor promoveu o crescimento de cada um dos reinos, e por isso convém fazer uma classificação dos diferentes tipos de circunstâncias históricas que foram importantes para a sua formação. Relembramos aqui que, na edição da semana passada enumeramos os principais motivos que estiveram na origem da criação de condições para que se constituíssem os Estados objectos deste estudo. Hoje vamos analisar mais de perto outros aspectos relacionados com o mesmo assunto.

Os Estados Kimbundu segundo um outro critério
1) Estados primários, que surgiram através da conversão, ou evolução de uma instituição política local, como o kilombo e o ngola. Estes Estados distinguem-se por se basearem em grande medida nas práticas e ideias locais e podem, por essa razão, ser excepcionalmente estáveis e duradouros.

2)Estados secundários, tais como o ndala kisua dos Mbondo, originado por secessões a partir de Estados mais antigos. Estes Estados, se quisessem sobreviver tinham que adaptar as suas instituições originais, oriundas de um reino que agora lhes era estranho, às novas circunstâncias locais. Um outro exemplo é dado pelos títulos makota que fugiram do kulaxingo em 1619 para abraçar as instituições e ideias Tumundongo.

3)Estados fundados independentemente de controlo exterior, mas imitando instituições presentes nas redondezas. Este processo, conhecido dos antropólogos por “difusão de estímulo” explica, possivelmente, parte da história dos sucessivos Estados baseados no kinguri a leste do Kwango. Também se pode aplicar à formação de alguns bandos Mbangala que apareceram mais para oeste, nos finais do séc. XVI e princípios do séc. XVII. Subsiste no entanto uma certa dificuldade para distinguir a “difusão de estímulo” teórica de uma possível extensão de uma estrutura estatal já existente, feita através de concessões de títulos políticos de uma a outra linhagem dos Tumundongo.

Enfim, temos o método baseado em temas conceptuais que parece terem-se repetido em muitos dos casos analisados entre os Kimbundu. Abordaremos três: o “de fora”, a importância dos recursos humanos e a função do rei como árbitro.

1)“Estranho”, pessoa “de fora” (outsider). Para os Kimbundu, apenas as pessoas ligadas pelo parentesco estavam aptas a ser “de dentro”. As estruturas políticas Kimbundu eram, por definição, organizações que estruturavam o relacionamento entre estranhos, ou seja, não-parentes. Os próprios reis Kimbundu eram “estranhos”(outsiders) apartados dos seus grupos de filiação por cerimónias iniciáticas, que os colocam acima delas. Eles detinham o monopólio do poder no que se refere à autoridade exercida sobre as pessoas que se viam umas às outras como “estranhas”, mas não podiam interferir no funcionamento interno das instituições constituintes dos seus Estados., no caso dos Kimbundu as linhagens.

2)Os recursos humanos disponíveis. A defeito de tecnologia, de escrita e de outros meios tecnológicas avançados e eficazes, o número de aderentes ao rei desempenhava uma importantíssima parte no bom desempenho do monarca.

3)A função do rei como árbitro. Dada a complexidade das linhagens e a constante interferência de instituições transversais no desenvolvimento das sociedades Kimbundu, o facto de o rei ocupar uma posição nos limbos, acima de todas as linhagens, dava-lhe a autoridade necessária para interferir como “árbitro”

Pode-se concluir deste breve resumo dos mecanismos de tomada do Poder, que a história política dos Kimbundu foi a história das “pessoas de fora”, os reis, numa sequência de tentativas de alargar a sua autoridade sobre as relações entre pessoas que eram, pelas suas origens, estranhas entre elas. E as tradições Kimbundu confirmam, metaforicamente, que as coisas se passaram deste modo, ao atribuírem unanimemente a fundação do Estado a caçadores e conquistadores “de fora”, como Ngola Inene, Cibinda Ilunga, e outros.

