Gil Gonçalves
Quanto mais o MPLA se apoderar e apodrecer do poder, assim mais trágico será o seu final. Em mais de trinta anos o MPLA ainda não aprendeu a governar. Uma coisa do seu aprendizado é certa: os destroços de Angola e dos angolanos.
Os movimentos de libertação são os sucessores, o apogeu do colonialismo, da destruição final de África e das suas populações. Os descendentes dos colonizadores governam-nos. E chineses à direita, chineses à esquerda, à frente, atrás, chineses por todo o lado… estamos cercados por chineses.
Inventámos a poesia da democracia angolana
e inaugurados no seu panteão restaremos
Neste senado romano consularizaremos
Ah! ainda não se move esta nossa democracia
da trovadoresca poesia
E do petróleo e diamantes nada sobrará para mais ninguém. Nós, os deuses do povo, assim o decretámos. E neste terceiro Reich da informação que implantamos, ficaremos fortes, muito ponderosos. Os nossos negócios serão infalíveis.
Agora com a santa aliança canónica, edificaremos em cada esquina uma igreja, é o melhor investimento. Sem gastos, suportados pelos crentes idiotas embandeirados no analfabetismo, as seitas safam-se, enriquecem na velocidade meteórica os seus sumo-sacerdotes, onde qualquer bispo cai das nuvens eleito pela vontade divina. Angola não pode ser nem nunca será apenas para alguns. E se assim se continuar, uma grande tragédia será inevitável. Angola não é de alguns revolucionários que nos impingiram a luta de libertação deles, e não libertaram nada. Basta admirar os caixotes do lixo, é lá que reside a liberdade plena do angolano.
Ah! este tempo e este clima, tão instáveis
como este governo
Não, não é um partido político
é um circo angolano itinerante
E onde ainda teimar existir um pedaço de terra resistente, lá o espoliaremos pretextando que é do Estado, logo nosso, deles, e lá ergueremos qualquer coisa. O mais importante é especular. Angola já não tem povo, tem ratos e moscas.
Insisto, para mim a democracia é uma poesia, e eu considero-me um poeta democrático. E o espírito democrático do 27 de Maio paira sob as nossas cabeças. E do céu do Politburo chove tanta miséria sobre as populações como nunca em Angola se viu. Libertaram o povo angolano e premiaram-no com a mais aterradora miséria. E riem-se com sarcasmo das promessas de uma nova vida.
Não, não! Os vossos debates são previamente dirigidos, tendenciosos. Isso não é democracia. Eu sou frontal… tudo que é anormal – mas existe algo normal?! – em democracia decide-se no tribunal. As nossas instituições democráticas funcionam a vapor sabiamente dirigidas pelo nosso sumo pontífice da política africana, mundial, planetária e panfletária. Eu antes de ser democrata já o era. Antes aticei-me contra o poder instituído, era uma estratégia, uma chamada de atenção sobre o meu intelecto. Como Júlio César: ave! Cheguei a Luanda, vi e venci.
A nossa missão é esfomear a população
De Kabinda ao Kunene já não é uma só
nação
É um descomunal campo de concentração
de esqueletos a vaguearem sem rei nem
o Roque
E neste império romano/angolano
uma Via Ápia calcetaremos com as ossadas
prendadas do nosso eterno soberano
As populações estão votadas ao abandono, há mais execrável miséria?! Não, não?! Saímos há pouco tempo de um conflito, de um campo de futebol militar que nos ceifou os campos da morte.
Nesta democracia diamantífera
Tão petrolífera, tão mortífera
Democracia é sofrer, é lutar pela liberdade. A nossa democracia executa-se nos deserdados, nos espoliados da terra, dos casebres. Democracia sem corrupção, sem roubos, sem desvios, não é, nunca será jamais uma democracia. E por isso mesmo democratizar, afogar a sociedade angolana, é espoliar. Não existem bens em poder da população, tudo é do nosso Estado papão. Por enquanto a nossa jovem democracia segue bem descarrilada no comboio sem vagões, sem travões. Ora não existindo povo, vamos acabar com ele, estão à espera de quê?! Todos os seus bens reverterão de facto e de jure para os cofres revolucionários do nosso querido e amado Politburo. A nossa luta é inquestionável e nas maratonas está o êxito da nossa revolução. Revolucionar é democratizar.
