sábado, 18 de setembro de 2010

Internacional. Moçambique. RENAMO exige demissão do ministro do Interior por autorizar balas verdadeiras


A RENAMO, maior partido da oposição moçambicana, exigiu no 08.09 a demissão do ministro do Interior, José Pacheco, por alegadamente autorizar o uso de balas verdadeiras durante as manifestações em Maputo e Matola, no sul do país, que causaram mortes e ferimentos.
“O Governo deve esclarecer com urgência o que vai fazer com o ministro do Interior (José Pacheco), que mentiu ao povo dizendo que as balas (usadas pela polícia nos dias 1 e 2 deste mês) eram de borracha, quando eram verdadeiras. Além de ter proferido insultos aos manifestantes a quem chamou de bandidos, marginais e vândalos”, disse o porta-voz da RENAMO, Fernando Mazanga.
O porta-voz da RENAMO reagia, assim, à decisão do executivo moçambicano, de baixar os preços do pão, energia e água, recuando na sua anterior pretensão, que levou a protestos populares na semana passada, em Maputo e Matola, sul. Manifestações que resultaram em confrontos entre populares e polícias, na sequência dos quais morreram 14 pessoas e mais de três centenas ficaram feridas, de acordo com dados oficiais, embora fontes clínicas avancem já com 18 mortos.
“Pensávamos que a primeira aparição do Presidente da República (Armando Guebuza) fosse para demitir o ministro do Interior, que saiu em defesa dos polícias que mataram até crianças” durante os protestos populares, disse o responsável.
“O Estado é o responsável pelas mortes, pelas detenções (dos manifestantes), pela destruição que foi feita (nas duas cidades), daí que precisa ressarcir aqueles que terão sido lesados”, defendeu Fernando Mazanga.
“Mas uma das medidas grandes que estamos a exigir é a demissão do ministro do Interior, por ter insultado os manifestantes, por não ter dado ordens concretas para se usar balas de borracha, jatos de água, gás lacrimogéneo, que é o que todo o mundo faz nas manifestações”, assinalou.
“Fazer manifestação não é igual a ir à igreja rezar. Uma manifestação tem que se fazer sentir e quem está no poder não pode chamar aos manifestantes de marginais, vândalos, bandidos. Porque a verdade é que é o povo que mandatou aquelas pessoas para exigir os seus direitos. Se fossem vândalos o Governo não teria reunido e recuado” (na decisão de aumentar os preços de bens essenciais), disse Fernando Mazanga.
“Ao recuar estava a reconhecer que, de facto, estava a roubar aos moçambicanos”, considerou.
A RENAMO exigiu que o executivo explicasse com “urgência o tipo de tratamento que vai dar aos detidos” e questionou “se vai ressarcir as famílias dos mortos”, apelando, por outro lado, para que a polícia evite “caça às bruxas”.
“É preciso que o Governo esclareça, com urgência, quando é que vai libertar os detidos com o advento das manifestações, e que tratamento vai dar aos que perderam seus ente queridos, bem como os que perderam seus bens” durante as manifestações, disse Fernando Mazanga.
Nos últimos dias, os residentes em Maputo e Matola não conseguem mandar ou receber mensagens via telemóvel, mas, até ao momento, nenhuma das duas operadoras de telefonia móvel, mCel, detida pelo Estado, e Vodacom, propriedade de um consórcio sul africano e moçambicano, se pronunciou sobre as falhas nesses serviços.
“Estamos a viver num país que se diz democrático, mas que as suas políticas são monolíticas”, pelo que “essa situação é um crime, uma intromissão naquilo que são as nossas liberdades”, considerou Fernando Mazanga, exigindo às duas operadoras que indemnizem os clientes.


Governo vai subsidiar importação de trigo e fiscalizar preço do pão
O Governo moçambicano vai subsidiar a importação de trigo e intensificar a fiscalização nas moageiras e padarias, para assegurar o congelamento do preço do pão anunciado no dia 03.09, garantiu no 08 o ministro da Indústria e Comércio.
Um dia depois do Conselho de Ministros anunciar o congelamento dos preços dos bens essenciais que originou, na semana passada, violentos confrontos entre populares e polícia em Maputo, o Ministério da Indústria e Comércio reuniu-se com representantes das moageiras, empresas panificadoras e comerciantes.
O objectivo era encontrar formas de garantir a materialização das medidas anunciadas pelo executivo moçambicano, entre as quais a de manter o preço anterior do pão (5 meticais, cerca de 0,10 cêntimos), através da introdução de um subsídio.
“As moageiras deixam de vender o saco de 50 quilos de farinha de trigo ao preço de 1050 meticais para voltarem ao preço anterior de 850 meticais, para garantir a manutenção do preço do pão. Isso impõe a adopção de uma fiscalização intensa para verificar se a medida está a ser cumprida ou não, tanto no preço como nas medidas”, explicou o ministro da Indústria e Comércio, António Fernando, à saída do encontro.
Segundo António Fernando, citado pela Agência de Informação de Moçambique, as moageiras e panificadoras que não obedecerem à redução de preços não vão receber o subsídio estatal.
O presidente da Associação dos Panificadores, Victor Miguel, também presente no encontro, assegurou que a maior parte das padarias já está a praticar o anterior preço, visto que o subsídio permite a recuperação do valor gasto na importação de trigo.
A medida é igualmente dirigida a outras empresas importadoras, nomeadamente de tomate, batata, cebola e arroz de terceira qualidade (produto cujo preço também baixou no 03).
De acordo com o ministro, “os agentes económicos foram receptivos às medidas”, pelo que, em breve, voltarão a reunir-se para discutir os critérios de elegibilidade das moageiras que irão beneficiar do subsídio.
O ministro salientou ainda que “as padarias deverão ser eficientes, porque haverá componentes que deverão retirar, ou racionalizar o uso do trigo no fabrico de pão para reduzir os custos ao consumidor”.
Num país que só produz cinco por cento do trigo que consome anualmente, o Governo tem encorajado a mistura de farinha de trigo com farinha de mandioca no fabrico de pão, como forma de manter o preço daquele que é considerado um alimento básico para a população urbana.
O anúncio do aumento do preço do pão foi feito em Julho pela Associação Moçambicana dos Panificadores, que na altura justificou a medida com o aumento de quase 300 meticais do saco de 50 quilos de farinha de trigo (passou a custar 1050 meticais), devido às restrições nas exportações da Rússia, que perdeu grandes extensões de searas, por causa dos incêndios do Verão.

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