quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Dia do herói étnico




Como era de esperar o executivo angolano deixou mais uma vez passar a oportunidade par reatar o processo de reconciliação nacional que o extinto governo tinha iniciado em Abril de 2002, quando foi assinado, entre lágrimas de emoção e abraços, o Memorando de Entendimento de Luena a 4 de Abril de 2002.

Como que para não sair da pasmaceira ideológica que se apoderou do “ÉME”, nos círculos próximos dos meios políticos ligados ao aparelho de Estado, continua-se a considerar como verdade de evangelho o que foi metido na cabeça dos angolanos pelo velho Partido do Trabalho (PT), sucessor do heróico Movimento Popular de Libertação de Angola”. Sucessivas massagens e lavagens cerebrais foram providenciadas ao longo destas mais de três décadas de navegação política ao sabor de ventos que as modas da ciência política foram levantando em variados e falíveis “Ismos”, incluindo o “Peixefritismo” do nosso amigo literário Manuel Rui Monteiro.

Assim, ao cair do pano do teatro universal a anunciar o final da primeira década do século XXI, festejamos um dia do herói nacional a 17 de Setembro, exactamente como se estivéssemos em plena euforia marxista-leninista com o seu “Ismo” em moda na década de 1980.

O que nos resta hoje como instituição híbrida de governação, que deveria ser de todos os angolanos, mas apenas é de quem diz ámen ao chefe, fecha os olhos e esquece que está a caminhar para um fosso cada vez maior a separar os muito ricos dos muito pobres, realizou as comemorações centrais em Saurimo num alarde de partidarismo barato que nada tinha a ver com uma comemoração de índole nacional.

O que vimos foi o camarada Pitra Neto, como ministro do Emprego e Segurança Social, a reger as festividades do alto do seu cadeirão, perante uma assembleia de militantes do MPLA vestidos a rigor, numa sala engalanada com todas as cores do partido, a estrelinha a brilhar, fechando-se toda essa gente entre si, num fervor ideológico habitualmente definido como sendo comum a todos os camaradas, mas indefinível, ou mesmo inexistente, vácuo, servindo apenas para separar completamente esses cujos de todo o resto do país. Eles na mó de cima, os outros na mó de baixo.

Foi assim também no Largo 1º de Maio em Luanda, com pioneiros da OPA, da JMPLA, OMA e militantes do MPLA, com Francisca do Espírito Santo a ser a chefe de cerimónias. Festas e cantigas, muita cerveja e alguns dramas causados pelo álcool. Depressa esquecidos, era dia do ÉME.

Em Namibe e em Benguela, mesmo refrão, o do MPLA, tudo o resto tinha desaparecido num deserto de esquecimentos. E na maioria das províncias onde se governa com a visão fechada do MPLA e não com um espírito de missão, onde a unidade e o sentimento de reconciliação deve ser transmitido com actos e não só com palavras, foi a mesma coisa.

Foi realmente assim por toda a parte. A festa do Herói Nacional era a festa de um partido, a festa de várias pessoas que não são, nunca poderão ser Angola por si sós.

Um dia acabarão mesmo por compreender isso, quando deixarem de governar, o que fatalmente acontecerá, mais cedo ou mais tarde.

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