Por outro lado, as sociedades bantu, e a dos Kimbundu em particular, não eram letradas, nem tecnológicas, e quando os Europeus chegaram a África puderam formar Estados e alargar a sua hegemonia política, aplicando técnicas administrativas e militares até essa data, evidentemente, inacessíveis aos autóctones, que só podiam erguer Estados pura e simplesmente baseados na quantidade de gente predisposta a ajudar uma elite no alcance desse objectivo. Daí a importância crucial do número absoluto de elementos da população na formação dos Estados, de que adveio a importante posição dos escravos no coração de muitos reinos Kimbundu (ver a espantosa eficácia dos Imbangala).

Enfim, o preponderante papel do rei , como “pessoa de fora”, colocava todos os seus súbditos, sem excepção, na condição de realmente submetidos a uma autoridade com poderes sobrenaturais, de que todos eles, “filhos” de um pai potentíssimo, necessitavam, o que afasta a necessidade de conquista por parte do rei, para explicar a razão que levou essas pessoas a assumir uma posição subordinada em relação ao monarca, fosse ele qual fosse. A sua simples função de arbitragem, a sua neutralidade outorgada pelo estatuto de “rei de fora” (outsider), apoiava a sua reputação ser o único árbitro capaz de oferecer um julgamento imparcial.

Paulino dos Santos no “Show-Bizz”


São cada vez mais numerosos os artistas, e não artistas, que se lançam na aventura da produção musical. Levados por um pretenso talento, muitas vezes ao colo dos mais-velhos do ª”show-bizz”, muitos deles abandonam a empreitada durante o caminho, e, no fundo, quantos, num total de 100 aparições no mercado, conseguem singrar e levar avante até ao sucesso final os seus projectos de notoriedade? Poucos, muito poucos. Um dos últimos cantores que apareceu no mercado angolano foi o filho do presidente Eduardo dos Santos, Paulino, que ousou ultrapassar as teias de aranha que envolvem o seu patronímico e se lançou de peito avante nessa aventura. Pelo que sabemos, as reacções ao seu gesto ficaram-se por timoratas considerações e ao nosso conhecimento não chegou nenhuma avaliação franca e claramente positiva. Pois muito bem, se não estivermos em erro no que acabámos de escrever, temos muito gosto em ser os primeiros a assegurar que a música de Paulino dos Santos é simplesmente boa. O problema é o nome. Toda a gente vê nessa empreitada artística mais uma espécie de benesse presidencial, com um Zédu armado em produtor artístico(!?)… O Paulino não precisa nada disso. E depois, digamos entre nós, ele que se deixe de apelidos artísticos. Que cante, que cante, gostamos muito de ouvir o que ele canta e a maneira como o faz.

A denúncia de Severino no “Kixiquila”


O Folha 8 já mais de uma vez se insurgiu contra algumas das posições assumidas e outros actos concretos de José Severino, presidente da Associação Industrial Angolana (AIA), nomeadamente aquando de uma eleição em que esse ilustre personagem tinha puxado brasas a mais para as suas sardinhas e nós tínhamos denunciado o caso, não sem cometer um erro crasso, prontamente denunciados, com pertinência, por carta que nos foi então enviada pelo próprio indigitado Severino. Desta vez vimo-lo a exibir na emissão de economia do Canal 2, “Kixiquila”, a sua clara visão da paisagem económica angolana, dando mostras, mais uma vez, da sua fina e profunda capacidade de «análise, muito superior à média. Temos de confessar que o que mais nos agradou foi esse dirigente ter denunciado sem denunciar, em jeito de asserção didáctica, o falacioso aproveitamento feito pela propaganda do Futungo a respeito dos dois dígitos de crescimento económico de Angola, denunciado no nosso “A Quente” da semana passada, de facto uma estúpida e grosseira mentira, divulgada sob a égide do Executivo com o desditoso intuito de enganar os angolanos.

