terça-feira, 14 de setembro de 2010

MPLA amigo, quem não estiver contigo leva um tiro na mona!


A direcção do MPLA considera "graves e preocupantes" os apelos sucessivos à desobediência civil que estão a ser feitos pela Rádio Despertar, emissora ligada à UNITA. Considera-os antidemocráticos, quase parecendo que Angola é uma democracia e um Estado de Direito. Nova purga está a ser preparada.

Orlando Castro

Numa conferência de imprensa, no 08.09, ou sessão de propaganda, o secretário para a Informação do partido no poder desde 11 de Novembro de 1975, Rui Falcão, declarou que os "apelos sucessivos" começaram a surgir na início da semana na Rádio Despertar e têm respaldo nos recentes discursos de alguns dirigentes da UNITA, em particular do seu presidente.
Ao mesmo tempo que critica a UNITA e, dessa forma, incentiva a que mais algumas pessoas choquem contra balas, Rui Falcão pede aos militantes, simpatizantes e amigos do MPLA (ou seja, a todos os que o regime considera angolanos de primeira) a não reagirem a quaisquer provocações, incitações ou convites que contrariem a ordem instituída por um regime que tem um presidente, José Eduardo dos Santos, não eleito há 31 anos no cargo.
"Não podemos cair em atitudes impensadas e irreflectidas trazidas por pessoas que nada fizeram por este país, que o destruíram e continuam, pelas mais diversas formas, a querer atingir o poder", disse, acrescentando que o poder só é legítimo quando as atitudes são democráticas, o que não é o caso.
Nem mais.

A UNITA nada fez, segundo a cartilha do MPLA, por Angola. Todos sabemos, por exemplo, que durante a guerra civil as balas e as bombas do MPLA (primeiro das FAPLA e depois das FAA) só atingiam os maus, ao contrário do armamento das FALA que destruiam tudo. Todos sabemos, ainda, que as bombas lançadas pela Força Aérea do MPLA só atingiam alvos inimigos e nunca estruturas civis.
Aliás, se Rui Falcão pensar bem até vai descobrir que a UNITA é que é responsável pelos mais de 40.000 angolanos torturados e assassinados em todo o país depois dos acontecimentos de 27 de Maio de 1977, acusados de serem apoiantes de Nito Alves ou opositores ao regime.
Aliás, se Rui Falcão pensar bem até vai descobrir que a UNITA é também responsável pelo massacre de Luanda que visou o seu próprio aniquilamento e de cidadãos Ovimbundus e Bakongos, onde morreram 50 mil angolanos, entre os quais o vice-presidente da UNITA Jeremias Kalandula Chitunda, o secretário-geral Adolosi Paulo Mango Alicerces, o representante na CCPM, Elias Salupeto Pena, e o chefe dos Serviços Administrativos em Luanda, Eliseu Sapitango Chimbili.
Assim, angolanos são pessoas como Lúcio Lara, Iko Carreira, Costa Andrade (Ndunduma), Henriques Santos (Onanbwe), Luís dos Passos da Silva Cardoso, Ludy Kissassunda, Luís Neto (Xietu), Manuel Pacavira, Beto Van-Dunem, Beto Caputo, Carlos Jorge, Tito Peliganga, Eduardo Veloso, Tony Marta, José Eduardo dos Santos.
Não angolanos são aquela sub-espécie como Alda Sachiango, Isaías Samakuva, Alcides Sakala, Jeremias Chitunda, Adolosi Paulo Mango Alicerces, Elias Salupeto Pena, Jonas Savimbi, António Dembo ou Arlindo Pena "Ben Ben".
Rui Falcão lembrou, ainda, os avanços registados nas áreas económica e social. Explicou que o país saiu de uma situação de inflação endémica, com taxas mensais acima dos três mil por cento e que este ano deve ficar em torno dos 13 por cento. Para 2011, indicou, a inflação pode, pela primeira vez na história do país, ficar em um dígito.
"Isso pressupõe mais disponibilidade para o investimento público, mais crescimento, mais emprego e redução da miséria", disse. Creio que, devido ao esforço titânico do MPLA, angolanos pobres vão deixer de ser cerca de 70% para passarem a ser... 69,99%.
Rui Falcão afirmou que é pensando nos angolanos que o MPLA continua a trabalhar na melhoria da governação e na gestão da coisa pública. Tem razão. Se se excluir todos os que o MPLA considera angolanos de segunda, a situação até está a melhorar...
"Conquistámos a paz e, fruto disso, obtivemos a estabilidade social e económica e estamos entre as economias que mais crescem no mundo. Mas há ainda quem não esteja satisfeito com o crescimento que Angola tem vindo a conquistar", disse.
De facto é injusto não reconhecer o esforço do MPLA. Creio, aliás, que o partido que governa Angola desde 1975 ainda precisa aí de mais uns trinta anos para pôr o país em ordem. Se calhar o tempo pode ser menos. Basta acabar, pela fome ou pela força das armas, com todos aqueles que são de segunda e que, neste contexto, só sabem chatear o sumo pontífice do regime.
No dia 03, o Bureau Político do MPLA repudiou, em comunicado saído da sua terceira reunião ordinária, a "estratégia seguida e suportada por diferentes instituições estrangeiras, perfeitamente identificadas, e organizações e indivíduos, incluindo cidadãos nacionais, recrutados para servirem de pontas-de-lança, visando manchar tudo quanto o Poder Executivo faça".
E para além de repudiar pôs em campo, tanto em Angola como no exterior, os seus sipaios. O jornalista da Rádio Despertar, assassinado em sua casa, foi um dos primeiros a sentir que o MPLA é dono do país.
"Conhecedor da estratégia gizada por essas organizações e instituições estrangeiras, aliadas a organizações e cidadãos nacionais contratados, o Bureau Político apela a todos os militantes a manterem-se firmes no cumprimento dos ideais do MPLA", sublinhava a nota.
Tão firmes quanto a força das balas, dos dólares e de outras estratégias para calar todos os que ingenuamente ainda acreditam que a força da razão vale mais do que a razão de força.

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