quarta-feira, 2 de março de 2011

AQUI ESCREVO EU. William Tonet


Quanto mais o regime adiar pior será direcção do MPLA mostra unhas de sangue
O desnorte, definitivamente, tomou conta de alguns dirigentes do regime e com isso o estalar do verniz. Ainda vai no adro a procissão no norte de África e Médio Oriente e já aqui, num despropósito (será), o secretário-geral do MPLA revisita uma frase dantesca de Oliveira Salazar: "EM ANGOLA E EM FORÇA", disse-o em 1961, mandando avançar militares e canhões com objectivo de atirar a matar, contra quem se lhes opunha, por falta de liberdade e após os levantamentos de 4 de Fevereiro, em Luanda e o 15 de Março de 1961, no norte de Angola, que marca o início da guerra de libertação. Hoje, meio século depois (50 anos), a história se repete, mas agora com um dirigente negro e angolano, Dino Matross, que tal como Salazar acredita, ter sido, o seu regime, predestinado a perpetuar-se no poder, ao ameaçar, desalmadamente, derramar sangue dos autóctones: "QUEM SE MANIFESTAR, VAI APANHAR!". Isso, para os angolanos conhecendo bem a natureza deste MPLA só tem uma interpretação: estes dirigentes não têm sentimento em relação ao nosso sofrido povo, porque para eles, as nossas vidas valem menos, que a de um dos seus cães de estimação.

Dino Matross esqueceu-se de dizer e no-lo perguntaram, porque carga de água o actual MPLA, quer violar de forma flagrante o artigo 47.º (liberdade de reunião e de manifestação), da Constituição da República de Angola (CRA), cujas prerrogativas, estivéssemos num regime democrático, em que o partido no poder aprovou o próprio texto, impeça que os cidadãos possam exigir mais LIBERDADE, DEMOCRACIA, MELHOR DISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA, FIM DA LUTA CONTRA OS POBRES, FIM DO ENRIQUECIMENTO ILÍCITO DOS GOVERNANTES E COMBATE CERRADO A CORRUPÇÃO.

Disse o segundo homem do MPLA, não acredito que Roberto de Almeida o faria, não haver razões para as pessoas se manifestarem, por termos saído recentemente da guerra e estar-se a reconstruir o país. MENTIRA. Tem a maioria razões para se manifestar. Eu tenho razões para o fazer, porque a pala da reconstrução existe muita discriminação e enriquecimento ilícito de uns poucos. A maioria não tem justiça, pois esta está ao serviço do partido no poder. A maioria não tem uma educação e saúde condigna, porque os filhos do Presidente da República e dos dirigentes, não estudam nem se tratam no território. Ora ao abrigo do art.º 47.º da CRA, eu e os meus filhos, com os vizinhos, alguns dos meus colegas, alunos, amigos e consofredores podemos, desarmados e pacificamente, manifestarem-se reivindicando MUDANÇA, face à actual política discriminatória do regime. Este acto é legítimo, por constitucionalmente consagrado, já o inverso; MANDAR BATER (ASSASSINAR), soltar os assassinos, para investir contra populares que acreditam ou têm de se subjugar as leis que o próprio MPLA aprova, não é verdadeiro. É um mau exemplo Dino Matross estar a seguir o exemplo do filho e de Muamar Kadafhi de terem contratado bandidos e mercenários, bem como a aviação para atirar a matar contra o seu próprio povo. Quando assim se age, não estamos na presença de dirigentes, mas de assassinos, pois é o que se diz hoje, serem o líder líbio e o filho, que se querem manter no poder, pelo sangue do próprio povo.

Este MPLA tem o marco do fim da guerra, disse-o Dino Matross, como início de uma nova era, esquecendo-se que os países democráticos fazem-se ou renovam-se, a nível das projecções das suas políticas em quatro anos, período, geralmente, de um mandato eleitoral. Compare-se o que fez o Presidente da República de Angola em 8 anos e Luís Inácio Lula da Silva, em igual período no Brasil. São muitas as diferenças, para além de Lula ter realizado e disputado duas eleições, sem batotas e fraudes grosseiras, ter pago a dívida externa do Brasil ao FMI, ter aumentado o salário mínimo, reduzido o desemprego, não ter feito com dinheiro público os seus filhos e amigos do Partido dos Trabalhadores milionários e por isso saiu e bem, com uma taxa de popularidade de cerca de 80 por cento.

Por tudo isso e mais, com a sombrinha da Constituição tenho razões de manifestar-me, publicamente e reivindicar direitos que me são surripiados todos os dias, com a agravante de, desde o fim da guerra, este MPLA não tem combatido a pobreza. O MPLA COMBATE OS POBRES, partindo as suas casas, retirando os seus terrenos, afastando-os das cidades, para dar aos novos-ricos, na generalidade os filhos da corte. Uma grande diferença do que fazia Robin dos Bosques, que roubava aos ricos para dar aos pobres.

