terça-feira, 12 de abril de 2011

Novo Angolagate em Geneve. Na Suíça, o outro Angolagate da “velha-guarda” da ELF Aquitaine e as relações financeiras com Angola


David Servenay*

À margem do dossiê de que resultou a condenação de Charles Pasqua, um juiz abriu um inquérito sobre desvios de fundos perpetrados por antigos funcionários da ELF (nt: antiga companhia petrolífera francesa ELF-Aquitaine). Entre os arreganhos de boca de Charles Pasqua sobre o tráfico de armas com Angola e os gritos de petulância ferida de Dominique de Villepin no caso de Clearstream, um juiz de Genebra está a investigar sobre um Angolagate bis. Ou seja, averiguar de que maneira os mais altos dignatários angolanos utilizaram os serviços dos antigos funcionários da Elf-Aquitaine para desviar dezenas de milhões de dólares.

O jornal “Le Temps” foi o primeiro a levantar um cantinho do véu que cobria este caso. Desde Dezembro de 2008, um juiz do tribunal de Genebra, Yves Aechlimann, deu-se ao trabalho de ir à caça das transacções financeiras a fim de reconstituir um verdadeiro sistema de desfalques de fundos em benefício da presidência angolana.

Os novos circuitos da corrupção
Em 2003, quando a investigação francesa atingiu de chofre a fileira de armas Falcone- Gaydamak, o governo angolano decidiu escolher outras fileira de corrupção. Elísio de Figueiredo, o homem de confiança do presidente José Eduardo dos Santos, viaja e vai-se instalar na Ásia, em Singapura, enquanto o intermediário francês, Pierre Falcone, de malas aviadas aterra em Pequim

O banqueiro François Rouge, proprietário do Banco de Património Privado (BPP), recupera uma boa parte da gestão de fundos ocultos angolanos, um montante estimado «entre 400 e 500 milhões de dólares», por intermédio dum astuto conhecedor dos circuitos petrolíferos.

O tesouro fora-lhe confiado por Jack Sigolet, um antigo da Elf, reconvertido em conselheiro da Presidência República de Angola.

Tudo funcionou perfeitamente até 2007, quando François Rouge é preso e encarcerado na prisão de Baumette, por ordem de um juiz de Marselha no âmbito do caso do “cercle” (nt: clube, companhia) Concorde. Quando saiu da prisão, Rouge tinha perdido o controlo dos fundos angolanos em detrimento de um trio.

Jack Sigolet, antigo braço direito de André Tarallo, o “Monsieur” África da Elf e grande especialista de pré-financiamentos petrolíferos, apresentado, também, então como «conselheiro da República de Angola»;

Nicolas Junot, advogado suíço, que muito se interessa também por montagens financeiras exóticas ligadas às contas bancárias do Congo-Brazzaville, dito «chefe de orquestra das montagens financeiras»;

Riccardo Mortara, perito financeiro e piloto de avião, que foi durante anos o piloto pessoal de Alfred Sirven, e “cérebro” de Loïk le Floch-Prigent, ex-PDG (nt: Presidente Director Geral) da ELF, denominado o «factotum».

Desde o início do inquérito, Mortara aceitou negociar uma transacção com o juiz suíço depois de ter passado uma semana à sombra duma prisão, que redundou num julgamento que o condenava a uma ligeira pena suspensa, 240 dias-multa (ou seja, o condenado paga a multa e sai em liberdade, ou não paga e cumpre a sua pena de prisão) e 45 milhões de dólares repatriados em guisa de “confisco”. As sanções reservadas aos outros dois comparsas ainda não foram anunciadas, mas, em todo o caso são acusados de «branqueamento agravado».

75% das comissões para o Presidente
De facto, foi por ocasião das perquirições feitas nos escritórios de Sextius, sociedade de François Rouget, e de Alfin, de Jack Sigolet, que os magistrados suíços descobriram esta “nova” rede. Jack Sigolet, que tinha fornecido os pré-financiamentos para o petróleo angolano durante vários anos, depositou o tesouro do total das comissões no banco de Rouge, sem saber exactamente a quem pertenciam, em pormenor, esses fundos. Elf? Aos Angolanos? E em caso afirmativo, quanto para cada um?

Jack Sigilet e a sua sociedade Crossoil Trading trabalham desde há muito tempo para a Sonangol, sociedade nacional que explora o petróleo offshore angolano. O princípio é simples: ele compra 30.000 barris de petróleo/dia com uma redução do preço de 3 a 4 dólares por barril, de petróleo bruto. Imediatamente vendido ao preço do mercado. Benefício: entre 90 e 120 mil dólares por dia. Quanto baste para guarnecer algumas contas exóticas…

De tanto ter vasculhado na contabilidade e nos arquivos das sociedades em questão, o juiz Aeschlimann pode reconstituir o perfil duma sociedade offshore titular duma conta bancária em nome da China Dynamic Development, em Hong-Kong, que viu desfilar 116 milhões de dólares entre 2006 e 2008. Dinheiro que serviu, entre outros gastos, para pagar jóias por um montante de 6 milhões de francos suíços, adquiridos por via da sociedade de Mortara, Sonnin, e oferecidos aos mais altos dignitários de Luanda.

Riccardo Mortara, descrito como “estafeta de compras” da equipa, multiplicou a abertura de contas bancárias em Jersey, em Portugal, no Líbano e em Hong-Kong. Como precisa o jornal “Le Temps”, a chave de repartição das comissões é a seguinte, segundo a Câmara de Acusação de Genebra:

«75% dos fundos repartidos parece serem destinados ao presidente angolano, 15% para um dos seus ministros e outros intermediários».