Combustíveis e o aumento de 50%


A subida do preço da gasolina e do gasóleo obedeceu, como de costume, à manifestação do que pode verdadeiramente ser considerado como uma doença endémica do actual “governo” do MPLA: o recurso sistemático à mentira compulsiva como método de governação. Em menos de oito dias, o augurado aumento do preço dos combustíveis passou, como que por encanto de um “Abracadabra” de ficcionista, dos 8 a 10 porcento anunciados, para, desculpem o pouco, 50%!!! reais. Um verdadeiro prodígio de anti-ciência política, normalíssimo em Angola dada a mediocridade política, e moral, de muitos dos nossos homens políticos, em geral caídos de céu, quase sempre aos trambolhões, amarrados a um pára-quedas fornecido pelo partido no poder. Assim sendo, das duas uma, ou a mentira foi organizada, o que parece ser impossível dada a reputação de pessoa de bem que o “governo” aufere, ou não foi, e ninguém, até ao clari-evidente e falacioso pronunciamento do Executivo, conseguiu adivinhar de onde vinha tamanha disparidade entre o anúncio do aumento desses preços e a sua efectivação final: ora essa, na afectação das verbas suplementares em patrocínio de empreitadas nos sectores da Saúde e Agricultura. Será que somos obrigados a acreditar?...

O espírito científico do general


A propósito do prémio sem nome que foi atribuído ao presidente Eduardo dos Santos pela União dos Escritores Afro-Asiáticos (UEAA) tivemos o privilégio de ler um texto laudativo ao nosso PR, escrito pela mão do general Zé Maria, e ainda por cima, ó surpresa, de índole científica. Para começar esta abordagem, um ponto prévio: o referido texto, publicado no club-k, não está mal afivelado. Evidentemente que o seu teor está embebido em pomada resplandecente e profundamente marcado por uma miopia incurável, mas tem o seu mérito, por divulgar uma opinião contrária à nossa, fazendo valer um pertinente suporte nos mais de 5 mil escritores que fazem parte da UEAA, não obstante se fique sem saber quantos é que votaram pelo dito prémio. Por outro lado, entre o que não foi dito e o que está escrito, salientamos a prosápia espampanante e de gosto contestável da frase introdutória de Zé Maria , aludindo à “hermenêutica semântica dos seus conteúdos”, que nos induz a “uma relação intrínseca” (tanto palavrão para quê?); mais adiante lemos a palavra “Seu”, depois a palavra “Pessoa”, ambas com maiúscula, elevando a figura do presidente para o patamar das divindades, ou, pelo menos, dos seres da mitologia histórica, "não-humanos"; enfim, a análise é curiosa, mas, vindo de quem vem, a sua relevância é nula. Contudo, constitui um belo ponto marcado pelo general Zé Maria no “Ranking” da bajulação nacional. Parabéns, general.

Kadafi e o fim da “picada”



O líder líbio, Muammar Kadhafi, quer que a União Europeia lhe pague cinco mil milhões de euros anuais para “parar” a imigração clandestina e evitar uma Europa “negra”. As declarações foram feitas numa cerimónia com o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, que não comentou a proposta de Muammar Kadhafi nem a sua afirmação de que esta seria defendida junto das instâncias europeias pela Itália. Para Khadafi, aceitar a exigência líbia é do interesse da Europa, senão “amanhã, com o avanço de milhões de imigrantes, poderá tornar-se África”. O chefe de Estado líbio visitou a Itália para festejar o tratado de amizade italo-líbio, assinado há dois anos para acabar com o contencioso colonial. A Líbia “é a porta de entrada da imigração não desejada”, que deve ser “parada nas fronteiras líbias”, disse Khadafi. O líder líbio acrescentou que “talvez amanhã a Europa não seja mais europeia”, prevendo que venha a ser “negra, porque eles [africanos] são milhões a querer vir”. E qualificou estes movimentos migratórios como “coisa muito perigosa”. “Não sabemos o que ocorrerá, qual será a reação dos europeus brancos e cristãos face a este fluxo de africanos esfomeados e não instruídos”, alertou, para acrescentar: “Não sabemos se a Europa continuará a ser um continente avançado ou se será destruído, como aconteceu com as invasões bárbaras.”