Tenho razões, para me manifestar, por o regime não pagar as dívidas aos empresários angolanos, muitos, os discriminados do próprio regime, pois só eles podem ser bem sucedidos, levando-os a falência ou ao suicídio, mas beneficiar os estrangeiros ou os mais bajuladores e isso foi dito, por alguns na reunião do MPLA, com os empresários do MPLA, realizada no dia 22.02, em que muitos apontaram o dedo a direcção de lhes terem, inclusive dado dinheiro, por debaixo da mesa, entenda-se corrompido e, depois, nikles de negócio... Como não se manifestar, quando os empresários de sucesso só têm uma cor política e na maioria o seu êxito está relacionado com a locupletação do erário público? Os actuais dirigentes, que se convencionaram o início da revolução como socialistas e proletários, enganaram todo um povo, pois transformaram-se da noite para o dia em milionários proprietários, sem terem mesmo uma lojeca para justificar os milhões nas suas contas bancárias.

E quando alguém os questiona, sob esta postura ou a dificuldade, não sendo do sistema de ter acesso a financiamentos e oportunidades o caminho é uma campanha de diabolização, a abertura de processos dos mais escabrosos, a prisão e o assassinato, uma postura, muito parecida com a recorrida por regimes declaradamente ditadores, que acreditam que a exibição da força seja a melhor receita, para se travar com as mãos, os ventos da mudança, que inevitavelmente chegarão a Angola.

Dino Matross, até chegou a ser uma referências no início da revolução, eu mesmo ao longo da minha caminhada tive-o como exemplo, mas tenho de reconhecer e confessar-lhe está sua declaração, decepcionou-me, por ser uma ORDEM DE MORTE, aos esquadrões assassinos que por 50 dólares, não se importam de atirar contra cidadãos inocentes. E, é-me mais preocupante, porque me recordo da minha estúpida prisão em 27 de Maio de 1977, por não saber se a decisão partiu só do Cajó, meu canoa do campo de São Nicolau ou de algum dirigente superior a si ligado. Esta é infelizmente parte da história negra da actual direcção do MPLA, que se mantém no poder, subindo pelos ombros e cadáveres de muitos dos seus camaradas e povo inocente.

Em momentos sensíveis as grandes orientações têm de ser dadas por pessoas ponderadamente responsáveis, para não se incendiar ainda mais a pradaria. Ninguém mais, diante da pobreza e do desemprego a que está votada a maioria se deixa iludir por um "simpático dirigente". A quem diga mesmo que exaltar, por estas alturas o dicionário da mentira da vigarice e da imbecilidade é mais um rastilho, nos corações discriminados das grandes massas populacionais. A política tem de saber afastar os governantes incompetentes e ouvir o clamor popular ao invés de os ameaçar de morte, contrariando o refrão comunista de: O MPLA É O POVO E O POVO É O MPLA", se assim é como mandar o povo ser batido pelas tropas? É esta postura arrogante e ameaçadora que está a destruir um país que tinha tudo para dar certo, com base nas suas populações e povos generosos e sacrificados, pese as riquezas de vária ordem no seu solo e subsolo, apenas confiados a um pequeno grupo do poder, que alimenta a corrupção, na mesma proporção que aumentam os pobres. Se realmente há justiça, devem ser rigorosamente julgados todos os culpados sem omitir os governantes que se aliaram nesta senda de agravar a vida dos autóctones angolanos que não vêm outra vida de resgatar a esperança manifestando-se contra os crimes cometidos todos os dias contra os cidadãos dos nossos povos.

Angola só será um país de todos autóctones, quando novas lideranças tiverem capacidade, diante do seu mapa-vivendis, malhado por vários povos Bantus, que o habitam, discutir um PROJECTO PAÍS. O que somos. O que queremos. E para onde vamos. Estes pressupostos são importantes para se definir o rumo a seguir. O contrário é trilhar os mesmos carreiros do colonialismo português, que ousadamente, acreditou que seria perpétuo o seu consulado por estas terras de Nzinga e Mandume.

Estamos a viver sob novos tempos, temos uma nova ditadura no mundo a DEMOCRACIA DO PETRÓLEO. Ela é pobre, mas é a que alimenta regimes que se perpetuam no poder com a força do fuzil e que resistem a mudar o sistema político.

Por tudo isso, quando a verdadeira manifestação sair, eu vou estar lá a gritar com todas as minhas energias ciente ser um DIREITO CONSTITUCIONAL, art.º 47.º, mas sem a ingenuidade de não estar preparado para receber a bala de um dos tropas, polícias ou bandido, que recebeu bem o recado do secretário-geral do MPLA, Julião Paulo Dino Matross. Foi assim em 27 de Maio de 1977, mas no século XXI, o resultado pode não ser o mesmo, seguramente.

2 comentários:

  1. É uma tara recorrente os regimes instalados nos novos países africanos imitarem os piores aspectos dos antigos senhores coloniais. O MPLA não faz mais do que repetir tal procedimento. Não houve um historiador angolano, altamente creditado, que disse ser o MPLA um partido proto-fascista?
    Por outro lado o petróleo ao contrário de uma benesse para Angola, acaba por ser um presente envenenado para o seu povo, já que apenas beneficia uma "elite". Os seus proveitos ao invés de potenciarem o desenvolvimento do país, potenciam essencialmente contas no estrangeiro. Novamente é algo que é recorrente em países africanos e árabes conhecidos produtores de petróleo.
    Angola sofre pois da maldição do petróleo, como grande parte dos países produtores, e ainda, da síndrome do pai tirano, pois emula no seu "melhor" (pior) os comportamentos salazaristas.

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  2. muito bom seu trabalho é de extrema importáncia pro nosso pais,parabéns william e equipe pelo ótimo trabalho

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