Sita Valles é uma personagem importante mas desconhecida na história contemporânea de Portugal e de Angola, segundo uma biografia lançada no dia 23.08.10, em Lisboa, de autoria da jornalista e escritora portuguesa Leonor Figueiredo. E, como diz a autora, o 27 de Maio é um assunto que continua a ser tabu em Angola.
O livro, intitulado “Sita Valles – Revolucionária, Comunista ate à Morte (1951-1977)”, de 260 páginas, foi editado pela Alêtheia Editores.
“Sita Valles é uma mulher praticamente desconhecida em Portugal, mas que faz parte da história contemporânea portuguesa e de Angola”, afirma Leonor Figueiredo, que escreveu a primeira biografia em forma de livro da luso-angolana.
A ideia de escrever a obra surgiu numa conversa com os editores e “valeu a pena”, pois “foi uma mulher extraordinária, independentemente da ideologia que a moveu”.
Sita Valles nasceu em Angola, em 1951 - de ascendência goesa -, e viajou para Portugal em 1971 para frequentar o curso de Medicina em Lisboa. “Até ao 25 de Abril, (Sita) foi muito importante no movimento estudantil universitário em Portugal”, pois era líder estudantil na Faculdade de Medicina e militou também no Partido Comunista Português e na União dos Estudantes Comunistas.
“Entrevistei meia centena de pessoas que dizem que Sita foi uma organizadora extraordinária, uma líder daquelas que há poucas, uma pessoa notável”, referiu Leonor Figueiredo, acrescentando que “para a História de Portugal acho que é muito importante saber quem foi a Sita Valles, porque foi uma estudante que lutou verdadeiramente na clandestinidade, e não só, pela democracia e pelo fim do regime do Estado Novo em Portugal”, indicou.
O livro começa com o fuzilamento de Sita Valles em Angola, em Agosto de 1977, acto que a autora diz ter sido autorizado pelo Governo do MPLA, no poder após a independência do país em 1975.
“Sita foi acusada de ser um dos cérebros da suposta tentativa de golpe de Estado realizado no dia 27 de Maio de 1977, mas estes factos nunca foram bem esclarecidos. Assim, eu apresento várias hipóteses do que teria acontecido”, disse a escritora. “O assunto continua a ser tabu em Angola”, afirmou.
O livro, com 47 capítulos (escrita em forma de grande reportagem, segundo a autora), descreve a vida de Sita Valles, passando por Portugal até ao regresso a Angola, em 1975, quando passou a militar no MPLA.
A autora, que escreveu também o livro "Ficheiros Secretos da Descolonização de Angola", referiu que não há documentos, “pelo menos que estejam disponíveis”, em Portugal ou Angola sobre o 27 de Maio. “Recolhi testemunhos de portugueses de esquerda que estiveram em Angola, que foram presos, expulsos no âmbito do 27 de Maio e conviveram com Sita”, disse, tendo entrevistado também outras pessoas que a conheciam em Portugal.
A autora recolheu ainda dados de jornais da época e consultou o espólio da família, documentos e cartas de Sita Valles aos pais, já que o irmão dela, Edgar Valles “assim o permitiu”, daí que a autora considere a sua personagem principal como “uma mulher corajosa, que gostava de actuar no fio da navalha”.
Foto: em 1977 era uma mulher corajosa
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