quinta-feira, 14 de abril de 2011

Combate à pobreza segundo o MPLA


Por mais que façamos esforços para prevenir o executivo de que uma das melhores maneiras de arranjar inimigos é discriminar, nenhum correctivo é dado ao roteiro dos guerrilheiros transidos que se perpetuam na liderança do nosso governo e hoje continuam a pensar como se ainda estivessem no mato a combater o colono: “Quem não está comigo, está contra mim”.

As consequências dessa maneira de pensar são más, para não dizer catastróficas a longo termo, mas isso é uma outra história e não convém aqui, neste espaço, enveredar pela futurologia. O que nos importa analisar é o presente que estamos a viver e tentar uma vez mais apontar as tremendas falhas, erros e injustiças flagrantes criadas não só por essa maneira retrógrada de pensar, mas também por uma insaciável ganância que se apoderou de muitos membros das nossas mais altas esferas do poder político e económico.

Dentre todas as revelações de anomalias de “governança” que chegam em catapulta à nossa Redacção, uma das últimas, assegurando que membros do Bureau Político do MPLA e do seu Comité Central vão ser contemplados com um supermercado, O Nosso Super, a custo zero, é certamente a que mais fará arrepiar os cabelos a qualquer cidadão sensato. Passamos sem transição, do combate(?) à pobreza a uma ajuda aos ricos!

Se tal asserção for consentânea com uma realidade futura, como nos parece que virá a ser, isso significa que um projecto anunciado e publicitado com grande alarido ao longo destes últimos anos como empreitada de apoio aos mais baixos extractos da sociedade, portanto, de algum modo como um “input” a considerar no combate à pobreza, essa empreitada, dizíamos, passará a ser o que na realidade ele já era, isto é, um “input” de apoio a um enriquecimento mais que duvidoso. Senão vejamos.

Até à data, os milhões de dólares gastos com os “Nossos Supers” devem de certeza ter caído nos bolsos de alguém, ou “alguéns”, pelo que se pode inferir da rapidíssima falência de um negócio sem contas à vista, e agora, na manápulas de pessoas que, gratuitamente passam a ser seus gerentes - um negócio considerado no mundo inteiro como dos mais rentáveis - certamente que os enriquecerá sem razão alguma. Vá lá, vai ser como uma espécie de prenda de JES aos que ainda não comeram muito.

A esse propósito vêm-nos à mente os discursos antigos, muito, muito antigos, iguaizinhos aos que hoje estão na moda, esses, de combate à pobreza. São verdadeiros prodígios de longevidade, pois desde o dia da Dipanda que se debitam a granel, por toda a parte onde oficie um lambedor de botas: o mais importante é resolver os problemas do povo, dizem eles, quando o que em Angola nunca mereceu atenção do Estado foi o combate à pobreza, pelo contrário, o mais importante foi dar de mamar a pançudos sem esquecer nenhum deles, questão de não ofender o esquecido, o que deu origem a um progressivo aumento da pobreza acompanhado por uma proliferação de enriquecimentos ilícitos. Vide o nosso Super, precisamente…

O mais desesperante nesta situação de fosso descomunal entre ricos e pobres que continuamos a viver, é que esse fosso, cada vez mais profundo, é em grande parte motivado por uma necessária distribuição de benesses, favores e outras dádivas reservadas aos parentes, amigos e amigos dos amigos do partido no poder.

Não compreendemos o que se passa na mente de JES, quando o vemos repetir continuamente os mesmos erros, dando a impressão de não ver o que se está passar no norte de África. Dá também a crer que continua a provocar as manifestações de massas que o seu partido tanto teme. E como prova disso basta relembrar o que se passou na segunda-feira, dia 7 de Março, quando foram presos 17 jovens por se temer um começo de manifestação anti-governo! Paranóia puríssima!

As “Gasosas Gigantes”
Estamos cansados de pedir um pouco mais de equidade na distribuição dos bens e riquezas nacionais, mas nada parece demover o Executivo e seus agentes de continuar a beneficiar exclusivamente os cidadãos de alguma forma ligados ao MPLA

A recente inauguração da sede da OMA é disso um exemplo. Uma organização feminina de um partido, como pode e de que direito se arroga para ter uma sede novinha em folha, quando todos os partidos e outras organizações da oposição estão votados ao abandono?
A isto chama-se sectarismo. E esta ostentação do MPLA, uma arrogância e uma humilhação aos demais actores políticos, poderá vir a ter consequências tremendas. O Executivo deveria, desde ontem, ter tomado medidas para corrigir a sua política de favoritismos exacerbados. Mas nem ontem nem hoje, e nenhuma mudança está sequer à vista.

No nosso país, temos a mania de ser mais inteligentes que os outros. Os outros são os que não pensam como nós. Estabeleceu-se pois uma selecção que determina o número e a qualidade dos que podem ser apoiados pelo Estado. E, como o Executivo não quer dar a cara, recorre-se a uma empresa, a Sonangol, o que dá menos nas vistas.

Só que, a dita empresa é do Estado, portanto, ao serviço de todos os angolanos e não apenas dos que dizem amém ao chefe. A discriminação é de monta, pois para além da OMA, muitas outras organizações privadas beneficiaram dessa política de “Gégé”, Gasosa Gigante. Isto, sem falar de todas as negociatas por baixo da mesa de que se aproveitam os “yes boys” do regime.

A Sonangol, reservatório de todas as acções politiqueiras, pagou a clínica de saúde do MPLA, na avenida Amílcar Cabral. Mais uma vez são dinheiros públicos, num terreno que era do Estado e que o MPLA abocanhou sem qualquer concurso público e contrapartida.

A Sonangol está também no eixo viário a construir o primeiro casino, casa de jogos do azar. Essa empreitada é um projecto da Fundação do presidente da República, que ainda está em funções e nunca foi eleito.

Depois temos também o hotel Turismo que também é do MPLA. Mas, falar do MPLA é falar do Estado, pois os dois se confundem, numa promiscuidade acarinhada pelo Executivo. De resto, a esse respeito, para ser mais claro e não fugir à verdade, somos obrigados a reconhecer que o MPLA é sócio de 80 % das unidades hoteleiras de Luanda, Trópico, Alvalade, Turismo, entre outras. É verdadeiramente escandaloso!

Mas atenção, além disto tudo, o que aqui acabámos de enunciar é apenas uma parte visível do imenso iceberg “M”. Acrescentemos-lhe as intrigas e as divisões que o aparelho do “Kremlin” cria noutros partidos, de que ressaltamos a longa e fastidiosa crise por que vem passando a FNLA, com a ajuda de um dos mais gordos recebedores de “GéGés”, Lucas Ngonda; a fantochada das eleições de 2008, com batota sem esquecer a participação teatral de um Padepa vampirizado e destruído por obra do SINFO e outras entidades do Estado; a diabolização do partido do Galo Negro, com várias mortes a assinalar, a que se seguiram as mais recentes sessões de tiros nos pés do regime, com a “Marcha para a Paz e a tentativa de expulsar o deputado Kamalata Numa do Parlamento. Vergonhoso!

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