Berlusconi e o fim da “picada”

O tratado entre a Itália e a Líbia prevê a devolução para a Líbia dos migrantes clandestinos que procuram atingir as costas italianas, bem como o investimento italiano de cinco mil milhões de euros, como reparação pela colonização, nomeadamente na construção de uma autoestrada com 1700 quilómetros no litoral líbio. Segundo Berlusconi, graças ao tratado bilateral e à devolução dos migrantes, a Itália contribuiu para “contrariar com sucesso o tráfico dos clandestinos de África para a Europa, controlado pelas organizações criminosas”. O chefe do governo italiano não respondeu, porém, às organizações de defesa dos direitos humanos que se inquietam regularmente sobre o destino dos migrantes devolvidos à Líbia. “É uma vantagem para todos se as relações entre a Itália e a Líbia mudaram. Quem não o compreende pertence ao passado e é prisioneiro de esquemas ultrapassados”, vincou Berlusconi. Pela sua parte, Kadhafi convidou os líbios com recursos a investirem em Itália: “Também há uma imigração desejada. Convido os líbios com dinheiro a virem investir em Itália.” Segundo o dirigente líbio, Berlusconi emocionou-se ao inaugurar, na segunda-feira, uma exposição fotográfica sobre a história das relações entre a Líbia e a antiga potência colonial italiana.

Resumindo: «Quando bate a onde, quem sofre é o mexilhão».

A MULHER IDEAL


A Mulher ideal...
É aquela que é maravilhosa acima de tudo.
Que pode com um sorriso provocar amor e felicidade.

A Mulher ideal...
É aquela que é simples por natureza.
Que pode explanar com simples gestos toda a sua feminilidade e grandeza.

A Mulher ideal...
É aquela que sabe como ninguém entender os sinais do amado antevendo lhe os movimentos estando sempre ao seu lado.

A Mulher ideal...
É aquela que não seja perfeita, pois somente Deus o é, mas que busque a perfeição em todos os seus gestos.

A Mulher ideal...
É aquela que mostra a sua beleza todos os dias, como no primeiro encontro.
Fazendo dos momentos com o seu amado um eterno reencontro.

A Mulher ideal...
É aquela que mesmo com o passar dos anos, tenha sempre o sorriso de menina, pois o enrugar da pele é ínfimo perante a alma feminina.

A Mulher ideal...
É aquela que se apresenta perante a sociedade como a mais formosa dama.
Mas quando na intimidade partilhe todos os segredos.

Enfim, a Mulher ideal...
É aquela que mesmo não sendo Deusa, sabe como ninguém trazer um pedacinho do céu.

Lazerando. Terapia do elogio



Renomados terapeutas que trabalham com famílias, divulgaram uma recente pesquisa onde se nota que os membros das famílias estão cada vez mais frios, mais distantes, não existe mais carinho, não valorizam mais as qualidades, só se ouvem críticas.
As pessoas estão cada vez mais intolerantes e se desgastam valorizando os defeitos dos outros.
Por isso, os relacionamentos de hoje não duram.

Arthur Nogueira (Psicólogo)

A ausência de elogio está cada vez mais presente nas famílias de média e alta renda. Não vemos mais homens elogiando suas mulheres ou vice-versa, não vemos chefes elogiando o trabalho de seus subordinados, não vemos mais pais e filhos se elogiando; amigos, etc.

Só vemos pessoas fúteis valorizando artistas, cantores, pessoas que usam a imagem para ganhar dinheiro e que, por conseqüência são pessoas que tem a obrigação de cuidar do corpo, do rosto.
Essa ausência de elogio tem afetado muito as famílias.
A falta de diálogo em seus lares, o excesso de orgulho impede que as pessoas digam o que sentem e levam essa carência para dentro dos consultórios.

