sexta-feira, 29 de abril de 2011

Os equívocos do Senhor Eduardo dos Santos


Que não haja dúvidas quanto à existência de corrupção e pobreza em qualquer geografia humana. Nisso ele está certo. Está certo também quanto ao facto de os colonialistas portugueses terem deixado pobres na sua província de Angola. As verdades podem desagradar-nos mas o presidente ditador também está certo quanto às debilidades da oposição.

Laurindo Neto

Para ser franco, ele está certo em tudo o que disse até nos equívocos próprios de quem já perdeu a noção de tempo, dever e responsabilidade. Há pobres em toda a sociologia humana mas há também os julgamentos e as conclusões quanto aos factores da pobreza. Sobre a opressão em quaisquer das suas formas, estamos conversados, não haja diferenças entre opressores brancos ou pretos. Quanto aos colonialistas, tinham Angola como a Jóia do Império e foi essa mesma Angola que suportou o desenvolvimento esboçado pelo império colonial de triste memória.

À menos que o Sr. Eduardo dos Santos - patrão do regime opressor - pense Angola como pensou António de Oliveira Salazar - não são poucos os que o julgam assim -, qualquer semelhança a estabelecer entre o passado colonial e a realidade neo-opressiva colocam-no entre as mais sérias frustrações do continente africano.

Concordando com o facto de haver corrupção em toda a parte, ali onde se manifeste, têm sido os magistrados judiciais desses países a julgarem os factos e os seus autores ou mentores. À um Chefe-de-Estado que mantém ditatorialmente um regime presidencialista, já lá vão cerca de quatro décadas, fica feio, feio demais, alegar semelhanças universais como base da abolia governamental sobre a matéria. Haja decoro, pois que o regime angolano é extremamente corrupto e nunca mudou de treinador.

Salazar projectou e construiu cidades em todo o império colonial. Em termos académicos, não se compare Eduardo dos Santos às realizações de Salazar em cinco continentes: seu pai ficaria ofendido! Salazar impôs o S à mocidade portuguesa mas V. Exa. ultrajou um povo inteiro tornando o Bilhete de Identidade um incómodo nacional. Salazar ficou pequenino!

Os subjugados por Salazar eram cerca de sessenta milhões de seres humanos espalhados em cinco continentes devidamente registados e V. Exa ainda não foi capaz de efectuar um senso populacional aos cerca de nove milhões de angolanos que se transformam em doze milhões para efeitos de fraude eleitoral.

A oposição tem medo das eleições? É muito provável - desculpem-me os que defendem outro raciocínio - porque a exterminação da oposição é a marca indelével da ditadura e do comunismo. No caso de V. Exa. já tem direito a patente registada.

O governo não distribui alimentos, educação, saúde, água e energia eléctrica, lazer e integração social à cerca de cinco milhões de angolanos mas a oposição, ou melhor, os inimigos internos, têm que reunir requisitos eleitorais em toda a extensão do território nacional com os documentos que V. Exa. não foi capaz de emitir.

Sabe Exa.? o senhor não é somente o suporte da corrupção mas também a garantia da desonestidade em geral, tais são as consequências das suas exigências eleitorais. Tornou-se-me mais evidente esta associação mental quando, em 2010, V. Exa. em comunicado público, divulgou que em 2011 promulgará um pacote eleitoral para 2012! Para adulto e responsável político essa foi demais!

Atípicas, cinto de segurança, violência semi-pública, seguros, armas de fogo e toda uma sorte de manipulações tendentes a esconder e a atrasar o que deveria ser um preceito constitucional: Os prazos e as formas de participação e legitimação do poder político! Acredita mesmo que somos todos ingénuos e que não detectamos a fraude? É violência com base na força, presidente. Creio que até o Dan Mozena deu conta disso!

Não gosto que alguém no meu país sinta a sua imagem injustamente molestada. Pior ainda se atingir a sua família, ainda que seja o quotidiano dos indefesos como deveria saber. Nessa matéria, o ex-Secretário de Estado norte-americano, Sr. Chester Crocker pode ter contribuído com peso ao denunciar que o presidente de Angola percebia três por cento por cada tonelada de material de guerra!

Foram muitas toneladas durante muitos anos Sr. presidente!

Por outro lado Sr. Presidente, são poucas as famílias angolanas que vêem os seus parentes investirem no estrangeiro sem nunca terem trabalho e sem idade justificável. Essas denúncias podem contribuir para o abalo da honestidade de qualquer queixoso.

Para quê mais palavras?

Ban Ki-moon e Hilary Clinton puseram de lado o esconde-esconde diplomático para usar de franqueza e rudeza: O que aconteceu ao Liderado do Sr. Kadafi e ao Sobado do Sr. Laurent Gbagbo é um aviso a todos os ditadores.

Há quem ainda não acredite, abalada como está a seriedade mundial. No entanto, um pouco por toda a África, há expressões populares de júbilo ante as salvas de Tomahawks anunciando a libertação e o fim das novas opressões.

Acerca disso e dos equívocos do Sr. Eduardo dos Santos não tenho dúvidas.

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