Samba é o município onde o preço da terra tende a concorrer com o do petróleo, havendo mesmo quem diga que em Luanda as terras de Talatona e as da orla marítima têm um valor, por metro quadrado, superior ao de 100 barris de petróleo, nas grandes bolsas internacionais. Proporcionalmente ao crescimento geométrico dos tijolos, está o lixo que parece ser visto como peças de ornamentação pela administração local.
Manuel Fernando*
Nos dias de hoje as definições e localização de baixa e musseque confundem-se num território vasto como é a realidade de Luanda porque surgiram os bairros da periferia que não são, nem uma nem outra coisa, e mesmo entre estes também existem classes sociais e arquitectónicas que emergem espontaneamente da conjuntura.
Viver na baixa de Luanda deixou de ser o sinónimo de viver na cidade, por encontrarem-se incrustados nela os bairros Catambor, Shabá, Barrocas do Miramar, Coreia, Bairro Operário, etc. Ante a dificuldade de aguentar a inflação domiciliar, muitos luandenses optaram por construir os seus tectos, construindo as casas possíveis de erguer com os parcos, mas honestos salários. Assim surgiram os bairros do Rocha Pinto, Iraque, Fubú, Sapú, Vila da Mata, Dangereux, etc., bairros com nomes que denotam o suor derramado pelo proprietários dessas casas, que Bento Soito, ex-vice-governador de Luanda, apelidou-as de casebres, como menosprezo aos que sobrevivem em condições de extrema pobreza.
No emaranhado de urbanizações que se têm erguido em Luanda, despertou-nos particular atenção, algumas que, mesmo sem terem a assessoria da administração local deveriam merecer particular atenção pela forma ordeira como estão organizadas. Nelas encontram-se muitos ex-moradores dos ex-bairros VIPs como a Vila Alice, Terra Nova, Valódia, Alvalade, Miramar, Bairro Popular, etc. Lamentavelmente, em muitos dos municípios, bonificados com estes projectos de auto-construção, tiveram a sorte madrasta de coincidirem com administradores municipais medíocres, situando-se entre estes o abandeirado administrador da Samba. É uma autêntica fraude ao partido que depositou confiança nele, por carecer de jogo de cintura para camuflar a sua incapacidade de gerir um município tão, para não dizer, o mais cobiçado de Luanda.
Os munícipes da Samba aguardam ansiosos por uma visita relâmpago do Governador José Maria, para que se conheça o fim do reinado do administrador Fançoni, caso a sua manutenção não esteja protegida pelo Engenheiro.
A riqueza não se compadece com o Lixo, embora em Luanda, os ricos não se importem em coabitar com montanhas de lixo nos seus arredores. Só assim se explica que a orla marítima, onde nos terrenos foram erguidas mansões impossíveis de se construir com adventos salariais, convivam rodeados de imundície.
Um município como a Samba merece um verdadeiro empreendedor, na sua administração, para que substitua as montanhas de lixo por espaços turísticos para arrecadar receitas à actual Conta Única do Tesouro, contrariamente às piscinas privadas que vão sendo moda, pela podridão em que se converteram as praias “dos quilómetros”. Governantes ausentes das populações, políticos apostados a darem motivos que favorecem a oposição. Menos-mal que os nossos opositores pertencem à mesma turma de míopes, por opção. A Samba, desde o Nzamba 2 que, através das valas de drenagem, vai caracterizando a incompetência de uma administração, às poluídas praias que deveriam estar proibidas para banhistas, pela quantidade de resíduos sólidos deixados por populares mal-educados, provenientes de todos os municípios de Luanda. A administração deve solicitar a intervenção da polícia para travar a indisciplina que se vive nas praias da Samba e obrigar os banhistas a depositarem os seus resíduos em recipientes, actualmente inexistentes. Muitas são as pessoas que se retiram da água ensanguentados, com cortes de restos de garrafas, latas ou outros objectos abandonados por desordeiros.
AUTORIDADE PARA OS POBRES
Os bem-aventurados ricos, não passam por estas vicissitudes, porque puderam comprar as humildes casas e terrenos ao longo da orla marítima e violando todas as regras e princípios arquitectónicos e ambientais, construíram edifícios que em países de lei, jamais seriam autorizados. Em Angola está sendo possível porque as mesmas autoridades que têm competência para travar esse comportamento selvagem, são os proprietários desses imóveis, entre eles, grandes chefes políticos, militares, polícias ou herdeiros de famílias com apelidos que dão medo. Os mesmos que privatizaram as praias públicas que começavam na Kamuxiba até ao ex-controlo da Polícia do Benfica. O verdadeiro povo também é vítima das demolições que resultarão do alargamento da estrada Futungo-Cabolombo. Vê-se, por exemplo que o trajecto do referido alargamento, esquiva as moradias dos ricos, como se pode ver na sinalização das paredes. O mais caricato está no espaço baldio adjacente à ponte do Benfica, entre a estrada e o oceano, vedado com chapas, ao INEA-Instituto de estradas é de preferência partir casas de cidadãos e o consequente pagamento da indemnização que tocar num espaço onde ainda não se colocou o primeiro tijolo. Dizem que o terreno é da Senhora! Tomara.
O município tem entre os seus bairros um dos mais apetecidos na distribuição de terrenos, o Benfica, não é em vão que por lá os administradores comunais têm uma data de caducidade muito curta, pelos supostos negócios em que se mergulham, ante às ofertas que lhes são apresentadas. No Benfica encontra-se provavelmente o bairro de auto-construção-dirigida que melhor urbanizado está, o bairro Zona Verde, também conhecido como Projecto, mas que tende a mergulhar na imundície do lixo por lá não haver qualquer serviço de recolha, obrigando os seus residentes a improvisarem aterros e lixeiras no interior do bairro, cujas consequências poderão resultar em epidemias de malária, cólera entre outras desgraças próprias de pobres. Quanto à energia, o que se pode ver são os moradores percorrendo as ruas com recipientes de combustível para os geradores, embora esteja lá um “Chico esperto”, com uma tal empresa Ilunga, com um posto de transformação, vulgo PT, a facturar os necessitados, no equivalente a mais de cem dólares/mês, fornecendo energia com uma regularidade similar a das quedas pluviométricas em Luanda, quer dizer, quando calha. Com a água, o administrador sabe que camiões-cisternas que no passado transportaram combustível são as que abastecem os moradores, com todos os riscos que daí concorrem. E cadê o administrador? Se fosse um bom político poderia facilmente aproveitar-se do esforço desses moradores para projectar-se, chamando a Edel, a Epal, a TPA e a Tv Zimbo, para dar show, como o fará o nosso partido, com a inclusão das casas construídas com o sacrifício individual, na contagem do milhão de casas prometidas. Este administrador deve ser varrido, como tantos outros show-man da nossa praça que se vão notabilizando por uma retórica arrogante, como se fossem os mais iluminados. Senhor Governador que no pacote de Vita Vemba inclua, se haver espaço, os administradores da Samba e da Ingombota.
*manuelfernandof8@hotmail.com
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