Acabam com seus casamentos, acabam procurando em outras pessoas o que não conseguem dentro de casa.
Vamos começar a valorizar nossas famílias, amigos, alunos, subordinados. Vamos elogiar o bom profissional, a boa atitude, a ética, a beleza de nossos parceiros ou nossas parceiras, o comportamento de nossos filhos.
Vamos observar o que as pessoas gostam. O bom profissional gosta de ser reconhecido, o bom filho gosta de ser reconhecido, o bom pai ou a boa mãe gostam de ser reconhecidos, o bom amigo quer se sentir querido, a boa dona de casa valorizada, a mulher que
se cuida, o homem que se cuida, enfim vivemos numa sociedade em que um precisa do outro; é impossível um homem viver sozinho, e os elogios são a motivação na vida de qualquer pessoa.

CRÓNICA. Sobre as pesquisas de opinião


No programa “Pra quem você tira o chapéu?”, de Raul Gil, Kajuru comentou que não conhecia ninguém que tivesse participado de alguma pesquisa de opinião, dessas constantemente divulgadas sobre as preferências dos eleitores. Perguntou à platéia, pedindo que levantasse a mão quem já houvesse sido consultado, alguma vez na vida. Ninguém levantou o braço. Kajuru é o nome popularmente utilizado por um jornalista, cronista esportivo e ex-apresentador de TV brasileiro, que mantém um blog na internet, às vezes censurado (segundo ele). Em seu blog, soube que, anteriormente, ele tinha um programa de TV, do qual se demitiu, por motivos de censura.

Marta Fernandes de Sousa Costa
www.martasousacosta,com

O vídeo de Kajuru, questionando a validade das pesquisas eleitorais, circula na internt, de computador em computador. Muitos vídeos e informações circulam, tirando o sono dos mais ajuizados. “Uma mentira repetida mil vezes se transforma em verdade”, alertam as mensagens, cujo poder é relativo, pois em geral elas circulam somente entre pessoas com a mesma linha de pensamento. Pessoas que querem conservar o seu poder de pensar, decidir e falar; que não querem ser caladas, por decretos ou ameaças.

Mentiras repetidas se transformam em verdade, como comprova a história, onde dificilmente podemos ter certeza sobre a veracidade daquilo que aprendemos nos livros. Cada um enfeita a história do jeito que lhe convém. Inclusive, vencedores costumam se colocar no papel de heróis, em suas narrativas. E a gente hoje lê uma coisa, amanhã um desmentido, o fato ontem sabido já não é bem assim. Acreditar em quem, se todos querem sair bem na foto?

Na vida pessoal, conhecemos personagens que aparentam idoneidade, sinceridade, correção e o tempo mostra a sua outra face. Somos penalizados, algumas vezes, por esses enganos de julgamento. Há certo pudor, nas pessoas realmente idôneas, em desmascarar aqueles por quem foram prejudicados ou ludibriados, propositalmente. Ao mesmo tempo, inclusive pelo propósito de se defenderem, os outros não têm pudor em alardear falsidades, desde que consigam arranhar a imagem do seu desafeto. Por isso, continuamos tratando com o maior respeito e dando oportunidade a pessoas que não merecem.

Mas, se isso ocorre na vida pessoal, não deveria ocorrer na vida pública. Na escolha dos candidatos a cargos políticos, por exemplo, precisamos ser mais seletivos, pesquisar sobre a vida pregressa de cada candidato, o que ele fez ou deixou de fazer, a sua linha de pensamento, as coligações que faz, para se manter atrelado ao poder. Conhecer os seus princípios, na verdade.

Quando se trata de candidato a reeleição, a tarefa se torna mais fácil, porque se teve a oportunidade de acompanhar o trabalho desenvolvido. Se foi leal às promessas de campanha, parceiro nas horas em que a sua presença fez a diferença, interessado nos problemas da região, do estado ou do país, é hora de mostrar reconhecimento e apoio, através do voto. Se não correspondeu ao que se esperava dele, a mudança será benéfica.