E a destruição de tudo o que era vegetal aconteceu inexorável. Os patrocinadores dos nossos especuladores imobiliários levam a devastação das árvores de Luanda que está um deserto de betão. Sem arvoredo, uma grande desgraça abater-se-á sobre Luanda como um poderoso feitiço dos grandes feiticeiros imobiliários. Sem vegetação é impossível viver. Os palácios medrosamente fortificados e amuralhados da nobreza, da baixeza dos nossos novos-ricos na revolta das águas sucumbirão.
Quando a coberto da democracia, banqueiros exercem a sua actividade bancária fortalecendo o terrorismo económico e financeiro, beneficiando da impunidade conivente do poder, é com certeza um final trágico de uma nação (?). E quando o silêncio das noites é catastroficamente interrompido pelo potente e estridente ribombar, metralhar dos mentecaptos dos escapes semoventes das motorizadas, é o recordar dos destroços da independência tão horrorosamente engavetada e congelada. Porque é que em Luanda se permite a poluição sonora? Porque os governantes só sabem fazer barulho.
Não, não! Em Angola não existe miséria, isso é uma engenhosa mentira da nossa reacção interna alimentada pelos estrangeiros que desejam que o nosso povo, o nosso Politburo, voltem ao passado das trevas coloniais. Vejam o nosso PIB democrático, como sobe nas alturas do nosso desenvolvimento actual e intelectual. Não dá para entender! Mas já têm a democracia plena, querem mais o quê?! Está bem, está bem, não há empregos, e agora com a invasão chinesa… mas encontraremos uma solução, mais um campo de concentração, ok! Fiquem calmos, serenos e atentos, nós trabalhamos para o bem do nosso querido povo. Tudo só para ele e em nome dele. Na continuação da miséria nacional está a continuação da nossa luta. Jamais se esqueçam que nós do Politburo instituímos a liberdade e a democracia em Angola. E por isso mesmo existem duas classes: os democratas e os escravocratas. Como me sinto tão feliz quando contemplo os nossos campos da agricultura sem ela, mas de tão grandiosidade democrática neles lavrada.
Sentimo-nos na plenitude do dever cumprido. Nas ruas de Luanda amarguram-se as miseráveis vendedoras escorraçadas e espoliadas sem o seu Roque. É um dantesco espectáculo que aflige qualquer coração benévolo. Mas os precursores da democracia angolana ainda não exorcizados rejubilam perante tanta maldição. Isto não é um país, é um imenso navio lotado de escravos sob os constantes chicotes de meia dúzia de senhores negreiros. O comércio de escravos fortalece-se, é bom negócio, bate bem. Já chega, parem a independência e a vossa democracia. Queremos o nosso petróleo, os nossos diamantes, as nossas terras e os nossos casebres.
E se os governantes e o seu deus máximo não apoiam o livro, a leitura, então, estão à espera de quê?! E Angola que está com uma epidemia de pessoas VIP.
Para a minoria deles, quanto mais velho, mais ditador. Para a nossa maioria quanto mais velho, mais sábio. Esta democracia é um estado de alma, uma dominação, um ultraje ao nosso sonho de amor da nossa liberdade. E nesta luta de destruição nacional, no país da consolidada conjuntura analfabética, da juventude forçadamente prisioneira do inculto que se esforça no alcoolismo. E nisso se desenvolve e torna-se adulta. Que futuro aguarda este oásis de estrangeiros e alguns nacionais-socialistas? Nenhum, pois claro. Mas, apenas um, a anarquia, a impossibilidade de viver, e até da já esperança perdida no renascer. Nunca serás independente sem o retorno ao puro nacionalismo, porque perderás para sempre a tua independência e liberdade.
Uma coisa é certa. Há muita desvantagem
na aniquilação da democrática corrupção
Que tempos novos estes tão encantadores
tão democráticos
E levantei-me para enfrentar mais um dia
de democrática razia
E nesta galera escravocrata mais um dia
sem futuro nos vigia
E quem da nossa liberdade democrática discordar
nos tribunais populares terá de o provar
nesta democracia da fissuração
da independência sem Constituição
Um povo obrigado a viver de festejos, fatalmente acaba na infelicidade. E neste nosso jogo de futebol, a bola é a fome.
«O que é que se passa com o sistema do Politburo?» Não sei! Porquê? «Está sempre a reinicializar»
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