Gil Gonçalves
Para Jean Paul Sartre, História, é o movimento das multidões que aspiram ao poder. Bem-vindo à jangada desta democracia à deriva, neste sonho de liberdade que afinal é um terrível pesadelo. Todo o alvoroço social é sempre uma questão política. Sim, vamos indo na graça do senhor e de todos os santos.
Mas, as democracias têm sempre bons amigos ditadores que asseguram as suas sobrevivências. Quer dizer, sem ditaduras, não é possível a sobrevivência da democracia. Senão vejamos o que nos diz o canalmoz, canal de Moçambique: «Quando se trata de amigos é diferente o ânimo de denúncia de crimes que certos governos impunemente praticam contra os seus povos. Os ventos de mudança que sopram no norte do nosso continente e que se alastram às regiões vizinhas, com tendência para descer até ao Sul, começam a colocar os governos de países, com alegados regimes democráticos sólidos, na embaraçosa situação de terem, de repente, de colocar, nas respectivas agendas, questões tão elementares como o direito a eleições livres e justas, e/ou o fim de regimes totalitários ou autocráticos em países com constituições democráticas mas com práticas insanas. Se os países que violam os Direitos Humanos são aliados das potências democráticas, estas fecham os olhos. Com processos eleitorais viciados em muitos países africanos, as “derrotas” das oposições não se registam à boca das urnas, mas nos centros de informática e de bases de dados criados e sustentados financeiramente pela chamada comunidade doadora. Até querem saber, bem antes dos cidadãos irem votar, quem é a alternativa aos poderes instalados, como se a democracia pelo sistema de um homem um voto não fosse precisamente para se apurar qual é a alternativa pela soma dos votos. A benevolência perante a fraude está a desacreditar a democracia.»
A idosa carrega sessenta e dois anos, vinte e sete de colonialismo e trinta e cinco de ditadura de libertação. A sua perna direita está, pode-se dizer, danificada. Nem o cheiro do petróleo lhe chega ao nariz, porque proibiram-lhe de o cheirar. Vai na rua, foge da loucura do infernal trânsito da ditadura. Por milagre consegue alcançar o passeio, como um navio em porto seguro depois de uma violenta tempestade. A perna falha-lhe e quase a estatelar-se no solo, estica a mão e consegue apoiar-se no carro luxuoso de dois comendadores do nosso erário público. Um deles olha-a como se visse algo que transmite terror. Decerto, bem adestrado, apalermado nessas coisas do feitiço, amedrontou para a idosa: «Tira já daí essas mãos do carro.» A desafortunada, em nada contemplada por qualquer benefício petrolífero, ripostou-lhes: «Isto é tudo vosso, até já não se pode andar em lado nenhum. Para onde vão, o vosso carro também será enterrado ao vosso lado.» E a figura da grotesca nomenclatura, ameaça-a, em nome do poder do deus do petróleo: «Cala-te já, e não me faltes ao respeito.»
A poucos metros, um andarilho do lixo, escorraçado dos poços petrolíferos e diamantíferos, vasculha no supermercado popular dos caixotes do lixo algo que valha a pena para não morrer de fome. Hábito aliás muito agora em voga, pois há muita concorrência nos caixotes do lixo. Sinal de que o nosso PIB se fortalece. O andarilho do lixo carrega os seus sacos de compras. Não necessita de cartão de crédito, nem de qualquer outra coisa monetária. Esta é a sopa dos pobres dos eleitores da maioria que votaram… e acreditaram numa nova vida. O andarilho, o sem pátria, encosta-se à árvore rodeada de lixo. Desliza, deita-se com a cabeça encostada ao tronco da árvore. E ali fica, como se estivesse no seu casebre demolido. Já não tem forças para se mover, e parece que ali vai morrer. Em frente está um banco, mas os bancos não dão crédito a estas coisas. Os bancos estão aqui para desgraçarem as nossas vidas. Onde chegam, a paz acaba e os tumultos começam. A cada dia que passa, a vida foge-nos. Não é por acaso que Angola é invadida por estrangeiros, é um bom negócio. Eis os objectivos do milénio cumpridos a cem por cento.
Por vezes arriscamos as nossas vidas por causas que mais tarde se revelam completamente inúteis. Como é o caso deste poder, onde um general e um banco espoliaram as traseiras de mais um prédio, sob ameaças do estilo: tens os dias contados. E estrangeiros que nos roubam os empregos. Este poder é o cemitério no palácio da ditadura da opressão.
Trinta anos debaixo de uma ditadura, e mais trinta nesta. A mais velha estava na entrada do prédio a conversar, chegaram os fiscais da libertação estalinista, querendo arrastá-la. Porque ela estava com o saco das compras, e eles acreditavam que ela trocava dólares. Este poder vive no palácio arruinado da ditadura da opressão.