O problema maior são os candidatos sem passado de administração na área pública, pois é impossível saber o que esperar deles. O poder muda a maioria das pessoas. Algumas podem se tornar perigosas, quando se vêem com a caneta na mão e o poder de decidir destinos. Nossos destinos. Por isso, nesse momento da vida nacional, precisamos estar atentos e pesquisar, não só em jornais, que podem ser sujeitos à censura, mas também na internet, mais rápida em divulgar o que não interessa a alguns que seja divulgado. Depois, votar de acordo com nossos princípios. E, para quem for crente, rezar pode ser uma boa idéia.

Educação e ciência. Director provincial da educação da Lunda Norte desobedece o Presidente da República


Consumada a vitória do MPLA nas eleições de 2008, O Presidente da República, José Eduardo dos Santos, num gesto de reconhecimento a todas as forças vivas que directa ou indirectamente participaram na difusão do seu programa eleitoral, que consumou-se com a vitória no pleito, não se retraiu ao agradecer com particularidade entre muitas, as associações sindicais e empresariais, sugerindo ao Governo, um melhor relacionamento com os parceiros sociais. Puro embuste, para muitos governantes o Presidente da República, nesse discurso, dirigiu-se apenas para os servidores públicos de Luanda. Ou haverá orientações não escritas, bem ao estilo “Anti Dühring”!

Manuel Fernando*

Na última semana de Maio fomos surpreendidos pela imprensa, com particular realce à Ecclésia e a Rádio provincial da Lunda Norte, com a movimentação do aparato ‘paramilitar’, para impedir a realização de uma simples Assembleia de Renovação Provincial de um sindicato, já legalizado e reconhecido dentro e além fronteiras. A nossa curiosidade moveu-nos a investigar sobre a essência do que se passara, eis que, mesmo tendo encontrado constrangimentos para averiguar a verdade, constou-nos que a arrogância e o abuso de poder de alguns governantes da Lunda Norte constituem um perigo para a anunciada Lei da Probidade Administrativa e, fundamentalmente para os cofres do Estado, de cujas provas documentais estamos no encalço.

Se estamos recordados, o SINPROF foi a primeira organização sindical que publicamente e com cobertura até da Televisão Pública de Angola, manifestou o seu apoio ao programa eleitoral do MPLA, seguindo-se com posterioridade a UNTA-CS e a CGSILA, no entanto, mesmo tendo a maioria dos seus dirigentes que são anónimos militantes do Éme, logrado convencer os seus membros a tal façanha, quando tudo apontava para um apoio ao programa eleitoral da falecida FpD, tido na véspera, como o partido dos intelectuais. Confirma-se agora que este sindicato jamais será tido como uma correia de transmissão do regime instituído e se alguma esperança restava aos seus representantes, o Director Provincial da Educação da Lunda Norte vem pôr tudo a descoberto. Constou-nos que a Secretária Geral Nacional do SINPROF não conheceu as algemas da Polícia de Intervenção Rápida ou processada pela Direcção Provincial de Investigação Criminal, por milagre, fazendo-se portadora de documentos comprometedores à imagem do Governo local, que a mesma recusou-se a ceder-nos.

Duas semanas depois de se ter anunciado o deficiente aumento salarial de 5,4% que o governo fez questão de referir, ter resultado de uma suposta concertação social, rejeitada oportunamente pelos sindicatos, pelo menos, deveria servir de lição de como se pode vender publicamente um falso ‘bom relacionamento’ com os parceiros sociais.

Os sindicalistas professores consideram como única prece atendida, a da substituição do caduco Ministro da Educação, e que ao continuarem os obstáculos no interior do país, terão de rever o período de graça unilateralmente cedido ao actual Ministro da Educação, com quem se simpatizam. Apregoam que enquanto Angola reger-se por uma Constituição de um país uno e indivisível as leis terão que ser cumpridas com uniformidade, em todo o território nacional.