Os restantes 5% caem nos cofres da Crossoil, a sociedade de Sigolet.

O “Parquet” (Procuradoria) de Genebra e os advogados de acordo para abafar o caso

Nesta altura, em que a instrução já se encontra em estado muito avançado, eis que a vemos transformar-se em escândalo maior por causa de uma nota escrita encontrada no decorrer duma das investigações.

Essa nota, assinada pelo advogado francês, Claude Richard, também da “velha-guarda” da Elf, punha em evidência supostos elos de união entre o procurador-geral de Genebra, Daniel Zapelli, e os advogados das personalidades envolvidas.

A acusação, no caso é um simples arranjo entre a acusação formal e a defesa, a fim de obter a retirada do dossiê ao juiz de Genebra seguida da transmissão do mesmo a nível federal. Uma maneira como outra qualquer de abafar o caso. Ora acontece que, no dia 9 de Novembro de 2010, a Câmara de Acusação do Tribunal admoestou muito severamente o juiz Zapelli, estimando que o procurador-geral tinha chegado ao limite das suas prerrogativas.

Uma desaprovação formal.

No Palácio de Justiça de Genebra, o ambiente tinha-se tornado glacial entre os “coveiros” de dossiês, apoiantes do procurador-geral e os “lavadores de colarinhos engravatados”, seus opositores. Jack Sigolet e Nicolas Junot mantêm-se, por ora, quedos e mudos. Porém, doravante, eles deverão ter acesso ao dossiê penal. O que talvez lhes dê alguma vontade de falar.


François Labrouillère/Paris Match
Os seus amigos tratam-no por o «miraculoso» do caso Elf porque ele sempre escapou a todas as investigações. Jack Sigotet, antigo patrão da FIBA, um dos bancos da Elf-Aquitaine e ex-braço-direito de André Tarallo, o “Monsieur Afrique» (Nt: os seus detractores escrevem “À fric”, o que se traduz por “com dinheiro”) desse grupo petrolífero, está nesta altura a ser apanhado pela mão da justiça.

Na última semana do mês de Março, o juiz suíço Yves Aeschlimann mandou proceder a uma minuciosa e prolongada busca nos locais da sua sociedade Adfin, Rua Plantamour em Genebra, num edifício onde Alfred Sirven, o homem sombra do grupo Elf, tinha instalado os seus escritórios.

Uma outra perseguição foi efectuada na sede da Financeira de Seujet, a sociedade dum piloto privado de origem italiana, cuja pequena companhia aérea tinha como clientes, desde há muito tempo, Alfred Sirven e outros altos dirigentes da Elf. Esse piloto, juntamente com Jack Sigolet e um advogado de Genebra, foram inculpados pelo juiz Aeschlimann. Considerada como ultra-sensível, a investigação beneficia de um estatuto dito de «supersuspensão», o que significa segredo levado ao extremo, absoluto.

Esta impugnação visa encontrar rastos de dezenas de milhões de euros de fundos ocultos provenientes de Angola tendo transitado por Genebra. É um novo «Angolagate», que tem por origem as investigações do juiz de Marselha Charles Duchaine, que se ocupa desde há meses para cá de um outro dossiê, referente aos elos entre o grande banditismo da Córsega e um clube de póquer parisiense, o Cercle Concorde.

Neste caso, com contornos financeiros complexos, foi chamado ao banco dos réus um banqueiro de Genebra, François Rouge, que de resto é, ao mesmo tempo, banqueiro de Sigolet e da Sonangol. Ora, em Novembro de 2007, Jack Sigolet e o banqueiro François Rouge, transportados pelo piloto privado italiano, participaram em Dubai num encontro entre o ministro angolano dos Petróleos e Laurent Bazin, sulfuroso intermediário protagonista, também, na novela de bandidos que envolve o Cercle Concorde.

*Tradução: A.S
*http://www.parismatch.com/Actu-Match/Monde/Actu/Un-nouvel-Angolagate-a-Geneve- 70632

5 comentários:

  1. Por que os comentários que lhes enviei não foram publicados?

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  2. Por que os meus comentários anteriores não foram publicados?
    washington Rodrigues - worodrigues@oi.com.br- blogjfzonalestesegura.blogspot.com

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  3. Quem interceptou meus comentários? Não gostei e vou reagir.
    Washington Rodrigues -worodrigues@oi.com.br -jfzonalestesegura.

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  4. Olha, este foi o único cometário recebido.

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  5. Sempre lembro das palavras cheias de sabedoria e, infelizmente, sempre atuais, de Rui Barbosa, naquele célebre discurso no senado federal:
    "De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto".
    E o pior de tudo isso é a atualidade dessas palavras, que, se hoje fossem proferidas, fariam o mesmo sentido, teriam a mesma validade, seriam perfeitas para retratar o momento atual por que passa o nosso Congresso Nacional e o país.

    Não é isso fruto da genialidade inconteste de Rui Barbosa, mas da nossa teimosia de errar como nação, na nossa insistência em permanecer baseados em preceitos falsos, em praticar um moralismo fingido, um empreguismo deletério no governo, a um uso da máquina pública em uso próprio que envergonha a todos.

    Nosso povo segue sendo um escravo da sua própria deficiência, alimentando um esquema que o consome, num motocontínuo que vara os séculos e não se soluciona porque a sua solução implica na morte desse esquema que se mantém pela deficiência.
    washington -worodrigues@oi.com.br - jfzonalestesegura

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