A liberdade e a democracia continuam um sonho. Há quatro anos atrás, o nosso filho de trinta, estava no Hospital Josina Machel. Necessitava de uma urgente transfusão de sangue A-. Apesar dos apelos na rádio, estava impossível. Já lhe dizíamos adeus. Até que um candongueiro do hospital disse que bastavam cem dólares. E o nosso filho salvou-se in extremis. E um médico amigo do comité de especialidade do Politburo abandonou-me por motivos políticos. Este poder é o zero no palácio da ditadura da opressão.
O que está a bater, o que está a dar, é a Igreja Mundial. Os crentes ao entrarem retiram-lhes as roupas sujas dos corpos e substituem-nas por outras lavadas. E mantendo este hábito acabam na riqueza, ficam ricos. Os povos dizem que a Igreja Mundial está a fazer maravilhas. E que os adeptos da Universal, da Católica e de outras igrejas estão a debandar para a Mundial, que é, pelos vistos, a número um, uma igreja de confiança.
Para eles está tudo bom, para nós fica tudo péssimo. E por isso mesmo somos muito pessimistas. E tudo isto é a mais perfeita idiotice. As igrejas funcionam às mil maravilhas quando têm o apoio do poder, como muito bem demonstrado no O Apostolado: «PR reafirma importância da igreja católica em Angola. Nesta correspondência, o estadista angolano exprimiu «o desejo de continuar a contar com o apoio e o papel relevante da Igreja Católica na sociedade angolana, mormente na pacificação dos espíritos e no resgate dos valores morais e cívicos».
Angola, o paraíso dos desempregados estrangeiros, e o Inferno dos desempregados angolanos. Se a guerra já acabou, porque é que a nomenclatura continua na destruição de Angola? Por incrível que pareça, o Politburo destruiu mais em Angola em tempo de paz, do que no tempo da guerra com o outro destruidor. Um exemplo: a destruição de milhares de casas em tempo de paz.
Luanda é o pulmão canceroso da especulação imobiliária e da corrupção. Luanda é o êxodo de Angola. Quantas mais conferências, seminários, e outras coisas tais, que só servem para alguns ganharem uma boa grana, Luanda mais se afunda. Das províncias nem vale a pena falar. Luanda é Angola. Não será preferível nova denominação para: República de Luanda e arredores?! E mais, e mais seminários nesta nova república que mais a abismam na miséria, uma normalização já institucionalizada. Noto que existe um tremendo erro: nunca há crise económica, há sim crise política. O mais importante é a divisão do nosso filão petrolífero. Os fabulosos lucros do petróleo investem-se na miséria da população. O petróleo não é nosso, é indivisível só neles.
Sem o apoio, e especialmente o exemplo do governo, nunca será possível qualquer plano de trabalho que funcione em Luanda. E tudo são más propagandas. Um acto de hostilidade à população, que há muito deveria receber orientações de governantes que parece não as sabem dar.
Os ditadores estão convencidos que as suas ditaduras são eternas. E edificam-se em palácios cercados por exércitos de forças especiais para dormirem e se protegerem das populações espoliadas, desempregadas, martirizadas. E caso curioso, prometem-nos amiúde que a democracia já vem a caminho. Mas ela nunca chega, pelo contrário, cada vez se afasta mais, lá para muito longe, no Inferno. Só existe uma ditadura eterna, a do amor.
Vivemos entre paredes que se movem e nos querem esmagar. Fomos outra vez ludibriados com a promessa de liberdade e democracia pelos revolucionários, que afinal queriam o poder para nos roubarem tudo… na legalidade. Basta ver quem são os melhores amigos dos bancos sem escrúpulos. E continuam a prometer-nos o oásis nesta terra.
Tantos anos, tantos aniversários decorridos que finalmente acabaram debaixo de regimes que até os vencimentos nos cortam, acabam-nos com as regalias que conquistámos ao longo de uma vida de luta. E agora aplicam-nos a mais reles ditadura democrática. Onde já se viu um trabalhador perder o que conquistou, o que trabalhou? E os banqueiros que nos destruíram, e destroem, riem-se nas nossas costas.
Nunca tanto se roubou como nestes tempos democráticos. Nunca tanto se destruiu como nestes belos tempos de governos democraticamente eleitos pelo voto popular. E fazem-se novas eleições e os eleitos que nos governam, adernam o barco da governação, e afundam-nos. E que está tudo bem, basta ver a taxa de inflação. Sim, está tudo bem… nos caixotes do lixo. Onde os eleitores buscam algo para sobreviverem.
Os nossos sonhos são o constante verde da vegetação perdida, porque vivemos gradeados por poderosas florestas de betão. Porém, que a felicidade dos dias esteja sempre contigo.
