sexta-feira, 4 de março de 2011

Jonas Savimbi recordado pelos seus... UNITA sai da letargia e fala do seu fundador


A actual direcção da UNITA, tão temerosa em reclamar alguns dos seus direitos, como o de pressionar o governo, a autorizar a transladação do corpo do seu líder para a sua terra natal, tendente a realização, como mandam as regras angolana e africana, de um funeral de acordo com as tradições Bantu, decidiu com alguma publicidade, nove aos depois, realizar uma jornada sobre Jonas Malheiro Savimbi, o fundador do Galo Negro.

Os militantes, dirigentes e quadros superiores da UNITA, reuniram-se no dia 22 de Fevereiro, data em que morria há nove anos (2002), em combate, nas chanas do Lucusse, província do Moxico, o seu líder-fundador, Jonas Malheiro Savimbi. Na altura embrenhado nas matas desde 1992, este político reivindicava fraude nas primeiras eleições gerais em Angola, por parte do MPLA/Estado e o seu presidente José Eduardo os Santos, com quem deveria disputar uma segunda volta nas eleições presidenciais. Surpreendendo o mundo, o regresso as matas e as armas foi a opção então tomado pelos guerrilheiros, que se haviam batido pela instauração de um regime democrático e este facto, após várias tentativas goradas de negociações com o governo, levou ao extremar de posições só culminando com a sua morte.

Sem o apoio das potências internacionais, nomeadamente dos Estados Unidos, antigo aliado, com um embargo das Nações Unidas, que o impediam comprar armas, o governo, tendo o petróleo e a capacidade de se armar, foi procurando tudo no mercado externo, ao ponto de ter recrutado dois dos mais reputados traficantes de armas: Gaidamak e Pierre Falcone, a quem pelos serviços prestados concedeu nacionalidade angolana, sem que o processo passasse pela Assembleia Nacional, como mandam as leis em vigor em Angola. No entanto para a morte de Savimbi, contribuiram decisivamente as tropas israelitas, com os seus sistemas GPS e cães de guerra.

Entretanto no encontro, foram realçadas, somente as qualidades política, social e diplomáticas de Jonas Savimbi, pelas vozes do vice-presidente do partido, Ernesto Mulato, da líder da bancada parlamentar, Alda Sachiambo, do deputado e membro fundador do partido, Samuel Chiwale, e o porta-voz da UNITA, Alcides Sakala. Todos consideram Savimbi uma referência na política angolana e percursor da implantação da democracia, que mesmo incipiente existe em Angola. "Este encontro serviu para, os militantes e dirigentes da UNITA manter acesas, junto dos autóctones angolanos, as chamas dos ideais defendidos por Jonas Savimbi e pelos quais deu a sua vida”, disse acrescentando que o seu líder teve muitos aspectos positivos na sua vida e, claro como humano teve os seus erros; "quem não os tem?".

No entanto, Manuel Francisco disse ao F8, que "uma qualidade maior e que a história futura registará, prende-se com a sua entrega a causa do povo e para o povo, pois Savimbi era um verdadeiro nacionalista angolano, cuja vida dedicou ao seu povo. Savimbi, não era corrupto e não morreu com milhões em bancos suíços ou de outras paragens, tudo que conseguiu era para a causa que acreditava. Savimbi, não tem nenhum filho milionário, como tem o Presidente Eduardo dos Santos, sem que estes miúdos, justifiquem de onde veio esse dinheiro, se o pai, não ganha tanto e não tem negócios que o justifiquem?", assegurou.

Por outro lado acrescentou haver uma diferença de se conhecer a realidade da UNITA e do seu líder: "A grande diferença é de os meios de comunicação social do Estado e os privados comprados pelo MPLA, as instituições do Estado serem partidarizadas e agirem de forma ditatorial, ou seja, tudo excessivamente controlado pelo MPLA e para mal dos pecados até as igrejas que durante a guerra assumiram um papel pacificador de solidariedade com o povo pobre e sofredor se está a deixar corromper, pois muitos padres e pastores deixaram de pregar o magistério, tudo pela febre dos milhões da corrupção. E isso é triste. Veja-se o facto de ninguém da igreja Católica, uma entidade de respeito se levantar contra as injustiças que ocorrem em Cabinda, Lundas e Huambo. Não é mera coincidência...", concluiu ao F8.

Dentro ainda desta visão Sakala, garantiu que a “luta pela democracia, uma justiça social, o combate à corrupção, o respeito pelos direitos humanos são fatores dinâmicos que se mantêm atuais”, salientou o dirigente, frisando que, com a morte de Jonas Savimbi, os militantes herdaram “um instrumento de luta que é o partido por ele fundado”.

Alcides Sakala, que focou a sua intervenção na perspetiva diplomática, sublinhou a importância do papel desempenhado pelo fundador da UNITA, na diplomacia, que “fez da UNITA um partido que sempre esteve presente nos grandes acontecimentos internacionais. Com a UNITA e a sua luta no interior do país, sobretudo na fase contra a presença de forças estrangeiras em Angola, Savimbi conseguiu colocar a UNITA no seio do debate internacional, tendo contribuído para as grandes decisões que se tomaram e que levaram ao fim do muro de Berlim e na destruição da União Soviética”, argumentou.

“Na nossa região, a diplomacia da UNITA permitiu também dar passos concretos para a retirada simultânea das forças cubanas e soviéticas de Angola, aliada à independência da Namíbia, à libertação de Nelson Mandela e ao fim do apartheid”, acrescentou, esquecendo-se por razões óbvias de se referir as tropas sul-africanas, então aliado do Galo Negro e principal suporte logístico. Ainda assim referiu-se ao fundador da UNITA como homem que “marcou uma época importante da história de Angola, continua a ser uma figura incontornável, com um pensamento e uma filosofia própria, que vai influenciar o debate em Angola por muitos anos”, daí que tenha apelado aos militantes a uma “de reflexão séria, para não se deixarem distrair pelas encenações do regime, com promessas vãs”.

O porta-voz do Galo Negro, garantiu continuarem "a honrar e a dignificar a memória de todos quantos deram suas vidas por esta pátria redimida, impregnados na memória do nosso mais alto líder e fundador do partido, Jonas Malheiro Savimbi”, exortou a UNITA.

Para a história, fica que Jonas Malheiro Savimbi fundador da UNITA, foi a par do MPLA de Agostinho Neto, FNLA de Holden Roberto, um dos três movimentos de libertação de Angola, que em 1974 assinou com as autoridades portuguesas os Acordos do Alvor visando a independência de Angola, que deveriam ser precedidas de eleições livres e justas, mas que foram goradas, alegadamente, pelo MPLA, segundo acusações da FNLA e UNITA, sob uma eventual contribuição das tropas comunistas portuguesas, que abriram os quartéis ao MPLA, por considerarem que eram os angolanos assimilados e ainda de mercenários cubanos. Por esta razão no dia 11 de Novembro de 1975, foram proclamadas duas Repúblicas, uma em Luanda que vingou e outra no Huambo.

Jonas Savimbi, nasceu a 03 de Agosto de 1934, na província do Bié e morreu a 22 de Fevereiro de 2002, nas imediações da localidade de Lucusse, província do Moxico, em combate. Após a sua morte foi assinado um acordo de paz, a 04 de Abril de 2002, que pôs fim a mais de três décadas de um conflito armado, que opunha o MPLA, partido no poder, e a UNITA.


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