Governo da Lunda Norte desconhece a Lei Sindical
Aos 28 de Maio do mês transacto a Direcção Provincial da Educação da Lunda Norte exarou uma circular, acusando o SINPROF de estar a realizar um acto eleitoral, sem se respeitarem os princípios democráticos, proibindo esse sindicato de exercer sindicalismo em todas as escolas da província. Convenhamos que isso seja verdade, será mesmo essa a sua função? A polícia, DPIC, e os tribunais deverão obedecer cegamente os representantes do governo até que as províncias deixem de ser consideradas apenas paisagem? Começa haver necessidade de refrescamento de muitos representantes de governos locais e se necessário, a obrigatoriedade de estudarem os discursos do Chefe do Executivo e de Estado. É inadmissível que ao nível central se esteja a cimentar um ambiente aceitável de concertação social, para que os parceiros participem dos programas antes da sua implementação e pelas províncias se persista na ditadura pura, afugentando uma franja importante do eleitorado do partido que dizem representar.

A democracia num país não deve ter velocidades diferentes independentemente de ser cidade ou campo, capital ou ‘terras do fim do mundo’. É inconcebível que vividos quase 20 anos de multipartidarismo a Direcção Provincial da Educação, Ciência e Tecnologia distribua um documento às instituições que dela dependem com os dizeres, “…a DPECT-LN, exorta a todas Instituições Escolares, aos docentes e não docentes, em não acatar qualquer orientação desta Comissão Organizadora do SINPROF, até que os mesmos cumpram com as normas estatutárias;”. Todos ouvimos pela Ecclésia, o mesmo director a acusar o sindicato de ter evadido uma sala do Instituto Superior, o que veio a ser desmentido pelo responsável do centro em questão e com a exibição de um documento de autorização, em posse do SINPROF. Qual é afinal o problema real, do qual a DPECT pretende ser juiz?

Acredito que estas medievais posições não façam parte dos interesses da direcção do MPLA e muito menos do seu Presidente, numa fase em que já se está a implementar a pré-campanha eleitoral de 2012. Este sindicato de forma dissimulada e em momentos cruciais nunca deu costas ao maioritário no concernente ao voto e embora os seus dirigentes se esforcem por identificarem-se publicamente apartidários, alguns pertencem aos Comités de Especialidade e outros colaboram de forma velada. A quem afinal, o governo da Lunda Norte estará colocando obstáculos, ao MPLA ou ao Camarada Presidente? Outros perguntar-se-ão: porque razão o SINPROF continua defendendo os interesses do Éme, se nunca dele tirou dividendos, nem nunca sequer (publicamente) foi recebido em audiência, por algum anónimo membro do Comité Central do MPLA? Só o SINPROF e o MPLA poderão tirar-nos de dúvidas, sobre a existência ou não de compromissos! Mas acompanharemos o caso Lunda Norte do qual foi-nos negado, pelo SINPROF, a exibição de documentos que perigaram a vida da sua Secretária Geral às mãos de súbditos de Ernesto Mwangala.

Os verdadeiros sindicatos devem esforçar-se por ser independentes, embora tal procedimento não seja total, a obediência ao governo e aos partidos políticos, é característica da legislação dos sistemas comunistas. Para os comunistas o papel dos sindicatos é fundamental porque utilizam os seus líderes para organizar os tais sindicatos “revolucionários” e converte-los em “correias de transmissão” de interesses políticos. Os sindicatos depois de legalizados, para organizarem-se, não devem obediência ao governo, somente à lei. E do cumprimento ou não dos seus estatutos devem reivindicar-se apenas os seus membros, enquanto contribuintes e defensores da causa da existência da organização por eles criada. Quanto a defesa de ideologias partidárias também não está fora de questão, sempre que as mesmas sejam transparentes, como tem sido a Unta-CS que julgamos ser a única central sindical representativa em Angola, ou a CGTP em Portugal, CC-OO em Espanha e a CTC em Cuba.

*manuelfernandof8@hotmail.com