Não é de surpreender o apoio dado às ditaduras pelo poder igrejeiro, aliás denunciado pelo Club-k.net: «O novo director de informação da Radio Ecclésia, Walter Cristóvão, ordenou na segunda-feira (10Jan11), aos técnicos da emissora católica para não reporem em reposição o conteúdo do debate radiofónico de sábado, por considerar que a posição de dois convidados, Fernando Macedo e Luizete Macedo Araújo atacavam os Bispos e o Presidente da República, respectivamente.» E daí que vozes conclamem: O Mpla não é um partido político, é uma espécie das quase mil igrejas existentes em Angola. Claro, não é religião, é comércio. As igrejas parecem empresas comerciais, vendem religião. No fundo, tudo não passa de um negócio. E a actividade humana não se limita apenas em comprar e vender!?
A religião é seguramente a maior causa do analfabetismo. Em Angola as igrejas estupidificam tanto as populações que os cérebros ficam amarrados, fanatizados. E todos na crendice: «Estamos à espera de Deus para o Juízo Final. Ele está a chegar. Terão que lhes prestar contas». É muito lamentável… triste… como a religião fanatiza, a superstição permanente. E a feitiçaria fortalece-se, claro. O governo contenta-se: O povo quanto mais burro, analfabeto, tanto melhor. Isto não é religião, é fanatismo, é fome, é miséria.
A corrupção desenvolveu-se tanto que se torna impossível viver. É o caos… ver um país a mergulhar, e a população a afogar-se. As igrejas são fábricas, fabricam religiosos analfabetos. Devidamente prontos, arrumados para outra colonização, e depois reiniciar, batalhar noutra guerra, luta de libertação. Sempre, sempre… para lá da exaustão.
E gozam-nos com teorias da fome: O nosso cérebro funciona bem com fome. Mas, isso é durante umas horas. Não é durante uma vida, como pretendem os escravocratas. Como jurisprudência assumida: Quando um cão nos morde, todos os cães são culpados.
É o crucifiquem-nos, o alimento preferido das ditaduras e da igreja. A igreja da santa hipocrisia e da santa falsidade. Se todo o mundo fosse idiota, a ditadura e igreja reinariam eternamente. Já não é a igreja de Deus, é a igreja do Santo MPLA do Petróleo.
A pedofilia não lhes basta, e quando não se sabe fazer mais nada… resta a aventura do ir para cónego. Já corrompe Deus e Jesus Cristo. Depois da terra está a corrupção no Céu, e se mais houvera, lá corrompera. Para que serve então a religião? Para aprofundar a corrupção. É a Igreja da fuga da vida para a morte. Meu Diabo, livrai-nos deste Deus! Estão de regresso às origens da vulgar e infeliz seita religiosa. Corruptores de almas. Se na Terra assim fazem, facilmente se presume o que farão no e do céu. Campeões nacionais e internacionais das maratonas religiosas para a Igreja, é-lhes sepulcral sobreviver. Corruptos de todas as igrejas, bastai-vos! Como as almas rareiam, fogem-lhes, abandonando as igrejas às moscas, resta-lhes o secular encosto às sobras das e sombras das ditaduras: sem rendimentos perecemos, desfalecemos, morremos. Deus e Cristo, servem-nos o alimento espiritual, que nas subservientes ditaduras conseguimos o dinheiro, o alimento material.
Meus irmãos em Cristo! Na luta pela sobrevivência… valemo-nos de tudo, como aliás denunciado num dos milhares de telegramas do WikiLeaks «A Igreja católica cubana renunciou ao activismo político em Cuba, e inclusivamente optou por distanciar-se de dissidentes católicos a troco de promessas do regime em permitir que a Igreja mantenha um espaço para o culto e possa reconstruir infra-estruturas suas em templos e seminários.»
Quanto mais o poder no tempo passa, mais aumenta a nossa desgraça. Cada vez mais desalmado, o edifício da miséria continua imponente. Os colonos colonizavam, os libertadores destroem. Pela quantidade astronómica de anúncios publicados sobre abando de trabalho no Jornal de Angola, não há nenhum angolano que trabalhe. Foram todos despedidos.
Jesus voltará mais, sim! Para castigar e acabar com o clero, acabar com a falsa igreja demoníaca. O dinheiro do petróleo compra aventureiros que espremem, desbaratam, chafurdam, amassam Angola. O dinheiro petrolífero não compra inteligências. Por isso, Angola permanecerá no ocaso da imbecilidade. Um país sem oposição, é como ficar sem energia eléctrica. Esta igreja de Angola tem santos a mais. E na vida constante de sons infernais de festas inventadas, este povo está sem soluções. Resta-lhe a inutilidade da sua existência, de párias sem consciência. Como aberrações que movem os pés e as mãos da desordem cerebral. Este povo já não caminha, definha. E as igrejas perseguem a sua destruição social, e arrastam os fiéis para a desagregação da garrafada final. É lamentável que a poluição religiosa não é ainda considerada crime, tal como a sua irmã, a poluição sonora.
Um texto composto de grandes provocações e reflexiçoes, em certos momentos pesado devido seu conteudo extremamente agressivo e fronta, mas de uma rica potência de afetar que nos convoca a lutar pelos nossos direitos e deveres.
ResponderExcluirO meu muito obrigado ao autor por esta surra de palvras.
abraços!