quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Educação e giz. O início do fim das mulheres no governo em Angola


O que é bom pouco dura. Politiquices, demagogias, falsidades, imitações, mas pouca convicção. Como sempre, uma vez mais as mulheres serviram apenas de instrumentos ou melhor de lixívia para lavar a imagem do partido ou pessoas, para se alcançarem objectivos que em nada dignificam a existência e participações históricas das mulheres angolanas. Angola é África e África é machista, por mais ocidentalizados que nos esforcemos ser, não nos conseguimos despir das vestimentas machistas, talvez por constituir herança dos nossos ancestrais. A saída de Francisca do Espírito Santo é apenas o aviso de que chegou a era feminista porque a sua incompetência não foi demonstrada.

MANUEL FERNANDO*

Se em algo as últimas eleições foram positivas e o Presidente recuperou parte da sua maculada imagem, para o chefe do executivo foi útil, no preenchimento do seu staff com mulheres em cargos de Ministro, em número superior que muitos países desenvolvidos, onde os preconceitos de género pertencem ao passado. Mas, como nos velhos tempos, à mulher lhe é imposta uma data de caducidade, hoje os homens africanos vêm nas mulheres apenas como peças de ornamentação, com um tempo de vida média inferior que as flores naturais, quando arrancadas dos canteiros pelos caules e colocadas em vasos, já sem raízes.
Infelizmente para Angola os cargos ministeriais atribuídos às mulheres, em alguns casos não foi por mérito, muito longe de serem espaços conquistados, foram sim, uma espécie de instrumentalização partidária ou uma forma cínica de responder promessas eleitorais.
Para além de mães, as mulheres organizam melhor que os homens, tendem a ser arrogantes e ditadoras, quando ostentam cargos de chefia, talvez induzidas pelo sentimento de se lhes ter atribuído a categoria de sexo frágil.
Alguém tivera dito que para Angola nem importando governantes japoneses sairia do caos em que se encontra em menos de dez anos. Muito menos com governantes a quem não se deixa permanecer nos seus postos mais de três ou quatro anos. Vergonhosamente, ainda temos que ‘engolir’ informações de que o Vice ministro homem ou o Secretário de estado homem não aceita subordinar-se a uma mulher. Raios, em pleno século XXI. Será que os homens, ainda que incompetentes devem permanecer nos seus cargos? O país assim não vai a lado nenhum, e se for, será para o abismo.
Luanda é uma província enfeitiçada, já dissera Bento Bento, primeiro secretário do MPLA de Luanda: “Luanda é o cemitério de políticos”. Embora a história lhe dê razão, pessoalmente não compartilho do seu pensamento. Por Luanda passaram Comissários ou Governadores, dos mais incompetentes e arrogantes como Mariano Puku, Mendes de Carvalho, Justino Fernandes e Sita José aos papagaios como Kundy Payhama e Kapapinha. Não deixaram qualquer obra, no entanto, eram homens, homens que de que o povo não guarda gratas memórias.
Quando Zé Du indigitou as mulheres para o Governo, não terá sido por convicção, batom puro, política e conveniências. Muitas dessas senhoras esforçaram-se por demonstrar capacidade e talvez seja o grande motivo para integrarem a poção de intrigas palacianas de que está temperada a estirpe de machistas que compõem a superstrutura. Por mais que se pintem não serão mais do que uma espécie de flores de ocasião, aos olhos dos concorrentes machos.
O anúncio desleal e ofegante sobre a substituição da Governadora de Luanda obriga-nos a reconhecer os seus feitos, pese embora não tenha podido acabar com a situação de extrema pobreza na maioria da população de Luanda, um pouco pela interferência tradicional e desmedida dos órgãos do poder central e dos múltiplos interesses pessoais em nome do Estado. Na hora do adeus há que ser honesto, a tia Chica, pelo menos tentou, embora muita, mas muita coisa mesmo tenha deixado por se fazer.
Se esta substituição representa o fim do ciclo de poder feminino em Angola, outras senhoras ministro que se preparem, mesmo labutando contra adversidades da era medieval, como são os casos de Idalina Valente, cujo Secretário de Estado alegou as diferenças tradicionais entre a saia e a calça para vergar o Chefe do Executivo a posições inéditas no panorama governativo angolano; Cândida Teixeira incrustada entre dois Secretários de Estado que esperam cada um, do seu jeito, o grande momento que resulte da escorregadela da chefe, estando entre eles, um menino grande que vez sim, vez também arroga-se do parentesco com o Pai Grande para não aceitar qualquer subordinação; Rosa Cruz e Silva, Genoveva Lino poderão ser substituídas, mas que seja por conveniência de serviço porque algo estão fazendo, mesmo com os presentes envenenados em terrenos minados que constituem os seus actuais pelouros. A presença da mulher cria de imediato o contra-ponto e a diferença. As mulheres são menos corruptíveis, têm opinião própria e não fazem o cordão da mediocridade masculina. Se a substituição do Ministro do Urbanismo está sendo questionado, a suposta separação do Ministério do Ensino Superior e da Ciência e Tecnologia, para agradar os caprichos de Adão do Nascimento poderá criar um ambiente de descrédito no seio do governo e até da comunidade universitária, por tratar-se de uma conduta reincidente.
Estas senhoras independentemente de serem próximas aos correligionários do Grande Chefe, têm se esforçado por corresponder a confiança que nelas foi depositada, com muita humildade. Esperamos que o ilustre General que substituiu a chiquinha, ao sentir-se esvaziado que, pelo menos pinte o interior dos prédios e que Adão do Nascimento não pense que por ter atribuído o nome do Zé Du a uma universidade pública, lambeu o suficiente, para dar-lhe o direito de ser o dono do ensino superior.
Em países como a Noruega, Suécia, Finlândia ou mesmo a Holanda, onde a consciência social não avalia a capacidade humana pelo simples facto de usar ou calça ou saia, as mulheres são o elemento determinante para a manutenção da estabilidade sócio-económica e dos altos níveis de desenvolvimento. Na Suiça onde as mulheres foram obrigadas a esperar até 1971 para ter direito de voto a nível federal, este ano conseguiram pela primeira vez na sua história a maioria no executivo. As mulheres não têm que esperar favores ou tráficos de influência, não obstante, no nosso país existirem as que escudam-se no apelido ou paternalismo para chegar ao poleiro. Dessas, preferimos não citar nomes.
As mulheres têm que ser solidárias, não no sentido de criarem organizações feministas, mas pelo menos, de reconhecerem a capacidade feminina, livres das disciplinas partidárias ou religiosas. Com este princípio recordo-me da reafirmação das mulheres num país terceiro-mundista que baseou a sua revolução no seguinte: “Nós, mulheres que vendemos nossos braços, nosso sangue e nosso conhecimento em troca de um salário de fome e que sofremos todo tipo de discriminação e violência, só temos um caminho: unirmo-nos nas organizações da nossa classe e, junto com mulheres e homens trabalhadores, lutarmos contra o machismo e destruirmos o capitalismo. Só assim conquistaremos uma sociedade igualitária”. Devolvam-nos a tia Chica, o tio Zé Ferreira e a tia Cândida Teixeira queremo-la com o Ministério completo.
*manuelfernandof8@hotmail.com

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